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Do luxo na China

No documento O Espírito das Leis (páginas 49-74)

Razões particulares requerem leis suntuárias em alguns Estados. O povo, por causa do clima, pode tornar-se tão numeroso e, por outro lado, os meios de fazê-lo subsistir podem ser tão incertos, que é bom que ele se aplique inteiramente ao cultivo das terras. Nestes Estados, o luxo é perigoso, e as leis suntuárias devem ser rigorosas. Assim, para saber se se deve encorajar ou proscrever o luxo, deve-se primeiro examinar a relação entre a quantidade de habitantes e a facilidade de fazê-los viver. Na Inglaterra, o solo produz muito mais grãos do que o necessário para alimentar aqueles que cultivam as terras e aqueles que fornecem roupas; logo, podem-se ter artes frívolas e conseqüentemente luxo. Na França, cresce trigo suficiente para a alimentação dos lavradores e daqueles que estão empregados nas manufaturas. Além do mais, o comércio com os estrangeiros pode obter pelas coisas frívolas tantas coisas necessárias, que não se deve temer o luxo.

Na China, pelo contrário, as mulheres são tão férteis e a espécie humana multiplica-se a tal ponto, que as terras, por mais cultivadas que sejam, são quase insuficientes para a alimentação dos habitantes. Assim, o luxo ali é pernicioso e o espírito de trabalho e de economia é tão necessário quanto em qualquer república. Precisam apegar-se às artes necessárias e evitar as artes da volúpia.

Eis o espírito das belas ordenações dos imperadores chineses. "Nossos antigos", conta um imperador da família dos Tang, "tinham como máxima que, se houvesse um homem que não arasse, uma mulher que não estivesse ocupada fiando, alguém estava sofrendo de frio ou de fome no império..." E , segundo este princípio, ele mandou destruir uma infinidade de mosteiros de bonzos.

O terceiro imperador da vigésima primeira dinastia, para quem tinham levado pedras

preciosas encontradas numa mina, mandou fechá-la, pois não queria cansar seu povo por uma coisa que não poderia nem alimentá-lo, nem vesti-lo.

"Nosso luxo é tão grande", conta Kiayventi, "que o povo enfeita com bordados os sapatos dos jovens e das moças que ele é obrigado a vender." Quando tantos homens estão ocupados fazendo roupas para um só, como poderiam deixar de existir pessoas sem roupas? Existem dez homens que comem os produtos da terra para cada lavrador: como poderiam não existir pessoas sem alimentos?

CAPÍTULO VII

Conseqüência fatal do luxo na China

Vemos na história da China que ela teve vinte e duas dinastias que se sucederam; isto é, que ela enfrentou vinte e duas revoluções gerais, sem contar uma infinidade de revoluções particulares. As três primeiras dinastias duraram um tempo bastante longo, porque foram sabiamente governadas e o império era menos extenso do que se tornou posteriormente. Mas pode-se dizer que, em geral, todas essas dinastias começaram razoavelmente bem. A

virtude, o cuidado, a vigilância são necessários para a China; foram-no no início das dinastias e faltaram no final. De fato, era natural que imperadores, criados em meio ao cansaço das guerras, que conseguiram destronar uma família imersa em delícias,

conservassem a virtude que haviam provado ser tão útil e temessem as volúpias que haviam visto serem tão funestas. Mas, após os três ou quatro primeiros príncipes, a corrupção, o luxo, o ócio, as delícias se apossam dos sucessores; eles se trancam em seu palácio, seu espírito se enfraquece, sua vida encurta, a família entra em declínio; grandes elevam-se, os eunucos ganham força, só crianças são entronizadas; o palácio torna-se inimigo do império; uma população ociosa que o habita arruina o povo que trabalha, o imperador é assassinado ou destruído por um usurpador que funda uma família, cujo terceiro ou quarto sucessor vai, no mesmo palácio, mais uma vez trancar-se.

