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Minha formação quando eu comecei, eu só tinha o ginásio, a

MODELO DE BROFENBRENNER PPCT

Sujeito 7: Minha formação quando eu comecei, eu só tinha o ginásio, a

comecei a lecionar em 85 e passei a caminhar aqui para Buriti. Na zona urbana, na época eu morava no interior e de lá pra cá eu fiquei estudando até agora me formar em pedagogia, nunca parei. E também comecei estudando a noite e tinha os treinamentos que era os cursos de Formação Continuada, os PCN e tinha também salto para o futuro que era um programa muito bom, tenho vários certificados e eu vinha do interior estudar. Agora não que eu já moro aqui na cidade eu fiquei mais perto, mas

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sempre eu vinha distante. Ensinava lá porque morava lá e após um bom tempo eu mudei aqui pra zona urbana e daqui continuo ensinando no interior, já consegui minha formação em pedagogia.

A primeira análise a este trecho de entrevista se dá por conta da rotina de estudo enfatizado pelo Sujeito 7 pois, como está destacado em seu relato, o mesmo veio da zona rural (como mostra o detalhe grifado) e estudou no cidade iniciando um ciclo de aprendizado que até o momento da entrevista estava na ativa.

Essa fala da docente aponta o longo e doído período da formação, a caminhada, as noites acordadas, como se cada etapa fosse uma vitória simbolizando o quanto a Formação Continuada representa etapas significativas de sua vida, mas o tempo todo fala do sujeito remete a uma ideia do seu próprio interesse e interação com a atividade docente o que pode despertar a busca por uma instituição que fomente essa participação, sem, necessariamente, esperar pela disponibilidade do poder público, assim pode-se destacar duas lógicas, da procura e da oferta, entre professores e instituições que colaboram com a formação.

A Formação Continuada deve ter significado, principalmente, no modo de entender o exercício e o papel do ser professor mediante ao trabalho. Segundo Nóvoa (1992, p. 09) “Não há ensino de qualidade, nem reforma educativa, nem inovação pedagógica sem uma adequada formação de professores”. Assim, “conjugar a ‘lógica da procura’ (definida pelos professores e pelas escolas) com a ‘lógica da oferta’(definida pelas instituições de formação), não esquecendo nunca que a formação é indissociável dos projetos profissionais e organizacionais.” (NÓVOA, 1992, 31).

Como descreve o Sujeito 7, que resolve seguir sua carreira e caminhar aqui pro Buriti (MA) e andar entre zona rural e zona urbana desde 1985 (na época eu morava no interior e de lá pra cá eu fiquei estudando) e ela apenas possuía o antigo ensino médio, com o tempo conseguiu sua graduação em pedagogia (nunca parei). Fez os cursos promovidos pelo governo federal, tais como “Um Salto para o Futuro”, um dos marcos referenciais para a educação a distância na década de 90 que se descreve a seguir:

O programa apoia-se em material impresso, enviado com antecedência aos cursistas e em transmissões televisivas nas quais são utilizados vídeos versando sobre os temas da aula e veiculados comentários de especialistas sobre os conteúdos abordados. Possui também uma parte interativa em que os especialistas debatem com a audiência respondendo ao vivo, questões formuladas via fax e canal de voz. Essa interatividade não se limita, entretanto, ao momento da emissão. Os telealunos podem, no decorrer do curso, enviar fax e corresponder-se com os especialistas para formular questões, sugerir debates, tirar d˙vidas. Na sua parte final, os programas

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incluem sugestões sobre atividades que os professores podem desenvolver em sala de aula, tendo como referencial as discussões teóricas transmitidas. (BARRETO, PINTO, MARTINS, 1999, p. 87)

O programa traz a ideia de uma Formação Continuada do professor alfabetizador, muito importante para a Educação do Campo, sobretudo, em virtude das formações incipientes e, talvez, até inexistentes. Dedicando-se, sobretudo, aos conteúdos do antigo Ensino Fundamental, 1ª a 4ª séries.

É possível perceber a importância também da educação à distância na formação destes profissionais, como citado no depoimento acima o docente buscou novos horizontes quanto aos estudos e dada às dificuldades de acesso e permanência de um curso presencial faz uso, já na década de 1990, de um recurso que tem ganhado grande expansão nas universidades brasileiras, a educação à distância.

