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1.2 CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA

2.1.1 Documento sonoro arquivístico: fita cassete

Em 1900 se deu o início o processo de registro sonoro com o dinamarquês Valdemar Poulsen (18969-1942), com contribuições significativas para o rádio e responsável por desenvolver um gravador magnético de arame em 1899, capaz de realizar gravações em um fio de arame. Não possuía muita praticidade, pois o fio se torcia com facilidade.

Em 1928 o engenheiro alemão Fritz Pfleumer apresentou o gravador Magnetofone de Pfleumer, que substituiu o arame por uma fita de papel revestida com aço em pó.

Em 1932 as empresas alemãs Basf e AEG Telefunken desenvolveram a solução para agravação magnética, criando a fita e a produção do aparelho.

Em 1934 a Basf apresentou a fita magnética com o plástico poliéster para substituir o arame e o papel.

Segundo o Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivística, a fita magnética é “recoberta por uma camada magnética, capaz de armazenar informações sob a forma de sinais eletromagnéticos” (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p.91), lançada oficialmente em 1963, pela empresa holandesa Philips (Royal Philips Electronics - NYSE: PHG, AEX: PHI, também denominada como Koninklijke Philips N.V ou somente como Philips)4.

Utilizada para armazenamento de sinais de áudio de forma analógica, Figura 1, com capacidades em torno de 30 (15 minutos por lado), 45, 60, 90 e 120 minutos.

O nome da fita já indica a duração da mesma, como C-60 (60 minutos para cada lado).

Figura 1 - Fita cassete C-60, TDK, 60 minutos de áudio

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Fita_cassete

Segundo Amaral (2009, p.14), em 1963 a empresa Philips lança “a fita cassete, compact cassete, áudio-cassete, cassete ou simplesmente fita magnética”, com a possibilidade de se gravar e reproduzir sons.

A fita cassete é

constituída basicamente dois carretéis, com a fita magnética (que pode ser duas faixas de áudio mono ou dois pares de faixa estéreo) e todo o seu mecanismo de movimento alojados em uma caixa plástica de 10cm x 7cm, a cassete veio pra facilitar o manuseio e utilização, permitindo que a fita fosse colocada ou retirada do aparelho reprodutor em qualquer ponto de gravação sem a necessidade ser rebobinada como as “open reel”, as fitas em rolo. E, por ser pequena, permitia uma enorme economia de espaço em relação às fitas tradicionais (AMARAL, 2009, p. 15).

A explosão ou expansão do som individual se deu nos anos 70, com a criação do walkman pela Sony e dos gravadores de áudio portáteis pela Philips. Sendo até os anos 90 um dos formatos mais populares para música, em conjunto com os discos de vinil.

As fitas cassete foram sendo superadas no final dos anos 1980 com a chegada dos CDs, sendo fortemente desbancadas em 2000 pelos reprodutores de MP3, cartões de memória, DVDs, com uma qualidade de som superior, maior capacidade de armazenamento e duração. A partir dali quase não eram mais produzidas pelos fabricantes, praticamente escassas ou raridades no mercado.

A sobrevivência das fitas cassete é praticamente nula, Van Bogard (2001, p. 20), recomenda a transcrição de arquivos de áudio e vídeo a cada 10 ou 20 anos para uma geração seguinte de sistema de gravação como estratégia de preservação

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a ser adotada. O processo de transcrição citado por Van Bogard, é considerado a cópia igual ou diferente de uma fita para outra (2001, p.41).

O autor nesse período fazia inferências quanto a aplicação de estratégias de preservação para esses documentos, no momento que ressalta que a transcrição muitas vezes é confundida com a aeração, processo de cópia de uma fita para outra mais nova e com mesmo formato. Quando a informação, segundo Van Bogard (2001, p. 41) acima citado, é copiada para um formato diferente, esse processo é chamado de reformatação e conversão.

Os registros sonoros para St. Laurent,

são artefatos legíveis por máquinas; são documentos em que a integridade da informação contida está diretamente relacionada ao bem-estar físico do artefato. Uma vez que a maioria dos registros sonoros é feita de plástico, a conservação deve ser tratada como um problema de degradação de plásticos, exigindo uma abordagem diferente daquela da conservação do papel. É importante compreender os processos químicos degenerativos básicos e os princípios da retenção do som pelos diversos meios para assegurar que medidas apropriadas sejam tomadas para reduzir a taxa de degradação” (ST. LAURENT, 2001, p.8).

O documento sonoro é compreendido pelo Glossário da Câmara Técnica de Documentos Audiovisuais, Iconográficos e Sonoros - CTDAIS, “como o gênero documental integrado por documentos que contém registros sonoros” (CONARQ, 2014, p.9), no DBTA, documento sonoro é o “registro sonoro, como disco e fita audiomagnética” (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p.79).

