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MODELO DE BROFENBRENNER PPCT

Eixo 1- Docência e desenvolvimento profissional

Uma perspectiva deste trabalho faz referência a perceber como se dá a docência entre os entrevistados e a dinâmica do desenvolvimento destes profissionais, compreendendo-os enquanto ligados a uma série de saberes que fazem relação com sua

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prática. Maurice Tardif (2007) destaca em seu trabalho sobre os Saberes Docentes e Formação Profissional que a gama de conhecimento dos professores está intimamente ligado àquilo que ele faz uso enquanto prática em sala de aula, mas também aponta que tais saberes são plurais e têm natureza diversa (pessoais, curriculares, livros didáticos e programas, etc.), sendo, portanto temporais e ligados a um contexto de vida e carreira.

Nesta perspectiva, a teoria da ecologia habilita duas concepções para compreender o desenvolvimento humano: as pessoais (constantemente em modificação) e a do ambiente, havendo uma relação de reciprocidade entre o ser humano e o contexto em que está inserido. Se o sujeito é influenciado pelos diversos ambientes que o circundam, então ele deve ser estudado também por este espaço, os sistemas que vão de micro a macro compõe dimensões entre o sujeito, suas ações e o ambiente (BRONFRENDENNER, 2002)

O desenvolvimento ocorre, então, através de processos de interação recíproca, progressivamente mais complexas de um ser humano ativo, biopsicologicamente em evolução com as pessoas, objetos e símbolos presentes em seu ambiente imediato. Inclui tanto padrões de estabilidade quanto de mudanças nas características biopsicologicas dos seres humanos em suas vidas através das gerações. (KOLLER, 2004, p. 57).

O objeto de estudo desta pesquisa é então dialético e a análise deste trabalho utilizando as falas dos profissionais envolvidos no PEA tentará abordar a docência ligada ao desenvolvimento profissional de uma prática e onde os saberes são administrados e mobilizados para ensinar. Exige-se profissionais cada vez mais completos, pois o ato de ensinar carrega consigo diversos desafios pedagógicos, as entrevistas contemplarão a proposta de observar a Formação Continuada a partir das exigências do desenvolvimento profissional.

1.1 A escolha profissional

Nesse primeiro esforço em entender um pouco mais o universo do Programa Escola Ativa em Buriti (MA), traça-se em linhas gerais o perfil desse indivíduo, desse docente que participa da educação no município a partir informações básicas fornecidas pelas entrevistas, destacando alguns dados, buscando traçar um perfil geral dos sujeitos, que participam ativamente da Educação do Campo, em Buriti (MA), mas também tentando promover uma relação com perfis de educadores do campo no geral. Afinal, elementos

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existentes em Buriti (MA) tendem a se repetir em várias outras cidades em contextos similares.

Como supracitado, tais entrevistas tiveram a intenção de mapear os professores que estavam envolvidos com o projeto no município. As entrevistas, como descrito anteriormente, estavam divididas em diferentes momentos, mas nesse primeiro momento buscou-se os seguintes objetivos: informações pessoais dos sujeitos, como sexo, idade e local de residência; suas trajetórias acadêmicas; tempo de trabalho docente, não apenas de sala de aula, mas considerando os diferentes momentos (caso haja tal diferença) entre a docência total, no campo em específico e em classes multisseriadas; as condições/motivos que levaram tais pessoas a exercerem o magistério; suas opiniões sobre o Programa Escola Ativa.

Para entender um pouco mais o universo do Programa Escola Ativa em Buriti (MA), traçou-se em linhas gerais apenas em cima das entrevistas feitas, destacando alguns dados, buscando um perfil geral dos sujeitos. Em determinados momentos lança-se mão de suas falas para ilustrar determinadas situações.

Os vinte sujeitos representam 23.81% do todo e 100% dos frequentes em todas as formações, um percentual significativo para entender a funcionalidade da Educação no Campo em Buriti (MA), bem como o processo de formação contínua desses sujeitos a partir de sua realidade como professora, sua relação com o Programa Escola Ativa e os reflexos dele no seu cotidiano.

Quadro 5 – Perfil dos professores

Docente Idade Sexo Residência 1 35 F Zona Urbana 2 54 F Zona Urbana 3 35 F Zona Urbana 4 34 F Zona Urbana 5 32 F Zona Urbana 6 42 M Zona Urbana 7 50 F Zona Urbana 8 56 F Zona Urbana 9 33 M Zona Urbana 10 30 F Zona Urbana 11 52 F Zona Rural 12 32 M Zona Rural 13 49 F Zona Rural 14 42 F Zona Rural 15 60 F Zona Rural 16 57 F Zona Rural 17 35 F Zona Rural 18 37 M Zona Urbana 19 60 F Zona Rural 20 37 M Zona Rural

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Nesse primeiro eixo norteador, as primeiras variáveis serão aquelas que dizem respeito à idade, sexo e residência atual (zona urbana ou rural – propriamente dita). Esses três elementos são indicativos para que se possa entender o corpo docente de Buriti (MA), bem como já revela formas de interação entre Zona Urbana e Zona rural, indício extremamente valioso para compreender a Educação do Campo.

Primeiramente, sobre a idade média das pessoas que fazem parte do nosso corpus de sujeitos é de 43 anos, sendo a pessoa mais idosa com 60 anos (duas professoras) e a mais jovem com 30. No que tange ao sexo, 15 de 20 são do sexo feminino, 75%. Já em se tratando do local de residência, apenas nove sujeitos afirmam serem moradores da zona rural o que evidencia que 11 deles tem o campo apenas como local de trabalho.

