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Diversificando os negócios: shopping center, concessão de rodovias e geração

6. DA ENGENHARIA CIVIL PESADA AOS CONDOMÍNIOS RESIDENCIAIS FECHADOS:

6.2 O Grupo Encalso Damha

6.2.3 Diversificando os negócios: shopping center, concessão de rodovias e geração

Como já foi dito anteriormente, o Grupo Encalso é marcado pela diversificação de suas atividades econômicas. Dessa forma, além da criação da Encalso contruções, em 1964, e do investimento do grupo no setor agropecuário, na década de 70, a empresa expandiu o seu espaço de atuação para o setor comercial, com a aquisição de um shopping center na cidade de Presidente Prudente, o Prudenshopping, em 1990; para o setor de concessão rodoviária, através de aquisições das ações da Renovias e da Rodosul, no final da década de 90; e para o setor de geração de energia, em 2011.

A seguir, faremos a descrição dessas três atividades desenvolvidas pelo Grupo Encalso, para então iniciarmos a descrição e a análise da Damha Urbanizadora, responsável pela implantação e comercialização de loteamentos e condomínios residenciais fechados em vários estados do país.

6.2.3.1 O Prudenshopping

Residente em Presidente Prudente desde a década de 50, Anwar Damha, familiarizado com a dinâmica econômica desta localidade, e amplamente beneficiado por ações do poder público municipal, inicia as atividades do Grupo Encalso no setor comercial com a aquisição do Prudenshopping, em 1990, nesta cidade.

Como mostra diversos autores (SOBARZO, 2009; SPOSITO, 2001 apud GOÉS, 2013) o atual Prudenshopping começou a ser construído em 1984, logo após a inauguração do Parque do Povo, através da iniciativa da prefeitura municipal, através da PRUDENCO (empresa municipal de capital misto e então proprietária do terreno) recebendo, incialmente, o nome de Shopping Center Aicás.

Posteriormente, associou-se à prefeitura municipal “a Construtora Júlio Bogoricin, empresa de capital nacional, assim como o Grupo J. Alves Veríssimo, proprietários dos Hipermercados Eldorado, que veio a se constituir loja âncora desse empreendimento” (GOÉS, 2013, p. 10).

Pouco antes de sua inauguração, em 1990, Sobarzo (2009) destaca duas ações empreendidas pelo poder público municipal, responsáveis pelo favorecimento

do Grupo Encalso no processo de aquisição e ampliação do shopping. São elas: as Leis Municipais 2.974 e 2.975, como podemos ver a seguir:

Em meados de 1990, antes da inauguração, realizada em novembro desse ano, o poder municipal aprovou a Lei 2.975, que autorizou a Prudenco a vender sua participação acionária no Prudenshopping. [...]Outra medida tomada pela Prefeitura com relação ao Prudenshopping foi estabelecida pela Lei Municipal 2.974 de 1990 (lei imediatamente anterior àquela que autorizou a vendadas ações). Essa lei autorizou o executivo municipal a alienar um terreno pertencente à Prefeitura, localizado ao lado do shopping center e cruzado por um córrego. O mais interessante desse caso é que a área foi entregue ao Prudenshopping em troca da “urbanização” do córrego, o aterro do terreno e a continuidade e pavimentação de uma rua. A lógica indica que o terreno poderia ter sido vendido e logo “urbanizado” pelos seus novos donos, já que, para eles, essa obra interessava para ampliar a área de estacionamentos, mas o que aconteceu foi que a Prefeitura o entregou em troca de uma rua e sua pavimentação. (p. 10 -11)

Após o decreto dessas duas leis, o Grupo Encalso comprou as ações do Grupo J. Alves Veríssimo e da PRUDENCO, tornando-se o acionista majoritário do shopping, além de ser beneficiado duplamente pela alienação do terreno pela prefeitura, já que a empresa realizou as obras de “urbanização” do terreno através da Encalso Construções.

Em 2008, o Prudenshopping iniciou um processo de expansão de suas instalações, inaugurado em 2013. Foram investidos mais de cinquenta milhões de reais em sua reforma, e, atualmente, o shopping conta com aproximadamente, 85.000 m², divididos em 208 lojas de diversos setores; 1500 vagas de estacionamento; e recebe, em média, 800.000 pessoas por mês. Em 2004, também já havia sido implantado em Presidente Prudente o Damha Center, vizinho dos loteamentos Damha I e II, voltados aos moradores desses loteamentos. O Grupo também conta com o Damha Mall, inaugurado em 2012 em São Carlos; o Damha Mall Campo Grande; e conta com projeto de implantação do empreendimento denominado São Carlos Shopping.