As instituições, para Buarque, que preservam acervos sonoros,

de História Oral têm como constante desafio a manutenção e a preservação de seus documentos, sobretudo aqueles de natureza sonora e audiovisual. O uso de tecnologias digitais está trazendo novas possibilidades para a preservação de longo prazo... Portanto, diante dessa crescente obsolescência dos equipamentos analógicos, é dever das instituições de guarda manter, junto a seu corpo de profissionais, técnicos que detenham conhecimentos não só do universo digital, mas que saibam também operar com desenvoltura os equipamentos analógicos. O desafio não é apenas de manter as máquinas, mas também todo o conhecimento humano que as cercam (BUARQUE, 2008, p.3).

Silva (2008, p.2) em seu artigo A preservação e o acesso de acervos fonográficos – relatos de pesquisa, publicado no Arquivística.net, infere que a preservação se dedica a preservar e recuperar as condições físicas dos documentos, garantindo a estabilidade dos suportes e consequentemente a disseminação da informação. Ainda segundo o autor, a preservação a longo prazo

excede a interferência física nos suportes, de maneira que objetiva o acesso continuado à informação, estabelecendo uma relação entre as ações de conservação, restauração e a conservação preventiva. As tecnologias da informação associadas a essa estratégia corroboram com a preservação, permitindo o acesso a informação contida nos objetos analógicos, tão logo digitais.

A preservação desses acervos sonoros é uma perspectiva da memória oral na região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, provenientes das ações de uma instituição pioneira no ensino regional e na preservação do Patrimônio cultural. Nesse sentido, a digitalização é vista como uma estratégia de preservação do documento, ao mesmo tempo em que promove acesso as informações ali contidas. A preservação é um dos grandes desafios das instituições custodiadoras de acervos, enquanto provisão de acesso às gerações do futuro.

Para Sant‟Anna (2001) apud Arellano (2004, p. 16) “é responsabilidade dos arquivos adotar medidas preventivas e corretivas objetivando minimizar a ação do tempo sobre o suporte físico da informação, assegurando sua disponibilidade”. O autor evidencia as práticas da preservação digital que fazem uso de mecanismos que permitem o armazenamento como os repositórios, os quais poderiam oferecer a perenidade dos seus conteúdos enquanto estratégia. As condições para a preservação digital

seriam, então, a adoção desses métodos e tecnologias que integrariam a preservação física, lógica e intelectual dos objetos digitais. A preservação física está centrada nos conteúdos armazenados em mídia magnética (fitas cassete de áudio e de rolo, fitas VHS e DAT etc.) e discos óticos (CD- ROMs, WORM, discos óticos regraváveis). A preservação lógica procura na tecnologia formatos atualizados para inserção dos dados (correio eletrônico, material de áudio e audiovisual, material em rede etc.), novos software e

hardware que mantenham vigentes seus bits, para conservar sua

capacidade de leitura (SANT‟ANNA apud ARELLANO, 2004, p. 16).

O Projeto Conservação Preventiva em Bibliotecas e Arquivos – CPBA, visa a troca de experiências entre instituições de arquivos e bibliotecas quanto ao gerenciamento de programas de conservação preventiva de acervos, em seu caderno técnico Armazenamento e manuseio de fitas técnicas, aponta como armazenar e cuidar apropriadamente de meios magnéticos de modo a estender o tempo de vida útil desses. Adicionalmente, o autor VAN BOGART (2001), ressalta que para a informação permanecer preservada são necessários ambientes especiais de salvaguarda, bem como a aplicação de estratégias a esses documentos, porque

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a tecnologia de gravação se tornará arcaica e obsoleta. Alerta ainda, que o conteúdo das fitas também poderá ser perdido pela obsolescência dos formatos e pela inexistência dos equipamentos adequados para o seu funcionamento, pois tanto a fita magnética como o gravador, não foram idealizados para durar infinitamente. A deterioração da fita é inerente, e estima-se que sua expectativa de vida seja de 10 a 30 anos, isso quando respeitadas as condições climáticas de preservação e armazenamento.

Os documentos sonoros em fita cassete são menos estáveis que o papel, os livros mantem a sua forma estável por muitos anos, enquanto que os meios magnéticos, devido aos vários formatos e as tecnologias de gravação, são mais instáveis, devido à forma como as informações são registradas.

Acervos de áudio necessitam de cuidados e manuseio especiais para que a informação registrada seja preservada. Dez anos significa espaço e ambientes especiais de armazenamento, pois preservar de forma definitiva, permanente, torna necessário a adoção de transposição dessas mídias para novos meios. Esses meios de armazenamento podem ser instáveis e as tecnologias de gravação se tornarão obsoletas com o passar dos tempos.

