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4 OS SUJEITOS DA PESQUISA

4.5 DO MÉDIO À LICENCIATURA DE FÍSICA

A exceção de um professor (engenheiro com Complementação Pedagógica em Física33), todos os 13 (treze) outros professores entrevistados possuem Licenciatura em Física e todos os entrevistados cumpriram sua formação inicial na modalidade presencial.

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Complementação Pedagógica em Física feita numa Instituição Privada de Ensino Superior (Universidade Metropolitana de Santos- UNIMES/SP)

Quadro 8 - Organização dos 13 licenciados entrevistados segundo a instituição onde foi cursada a licenciatura de Física

Estrutura de formação onde foi cursado o curso de Licenciatura de Física

Número de professores Instituição Federal de Ensino Superior

Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)/ES 8

Instituto Federal do Espírito Santo (IFES)/ES 3

Universidade Federal de Rio de Janeiro (UFRJ)/RJ 1

Instituição Privada de Ensino Superior

Faculdade Particular (Estácio de Sá)/ES 1

Fonte: Elaborado pelo pesquisador a partir de dados da pesquisa, 2017.

Podemos constatar que 12 dos 14 entrevistados cursaram a Educação Superior em Instituições Públicas Federais de Ensino Superior (Universidade Federal e Instituto Federal) e dois em Instituições privadas de Ensino Superior. Esse resultado está em conformidade com a realidade dos estudantes de graduação em Física no Brasil. Em 2014, o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE) na área de Física contou com a participação de estudantes de 231 cursos, sendo que, destes 200 (86,6%), eram provenientes de cursos de Instituições Públicas de Ensino (INEP, 2016a, p. 24).

Ao concluírem o Ensino Médio, os percursos que levaram os entrevistados até a Licenciatura de Física são diversificados e podem ser resumidos na figura 5, que representa um fluxograma onde são indicados, por meio de setas, os percursos seguidos pelos entrevistados do sair do ensino até a obtenção da Licenciatura em Física. Os números associados às setas indicam o número de professores envolvidos para cada parte dos percursos:

Figura 5 - Percursos dos entrevistados do Ensino Médio até a Licenciatura de Física

Fonte: Elaborada pelo pesquisador a partir de dados da pesquisa, 2017.

Podemos destacar dois grupos de professores: o primeiro grupo corresponde aos professores cujos percursos são representados pelas setas d e c; o segundo grupo é constituído de professores que seguiram os percursos representados pelas setas a e b.

O primeiro grupo é constituído de 6 (seis) professores (setas c e d da figura 5) que cursaram a Licenciatura em Física ao saírem do Ensino Médio. A razão principal (por 5 deles) declarada para escolher o curso de Licenciatura em Física aponta para escolha pessoal e satisfação emocional por gostarem da Física, como está indicado no Quadro 9:

Quadro 9 - Razões que motivaram a escolha do curso de Licenciatura em Física (ou da complementação pedagógica em Física)

Razões que a escolha da Licenciatura de Física Frequência Os 6 professores que fizeram a Licenciatura em Física ao sair do Ensino Médio

Os 5 professores que fizeram a Licenciatura em Física depois um curso de Engenharia ou um curso Técnico Os 3 demais Os 14 entrevistados

Gosto pela Física 5 2 2 9

O curso é noturno 3 1 2 6 Gosto e facilidades pela Matemática 3 1 1 5 Proximidade geográfica do curso 1 Não se aplica 1 2 Influência de alguém de um professor 1 1 Não se aplica 2

Por que não tem Física no E.F. 1 Não se aplica 1 2 Perspectivas profissionais Não se aplica 1 1 2 Para ser pesquisador

1 Não se aplica Não se

aplica 1

Fonte: Elaborado pelo pesquisador a partir de dados da pesquisa, 2017.

