• Nenhum resultado encontrado

Ressalta-se que o intuito dessa seção é apenas revisar os preceitos legais do Imposto Sobre Produtos Industrializados preconizados pela Constituição Federal da República Federativa do Brasil de 1988 e pelo Código Tributário Nacional. Neste contexto, faz-se necessário compreender o conceito de produto industrializado que, segundo Sales at al (2011, p. 4), “é o resultado de operação que modifique a sua natureza, funcionamento, acabamento, apresentação ou a finalidade do produto, ou aperfeiçoe para o consumo”.

Segundo Xavier (2008, p. 01), “o imposto sobre produtos industrializados tem sua origem no antigo imposto sobre o consumo que aparece, pela primeira vez, na Constituição de 1934”. Ainda, segundo a autora, o IPI aparece pela primeira vez com esse nome somente com a Emenda Constitucional número 18 de 01 de dezembro de 1965, sendo seletivo, em função da essencialidade dos produtos e não cumulativo, apesar de a constituição de 1946 atribuir à União a instituição do imposto sobre o consumo de mercadorias e sobre a produção (XAVIER, 2008, p. 1).

Ainda sobre o histórico do IPI, Wilbert et al (2014, p. 110) apontam que por ocasião da promulgação da Constituição Federal (CF) de 1988, fruto da última constituinte brasileira, “foi mantida a competência da União para instituir, entre outros, o Imposto sobre Produtos Industrializados e também foi mantida a seletividade dos produtos e a não cumulatividade”. Os autores ainda apontam que no Código Tributário Nacional, artigos 46 a 51, há disposição do IPI, apontando ainda a definição do fato gerador, a base de cálculo e os contribuintes (WILBERT et al, 2014, p. 110).

Após várias mudanças através de decretos desde a promulgação da Constituição de 1988, segundo a Secretaria da Receita Federal do Brasil (2017), “o IPI é regulamentado pelo Decreto 7212/2010 da Presidência da República”. Logo o referido decreto regulamenta a cobrança, fiscalização, arrecadação e administração do IPI em todo o território nacional.

Ressalta-se ainda, segundo os autores, que o IPI possui função extrafiscal de acordo com o que estipula o art. 153 da Constituição Federal de 1988, ou seja, seletividade em razão da essencialidade do produto. Os autores explicam que o referido imposto não possui somente a finalidade arrecadatória, podendo o governo utilizá-lo para incentivar a produção e consumo de determinados produtos bem como desestimular (WIBERT ET AL, 2014, p. 110).

Conforme exposto pelos autores, verifica-se na medida do governo, através dos decretos anteriormente expostos sobre a desoneração do IPI, utilização de sua função extrafiscal no que toca à isenção de impostos para determinados produtos. O objetivo da interferência do governo era estimular a produção e o consumo interno e assim combater os efeitos da crise econômica mundial que se tornara sistêmica e afetara a economia brasileira.

Segundo Chieregato et al (2007), são contribuintes do IPI, ou seja, obrigados ao recolhimento do citado imposto:

Estabelecimento industrial, que é todo aquele que executar qualquer operação de industrialização; estabelecimentos que são equiparados à indústria, apesar de não realizarem operações de industrialização, como os importadores, inclusive filiais que exerçam o comércio de produtos importados, salvo se operarem exclusivamente a varejo; filiais de estabelecimento industrial, na venda de seus produtos; e comerciantes de bens de produção, que têm caráter facultativo à equiparação a industrial. (CHIEREGATO ET AL, 2007, p. 96).

No que tange à base de cálculo, diferenciando a cobrança para a operação interna e a importação, a Receita Federal conceitua:

3.1 Na operação interna: O valor total da operação de que decorrer a saída do estabelecimento industrial ou equiparado a industrial;

3.2 Na importação: O valor que servir ou que serviria de base para o cálculo dos tributos aduaneiros, por ocasião do despacho de importação, acrescido do montante desses tributos e dos encargos cambiais efetivamente pagos pelo importador ou destes exigíveis (SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL, 2017).

No que concerne às alíquotas para o imposto, Wilbert et al (2014) enfatizam que a alíquota varia conforme o produto e geralmente é mais baixa para produtos da primeira necessidade ou

essenciais como alimentos, vestuário e calçados e mais alta para produtos considerados supérfluos como bebidas, cigarros, perfumes, automóveis (Wilbert et al, 2014, p. 110).