Jaime Giolo (2008) apresenta um trabalho interessante sobre o histórico da educação à distância no Brasil, o crescimento da legislação e organização desta modalidade de ensino (que se dinamizou fortemente com uso do computador e da internet, ganhando ambientes virtuais de aprendizagem, recursos próprios e uma subsecretaria no Ministério da Educação).

A Formação Continuada pode, por sua vez, ser entendida a partir do fluxo contínuo das informações obtidas, dos períodos de diálogos com várias instituições, da interação com diferentes grupos, ou seja, os três princípios de Antônio Nóvoa: o desenvolvimento pessoal, o desenvolvimento profissional e o desenvolvimento organizacional, comentado anteriormente. Destacando estas áreas do desenvolvimento apontadas por Nóvoa é possível também dialogar com a teoria do desenvolvimento humano de Brofrendnner (2002), pois o sujeito não apenas sofre uma influência passiva do seu contexto, mas também exerce uma atuação sobre ele modificando-o. E é no sentido dessa Formação Continuada e seu enriquecimento profissional e pessoal que o Sujeito 2 acaba evidenciando:

Sujeito 2: O que nós devemos ter um conhecimento sobre a vida cotidiana

do aluno porque a nossa função lá é orientar cada um a se sobressair. Como? Aprender a conviver com os acontecimentos diários né, como, por exemplo, com o desenvolvimento econômico da zona rural é bem diferente da zona urbana, então os saberes que os professores devem ter os saberes que o professor da zona rural deve ter é fundamenta, né?

Nesta fala o sujeito destaca que deve haver uma capacitação que promova a interação entre o profissional de educação e a realidade do aluno que este ensina, com

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ênfase na sua fala para o aprendizado com o dia a dia aproveitar-se daquilo que faz parte da rotina no meio rural e promover o conhecimento, isto é, a necessidade de dialogar com a linguagem, vivência e experiência do alunado do campo, que tem práticas específicas, um conhecimento de mundo com suas respectivas equivalências. É isto que o sujeito destaca como conhecimentos diários, abordando os conteúdos acadêmicos formais de maneira a promover uma aproximação e interesse de saberes que são formalmente estabelecidos pelos currículos, mas também conhecimentos que compõe a riqueza cultural, social e econômica das especificidades deste aluno.

No entanto, ainda falta muito quando se trata de adequar o currículo para a realidade do aluno do campo, uma discussão sobre este aspecto é apresentada no documento onde se destaca a luta de povos do campo por uma educação justa e de qualidade, inclusive com apoio do Movimento Sem Terra. Os autores deste documento defendem que a escola do campo reforça ainda a lógica do mercado na medida em que seu currículo reproduz um modelo de desenvolvimento de agricultura que legitima o paradigma utilitarista.(FOERST, 2008, p. 6) Sendo assim, é interessante refletir sobre como esta Formação Continuada vem sendo preparada, quais seus objetivos e metas para o processo educacional tendo o alunado como foco central dos resultados serem obtidos.

Na Formação Continuada é o “aprender a conviver com os acontecimentos diários” e os espaços de Formação Continuada, são espaços que proporcionam diálogos, interlocuções entre os sujeitos participantes – é assim que existe uma troca de experiências entre esses professores. Os professores da Educação do Campo, de turmas muitisseriadas aproveitando-se de um espaço de trocas constituído para falar de outros conteúdos, mas que como fala Antônio Nóvoa, “é preciso fazer um esforço de troca e de partilha de experiências de formação, realizadas pelas escolas e pelas instituições de ensino superior, criando progressivamente uma nova cultura da formação de professores.” (NÓVOA, 1992, p. 30)

Portanto, mesmo em momentos em que os debates priorizados por determinado curso de formação possam não enfocar a Educação do Campo ou a realidade de multisseriados, ainda assim cria-se um ambiente de troca de experiências de forma ativa, através do qual pode-se chegar a soluções para problemas em comum, afinal, os “professores têm de ser protagonistas activos nas diversas fases dos processos de formação: na concepção e no acompanhamento, na regulação e na avaliação.” (NÓVOA, 1992, p. 30).

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E, por isso, o Sujeito 5, quando questionado se houve algum outro programa que discutisse a Educação do Campo, o sujeito articula então um diálogo com a pesquisadora através do qual contatou-se que, embora tenha sido destacado nas respostas que o curso ofertado, sobre essa temática, foi o pró-letramento, ocorrido antes do PEA, pode se concluir que mesmo não sendo um programa direcionado para educação no campo, este deu um importante auxílio para classes multisseriadas, conforme reafirma-se a seguir: