• Nenhum resultado encontrado

CAP II – Estudo de Caso: as dimensões estruturadoras do “projecto”

II-II – O PROJECTO DO SUJEITO

2. Breve caracterização da população estudantil da escola

2.3. Distribuição socio-demográfica e socio-económica

A especificidade das formações oferecidas por esta escola, neste nível de ensino, bem como a relativamente elevada representatividade dos alunos que concorrem à figura de “aluno carenciado” (55,5% e 56,5%, se considerarmos respectivamente o universo de dez anos ou os últimos quatro anos) deixam supor, numa primeira impressão, que a esta combinação esteja subjacente um elevado número de alunos

69

- A média de idade de acesso é de: 19,8 anos em 2001, 19,6 anos em 2002, 18,2 anos em 2003 e 17,8 anos em 2004.

provenientes de lugares distantes da sede da escola e, pelo facto, obrigados a estar deslocados para efectuar os seus cursos. Se considerarmos, no entanto, que a esta caracterização do “aluno carenciado” está distintivamente subjacente o acréscimo no montante dos subsídios de alimentação e transporte (que podem ver o seu valor duplicado), mas sobretudo no subsídio de alojamento (que pode ser majorado em 2,4), cuja atribuição, embora condicionada à existência de transportes públicos em horário compatível, parece ser sobretudo determinada pela distância da escola à residência (que deve ser superior a 50km); se considerarmos, por outro lado, que na escala construída que delimita a distância da escola à residência70, os três escalões mais altos representam, respectivamente 33,0% do universo de dez anos e 37,0% do universo dos últimos quatro anos, poderíamos admitir, em combinação um acréscimo no tempo do número de alunos deslocados (aumento de 4%), mas um decréscimo dos alunos carenciados, atribuível a outras razões para além da distância à escola (diminuição de 3%71).

Em todo o caso, e dada a falibilidade dos dados reportados ao universo de dez anos, concentremos a análise nos últimos quatro anos, procurando caracterizar, por um lado, a variável socio-demográfica e, por outro, a variável socio-económica, procurando entender, por último e no cruzamento destas duas variáveis, a caracterização de um aparente acréscimo do nível sócio-económico (mas também sociocultural) da população estudantil da escola.

Analisemos, entretanto, com maior profundidade a variável socio-demográfica. Quando analisamos a primeira categoria da escala – a cidade do Porto – os dados para o universo de dez anos e dos últimos quatro anos (respectivamente, 33,5% e 33,7%) são relativamente estáveis, isto é, a população da cidade parece representar com alguma regularidade cerca de um terço da população da escola. Quando, no entanto, nos concentramos nas três últimas categorias da escala (os que estão a mais de 50km), verificamos um acréscimo dos mesmos entre 2001 e 2003 (31,6% dos alunos em 2001, 33% em 2002 e 47,4% em 2003), estabilizando no último ano considerado (2004) nos 36%. Parece haver com os anos uma procura crescente da escola por parte de jovens oriundos de localidades mais distantes, o que traduziria um (re)conhecimento acrescido

70

- Para a categorização da variável “localidade”, foi considerada a seguinte escala: 1 – Cidade do Porto; 2- Área Metropolitana do Porto; 3 – Região Norte até 50km; 4 - Região Norte a mais de 50km; 5 - Resto do País; 6 – Estrangeiro.

71

- Valor resultante da diferença entre, por um lado, o universo de alunos carenciados nos dez anos menos aqueles que detém a condição de “mais de 50km” (55,5% - 33% = 22,5%) e, por outro lado, o universo de alunos carenciados nos últimos quatro anos menos aqueles que detém a condição de “mais de 50km” (56,5% - 37% = 19,5%).

da escola. E, embora no último ano este valor pareça estabilizar-se (é a tendência crescente que é relevante, mas é o ano de 2003 que parece “inflaccionado”), quando analisado em função do género, ele evidencia um crescimento de acordo com a variação do universo, isto é, um crescimento que se faz sobretudo à custa de jovens do sexo feminino (a representarem 41,6% do universo destes três escalões em 2001, 38,5% em 2002, 55,5% em 2003 e 57% em 2004). É justamente no ano “inflaccionado” (2003), ano em que o número de jovens é globalmente igualmente repartido pelos géneros, que as raparigas provenientes das localidades a mais de 50km da escola apresentam um valor mais significativo dentro do seu universo (23,8% nos anos de 2001 e 2002, 52,6% no ano de 2003 e 38% no ano de 2004).

A procura da escola por parte de jovens provenientes de localidades mais distantes parece variar em razão directa com a sua idade, isto é, coincidirem os escalões etários mais elevados com as localidades mais distantes (nas três categorias a “mais de 50km”, o 1º escalão etário – 15 a 19 anos - é representado por 33% dos alunos do escalão e os segundo – 20 a 24 – e terceiro – 25 em diante – por 44% dos alunos do escalão respectivo), o que explicaria porventura um conhecimento mais tardio da escola por parte destes alunos mais velhos. Se atentarmos, por outro lado, na habilitação com que os alunos provenientes destas localidades acedem aos cursos da escola, verificamos que, para o 1º escalão etário, o 9º e 10º anos representam 87,8% dos alunos (respectivamente, 63,6% e 24,2%); que, para o 2º escalão etário, o 11º e o 12º anos representam 50% dos alunos (respectivamente, 20% e 30%); que, para o 3º escalão etário, numericamente representado por poucos alunos, a habilitação se distribui equitativamente entre os 9 e os 13 anos de idade, isto é, havendo mesmo quem já tenha ultrapassado o ensino secundário. Quando, por outro lado, verificamos que, quer no 2º, quer no 3º escalão etário, a maioria dos alunos provenientes da 1ª categoria da escala – cidade do Porto – detêm habilitações de acesso iguais ou superiores ao 11º ano (respectivamente, 50% e 100%), parece reforçar-se uma ideia, prevalecente noutras análises realizadas, de que a procura destes cursos não reveste tanto um carácter de supletividade ou alternativa, mas um aparentemente forte sentido de vocacionalismo, descoberto para alguns mais tarde no seu curso de vida. Voltaremos a este dado quando analisarmos com maior profundidade a variável “curso escolhido”.

A correlação da variável socio-demográfica com a idade é ainda evidenciada quando analisamos a representatividade dos locais de proveniência dos jovens em função da variável “Encarregado de Educação”, verificando-se que a categoria “o