Outro dado importante é que jovens professores (com menos de 30 anos) não se fazem presente das salas de aula na Educação do Campo. E, como se observa mais adiante, o fato de não ter muitas opções para esses professores, antes de iniciarem a docência, no que se refere à escolha de uma profissão, predispõe a “profissão professor”, enquanto meio de subsistência.

A predominância de mulheres lecionando nesses espaços nos faz entender que o fator gênero ainda existe na docência, sobretudo no magistério infantil e primário, isto se dá por um fator histórico em que as mulheres supostamente se identificariam mais com a criança por ser mãe, carinhosa, estar mais apta aos cuidados e também por uma questão econômica onde as mulheres consideradas de família teriam um emprego que não colocaria sua honra em questão (ALMEIDA, 2007). Sem fazer generalizações, mas, tomando como referência nossa pesquisa, três quartos do corpo docente estudado ser do sexo feminino é bastante relevante.

Por fim, como se trabalhou com educação no campo, é de extrema importância saber a localidade que os professores dessa modalidade de ensino residem, haja vista os deslocamentos que os professores precisam fazer para poder exercer sua atividade.

A partir da montagem desse perfil inicial sobre os professores que participaram do Programa Escola Ativa, segue a etapa de análise mais detalhada das entrevistas, tendo como elemento primordial de análise a profissão de professor para esses docentes da Educação do Campo. Considerando-se tal questão, o tempo que cada professor está em sala de aula, seu tempo de atuação específica no campo e, por fim, seu tempo de trabalho

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em classes multisseriadas foi que se estruturou um quadro demonstrativo mais abaixo (TABELA 3).

O elemento do tempo em meio a diferentes sujeitos é significativo para compreendermos junto com as questões básicas aqui referentes, pois ele demonstra como os anos de trabalho podem influenciar na carreira acadêmica e a vivência desse indivíduo com o meio social isso pode gerar formas de identidade ou pelo menos uma identidade importante para a nossa pesquisa e o entendimento do PEA, a identidade profissional (NÓVOA, 1992).

Quadro 6 – Tempo de docência na educação do campo

Docente Docência No campo Em classes multisseriadas

1 11 anos 11 anos 11 anos

2 34 anos 34 anos 34 anos

3 12 anos 12 anos 12 anos

4 12 anos 12 anos 6 anos

5 5 anos 4 anos 2 anos

6 19 anos 16 anos 16 anos

7 28 anos 28 anos 28 anos

8 36 anos 36 anos 36 anos

9 5 anos 4 anos 4 anos

10 7 anos 6 anos 3 anos

11 29 anos 29 anos 4 anos

12 5 anos 5 anos 5 anos

13 15 anos 15 anos 15 anos

14 15 anos 15 anos 15 anos

15 35 anos 35 anos 35 anos

16 37 anos 37 anos 37 anos

17 16 anos 16 anos 16 anos

18 12 anos 6 anos 6 anos

19 27 anos 5 anos 4 anos

20 16 anos 16 anos 4 anos

Fonte: Elaborado pela autora com base nas entrevistas.

Com se pode observar na tabela 3, dos 20 sujeitos da pesquisa, 15 deles já iniciaram sua carreira profissional como educadores no campo, isto é a identidade com este espaço de trabalho também repassa por uma questão pessoal de amadurecimento que também é profissional e destes 12 servem ao ensino multisseriado. Estes dados nos trazem a reflexão de permanência da maioria dos professores nesta área, de largo conhecimento da realidade do campo (mesmo não morando neste espaço) e da peculiaridade deste aluno que é recebido.

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Em linhas gerais, sobre o primeiro ponto, o tempo de profissão, a maioria dos sujeitos (15) tem mais de 10 anos como docentes. A pessoa com mais tempo em sala de aula trabalha no magistério há 37 anos e o mais novo na atividade, cinco anos (dois casos). Nesse sentido, no que se refere a docência e o desenvolvimento profissional dos sujeitos da pesquisa, pode-se considerar que:

A forma, o vigor, o conteúdo e a direção dos processos proximais que levam a cabo o desenvolvimento variam sistematicamente como uma função conjunta das características da pessoa que se desenvolve; do ambiente – tanto imediato quanto mais distante – no qual os processos ocorrem; da natureza dos aspectos do desenvolvimento estudados e das continuidades e mudanças sociais que acontecem ao longo do tempo no curso de vida e no período histórico durante o qual a pessoa viveu. (BRONFENBRENNER; MORRIS, 1998, p. 996)

E ainda, no caso do tempo como professores de Educação do Campo, se aplica aqui os mesmo casos que o item anteriormente citado. Já no terceiro caso, a pessoa mais experiente em classes multisseriadas é a que tem 37 anos de magistério, dos quais a maior parte deles foi desempenhada também a função em classes multisseries. Já o profissional com menos tempo nessa modalidade, o faz há 2 anos, o que configura que as relações de contexto, tempo e pessoa estão em desenvolvimento e considerando os diferentes estágios de experiências.

Alguns pontos merecem destaque sobre o tempo de docência dos sujeitos: 1) apenas seis não iniciaram suas carreiras no magistério diretamente na Educação do Campo. Todos os outros iniciaram sua trajetória docente no campo, concomitante à prática docente; 2) apenas um professor iniciou sua prática docente no campo após o término de seu curso de graduação.

Mais uma vez fica evidente a busca pelo curso de nível superior por parte dos docentes. Porém, quanto aos motivos que os estimularam a aderir ao magistério é interessante notar a grande quantidade de professores que afirmam terem escolhido a docência por falta de outras opções quando da decisão de escolher uma profissão.

De todos os sujeitos, três não responderam à questão "O que motivou a sua escolha profissional? Por que você escolheu ser professor (a)?". Do restante que se obteve resposta, alguns disseram que optaram pela docência por falta de outras opções, como dizem os sujeitos a seguir: