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Conforme supracitado, o jornalismo econômico desenvolveu-se e obteve solidificação no período do regime militar no país implantado no ano de 1964. O governo tinha no jornalismo econômico um meio de desviar-se de assuntos mais espinhosos como política e a matéria fortalecia o regime com o crescimento econômico (ABREU, 2003).

Neste período, o setor de comunicação no país teve um grande desenvolvimento, surgindo com isso novas formas de coberturas, novas editorias e até mesmo novos veículos. Segundo Lene (2009, pp. 50-60), foi durante o regime militar que o jornalismo de economia atingiu sua maturidade e foi modernizado com grandes investimentos.

De acordo com a pesquisadora, a implantação de um sistema de informação era entendida como fundamental para o campo político, pois seria o irradiador das principais atividades do

Estado. Sendo, deste modo, a modernização dos meios de comunicação uma estratégia política dos militares para reforçar a ideologia de segurança nacional (LENE, 2009, pp. 50-60).

Com recursos públicos obtidos com o regime, surgiram nesse período os oligopólios de comunicação. O regime fez grandes investimentos e estimulou a formação de grandes redes de informação, com isso foi criada a Empresa Brasileira de Telecomunicações (Embratel), em 1965, além do Ministério das Comunicações. Já a empresa pública federal de Telecomunicações Brasileiras S.A. (Telebrás) foi criada no ano de 1972 e era responsável pela coordenação dos serviços dessa área em todo o território nacional (LENE, 2009, p. 59).

Com a Embratel, inicia-se a implantação da rede básica de telecomunicações com a instalação de sistemas de micro-ondas em visibilidades e entropodifusão na Amazônia. O governo disponibilizou ainda recursos para que fossem construídos novos prédios para os veículos que seriam utilizados para abrigar novas máquinas e equipamentos, além de ampliar a redação (LENE, 2009, p. 59).

Os empresários da mídia obtiveram do regime militar uma grande quantidade de recursos por meio de financiamentos e publicidade oficial. O principal cliente dos jornais era o Estado com "os proprietários se submetendo a essa censura em grande parte devido a essa dependência", destaca Lene (2009, p. 60). Abreu aponta:

Os militares censuravam a imprensa e interferiam no conteúdo da informação, mas canalizavam para mídia grande massa de recursos através da publicidade. Também financiaram a modernização da maioria dos jornais que permanecem no mercado até hoje. A construção de prédios modernos, a compra e importação de equipamentos eram feitos com financiamentos de bancos e instituições estatais, o que evidentemente representava a moeda forte no controle da mídia (ABREU, 2003, p. 25).

Com os financiamentos e recursos disponibilizados pelo regime para os meios de comunicação, houve uma grande modernização dos veículos. A Folha de São Paulo, o Estado de São Paulo e O Globo conseguiram recursos de cerca de 27 e 12 milhões de dólares. A Editora Abril, que não era conhecida, adquire por meio de empréstimos com bancos um parque gráfico moderno em São Paulo, conforme destaca Quintão (1987, p. 88).

Com o boom econômico no país, surgiram novas editorias de economia em jornais de grande circulação do eixo Rio-São Paulo. Os veículos ampliaram-se com compras de máquinas e construção de novos prédios e modernizaram-se. A Gazeta Mercantil, que até 1972 publicava concordatas preventivas, pedidos de falência, títulos de protestos, dentre outros, transformou-se em

grande jornal de abrangência nacional e de maior prestígio na cobertura sobre economia, finanças e negócios (ABREU, 2003, p. 43).

A Gazeta Mercantil, com os recursos de publicidade principalmente do Estado e de empresas e instituições relacionadas ao governo, modifica sua cobertura econômica e faz grande investimento tecnológico, o que permite criar edições do jornal em diferentes lugares do país com a aquisição de equipamentos de transmissão com raios laser e fibras óticas capazes de transmitir páginas, fotos e textos integralmente em questão de segundos (Quintão, 1987, p. 81).