CAPÍTULO VIII

Da continência pública

Existem tantas imperfeições ligadas à perda da virtude das mulheres, toda sua alma fica tão degradada, supriìnido este ponto principal, ele faz caírem tantos outros, que se pode considerar, num Estado popular, a incontinência pública como a pior das desgraças e a certeza de uma mudança na constituição.

Assim, os bons legisladores exigiram das mulheres certa gravidade nos costumes.

Proscreveram de suas repúblicas não somente o vício, mas a aparência do vício. Baniram até este comércio de galanteria que o ócio produz, que faz com que as mulheres corrompam antes mesmo de serem corrompidas, dá um preço a todas as coisas insignificantes, e

rebaixa o que é importante, e faz com que as pessoas passem a se comportar segundo as máximas do ridículo, que as mulheres tão bem sabem criar.

CAPÍTULO IX

Da condirão das mulheres nos diversos governos

As mulheres têm pouca compostura nas monarquias porque, como a distinção das posições as chama à corte, elas lá adquirem este espírito de liberdade que é como que o único ali tolerado. Todas usam de suas graças e de suas paixões para melhorar sua fortuna, e como sua fraqueza não lhes permite o orgulho, e sim a vaidade, o luxo sempre reina com elas. Nos Estados despóticos, as mulheres não introduzem o luxo; elas mesmas são um objeto de luxo. Devem ser extremamente escravas. Todos seguem o espírito do governo e trazem para casa o que vêem em outros lugares. Como as leis são severas e executadas imediatamente, tem-se medo de que a liberdade das mulheres crie casos. Suas briguinhas, suas

indiscrições, suas repugnâncias, suas inclinações, seus ciúmes, suas birras, esta arte que possuem as almas pequenas de interessar as grandes, não poderiam ficar sem

conseqüência.

Além do mais, como nesses Estados os príncipes se divertem com a natureza humana, eles possuem várias mulheres, e mil considerações obrigam-nos a trancá-las.

Nas repúblicas, as mulheres são livres pelas leis e cativas pelos costumes; o luxo está banido e com ele a corrupção e os vícios.

Nas cidades gregas, onde não se vivia sob esta religião que estabelece que, até nos homens, a pureza dos costumes é uma parte da virtude, nas cidades gregas, onde um vício cego reinava de maneira desenfreada, onde o amor só tinha uma forma que não ouso

pronunciar, enquanto que a simples amizade se tinha retirado para os casamentos, a virtude, a simplicidade e a castidade das mulheres eram tais que nunca se viu povo que tenha tido, neste sentido, melhor ordem.

CAPÍTULO X

Do tribunal doméstico dos romanos

Os romanos não possuíam, como os gregos, magistrados particulares que inspecionassem a conduta das mulheres. Os censores só as vigiavam como vigiavam o resto da república. A instituição do tribunal doméstico supriu a função da magistratura estabelecida entre os gregos.

O marido reunia os parentes da mulher e julgava-a na frente deles. Este tribunal resguardava os costumes da república. Mas estes mesmos costumes resguardavam este tribunal. Ele devia julgar não só a violação das leis, mas também a violação dos costumes. Ora, para se julgar a violação dos costumes, é preciso tê-los.

As penas deste tribunal deviam ser arbitrárias e o eram de fato; pois tudo o que diz respeito aos costumes, às regras da modéstia, não pode ser compreendido num código de leis. É fácil regulamentar pelas leis o que se deve aos outros; é difícil englobar tudo o que se deve a si mesmo.

O tribunal doméstico cuidava da conduta geral das mulheres. Mas havia um crime que, além da animadversão deste tribunal, era também submetido a uma acusação pública: era o

adultério; quer porque numa república tão grande violação dos costumes interessasse ao governo; quer porque o desregramento da mulher pudesse fazer desconfiar do desregramento do marido; quer enfim porque se temesse que as pessoas preferissem esconder esse crime a puni-lo, ignorá-lo a vingá-lo.

CAPÍTULO XI

Como as instituições mudaram em Roma com o governo

Assim como o tribunal doméstico supunha costumes, a acusarão pública também os supunha; e daí resultou que estas duas coisas caíssem junto com os costumes e acabassem junto com a república.

