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A formação da cidade de São Carlos e a expansão urbana no período cafeeiro

4. A EXPANSÃO URBANA DE SÃO CARLOS E A EMERGÊNCIA DOS CONDOMÍNIOS

4.1 A formação da cidade de São Carlos e a expansão urbana no período cafeeiro

Como consta na bibliografia referente ao tema (DEVESCOVI, 1985; LIMA, 2008; TRUZZI, 2000) o aparecimento do que é hoje a cidade de São Carlos, localizada no noroeste do estado de São Paulo, a uma distância de aproximadamente 232 km da capital paulista, remonta a rota do ouro, nos atuais estados de Minas Gerais e Goiás em meados do século XVII. E posteriormente, no século XVIII, ao processo de expansão do café pelo estado de São Paulo.

Com a descoberta do ouro no início do século XVII, nos atuais estados de Goiás e Minas Gerais, foi aberto um caminho em direção as Minas Gerais, que partia da cidade de São Paulo passando por Jundiaí, Campinas e Mogi Mirim. Esse caminho ficou conhecido como caminho de Goiás ou Estrada Anhanguera. Posteriormente, com a descoberta de novas minas, foi aberto um novo caminho, em direção ao oeste do estado, partindo da cidade de Rio Claro e passando pelos “Sertões de Araraquara”, ainda pouco explorado e praticamente desconhecido. Nessa rota de exploração do ouro, denominada de Picadão de Cuiabá, formou-se

pequenos assentamentos de posseiros, responsáveis por abastecer as tropas dos viajantes. Um desses assentamentos, no encontro do Picadão de Cuiabá com o Córrego do Gregório, originou-se o primeiro povoado do município de São Carlos16.

Posteriormente, no século XIX, o processo de expansão do café (implantado primeiramente no litoral norte, depois no Vale do Paraíba, até atingir a região oeste do estado) aliado ao poderio econômico e político de fazendeiros da época foi responsável pela criação de um novo núcleo urbano, a cidade de São Carlos (DEVESCOVI, 1985). Englobando a área de três sesmarias (Sesmaria do Pinhal, Sesmaria do Monjolinho e Sesmaria do Quilombo), e através de quatro doações de terra feitas por Antônio Carlos Arruda Botelho, Jesuíno Soares de Arruda, Alexandrina Alves de Oliveira e Joaquim Alves de Sousa Nery, em 1857 foi construída a primeira capela e a elevação da área em Distrito de Paz de Araraquara; em 1865 a elevação à vila; e finalmente, em 1880, a área tornou-se o munícipio de São Carlos, voltado, essencialmente, à produção cafeeira.

Assim, em 1884, através da iniciativa individual de Antônio Carlos Arruda Botelho (o Conde do Pinhal, líder das oligarquias rurais da época), foi inaugurado o prolongamento da estrada de ferro da Companhia Paulista sentido Rio Claro- Araraquara e Jaú, através da fundação da Companhia Rio Claro, depois vendida à Companhia Paulista de Estradas de Ferro, inserindo a região a rota comercial do café. A partir da inserção do munícipio na atividade agroexportadora da época, São Carlos também foi uma das cidades do estado de São Paulo com maior número de imigrantes, trazidos ao Brasil para trabalhar na lavoura cafeeira17.

De acordo com Devescovi (1985), o auge da produção cafeeira no município de São Carlos ocorreu na década de 1890. Após a virada do século XIX para o XX, a produção do café na cidade foi paulatinamente declinando, até finalmente apresentar sinais de esgotamento em meados dos anos de 1930 a 1940. Porém, como atividade econômica estruturante da fundação de São Carlos, a atividade cafeeira, juntamente com as oligarquias rurais, foi a responsável pelo incipiente

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A atual região de São Carlos, além dos posseiros, contava com a presença de índios pertencentes à confederação guaianases. Esses foram sendo paulatinamente expulsos ou exterminados da área (TRUZZI, 2000, p. 40)

17 Em 1876 foi trazida a primeira turma de imigrantes à São Carlos, por iniciativa do Conde do Pinhal.

Era composta por cem famílias alemãs, e se instalaram em sua fazenda. Em 1894, São Carlos recebeu 3788 imigrantes, o que a caracterizou como a cidade com maior número de imigrantes trazidos naquele ano ao estado de São Paulo (TRUZZI, 2000, p. 53; p. 58)

processo de urbanização do município. Nesse sentido, cabe assinalar a presença das elites rurais na constituição do núcleo urbano são-carlense.

A construção da capela ocorreu em 1857, originando o núcleo a partir do qual a cidade viria a se expandir a partir da Avenida São Carlos. Nos anos subsequentes, o pátio da matriz foi sendo ocupado por elegantes residências dos fazendeiros do café, acompanhadas por estabelecimentos comerciais de luxo, joias e produtos importados da Europa, voltadas ao consumo dessas elites rurais (NEVES, 1983

apud DEVESCOVI, 1985). Porém, com a chegada da ferrovia, a vinda de grande

contingente imigrante e o fim da escravidão, houve a expansão do tecido urbano (LIMA, 2008):

 Ao sul do Córrego do Gregório, por artesãos e pequenos comerciantes;  Paralela à estrada de ferro e adjunta ao centro, por operários da linha,

assim como de trabalhadores de pequenos estabelecimentos industriais, voltados à atividade cafeeira, e comerciantes;

 Periférica, ao sul, pelos escravos recém libertos (Vila Isabel, 1892).

Da mesma forma, foi empreendida, predominantemente pelas elites rurais, a constituição de uma infraestrutura básica no município, como podemos ver abaixo (LIMA, 2008):

 1883: constituição do edifício da Câmara Municipal;  1885: linha de bondes por tração animal;

 1890: abastecimento de água potável;  Teatro Ipiranga;

 1893: luz elétrica e construção da Santa Casa de Misericórdia;  1913: calçamento ruas centrais com paralelepípedos;

 1914: bondes elétricos.

Como ressalta Devescovi (1985), a cidade de São Carlos, estruturada pela economia cafeeira, era diversificada e heterogênea socialmente. E somando-se a isso, como podemos concluir a partir das informações contidas acima, São Carlos já possuía uma grande área urbanizada, assim como uma rede de infraestrutura

urbana bem desenvolvida para a época. Com uma população de 54.225 habitantes, em 1920:

São Carlos se transformara em uma cidade bastante diversificada socialmente. De local exclusivo de residência da classe dominante (a burguesia agrária), esse núcleo urbano passa, sobretudo, no início do século atual, a conter também outras categorias sociais, particularmente, a pequena burguesia industrial e comercial e a classe operária nascente. O espaço social urbano, portanto, não é mais um só, mas se torna heterogêneo, se diversifica e se amplia (DEVESCOVI, 1985, p. 51).

Um novo salto qualitativo foi dado a partir da decadência da atividade cafeeira e a ascensão da atividade industrial desenvolvida no município a partir de 1940. A partir desse ano, após um período de baixo crescimento populacional e poucas oportunidades no campo outrora prospero, São Carlos se insere no programa nacional de substituição das importações e através da constituição de algumas grandes indústrias locais experimenta um novo período de crescimento econômico e populacional. Assim, ganha novo fôlego o processo de expansão urbana marcado por novas características, como poderemos ver a seguir.