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6.2 O campo dos Economistas e sua interação com a política de desoneração do IPI

6.2.2 Os economistas e a desoneração do IPI nos jornais

Destina-se, através desse tópico, analisar a interação do campo dos economistas com o campo dos jornalistas, considerando a produção de matérias jornalísticas, ou seja, detectar a partir da assinatura das matérias se as mesmas foram produzidas por economistas ou jornalistas e com essa informação verificar se há diferenças ou semelhanças nos conteúdos produzidos por esses dois profissionais. O gráfico 3 traz o quantitativo de profissionais que assinaram a matéria em cada jornal, independentemente de ser economista ou jornalista.

Fonte: Elaborado pelo autor com dados do corpus de pesquisa (2018)

Conforme gráfico 3, constata-se para o jornal FSP que 59 profissionais diferentes assinaram matérias no corpus da pesquisa. Deste total, 79,7% são jornalistas, 1,7% tem formação em Jornalismo e Ciências Sociais, 1,7% tem formação em Sociologia, 1,7% possui formação em Letras e Ciências Sociais. Ainda 15,2% das matérias não possuíam assinaturas de profissionais, mas indicavam a responsabilidade (ex.: Sucursal de Brasília, Reuters etc.). Logo, verifica-se que do montante de profissionais que assinaram as matérias no jornal FSP, 79,7% possuem formação em jornalismo (exclui-se aqui os profissionais com duas formações sendo uma delas Jornalismo) e, ainda, que não há profissionais com formação em Economia assinando matérias desse jornal.

Para o jornal ESP, verificou-se que 60 diferentes profissionais assinaram matérias no corpus da pesquisa. Destes, 85% são jornalistas. 5,1% são jornalistas, mas possuem uma segunda formação (Filosofia e Teologia; História; Letras); 1,6% tem formação em Economia; 1,6% tem formação em Engenharia de Produção Elétrica; 1,6% possui formação em relações internacionais; e 5,1% das matérias estão sem identificação de profissionais, porém com responsabilidade descrita (ex.: Sucursal de Brasília, Reuters etc.). No tocante ao campo dos economistas, pontua-se que o profissional André Sacconato (Doutor em Teoria Econômica pela USP) assinou uma matéria (matéria nº 196), porém conjuntamente com a jornalista Mariana Oliveira. Que do montante de profissionais que assinaram as matérias no jornal ESP, 85% possuem formação em Jornalismo (Excluem-se aqui os profissionais com duas formações sendo uma delas Jornalismo).

Para ao jornal OG, verificou-se 48 profissionais diferentes assinando matérias. Desses, 91,7% são jornalistas, 4,3% são jornalistas e possuem mais uma formação (Direito; Letras), 2% tem formação em Engenheira Civil e 2% não têm identificação. Do montante de profissionais que

59 60 48 25 0 10 20 30 40 50 60 70 FSP ESP OG VE

assinaram as matérias no jornal FSP, 91,7% possuem formação em jornalismo (Exclui-se aqui os profissionais com duas formações sendo uma delas Jornalismo) e, ainda, que não há profissionais com formação em Economia assinando matérias desse jornal.

Para o jornal VE verificou-se 25 profissionais assinando as matérias. Desses, 84% são jornalistas, 8% têm formação em Jornalismo e Economia; 4% possui formação em Direito e 4% não possui identificação. Observa-se que do montante de profissionais que assinaram as matérias no jornal VE, 84% possuem formação em Jornalismo (Exclui-se aqui os profissionais com duas formações sendo uma delas Jornalismo) denotando maior homogeneidade para os profissionais do campo dos jornalistas. Destaca-se, ainda, que não há profissionais com formação em Economia assinando matérias desse jornal, demonstrando, portanto, o silêncio do campo dos jornalistas na produção de conteúdos noticiosos do jornal em questão.

Verificou-se que das 192 assinaturas diferentes nas matérias, 84,9% são de jornalistas, 0,5% tem formação em Economia; 4,2% têm formação em Jornalismo e ainda formação em uma segunda profissão; 3,1% possuem outra formação, 1% tem assinatura, mas não identificamos a formação do profissional e 6,3% não possuem assinatura, mas estão identificadas (sucursal de Brasília, Reuters etc.). Logo, verifica-se que no montante de assinaturas do corpus 0,5% corresponde à profissional do campo dos economistas, porém assinando conjuntamente a matéria com uma jornalista, caracterizando assim maior homogeneidade de matérias produzidas por jornalistas.

Deste modo, tendo como referência nossa questão de pesquisa - a política de desoneração do IPI, quanto a abordagem acadêmica e a produção de matérias jornalísticas refletiram o silêncio do campo dos economistas? - não foi possível respondê-la plenamente. Na produção científica da academia verificou-se seis estudos realizados entre 2015 e 2018 que abordavam em seus resultados algumas categorias de análise de conteúdo categórico. Não constava a abordagem plena do assunto, considerando todos os conteúdos verificados; mas também não se detectou silêncio por parte do campo dos economistas para a produção científica.

No que concerne à assinatura das matérias jornalísticas, pontua-se que 1% das matérias jornalísticas foi produzida por jornalistas que possuem formação, também, em Economia. No entanto resta claro que na época das matérias produzidas, as duas profissionais que possuem formação em Economia eram contratadas como jornalistas pelo veículo de comunicação, segundo pesquisa realizada no LinkedIn. A produção de 0,5% das matérias por um economista, assinando conjuntamente com jornalista, demonstrou o silêncio do campo dos economistas para produção de conteúdo jornalístico e assinatura de matérias.

Para a produção científica não há possibilidade de constatar totalmente o silêncio do campo dos economistas para o tema política fiscal de desoneração do IPI. Mas não se verificou estudos que abordassem todos os resultados para a economia advindos da citada política. Na produção de matérias nos jornais há o silêncio do campo dos economistas, posto que em um universo de 192 profissionais diferentes, apenas um economista assinou a matéria, não sendo possível fazer comparações entre os conteúdos produzidos por economistas e jornalistas.

Observa-se ainda que não se verificou tanto para a produção acadêmica, quanto para a produção de matérias jornalísticas, o tema financeirização enfatizado pelo campo dos economistas, conforme pontuado pela revisão de literatura sobre a constituição do campo dos economistas no Brasil. Tal fato explica-se em parte devido à política fiscal de desoneração do IPI, tema desse trabalho, não estar diretamente relacionada à financeirização da economia e em parte porque, como exposto acima, constatou-se o silêncio do campo dos economistas sobre o tema devido em especial às características da crise econômica que se tornou sistêmica a partir de instituições financeiras no EUA.