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No período da redemocratização, os índices inflacionários estavam altos. Com isso, houve várias tentativas na busca pela diminuição dos índices. Neste enquadramento, foi instituída, em 28 de fevereiro de 1986, uma nova moeda, o Cruzado, para substituir o Cruzeiro, moeda corrente na época. Além disso, os preços foram congelados e os salários indexados. A economia sofreu uma série de distorções com os congelamentos, e o governo lançou o Plano Cruzado II, em 21 de novembro de 1986, mas ainda assim a inflação não foi estabilizada (ABREU, 2003, p. 66).

Com Fernando Collor tomando posse em 1990, foi lançado o Plano Collor que, entre outras medidas, congelou salários e preços e determinou o bloqueio de 80% de ativos financeiros do setor

privado. Com o impeachment de Collor, Itamar Franco, vice-presidente, coloca no Ministério da Fazenda o senador Fernando Henrique Cardoso que, em 1994, adota o Plano Real, com a introdução de uma nova moeda para a estabilização econômica do país. Com a medida, o governo conseguiu o controle da inflação (ABREU, 2003, p. 67).

A cada nova mudança ocorrida com a implantação das novas moedas, o cidadão tinha que entender novas regras de cálculo para os ajustes salariais, os pagamentos de aluguéis e demais pagamentos. Com isso, o papel do jornalista econômico era explicar as novas regras de cada plano lançado para o público em geral. Além de responder as dúvidas do leitor, os jornalistas tinham que traduzir a linguagem técnica e hermética e com conceitos econômicos para o leitor não especializado (ABREU, 2003, p. 67).

Os jornalistas econômicos também foram levados a adaptar seu trabalho àquela realidade instável, em que a inflação alterava diariamente valores de aluguel, salários, dos ativos, da gasolina, dos alimentos etc. Impossível fazer planos para o mês seguinte, tinha-se de viver em alta voltagem a desordem do cotidiano. O consumidor não conseguia entender a confusão e desconhecia como se defender dela. Era preciso que alguém organizasse a desordem para ele e indicasse claramente; "veja o que está mudando na sua vida" (CALDAS, 2008, p. 55).

Sobre o processo de financeirização no noticiário econômico a partir do período pós-regime militar, Puliti (2009, p. 271) aponta em pesquisa que ainda em 1989, governo em empresários prevaleceram como fontes utilizadas pelo jornalismo econômico, mas que a partir de 1990, a participação de economistas do mercado financeiro passou a ser mais recorrente para oferecer produtos dos bancos para combater a corrosão do dinheiro pela inflação. É realizado em 1989 o Consenso de Washington que, segundo Puliti (pp. 50-51), influencia o Brasil na aplicação de “políticas neoliberais” e também outros países latino-americanos. Isso acaba modificando também o jornalismo econômico e seus processos.

Para a implantação do Plano Real, o oitavo plano desde a redemocratização, o governo foi cuidadoso com a comunicação das mudanças que seriam implementadas para que a população confiasse no pacote econômico adotado, pois era uma preocupação o prejudicar-se por falhas na comunicação. As fontes utilizadas pela imprensa nos noticiários eram reprodutoras das políticas econômicas do Consenso de Washington que apontava o modelo como o melhor para o desenvolvimento do país (LENE, 2009; PULITI, 2013; PULITI, 2009).

Com o lançamento, os economistas do Plano Real passaram a realizar quinzenalmente mesas-redondas de entrevistas com seletos grupos de jornalistas na

sede do Banco Central no Rio, em Brasília e em São Paulo. O objetivo era facilitar o entendimento de tudo o que se relacionava ao plano de estabilização. Procuravam tirar dúvidas e dar explicações sobre pontos que os jornalistas considerassem importantes naqueles primeiros meses de vigência da unidade monetária e posteriormente do Real (PULITI, 2013, p. 47).

Segundo Lene (2013, p. 307), a imprensa nos anos 90 atuou ativamente no processo de naturalização da ideologia de globalização, na campanha neoliberal pelo desmonte do estado de bem-estar social principalmente de países periféricos. São inseridos dentro da linguagem do jornalismo econômico termos como mercados emergentes, reinserção competitiva e mesmo globalização.

Para a construção da credibilidade do Plano Real, houve uma grande preocupação com a informação que chegava ao público geral. Para tanto, a mídia, como um agente discursivo da sociedade e também do sistema econômico, teve um importante papel na construção dessa realidade de credibilidade do plano.

Os veículos de comunicação, aqui representados pelos jornais O Globo e Folha de S. Paulo, contribuíram para a construção da credibilidade do Plano Real, na medida em que divulgaram amplamente os discursos das fontes oficiais e apoiaram o pacote em seus textos opinativos. Na parte informativa do noticiário, falaram sobre e defenderam o Plano Real, o presidente, ministros, equipe econômica do governo e diretores do Banco Central. Os primeiros responderam, principalmente, pelas dimensões políticas do pacote e os outros pelas dimensões técnicas (LENE, 2013, p. 360).

De acordo com Puliti (2009, p.27), com a implantação do Plano Real houve um grande aumento na dívida pública devido aos juros altos. Com isso, os bancos que financiam essa dívida conseguem um grande poder de chantagem, controlando assim as políticas econômicas do Estado. O autor ressalta ainda que os economistas do mercado financeiro conseguem seus dados na mídia e ocorre uma financeirização do noticiário. Os economistas ganham legitimidade perante à sociedade, além de apontar as mudanças do mercado, influenciando potenciais clientes do sistema financeiro.

A imprensa informava os textos oficiais e em textos opinativos se mostrava favorável aos pacotes, por isso o aumento da capacidade de consumo da população com a aplicação do plano foi apontado e divulgado pelos veículos de comunicação. Com e estabilização, depois de o dragão inflacionário ter sido controlado, o jornalismo de economia buscou novas pautas e temas como combate à pobreza, natureza da desigualdade, desafios da educação, além de outros que se tornaram comuns (LENE, 2009, p. 402).

Levando em consideração o campo do jornalismo e dos economistas, o capítulo desenvolveu-se demonstrando a financeirização do noticiário no que diz respeito ao jornalismo de economia em detrimento da financeirização da própria economia. A partir desta conjuntura de economia financeirizada e jornalismo de economia financeirizado, há a necessidade de abordar a crise econômica mundial de 2007 iniciada com o mercado de subprime e a sistematização da crise para economia mundial, que é o tema do capítulo 4.

CRISE ECONÔMICA MUNDIAL E A DESONERAÇÃO DO IMPOSTO SOBRE 4

PRODUTO INDUSTRIALIZADO (IPI) NO BRASIL