O estabelecimento das questões perpétuas, isto é, da divisão da jurisdição entre os pretores, e o costume que se introduziu cada vez mais de que estes mesmos pretores

julgassem todas as causas enfraqueceram o uso do tribunal doméstico; o que fica claro com a surpresa dos historiadores, que vêem como fatos singulares e como uma renovação da prática antiga os julgamentos que Tibério mandou fazer por este tribunal.

O estabelecimento da monarquia e a mudança dos costumes também fizeram cessar a acusação pública. Podia-se temer que um homem desonesto, vexado pelos desprezos de uma mulher, indignado com suas recusas, irado até com sua virtude, planejasse perdê-la. A lei Júlia ordenou que não se poderia acusar uma mulher de adultério sem antes ter acusado seu marido de favorecer esses desregramentos, o que restringiu muito esta acusação e a destruiu, por assim dizer.

Sixto Quinto deu sinais de querer renovar a acusação pública. Mas basta um pouco de reflexão para ver que esta lei, numa monarquia como a dele, estava ainda mais deslocada do que em qualquer outra.

CAPÍTULO XII

Da tutela sobre as mulheres sob os romanos

As instituições dos romanos colocavam as mulheres sob uma perpétua tutela, a não ser que elas estivessem sob a autoridade de um marido. Esta tutela era dada ao mais próximo parente do lado masculino; e parece, no dizer de uma expressão vulgar, que elas ficavam muito incomodadas. Isto era bom numa república, e não era necessário numa monarquia. Parece, segundo os diversos códigos das leis dos bárbaros, que as mulheres, sob os

monarquias que eles fundaram: mas não subsistiu. CAPÍTULO XIII

Das penas estabelecidas pelos imperadores contra a devassidão das mulheres

A lei Júlia estabeleceu uma pena contra o adultério. Mas, longe de que esta lei, e aquelas que se fizeram depois dela, tosse um sinal de bondade dos costumes, foi, pelo contrário, um sinal de sua depravação.

Todo o sistema político sobre as mulheres mudou na monarquia. Não se tratava mais de estabelecer nelas a pureza dos costumes, mas de castigar seus crimes. Só se criavam novas leis para castigar estes crimes porque não se castigavam mais as violações, que não eram estes crimes.

O horrível desregramento dos costumes obrigava os imperadores a criar leis para acabar, até certo ponto, com o despudor; mas sua intenção não foi a de corrigir os costumes em geral. Fatos positivos, relatados por historiadores, provam isto melhor do que todas estas leis que não seriam capazes de provar o contrário. Podemos ver em Dion a conduta de Augusto sobre este assunto, e de que maneira eludiu, durante sua pretoria e sua censura, os pedidos que neste sentido lhe foram feitos.

Podemos encontrar nos historiadores julgamentos rígidos que foram feitos, sob Augusto e sob Tibério, contra o impudor de algumas damas romanas; mas ao nos revelarem o espírito destes reinados eles nos revelam o espírito destes julgamentos.

Augusto e Tibério pensaram principalmente em castigar a devassidão de seus parentes. Eles não estavam castigando o desregramento dos costumes, mas certo crime de impiedade ou de lesa-majestade que eles haviam inventado, útil para impor respeito, útil para sua

vingança. Daí que os autores romanos protestem tão fortemente contra essa tirania.

A pena da lei Júlia era leve. Os imperadores quiseram que, nos julgamentos, se aumentasse a pena da lei que eles haviam criado. Este foi o alvo dos ataques dos historiadores. Eles não examinavam se as mulheres mereciam ser punidas, mas se tinham violado a lei para puni-las.

Uma das principais tiranias de Tibério foi o abuso que fez das antigas leis. Quando quis punir alguma dama romana além da pena estabelecida pela lei Júlia, restabeleceu contra ela o tribunal doméstico.

Estas disposições sobre as mulheres só envolviam as famílias dos senadores, e não as do povo. Queriam-se pretextos para as acusações contra os grandes, e as deportações das mulheres podiam fornecê-los em grande quantidade.