Conforme o Quadro 9, outras razões foram citadas pelos professores desse grupo como as facilidades e o gosto pela Matemática (citado 2 vezes) e o fato de que o curso (na UFES) ser noturno (evidência citada 3 vezes),o que permitiu a um professor trabalhar para financiar seus estudos: ―Na Física eu achei um ambiente mais humano. As pessoas se ajudam, você tem essa possibilidade de poder estudar e ter um serviço fora. Então, eu consegui conciliar essas duas coisas (ENTREVISTADO 14)‖. O curso noturno da UFES permitiu, também, a dois professores frequentarem um curso técnico, de informática por um e de eletromecânica por outro, (seta c da figura 5) em paralelo:

Quando na época eu fui prestar o vestibular, meu pai colocava muita pressão. O que é que ele falou? ―Não, mas com o curso de Física, você vai virar professora [...]. Na época, tinha duvida se eu fazia engenharia elétrica ou se fazia Física. Só que em particular falei vou fazer Física, vou fazer Física. Por que meu pai não ficava buzinando no meu ouvido, vou pegar, vou fazer um curso técnico. Meu pai trabalhando na Vale, o sonho dele era que eu trabalhasse na Vale. O que eu fiz? Não, vou fazer um curso técnico, e depois se eu gostar, como eu terminei um curso de Física, com dois anos eu faço um curso de engenharia [...] Mas por isso tinha que gostar da área, por que tinha certeza que queria ser Física. (ENTREVISTADA 4).

No Ensino Fundamental, estudei numa escola particular. No Ensino Médio, eu já fui entrando na escola pública por não ter condição de pagar a escola particular. Na escola pública, eu fiquei do primeiro ao terceiro ano completo. No terceiro ano, eu tentei o vestibular público também, e estava com dúvida se eu fazia informática ou física que eram minhas duas paixões. Eu tentei técnico informática e Física na faculdade, passei nos dois. Então eu fiz os dois. (ENTREVISTADO 6).

Para esse grupo de professores, a escolha da Licenciatura de Física foi motivada, principalmente, por gostar da disciplina e não pela perspectiva ou o desejo de ingresso na carreira do magistério:

[...] hoje em dia, eu não posso falar que eu sou físico. Isso me entristece por que fiz faculdade de Física, e se alguém pergunta quem eu sou, tenho que falar que eu sou professor. Não que professor me deixa triste de falar, eu sou professor. Mas eu gostaria muito falar que eu sou físico. [...] E hoje em dia, quem é formado em Física, o que ele vai fazer da vida dele? Só vai dar aula. E, uma pessoa formada em Física, o principal foco dela é a pesquisa, não? Se você é um físico, você quer dar aula, sim, mas você também quer produzir. (ENTREVISTADO 3).

Contudo, esse mesmo professor revelou, em momento posterior da entrevista, que a pesquisa está pouco presente na formação do Licenciado em Física ―[…] a gente não aprende na Faculdade a fazer pesquisa‖, e afirmou que isso é totalmente ausente do Ensino Médio: ―[…] por que pesquisa no Ensino Médio, não temos nenhuma, nós temos estímulo zero, e se nós ainda quisermos fazer uma pesquisa voltada para o Ensino Médio, nós vamos encontrar barreiras, e não tem nada que nos ajuda a melhorar isso‖. A distância entre as expectativas que ele possuía, ao ingressar na Licenciatura, e a realidade da formação oferecida foi fonte de frustração para ele, como é fonte de frustração a distância entre suas aspirações, a de fazer pesquisa e as condições nas quais ele exerce seu trabalho docente.

O segundo grupo é constituído de 5 (cinco) professores que frequentaram um curso técnico (Automação industrial, eletrotécnica) ou de Engenharia (Mecânica, Construção civil, Produção) antes de cursar a Licenciatura em Física (setas a e b da figura 5). Para esse grupo, a escolha da profissão docente e de cursar Licenciatura decorreu da necessidade de proporcionar uma reorientação profissional devido ao mercado de trabalho ou ao fato de não gostar ou não querer mais atuar na área técnica ou de engenharia:

Quando acabei o Ensino Médio, eu me lembro que eu tinha dois objetivos, fazer um curso técnico ou a graduação. Eu acabei fazendo o curso técnico em eletrotécnica. A ideia era de seguir em engenharia. Só que eu fiz o técnico e acabei por não gostar. E aí eu me decidi pela carreira de professor. (ENTREVISTADO 13).

Como evidencia o Quadro 10, a escolha da profissão docente se apoiou também em uma experiências de ensino julgada positiva por alguns entrevistados.