Ainda sobre as alíquotas do IPI, os autores clarificam que estão dispostas na Tabela de Incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados (TIPI). Os autores explicam que há quatro possibilidades para enquadramento do produto na tabela, ou seja, produto isento, imune, alíquota zero ou alíquota positiva, sendo esta com variação 0% e 330%, sendo a maior aplicada aos cigarros (WILBERT et al, 2014, p. 111).

A Secretaria aponta o período de apuração do imposto:

5.1 O período de apuração do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), incidente nas saídas dos produtos dos estabelecimentos industriais ou equiparados a industrial, é mensal. 5.2 O período de apuração mensal não se aplica ao IPI incidente sobre produtos de procedência estrangeira, na importação (Secretaria da Receita federal do Brasil, 2017).

Explicita-se ainda que os tributos, seja da União, estados ou municípios, possuem prazo de recolhimento. No que concerne ao prazo de recolhimento do IPI, a Receita esclarece:

6.1 São os seguintes os prazos de recolhimento do IPI:

I - antes da saída do produto da repartição que processar o despacho, nos casos de importação;

II - até o décimo dia do mês subsequente ao de ocorrência dos fatos geradores, nos casos dos produtos classificados no Código 2402.20.00 da TIPI;

III - até o vigésimo quinto dia do mês subsequente ao de ocorrência dos fatos geradores, no caso dos demais produtos;

6.2 Se o dia do vencimento de que tratam os incisos II e III não for dia útil, considerar-se-á antecipado o prazo para o primeiro dia útil que o anteceder (SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL, 2017).

Ressalta-se ainda que além do fato de ser utilizado como indutor de setores da economia, seja para aumentar ou inibir o consumo, o IPI possui também uma característica distributiva, posto que é parcela importante na formação de repasses realizados pela União. Dentre esses repasses, citamos o Fundo de Participação dos Estados (FPE) e o Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Tais fundos são instituídos pelo artigo 159 da CF/88 em sua forma literal:

Art. 159. A União entregará:

I - do produto da arrecadação dos impostos sobre renda e proventos de qualquer natureza e sobre produtos industrializados, 49% (quarenta e nove por cento), na seguinte forma: a) vinte e um inteiros e cinco décimos por cento ao Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal;

b) vinte e dois inteiros e cinco décimos por cento ao Fundo de Participação dos Municípios; c) três por cento, para aplicação em programas de financiamento ao setor produtivo das Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, através de suas instituições financeiras de caráter

regional, de acordo com os planos regionais de desenvolvimento, ficando assegurada ao semiárido do Nordeste a metade dos recursos destinados à Região, na forma que a lei estabelecer;

d) um por cento ao Fundo de Participação dos Municípios, que será entregue no primeiro decêndio do mês de dezembro de cada ano;

e) 1% (um por cento) ao Fundo de Participação dos Municípios, que será entregue no primeiro decêndio do mês de julho de cada ano. (CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, 1988).

Salienta-se que os citados fundos obedecem aos critérios de distribuição determinados pela Lei nº 5.172/66, Código Tributário Nacional (CTN), sendo que o FPE está disposto no artigo 90 do referido código e o FPM, no artigo 91.

Acima descrevemos as informações principais sobre o IPI, objeto de estudo dessa pesquisa, pontuando que a redução ou isenção se dá conforme necessidades do Governo Federal e na forma de estímulo fiscal, enfatizando sua função extrafiscal, por meio de decreto que modifica sua tabela de alíquotas e pode ser utilizado como forma de estímulo a um determinado setor, aumentando sua produção e estimulando o consumo, como o caso dos decretos utilizados como resposta à crise econômica mundial iniciada no ano de 2008.

ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS 5

Neste capítulo aborda-se os procedimentos metodológicos empregados para a produção da pesquisa sobre a cobertura dos Jornais Folha de São Paulo (FSP), O Estado de São Paulo (ESP), O globo (OG) e Valor Econômico (VE) para o objeto pesquisado, ou seja: desoneração do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) utilizada pelo governo brasileiro como resposta à crise econômica iniciada pelo subprime, que se tornou mundial em 2008.

Inicialmente aborda-se uma revisão da literatura dos métodos de pesquisa que serão utilizados: análise de conteúdo categórico, análise de enquadramento e análise de vozes. Em seguida procederemos à explicação da escolha do objetivo de pesquisa, a escolha do corpus, bem como a aplicação dos métodos escolhidos.

5.1 Análise de conteúdo categórica

A análise de conteúdo tem como objetivo identificar os assuntos mais frequentes na cobertura jornalística da crise econômica nas matérias sobre a desoneração do IPI, ou seja, saber quais foram os temas mais relevantes abordados no corpus selecionado.