A Revista Exame também surgiu nesse momento de boom econômico no país e de alta do jornalismo de econômico. Segundo Quintão (1987, p. 125), é também nessa época que as agências se desenvolvem também com nomes como a JB, AE (Estadão) e OG (O Globo), dando um grande salto na sua consolidação.

Quintão (1987, p. 125) ressalta ainda que as mudanças também se deram nos jornais, com estes dando mais espaços para a economia. Segundo ele, a Folha de São Paulo, O Globo e O Estado de Minas abrem espaços nos jornais e criam cadernos também de economia, circulando nas edições de domingo no início. Já O Estado de São Paulo e o Jornal do Brasil criam as edições que circulavam nas quintas-feiras e em domingos. Essas edições chegavam a ter entre 12 a 16 páginas de cobertura econômica. Sobre o assunto, Abreu destaca:

As editorias de economia dos jornais rapidamente obtiveram grande espaço e prestígio, sendo nelas introduzidas inovações que em seguida se estenderam a toda à redação. Os proprietários, ante as pressões da censura e apreensão dos jornais pela polícia, resolveram substituir o noticiário político pelo econômico ou por notícias internacionais. Foi o momento de profissionalização tanto das empresas quanto dos jornalistas (ABREU, 2003, p. 26).

Com a crise do petróleo, o modelo econômico adotado pelo regime militar desmorona e "com a mudança na conjuntura política e econômica, mudava também a pauta da editoria econômica dos jornais", explica Abreu (2003, p. 46). Citando Kucinski (2007), Puliti (2009) explica que com a crise, a economia torna-se assunto fundamental nos noticiários.

Puliti (2009) ressalta que dentro de um cenário de risco e complicações, as elites empresariais precisavam de informações acertadas para tomar decisões. Além disso, a notícia econômica passa a atender também o consumidor comum com informações sobre emprego, impactos dos juros na rotina do consumidor etc.

Com a exaustão do milagre econômico e a crise de política interna neste período, Kucinski (2007, p. 76) argumenta que o país entrou em uma crise geral profunda e estrutural. Segundo ele,

"pela primeira vez em sua história moderna, a balança comercial do Brasil passou a ter déficits sistemáticos e substanciais". Sobre o assunto, o autor expõe:

Entre 1974 e 1979 acumularam-se US$ 14.3 bi de déficit comercial. Simultaneamente deu- se um salto nos déficits estruturais na conta de serviços, pois instalou-se uma crise recessiva de caráter mundial e as empresas multinacionais operando no Brasil aceleraram remessas de lucros e dividendos ás suas matrizes. Também a conta de juros deu um salto, correspondente ao salto no estoque acumulado de dívidas no período anterior. Atingiu US$ 26.8 bi o déficit de serviços entre 1974 e 1979, dos quais quase a metade correspondente a pagamentos de juros. O déficit geral na conta corrente saltou para o valor significativo US$ 41 bi, S$ 7bi em média por ano, praticamente dez por cento do Produto Bruto Brasileiro (KUCINSKI, 2007, p. 76).

O milagre econômico com o primeiro choque do Petróleo dava sinais de que estava findando, perdendo o fôlego, posto que tal choque acelerou a inflação do país e fez a balança comercial registrar sucessivos déficits provenientes das importações desse produto. A autora ainda salienta que entre 1974 e 1979, o crescimento médio da economia do país caiu para 6.5% e posteriormente chegando a 4%. Ainda sobre a economia do país para o período citado, pontua-se que consumindo 90% das receitas de exportação, a dívida externa chegaria a US$ 90 bilhões. (PULITI, 2009, p. 90).

Com esse panorama, encerra-se o ciclo do milagre econômico e adentra-se na década de 1980 iniciada, conforme Puliti (2009, p.90), “com o segundo choque do petróleo e a mudança na política monetária dos Estados Unidos, que elevaram os juros para controlar a inflação, o endividamento externo promovido pelo milagre cobraria um preço alto”.