Quadro 10 - Motivos invocados para justificar a escolha da profissão docente

Motivos invocados para justificar a escolha da Profissão docente Frequência Os 6 professores que fizeram a Licenciatura em Física ao sair do Ensino Médio

Os 5 professores que fizeram a Licenciatura em Física depois um curso de Engenharia ou um curso Técnico Os 3 demais Total (para os 14 entrevistado s)

Teve experiências positivas de ensino (aulas particulares,

estágio, Pibid, lecionou em escolas...)

3 5 2 10

Mercado de trabalho,

perspectivas profissionais 1 3 1 5

Influência de alguém (Pais,

Professor (a)) 3 Não se aplica 1 4

Não gostou ou não queria atuar na sua área de formação

técnica ou de engenharia 1 2 Não se aplica 3

Outro 1 Não se aplica Não se aplica 1

Fonte: Elaborado pelo pesquisador a partir de dados da pesquisa, 2017.

A escolha da Física não foi muito justificada, mas podemos julgar que ela foi motivada pela proximidade da formação inicial, o que permitia, por exemplo, conseguir cumprir uma complementação pedagógica em Física. Assim, gostar da Física é um motivo citado duas vezes em um total de 5 (cinco) professores.

[...] eu conversei com um professor do Ensino Médio. Ele me falou que para ser professor de Matemática você tem alguns caminhos para seguir. Mas se você fizer Física, talvez você tem mais oportunidades, você pode talvez ser professor, pesquisador, trabalhar numa empresa. [...] Eu não gostava muito de Física, difícil encontrar um aluno que gosta de Física mesmo gostando de Matemática porque a Física envolve tanto prática de Matemática quanto conceitos. E quando o aluno já não gosta de Matemática, em Física é pior ainda. E foi por causa mesmo de possibilidades depois da graduação que eu escolhi Física em vez de Matemática (ENTREVISTADO 13).

Voltando ao conjunto dos entrevistados, constatamos que o motivo mais citado (10 dos 14 professores) para justificar a escolha da profissão docente é o fato de ter vivenciado uma experiência pedagógica e com ela ter se identificado. Quatro professores ressaltaram a importância do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) ou do Estágio Supervisionado no quadro da formação curricular oferecida pelo curso de Licenciatura como motivadores para escolha da profissão docente.

[...] eu vivenciei a sala de aula desde que eu comecei,, que é o projeto Pibid. Então no Pibid [...] você tinha a oportunidade de trabalhar por que você tem uma ótima

matéria. Isso tudo está dando a base para ver se é isso realmente que eu queria, ser em sala de aula. (ENTREVISTADO 13).

[...] Então, vejo que minha formação foi muito na área mesmo, na experimentação, tentando e concluindo. E que na UFES, tem uma matéria chamada de Estágio Supervisionado. São cinco estágios supervisionados que a gente faz. Eu tive a possibilidade de trabalhar com uma professora muito boa, que é a Roberta, também que se forma como mestre aqui na área de ensino. Então, aprendi muitas coisas com ela, por que ela me deu uma liberdade muito grande [...] Muitas das técnicas, muitos métodos de ensino, eu aprendi com ela. Quando me formei, eu senti a necessidade de não parar no curso. (ENTREVISTADO 2).

Isso chama nossa atenção e permite desencadear varias questões quanto à organização desse tipo de estágio: Qual é a formação continuada e o tipo de acompanhamento oferecido aos professores de Educação Básica que recebem os estagiários? Em quais condições o estagiário poderia assumir a responsabilidade de conduzir uma turma? Qual tipo de articulação existe entre a formação teórica e a prática desenvolvida no transcurso do estágio? A formação inicial oferece um embasamento consistente que permite ao licenciando estabelecer uma relação entre teoria e prática, para fomentar e possibilitar uma reflexão crítica? Pretendemos, em um trabalho posterior, tentar responder a essas perguntas a partir de uma análise e de uma comparação com o sistema francês de formação dos professores.34

Quando perguntamos aos professores como foi o inicio da carreira docente, 6 (seis) professores estimaram, em graus diversos, que a formação inicial preparava-lhes imperfeitamente para entrar na profissão:

[...] Então, demora cinco anos para formar um professor aqui na Universidade e a única bagagem pedagógica, na Universidade que tem, e só com a área de Educação. Por que, os Professores de Física mesmo, eles não têm muito bagagem pedagógica. A gente fala que é uma desconstrução pedagógica. (ENTREVISTADO 2).