6.2.3.2 Concessão de Rodovias

O processo de concessão rodoviária no Brasil iniciou-se em 1993 e 1994, quando o hoje extinto Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER) lançou as primeiras licitações de concessões rodoviárias para cinco trechos rodoviários federais. Em 1995, a Lei n° 8.987 instituiu a regulação para as

concessões públicas, o que abriu caminho para a aprovação da Lei n° 9.277, em 1996, em que o governo federal delegou aos Estados, municípios e distrito federal a administração e operação de determinadas rodovias federais. A partir da aprovação dessas leis, houve a promulgação da Lei n° 9391, em 1996, no estado de São Paulo, governado por Mario Covas, que institui o Programa Estadual de desestatização, que permitiu a instituição e a legalização do programa de concessões rodoviárias ao setor privado (CITRON, 2006)

A Encalso Construções, presente no processo de constituição de rodovias importantes do sistema rodoviários paulista (ver quadro 1), através da Renovias (empresa de capital misto, em que a Encalso Construções possui 60% das ações, e o Grupo CCR, formado pelas empreiteiras Soares Penido, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez, possui 40% das ações restantes) foi uma das contempladas, em 1998, pelo período de 20 anos, pelo trecho que vai de Campinas ao sul do estado de Minas Gerais, abrangendo as rodovias SP-215, SP-340, SP-342, SP-344 e SP-350, em um total de 345,6 quilômetros de extensão, como podemos ver no mapa a seguir:

Mapa 4 - Localização das rodovias administradas pela Renovias

Fonte: Site Grupo CCR (2014)

Pelo Programa de Concessão Estadual do Rio Grande do Sul, a Encalso Construções participou, com 21% das ações, da concessionária Rodosul, responsável pelo pólo de concessão rodoviário de Vacaria, em um trecho de 132,6

Km. Em 2013, com o fim do prazo do contrato firmado em 1998, entre as concessionárias e o governo estadual do Rio Grande do Sul, a Rodosul buscou na justiça ampliar o prazo de suas atividades até o final de 2013, tendo sido beneficiada. A justiça ordenou o funcionamento das atividades da Rodosul até 28 de dezembro de 2013 (LIMINAR..., 2014), após esse período, a concessionária devolveu ao estado o controle sobre a rodovia.

6.2.3.3 Geração de Energia

Desde 1996, o setor energético nacional vem passando por mudanças. Nesse ano, iniciou-se a implantação do Projeto de Reestruturação do Setor Elétrico Brasileiro (Projeto RE-SEB), coordenado pelo Ministério de Minas e Energia, responsável pela desverticalização do modelo até então vigente. Setores como produção, transmissão e distribuição foram desarticulados pelo projeto, a fim de gerar mais competição entre os diferentes ramos. Concluído em 1998, o projeto passou por uma total reformulação em seu modelo entre 2003 e 2004, sustentado pelas Leis nº 10.847 e 10.848 e pelo Decreto nº 5.163, instituindo um rede de planejamento e monitoramento do setor, através da criação da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), responsável pelo planejamento do setor elétrico a longo prazo; do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), com a função de avaliar permanentemente a segurança do suprimento de energia elétrica; e uma instituição para dar continuidade às atividades do MAE, relativas à comercialização de energia elétrica no sistema interligado a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) (BEGER, 2014). Um fator importante, desde 1995, foi a criação de um mercado livre de energia elétrica, em que empresas poderiam produzir e comercializar energia tanto para o estado, quanto para grupos privados, como industriais, etc, como pode ser visto no quadro a seguir:

Quadro 3 - Comparação entre os modelos implantados no setor energético

Fonte: Câmara de Comercialização de Energia Elétrica apud BERGER, 2014.

Tendo em vista esse cenário, o Grupo Encalso Damha anunciou em 2010 a construção de duas Pequenas Centrais Hidroelétricas (PCHs) na região de São José do Rio Preto (MIRELLA, 2014). Com investimentos da ordem de R$ 154 milhões de reais, as duas PCHs (PCH Foz do Preto e PCH do Talhado), ficariam nas áreas dos municípios de Riolândia, Paulo de Faria, Pontes Gestal e Palestina, nos Rios Preto e Turvo, pertencentes à Bacia do Rio Paraná. Porém, desde o anúncio da obra, houve uma mobilização popular, encabeçada pelo AMERTP (Associação de defesa do meio ambiente dos Rios Turvo e Preto e das Cachoeiras do Talhado e São Roberto), contra a implantação do projeto. O grupo civil mobilizou apoio junto aos vereadores municipais e a Assembleia Legislativa do Estado, tendo tido uma boa repercussão na impressa local. Com isso, em abril de 2012, a Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) deu parecer desfavorável a obra (CETESB..., 2014), além de ter ocorrido o tombamento, pelo CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do

Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico), da área, inviabilizando a construção futura de empreendimento semelhante.

Com inviabilização da construção da Pequena Central Hidroelétrica Foz do Preto e do Talhado, o Grupo Encalso Damha firmou um acordo com a Chesf e a

Voltália, em 2011, para a construção de quatro parques eólicos, no estado do Rio

Grande do Norte, com previsão de inauguração em 2016 (MILOSO, 2014b, p. 71). E em abril de 2013 anunciou a criação da D’Energy, uma “comercializadora de energia que chega ao mercado com o compromisso de manter a mesma qualidade que fez do grupo Encalso referência em suas áreas de atuação – e com a proposta de ser um trading independente da geradora” (MILOSO, 2014c, p. 108).