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Capítulo 1. Revisão Bibliográfica

3 Alterações do Sistema Olfativo

3.4 Doenças Neurodegenerativas

A presença de placas senis, amiloidose cerebrovascular e gliose astrocíticas associadas a animais mais velhos é comum. As alterações cerebrais senis são muito parecidas morfológica e histologicamente com aquilo que se observa no homem, podendo o envelhecimento no cão ser usado como modelo para o estudo dos mecanismos patogénicos relacionados com a maturação do SNC no homem. Os défices na deteção de odores e sua identificação são um dos sinais presentes na doença de Alzheimer humana (ÖZDENER et al., 2004), uma doença do SNC caracterizada pela presença de emaranhados neurofibrilares, placas senis e neurite distrófica de várias áreas do cérebro, nomeadamente zonas com função olfativa como o córtex entorrinal e que no cão se manifesta de forma similar na síndrome denominada de Disfunção Cognitiva (LANDSBERG et al., 2012). Na literatura são várias as referencias à presença de fenómenos de neurite distrófica no epitélio olfativo, reatividade de proteínas tau idênticas a emaranhados neurofibrilares (presentes nos axónios e dendrites mas não no soma dos neurónios olfativos) e massas extracelulares de p-amiloide idênticas a placas senis na mucosa olfativa, bem como emaranhados neurofibrilares e placas senis nas vias olfativas em pacientes com doença de Alzheimer (HIRAI et al., 1996).

Durante a vida do animal, os novos interneurónios do BO têm origem nas células-tronco da chamada zona subventricular que limita as paredes dorsolaterais do ventrículo lateral (LEDDO et al, 2005) e a migração dos neuroblastos desde a zona subventricular até ao BO faz- se através do chamado fluxo migratório rostral (MOBLEY et al, 2014). Nos animais mais velhos, na zona subventricular observa-se geralmente uma atrofia com estenose da parede do ventrículo lateral, restringindo a neurogénese na região dorsolateral. A cavidade ventricular que persiste sofre aumento das suas dimensões e a monocamada ependimária é preenchida com astrócitos cuboides que perderam a sua atividade mitótica. Alguns estudos sugerem que a zona subventricular mantém potencial de proliferação nos animais velhos e que os períodos de quiescência são reversíveis. No entanto, devido às alterações estruturais observadas nos ventrículos e a sua influência no nicho neurogénico, não é percetível de que forma a proliferação celular pode ser mantida nestas condições (MOBLEY et al., 2014). Apesar destes fenómenos a nível da zona subventricular, não se observa uma diminuição significativa no número de

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interneurónios nos BO, estabelecendo-se assim um equilíbrio dinâmico no qual há diminuição da morte de células já presentes no BO, aumento da capacidade de sobrevivência dos novos interneurónios que migram para o BO provindo do fluxo migratório rostral e ainda supressão dos mecanismos de apoptose nos animais mais velhos. De uma forma geral, tanto a taxa de proliferação como a taxa de apoptose estão diminuídas em animais idosos (MIRICH et al., 2012).

O percurso percorrido pelos neuroblastos no fluxo migratório rostral também sofre alterações durante o envelhecimento. Durante a sua migração, os neuroblastos mantêm a capacidade de divisão, havendo uma diminuição desta capacidade com o envelhecimento, em paralelo com as alterações a nível da zona subventricular. Globalmente, a diminuição na divisão celular tanto na zona subventricular como no fluxo migratório rostral leva a uma diminuição dos neuroblastos em migração, mesmo que a eficácia desta migração não pareça afetada com o envelhecimento (MOBLEY et al., 2014).

A nível dos BO, a amiloidose cerebrovascular é observada frequentemente nas meninges e também no parênquima. A gliose astrocíticas pode ser encontrada em quase todas as camadas do BO, surgindo esta astroglia de forma compensatória à perda de tecido neuronal. Os depósitos de ubiquitina são frequentes e surgem predominantemente na substancia branca. A presença de placas senis e de emaranhados neurofibrilares não são achados comuns nesta localização, embora possam estar presentes. A camada dos NO é muito mais fina nos animais mais velhos; na camada glomerular observa-se atrofia glomerular, presença de sinaptofisina e até corpúsculos amiláceos a nível dos glomérulos, pensando-se que estas substâncias surgem como produtos de degradação da astroglia. Corpos amiláceos também se encontram presentes na camada plexiforme externa, interna e camada das células mitrais (HIRAI et al., 1996), com diminuição significativa do número de células nesta última camada (KALMEY et al., 1998). Embora microscopicamente seja difícil observar sinais de degenerescência a nível dos NO, estão presentes grandes acumulações de lipofuscina a nível destas células (HIRAI et al., 1996).

Em murganhos está descrito um aumento nas dimensões do BO na ordem dos 50% em animais em crescimento, havendo no entanto uma diminuição das dimensões a partir de certa idade (HINDS & MCNELLY, 1981). Embora o número de neurónios dos BO não seja profundamente afetado com o envelhecimento, o mesmo não acontece com o número de sinapses existentes nesta estrutura, observando-se uma diminuição significativa do número de

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sinapses glomerulares com o aumento da idade. Uma vez que ocorre uma diminuição do número de sinapses mas o número de neurónios se mantém mais ou menos estável, tem sido proposto um modelo de remodelação das sinapses glomerulares que apesar de tudo continua especulativo. O efeito do envelhecimento dos circuitos sinápticos reflete provavelmente a diminuição das células sensoriais olfativas que chegam ao glomérulo e a perda de arborizações dendríticas das células periglomerulares. O impacto de uma perda na ordem dos 50% das sinapses glomerulares no processamento odorífero não é clara e um animal que apresente apenas 5% do seu epitélio olfativo íntegro consegue ainda identificar 45% dos odorantes a que é exposto. Parece assim que o efeito imediato do envelhecimento no processamento da informação olfativa ocorre a nível da informação contida nos neurónios olfativos, com preservação dos circuitos a montante do BO (MOBLEY et al., 2014).

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