[...] no meu primeiro ano, no ano passado, eu dava aula do jeito que eu recebi aula na universidade. Então passava muita matéria e eu não fazia aula com experimento, eu não fazia aula com simulação. Só o quadro, a matéria e pronto. Minhas primeiras provas tinham cinco exercícios, de mesmo tipo que na universidade, e foi um desastre [...] No inicio, minha aula era muito crua, era muito universitária. Ficou muitos alunos de recuperação comigo, mas com o passar do tempo, eu estou aprendendo. Ainda eu não sei, mas estou melhorando. (ENTREVISTADO 6).

O discurso dos entrevistados tende a evidenciar que esta formação é voltada sobre o conteúdo disciplinar (que não corresponde ao conteúdo ensinado no Ensino Médio) e pouco sobre o aspecto pedagógico e didático. A análise curricular da Licenciatura em Física, em vigor na UFES de 2001 até 2008 (QUADRO 11), permite constatar que a maioria das disciplinas

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obrigatórias oferecidas refere-se aos conhecimentos específicos da área e corresponde a 64,0 % do total da carga horária. A carga horária atribuída ao conteúdo relativo à docência e à educação é bem menor, pois, representa, reciprocamente, apenas 9,6 % e 7,2 % da carga horária total das disciplinas obrigatórias.

Quadro 11 - Organização das horas das disciplinas obrigatórias no currículo da Licenciatura em Física na UFES (2001-2008)

Categoria Carga horária

Horas % Conhecimentos específicos da área Física 1035 41,3 Matemática 570 22,7 Conhecimentos específicos para a docência

Instrumentação para o ensino I e II 180 7,2 Tópicos especiais de ensino de Física 60 2,4 Conhecimentos relativos aos

sistemas educacionais

Organização do Ensino Fundamental e do

Ensino Médio 60 2,4 Fundamentos Didática Psicologia da Educação 60 60 2,4 2,4 Estágios Supervisionados I e II 240 9,6 Outros 240 9,6 Total 2505 100

Fonte: Elaborado pelo pesquisador a partir de dados da pesquisa, 2017.

Outro fato relevante é que as disciplinas relativas à docência e à Educação aparecem no percurso de formação do licenciando somente a partir do quinto semestre com as disciplinas Psicologia da Educação, Didática e Organização do Ensino Fundamental e Médio. Isso reforça o sentimento de desvinculação dessas disciplinas com o conteúdo especifico da área. O mesmo fenômeno se observa com os dois estágios supervisionados que são realizados no fim da formação docente, durante os 7° e 8° semestres. Assim, o que predominava, nesse curso de Licenciatura era a formação disciplinar específica e não a formação pedagógica.

Em 2008, considerando a resolução CNE/CES nº 09, de 11 de março de 2002, que institui as diretrizes curriculares nacionais para os Cursos de Bacharelado e Licenciatura em Física (BRASIL, 2002d), a Resolução CNE/CP 1, de 18 de fevereiro de 2002, que institui Diretrizes Curriculares Nacionais para formação de Professores da Educação Básica em nível superior, cursos de licenciatura, de graduação plena (BRASIL, 2002a) e da Resolução CNE/CP 2, de 19 de fevereiro de 2002, que institui a duração e a carga horária, a matriz curricular desse curso mudou (BRASIL, 2002c). (QUADRO 12):

Quadro 12 - Repartição das horas das disciplinas obrigatórias na grade curricular da Licenciatura em Física na sua versão de 2008

Categorias Carga horária Horas % Conhecimentos específicos da área Física 840 29,95 Matemática 480 17,11 Conhecimentos específicos para a docência

Instrumentação para o ensino I, II e III 270 9,63 Pesquisa e Prática Pedagógica no Ensino 60 2,14 Planejamento, Recurso de Ensino e Prática

docente 60 2,14 Fundamentos Sociologia da Educação 60 2,14 Psicologia da Educação 60 2,14 Fundamentos Histórico-Filosóficos da Educação 60 2,14 Didática 60 2,14

Conhecimentos relativos aos sistemas educacionais

Política e organização da Educação Básica 60 2,14 Currículo e formação docente 60 2,14 Conhecimentos relativos às

modalidades e níveis de ensino

Educação e inclusão 60 2,14

Fundamentos de língua brasileira de sinais 60 2,14 Estágios Supervisionados I, II, III, IV e V 405 14.44

Outros 135 4,80

Monografia I e II 75 2,67

Total 2805 100

Fonte: Elaborado pelo pesquisador a partir de dados da pesquisa, 2017.