Enfim, o que eu disse, que a bondade dos costumes não é o princípio do governo de um só, nunca se verificou melhor do que sob estes primeiros imperadores; e se duvidarem disto basta ler Tácito, Suetônio, Juvenal e Marcial.

CAPÍTULO XIV

Leis suntuárias entre os romanos

Falamos da incontinência pública, porque ela está unida ao luxo, porque é sempre seguida por ele e sempre o segue. Se deixarmos em liberdade as reações do coração, como poderemos conter as fraquezas do espírito?

Em Roma, além das instituições gerais, os censores mandaram fazer, pelos magistrados, diversas leis particulares, para manter as mulheres na frugalidade. As leis Faniana, Liciniana e Oppiana tiveram este objetivo. É preciso ver em Tito Lívio como o senado ficou agitado, quando elas pediram a revogação da lei Oppiana. Valério Máximo situa a época do maior luxo entre os romanos pela revogação desta lei.

CAPÍTULO XV

Dos dotes e das vantagens nupciais nas diversas constituições

Os dotes devem ser consideráveis nas monarquias, para que os maridos possam sustentar sua posição e o luxo estabelecido. Devem ser medíocres nas repúblicas, onde o luxo não deve reinar. Devem ser mais ou menos nulos nos Estados despóticos, onde as mulheres sào, de alguma maneiras, escravas.

A comunidade de bens, introduzida pelas leis francesas wre o marido e a mulher, é muito conveniente no governo márquico, porque ela faz com que as mulheres se interessem pelos assuntos domésticos e as traz de volta, como que nitra si mesmas, para os assuntos da casa. Ela o é menos na república, onde as mulheres possuem mais virtude. Seria absurda nos Estados despóticos, onde quase sempre as muilheres são elas mesmas propriedade do senhor.

Como as mulheres, por seu estado, possuem certa queda pelo casamento, os ganhos que a lei lhes dá sobre os bens du seus maridos são inúteis. Mas eles seriam muito perniciosos numa república, porque suas riquezas pessoais produzem o luxo. Nos Estados despóticos, os ganhos de núpcias devem ser sua subsistência, e nada mais.

CAPÍTULO XVI

Belo costume dos samnitas

Os samnitas tinham um costume que, numa pequena república, e principalmente na situação em que se encontrava a deles, deveria produzir efeitos admiráveis. Reuniam todos os jovens e eles eram julgados. Aquele que fosse declarado o melhor de todos tomava por mulher a moça que desejasse; aquele que obtivesse o segundo lugar também escolhia; e ;msim por diante. Era admirável o fato de só se considerarem entre os bens do moço suas belas qualidades e os serviços prestados à pátria. Aquele que era o mais rico neste tipo de bens escolhia uma moça em toda a nação. O amor, a beleza, a castidade, a virtude, o nascimento, as próprias riquezas, tudo era, por assim dizer, o dote da virtude. Seria difícil imaginar uma recompensa mais nobre, maior, menos cara para um pequeno Estado, mais capaz de agir sobre um sexo e o outro.

Os samnitas descendiam dos lacedemônios; e Platão, cujas instituições não são mais do que a perfeição das leis de Licurgo, criou uma lei mais ou menos parecida.

CAPÍTULO XVII

Da administração das mulheres

É contrário à razão e contrário à natureza que as mulheres sejam senhoras dentro da casa, como se estabeleceu entre os egípcios; mas não o é que governem um império. No primeiro caso, o estado de fraqueza em que se encontram não lhes permite a preeminência: no segundo, sua própria fraqueza dá-lhes maior doçura e moderação, o que pode proporcionar um bom governo, mais do que as virtudes duras e ferozes.

Nas índias, estão satisfeitos com o governo das mulheres; e está estabelecido que, se os homens não provêm de uma mãe do mesmo sangue, as filhas que possuem uma mãe de sangue real sucedem. Dão-lhes um certo número de pessoas para ajudá-las a suportar o peso do governo. Segundo Smith, estão também muito satisfeitos com o governo das mulheres na África. Se acrescentarmos a isto o exemplo de Moscóvia e da Inglaterra, veremos que elas também têm sucesso no governo moderado e no governo despótico.

