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Relação entre as três Variáveis da Lâmina Crivosa e as Medidas Craniométricas

Capítulo 2. Estabelecimento de uma Metodologia de Abordagem à Lâmina Crivosa do

4 Discussão

4.5 Relação entre as três Variáveis da Lâmina Crivosa e as Medidas Craniométricas

As relações que se estabelecem entre as três variáveis em estudo na LC e as medidas craniométricas está resumida de seguida:

Maiores comprimentos da sutura palatina média:

 Pouca influência no número de forâmenes;  ↑ Área ocupada pelos forâmenes:

 ↑ Área da LC;

Maiores comprimentos das fissuras palatinas:

 Pouca influência no número de forâmenes;  ↑ Área ocupada pelos forâmenes:

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 ↑ Área da LC;

Maiores comprimentos da sutura internasal:

 Pouca influência no número de forâmenes;  ↑ Área ocupada pelos forâmenes:

 ↑ Área da LC;

Maior altura da abertura da CN:

 ↑ Número de forâmenes;

 ↑ Área ocupada pelos forâmenes;  ↑ Área da LC;

Maior distância entre o processo zigomático do osso frontal e o osso frontal do osso zigomático:

 Pouca influência no número de forâmenes;

 Pouca influência na área ocupada pelos forâmenes;  Pouca influência na área da LC;

Maior bregma:

 ↑ Número de forâmenes;

 ↑ Área ocupada pelos forâmenes;  Pouca influência na área da LC

Maior largura do crânio:

 ↓ Número de forâmenes;

 ↑ Área ocupada pelos forâmenes;  ↑ Área da LC;

Maior distância entre as coanas:

 ↓ Número de forâmenes;

 Sem correlação com a área ocupada pelos forâmenes;  ↑ Área da LC;

Maior distância entre os hâmulos do osso pterigoide:

 ↑ Número de forâmenes;

 ↑ Área ocupada pelos forâmenes;  ↑ Área da LC;

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O comprimento da sutura palatina média, isto é, o comprimento do próprio palato duro, e a sutura média do osso nasal estabelecem uma correlação positiva com a área ocupada pelos forâmenes na LC e com a área da própria LC. Resumindo, palatos e ossos nasais mais curtos estão associados a menores LC e menores áreas ocupadas pelos forâmenes nas mesmas. A partir da observação de crânios de canídeos vivos e fósseis, sabe-se que o bordo palatino caudal se apresenta sempre numa posição imediatamente ventral à LC e BO que esta recebe. Uma vez que o bordo palatino sofra, por exemplo, um desvio caudal, a LC e o BO seguem o mesmo desvio, levando a uma compressão anterodorsal dos lobos craniais do cérebro e BO (LYRAS

et al., 2009). A transição do palato duro para o palato mole localiza-se geralmente caudalmente

ao último dente molar nas raças não braquicefálicas, encontrando-se mais caudalmente em raças braquicefálicas e de rosto curto (MEOLA, 2013). Além disso, raças braquicefálicas ou de rosto curto apresentam também orientações ventrais dos BO e pequenos ângulos dos mesmos, LC mais aplanadas e fossas etmoidais menores (HUSSEIN et al., 2012). Assim sendo, e segundo as correlações estabelecidas neste estudo, animais de raça braquicefálica ou de rosto curto, onde o palato e o osso nasal são claramente mais curtos, apresentam, além das alterações descritas e conhecidas para a raça, LC de menor área e, mais importante, uma menor área desta ocupada por forâmenes. Esta particularidade pode dever-se ao posicionamento da própria lâmina, mais aplanada e menos profunda, e portanto com menos espaço disponível o seu desenvolvimento. Estas características associadas à compressão anterodorsal do BO e às particularidades fisiopatológicas presentes nestas raças que dificultam a chegada das MO ao recesso olfativo podem ser uma explicação adicional para a fraca acuidade olfativa das mesmas.

As fissuras palatinas estabelecem uma relação exatamente igual ao comprimento da sutura palatina média relativamente às três variáveis da LC em estudo. Esta fissura é a única abertura presente em cada lado do palato ósseo, contendo in vivo alguns vasos sanguíneos e o ducto incisivo proveniente do OV (EVANS & LAHUNTA, 2013). Segundo o nosso estudo, e como expectável, o comprimento das fissuras palatinas estabelece uma correlação positiva com a sutura palatina média, ou seja, com o próprio comprimento do palato (r de 0,44 para a fissura palatina direita e 0,42 para a esquerda). Assim, animais com palatos mais curtos apresentarão fissura palatinas mais curtas e também LC de menor área e menor área ocupada por forâmenes na mesma.

A largura do crânio segue uma relação idêntica ao comprimento da sutura palatina média relativamente à área total da LC e área total ocupada pelos forâmenes da lâmina, além de ter

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uma igual relação com o número total de forâmenes. Comparando crânios braquicefálicos com crânios mesaticefálicos ou dolicocefálicos, os primeiros apresentam, além de um rostro mais curto, crânios de maior largura (MEOLA, 2013) devido à presença de arcos zigomáticos maiores (SCHOENFELD & CLELAND, 2005). Assim sendo é incompreensível a relação entre esta estrutura e as características da LC, à luz da explicação dada para a sutura palatina média.