Nesse novo curso de Licenciatura em Física da UFES, a carga horária para os conhecimentos da área específica diminuiu para 47,1% e a carga horária atribuída aos conteúdos que se referem aos conhecimentos específicos para a docência e a Educação aumentou para atingir, respectivamente, 13,9 % e 17,1 %. Os estágios supervisionados passaram ocorrer a partir do 5° semestre, ou seja, a partir do inicio da segunda metade do curso (que tem uma duração de cinco anos) e têm uma carga horária aumentada para atingir as 400 horas exigidas.

À leitura do Projeto Pedagógico de Curso (PPC) de Física da UFES permitiu constatar que o núcleo comum, que agrupa disciplinas relativas à Física e à Matemática, ficou o mesmo para os cursos de Bacharelado e de Licenciatura. Assim, é pouco provável que os professores dessas disciplinas contemplem aspectos didáticos ligados à abordagem dos mesmos conhecimentos no Ensino Médio. O PPC prevê diferenciar o conteúdo curricular da formação do ―Físico-Pesquisador‖ (Bacharelado) que deve ser agraciado por módulos sequenciais em Matemática, Física Teórica e Experimental avançadas e o conteúdo curricular da formação do

―Físico-Educador‖ (Licenciatura) que deve ser contemplado por módulos sequenciais voltados para o ensino da Física na Educação Básica.

O PPC anuncia, ainda, que esses módulos sequenciais do curso de licenciatura ―deverão ser acordados com os profissionais da área de educação quando pertinente‖ (UFES, 2007). Mas a leitura da ementa da disciplina ―didática‖, por exemplo, não permitiu encontrar uma vinculação com as especificidades do ensino de Física.

Uma análise das Diretrizes permite constatar que elas enfatizam o desenvolvimento de competências, um termo que aparece dez vezes no Artigo n°6 (Resolução CNE/CP 1, de 18 de fevereiro de 2002) sobre a construção do projeto pedagógico dos cursos de formação de professores. De acordo com Brzezinski (2012), essa noção de competência indica um modelo neoliberal de mera adaptação do trabalhador ao mercado do trabalho e de uma formação funcionalista e tecnicista:

[...] a formação do professor não pode ser confundida com transmissão de informações e técnicas, com mera aplicação de tecnologias por mais avançadas que sejam, tampouco com a exclusiva busca do domínio de conhecimentos para o exercício da profissão, ou ainda, restringir-se a formação ao domínio de competências como insistem as políticas de formação adotadas pelo mundo oficial em nosso País, que se respalda nos ditames da ideologia neoliberal. (BRZEZINSK, 2012, p.14).

A Resolução CNE/CP 2, de 1 de julho de 2015, definiu, de novo, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para formação continuada. Essas DCN, elaboradas em consonância com o Plano Nacional de Educação pelo Congresso Nacional e com sanção Presidencial, sem vetos, resultaram na Lei nº 13.005/2014, e buscam a melhoria da formação inicial e continuada dos profissionais do magistério, e ―enfatizam a necessária articulação entre educação básica e superior, bem como, a institucionalização de projeto próprio de formação inicial e continuada dos profissionais do magistério da educação básica‖. (DOURADO, 2015, p. 315).

Não cabe nesse trabalho analisar as novas DCN, mas ressaltamos que o Art. n° 22 prevê que os cursos de formação de professores que se encontram em funcionamento deverão se adaptar à Resolução no prazo de dois anos, a contar da data de sua publicação. Configura-se uma tarefa difícil porque há aspectos dos textos que são questionáveis (em particular o seu Art. n°

15 sobre os cursos de segunda licenciatura), e por que o clima político mudou em decorrência da adoção da EC 95/2016 e da reforma do Ensino Médio.