LIVRO OITAVO

Da corrupção dos princípios dos três governos

CAPÍTULO I

Idéia geral deste livro

A corrupção de cada governo começa quase sempre pela corrupção de seus princípios.

CAPÍTULO II

Da corrupção do princípio da democracia

O princípio da democracia corrompe-se não somente quando se perde o espírito de

igualdade, mas também quando se adquire o espírito de igualdade extremo e cada um quer ser igual àqueles que escolheu para comandá-lo. A partir deste momento, o povo, não podendo suportar o próprio poder que delegou, quer fazer tudo sozinho, deliberar pelo senado, executar pelos magistrados e despojar todos os juízes.

Não pode mais existir virtude na república. O povo quer exercer as funções dos

magistrados; logo, estes não são mais respeitados. As deliberações do senado não têm mais peso; logo, não há mais respeito pelos senadores e, conseqüentemente, pelos velhos. E se não houver mais respeito pelos velhos também não haverá pelos pais; os maridos não

merecem maior deferência, nem os senhores submissão. Todos chegarão a gostar desta libertinagem; o incômodo do comando cansará tanto quanto a obediência. As mulheres, as crianças, os escravos não terão mais submissão a ninguém. Não existirão mais costumes, amor à ordem e, por fim, virtude.

Vemos, no Banquete de Xenofonte, um retrato bastante ingênuo de uma república onde o povo abusou da igualdade. Cada conviva conta, na sua vez, a razão pela qual está contente consigo mesmo. "Estou contente de mim", conta Cármides, “por causa de minha pobreza. Quando eu era rico, era obrigado a fazer a corte aos caluniadores, sabendo que eu podia receber maior mal da parte deles do que poderia causar-lhes: a república sempre me pedia uma nova quantia e eu não podia recusar. Desde que fiquei pobre, ganhei autoridade;

ninguém me ameaça, eu ameaço os outros; posso partir ou ficar. Os ricos já se levantam de seus lugares e abrem o caminho para mim. Sou um rei, era escravo; eu pagava um tributo à república, hoje ela me sustenta; não temo mais perder, espero comprar."

O povo cai nesta desgraça quando aqueles a quem confia seu destino, querendo esconder sua corrupção, tentam corrompê-lo. Para que o povo não perceba sua ambição, só lhe falam de sua grandeza; para que não perceba sua avareia, elogiam sempre a do povo.

A corrupção aumentará entre os corruptores e entre aqueles que já estão corrompidos. O povo distribuirá entre si todos os dinheiros públicos e, como terá juntado à sua preguiça a gestão dos negócios, também vai querer juntar à sua pobreza os divertimentos do luxo. Mas, com sua preguiça e seu luxo, só o tesouro público poderá ser para ele um objetivo. Não deveremos ficar surpresos ao vermos que os sufrágios são dados em troca de dinheiro. Não se pode dar muito ao povo sem tirar ainda mais dele; mas, para tirar dele, devese derrubar o Estado. Quanto maiores as vantagens que ele parecerá estar tirando de sua liberdade, mais ele se estará aproximando do momento em que deve perdê-la. Criam-se pequenos tiranos que têm todos os vícios de um só. Rapidamente, a liberdade que resta torna-se insuportável; um só tirano ergue-se; e o povo perde tudo, até as vantagens de sua corrupção.

Assim, a democracia deve evitar dois excessos: o espírito de desigualdade, que a leva à aristocracia, ou ao governo de um só; e o espírito de igualdade extrema, que a leva ao despotismo de um só, assim como o despotismo de um só termina com a conquista.

É verdade que aqueles que corromperam as repúblicas gregas nem sempre se tornaram

tiranos. É que eles estavam mais ligados à eloqüência do que à arte militar; além do que, existia no coração de todos os gregos um ódio implacável contra aqueles que derrubavam o

No documento O Espírito das Leis (páginas 49-74)