A análise de conteúdo é explicada por Lawrence Bardin. Segundo a autora, o tema em questão consiste em:

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações. Não se trata de um instrumento, mas de um leque de apetrechos; ou, com maior rigor, será um único instrumento, mas marcado por uma grande disparidade de formas e adaptável a um campo de aplicação muito vasto: as comunicações (BARDIN, 1977, p. 31)

A autora explica que a análise de conteúdo é útil para pesquisas que objetivam compreender os conceitos presentes nas comunicações para além dos seus significados. A análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações. Não se trata de um instrumento, mas de um leque de apetrechos; ou, com maior rigor, será um único instrumento, mas marcado por uma grande disparidade de formas e adaptável a um campo de aplicação muito vasto: as comunicações (BARDIN, 1977, p. 31).

A análise de conteúdo organiza-se em três fases sequenciais: 1) a pré-análise, que é a fase da organização propriamente dita e tem o objetivo de tornar esse material operacional para a pesquisa; 2) a exploração do material refere-se à fase de análise com a administração das decisões tomadas; e 3) o tratamento dos resultados constituído pela inferência e interpretação em que os resultados

brutos são tratados de forma que sejam válidos e significativos (BARDIN, 1977, p. 95).

A pré-análise tem por objetivo a organização e possui cinco etapas: (a) leitura flutuante, que é o estabelecimento de contato com os documentos analisados e de conhecimento do texto, tornando pouco a pouco a leitura mais precisa; (b) escolha dos documentos, que consiste na demarcação do que será analisado, ou seja, a constituição de um corpus. Essa etapa tem que ser realizada de forma exaustiva, com escolha de corpus com representatividade, homogêneo e pertinente; (c) formulação das hipóteses e dos objetivos; (d) referenciação dos índices e elaboração de indicadores, que envolve a determinação de indicadores por meio de recortes de texto nos documentos de análise; e (e) preparação do material (BARDIN, 1977, pp. 95-101).

Logo após a escolha do recorte da leitura flutuante se dará a análise integral de cada unidade escolhida, de forma exaustiva, conforme apontado pela autora. Está fase será auxiliar, conforme explicado por Bardin (1977) anteriormente, para formulação das hipóteses e dos objetivos, formulação de indicadores e na preparação do material.

Logo após a leitura exaustiva, para o recorte da leitura flutuante, inicia-se a próxima fase, ou seja, a exploração do material que, segundo Bardin (1977, pag. 101), consiste nas operações de codificação, ou seja, “esta fase, longa e fastidiosa consiste essencialmente de operações de codificação, desconto ou enumeração, em função de regras previamente formuladas”.

A autora descreve que nessa segunda fase se procederá à codificação e à categorização para a análise de conteúdo categórico.

No que tange à codificação, “corresponde a uma transformação – efetuada segundo regras precisas – dos dados brutos do texto, transformação esta que, por recorte, agregação e enumeração, permite atingir uma representação do conteúdo ou da sua expressão” (BARDIN, 1977, p. 103).

A autora ainda explica que a codificação abrange três escolhas, ou seja: o recorte, que nada mais é que a escolha das unidades da pesquisa; a enumeração, que é a escolha das regras de contagem, ou seja, como será a contagem do material e a classificação e agregação, que perpassa pela formação das categorias (BARDIN, 1977, p. 104).

Após a codificação, segue-se para a categorização. Compreende-se que as categorias são rubricas ou classes as quais reúnem um grupo de elementos sob um título genérico, ou seja, sob uma mesma categoria. Logo, “a categorização consiste na classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo o gênero (analogia), com os critérios previamente definidos (BARDIN, 1977, p. 117).

qualidades: a exclusão mútua, a homogeneidade, a pertinência, a objetividade e a fidelidade, a produtividade (BARDIN, 1977, p.120).

A terceira fase diz respeito ao tratamento dos resultados, inferência e interpretação. Esta etapa é destinada ao tratamento dos resultados. Os resultados brutos são tratados de maneira a serem significativos e válidos. Ocorre nessa fase a condensação e o destaque das informações para análise, culminando nas interpretações inferenciais (BARDIN, 1977, p. 101).

Logo para este estudo utilizaremos a análise de conteúdo categórico, seguindo o especificado por Bardin para categorização e posterior análise. Resta claro que a metodologia explicada pela autora, ou seja, leitura flutuante, codificação e categorização utilizada na análise de conteúdo categórico será utilizada também na análise de enquadramento e na análise de vozes.