O arco zigomático é bem desenvolvido em raças braquicefálicas (GILBERT & GILBERT, 2013) levando à presença de órbitas superficiais características destas raças e que condicionam também o aparecimento de diversas doenças oculares (MEOLA, 2013). Nestes casos, a distância que se estabelece entre o processo zigomático do osso frontal e o processos frontal do osso zigomático no limite rostral da órbita é menor e seria de esperar, tendo em conta as constatações anteriores, que animais de rostro mais curto e onde esta última distância é menor, fosse menor a área da LC, o número de forâmenes e a área ocupada pelos mesmos. No entanto, segundo o nosso estudo, esta medida não tem qualquer relação com as variáveis da LC em estudo.

As correlações estabelecidas entre as variáveis da LC e a altura da abertura da CN, bregma, distancia entre as coanas e distância entre os hâmulos do osso pterigoide não são justificáveis à luz do conhecimento morfológico do crânio do cão e das relações estabelecidas entre as estruturas relacionadas com o olfato e estas medidas craniométricas. Assim, é necessário um estudo direcionado para estas estruturas e relações estabelecidas entre estas e a LC para determinar a veracidade das relações determinadas.

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5. Trabalho Futuro

Este estudo permitiu a criação do primeiro protocolo de abordagem à LC do cão, o exame e estabelecimento das correlações das três variáveis mais importantes da lâmina e ainda a relação destas com outras medidas craniométricas. A metodologia aqui estabelecida deverá ser validada, realizando-se novos estudos com maior amostragem e confrontado os resultados com outros métodos estabelecidos de estudo da LC, determinando assim se a sua eficácia e poderá ser a base para trabalhos futuros como forma de uniformização do método de mensuração e caracterização da LC na espécie e também dentro de cada raça. O objetivo futuro é a sua aplicação em estudos de caracterização da LC em cães de diferentes idades, raças e aptidões ocupacionais, permitindo concluir de que forma se relacionam as três variáveis da LC nos diferentes indivíduos e/ou que influência tem as variações das mesmas na capacidade olfativa de cada animal.

As variações encontradas na morfologia da LC poderão futuramente ser testadas tendo em conta aquilo que conhecemos sobre a morfologia craniana, comportamento, ecologia e até genética das diferentes raças de cães. Usando os parâmetros que foram estabelecidos neste estudo, poder-se-á comparar a morfologia da estrutura em diferentes grupos de animais que reflitam espectros de necessidades olfativas distintas, como seja a comparação de raças conhecidas pela sua acuidade olfativa superior e raças consideradas normais nesta aptidão. Variáveis como o sexo e a idade e a sua influência na morfologia e características da LC também poderão ser estudadas, tanto para caracterização geral como para teste de hipóteses estabelecidas por outros autores (KALMEY et al., 1998).

O estudo da assimetria reconhecida entre as duas metades da LC vem levantar novas questões a serem estudadas no futuro. A assimetria é real e facilmente identificável tanto macroscopicamente como recorrendo a estudo de imagem. No entanto é difícil determinar se esta assimetria é variável e sem um padrão específico ou se de facto se estabelece uma disparidade repetida e com alguma influência no olfato do animal e que se relacione com outros componentes do SO onde há evidências de assimetria funcional (KHANA & SANGUPTA, 2001; KISHIMOTO et al., 2013). As questões aqui levantadas necessitam de um estudo específico e orientado para serem adequadamente exploradas, onde se recorra a um maior número de amostras e se realize uma análise de caraterização morfológica de outras estruturas

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do SO do cão, como sejam os BO e rinencéfalo, que permitam chegar a conclusões mais precisas sobre uma possível assimetria olfativa funcional no cão.

Por fim, a análise da relação das medidas craniométricas com as variáveis da LC em estudo abre portas a um grande número de possibilidades a explorar no futuro. A confirmação das correlações estabelecidas necessita de novas pesquisas, com maior amostragem, para se determinar uma relação real entre todas as variáveis analisadas. Uma vez confirmadas e definidas estas relações será possível, recorrendo a métodos imagiológicos não invasivos como radiologia ou tomografia computadorizada, in vivo, inferir sobre características da LC (e de forma indireta, sobre o olfato do animal) sem ser necessário recorrer a metodologias complexas de estudo direto da estrutura. Estas possibilidades trarão grandes vantagens em áreas tão distintas como a criação de animais para caça ou o treino de cachorros com aptidão específica (cães pisteiros nas suas diferentes aplicações), permitindo, por exemplo, antever se determinado animal apresentará capacidades olfativas especiais na idade adulta a partir da mensuração das medidas craniométricas em estudo em idade precoce.

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