A fita magnética,

consiste de uma fina camada capaz de registrar um sinal magnético, montada sobre um suporte de filme mais espesso. A camada magnética, ou cobertura superficial consiste de um pigmento magnético suspenso em um aglutinante de polímero. Conforme o próprio nome diz, o aglutinante mantém as partículas magnéticas juntas entre si e presas ao suporte da fita. A estrutura da cobertura superficial de uma fita magnética é similar à estrutura de uma gelatina contendo pedaços de frutas – o pigmento (pedaços de fruta) está suspenso na gelatina e é mantido coeso pela mesma. A cobertura superficial, ou camada magnética é responsável pelo registro e armazenamento dos sinais gravados sobre ela. (VAN BOGARD, 2001, p.10)

Segundo Van Bogard (2001), a guarda e manuseio apropriada às fitas é de extrema importância, assim como o processo de gravação das fitas, que consiste em dois componentes diferentes, a fita magnética e o gravador, projetados para não durar infinitamente. A perda da informação pode ocorrer por consequência da degradação química do suporte, enquanto que o acesso à informação, pode ser perdido pela obsolescência do formato ou pela inexistência de um gravador apropriado e em funcionamento.

O autor faz inferências, no sentido que a fita magnética consiste em uma gravação de sinal magnético sobre uma camada, sobre um suporte de filme. A camada magnética consiste de pigmentos magnéticos suspensos em um aglutinante, esse aglutinante é que mantém as partículas magnéticas juntas entre si e presas ao suporte da fita. Essa camada é responsável pelo registro e armazenamento dos sinais magnéticos gravados sobre ela.

O aglutinante tem a função de proporcionar uma superfície lisa ao transporte do sistema de gravação ou reprodução. Do contrário seria uma camada áspera e dificultaria a reprodução da informação.

O suporte de filme é necessário para sustentar a camada de gravação magnética, fina, frágil e auto sensível.

As partículas magnéticas, o aglutinante e o suporte, são potenciais fatores de falha para a fita magnética. Segundo a Magnetic-Media Industries Association of

Japan (MIAJ), o tempo de vida útil em condições normais, é definido pelo aglutinante

e não pelas partículas magnéticas. O lubrificante tem sua ação alterada com ação do tempo, pois cada vez que uma fita é ouvida, o lubrificante na fita diminui, isso é parte de sua função. Mesmo as fitas não tocadas, arquivadas, o lubrificante é diminuído, pela evaporação e degradação natural desse componente.

A partícula magnética é “responsável por armazenar magneticamente a informação registrada através de alterações na direção do magnetismo de partículas locais. Se houver qualquer alteração nas propriedades magnéticas do pigmento, os sinais registrados podem ser irrecuperavelmente perdidos” (VAN BOGART, 2001, p.13). A diminuição do sinal magnético, com o tempo,” pode resultar na diminuição do sinal de saída e da perda potencial da informação” (VAN BOGART, 2001, p. 13). A desmagnetização de uma fita pode resultar de uma interferência externa, como um detector de metal, por exemplo, pois é muito suscetível a sofrer desmagnetização e perda de sinal.

A deterioração magnética é inerente, contudo as baixas temperaturas de armazenamento podem reduzir esses efeitos, porém os níveis de umidade têm pouco efeito sobre a deterioração dos pigmentos magnéticos.

O “suporte da fita, ou substrato, é o que sustenta a camada magnética para a passagem através do gravador”. As fitas mais antigas, nos anos de 1940 e 1950, tinham como suporte os filmes de acetato, muito utilizados para áudio, também muito utilizados nos filmes antigos de cinema, e muito sujeito à hidrólise. Mais

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instável que o filme de poliéster, porém seus aglutinantes são mais estáveis. Podendo ter um tempo de vida limitado pela degradação do suporte e não pela degradação do aglutinante. Ocasionado a síndrome do vinagre, em estágios mais avançados, ficará quebradiça e se romperá com facilidade. Segundo Van Bogart (2001), recomenda-se que fitas com base de acetato devem ser armazenadas em ambientes com baixa temperatura e baixa umidade.

Segundo o autor, não são necessários equipamentos caros para gravação e reprodução de fitas analógicas. No entanto, devem ter boas condições de manuseio, para que possam produzir gravações de qualidade e também possam prevenir contra danificação das fitas quando reproduzidas. Deve-se evitar gravadores sujos, devem estar mecanicamente alinhados para não rasgar ou distender a fita. As instruções dos fabricantes são importantes e devem ser consideradas para uma boa manutenção do equipamento, prevenindo assim as gravações.

Segundo a Corporação AMPEX de Meios de Gravação, a degradação prematura da fita é resultado de fatores que afetam o seu tempo de vida e sobre os quais deve-se observar: manuseio e transporte, condições de guarda – temperatura e umidade, número de vezes que é utilizada, componentes físicos da fita e qualidade e disponibilidade futura de tecnologia para reproduzir. Fatores como guarda e manuseio, são altamente relevantes, como: ambientes limpos para armazenamento e uso, evitar sujidades sobre a fita, quedas e manter proteção da luz solar intensa e contato com água, e cuidados em armazenar em pé, pois os rolos devem ser sustentados pelo eixo da bobina, como os livros nas estantes.