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Domínios de intervenção e tipo de participantes nos estágios do Mestrado em Educação e Formação

Mestranda em Educação e Formação, Instituto de Educação, Universidade de Lisboa

3. Domínios de intervenção e tipo de participantes nos estágios do Mestrado em Educação e Formação

Na tentativa de percebermos, de uma forma mais detalhada, o tipo de traba- lho desenvolvido pelos estagiários, considerámos importante analisar as áreas de intervenção, em articulação com o tipo de participantes2 envolvidos no processo.

A análise dos trabalhos realizados nos estágios do mestrado, permite afirmar que a maioria envolveu, directa ou indirectamente, adultos (49%), a que se seguiram os jovens (19%) e as crianças (17%). Os estágios focados em idosos representam apenas 2%. Os estágios que centram a sua intervenção em vários grupos etários representam 8%, e surgem com a designação “intergeracional”. A categoria “ou- tros” representa 22% dos estágios realizados e compreende os estágios focados na cultura e no clima organizacional, no estudo de competências de organismos da administração pública, central e local, no domínio da educação, e na acredita- ção e certificação de entidades e da formação.

2 Alguns estágios incidiram, em simultâneo, em crianças e jovens. Nesses casos, o estágio foi classi- ficado em duas categorias, “crianças” e “jovens”. Na categoria designada “intergeracional” incorpora- ram-se distintas situações – estágios que explicitavam a intervenção junto de todos os grupos etá- rios, estágios que ocorreram em espaços que permitiam o acesso a todos os grupos etários, embora não explicitassem o tipo de participantes envolvidos, e um estágio que visava a implementação de um projecto com a participação e articulação entre crianças, adultos e idosos.

Gráfico 2. Tipo de participantes envolvidos nos estágios do mestrado em Educação e Formação, entre 2010 e 2018, do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa

Fonte: Dados obtidos através do Repositório da Universidade de Lisboa e tratados pelas autoras do texto

Os elementos apresentados reforçam a ideia da promoção de um número sig- nificativo de estágios centrados na formação profissional contínua, de adultos, em diversas entidades. Estes estágios incidiram em uma ou várias etapas referentes à organização e gestão da formação – o diagnóstico, a concepção da formação, a implementação e gestão, o acompanhamento e a avaliação – em empresas de diversos sectores de actividade, em empresas de formação, em organismos da administração pública central e local, em centros de formação direccionados para professores e em associações. A etapa da organização e gestão da formação, me- nos presente nos estágios, diz respeito à implementação da formação e a mais frequente diz respeito à avaliação. Na dimensão da avaliação, os estágios incidem numa grande diversidade de situações – avaliação de curso de formação, avalia- ção de programas, avaliação de plataformas de formação, avaliação da qualidade da formação e a avaliação de impacto. Entre estes estágios há um número signi- ficativo que se centrou na caracterização e análise do perfil do gestor – gestor de serviços do ministério da educação, gestor de autarquias locais, gestor da forma- ção, gestor de projectos, gestor de programas e gestor escolar, entre outros.

Os estágios que, directa ou indirectamente, envolveram crianças e jovens reali- zaram-se em creches, jardins-de-infância, em escolas do 1.º ciclo, do ensino básico e do ensino secundário, em centros de estudo com actividades extracurriculares, em entidades da administração pública local, com actividades de apoio à família, em associações e em lares e centros de acolhimento de crianças e jovens em situa- ções de risco e perigo. Estes estágios consistiram no diagnóstico, na concepção, na gestão, no acompanhamento e na avaliação de projectos educativos com crianças

e jovens, em domínios diversificados (sucesso educativo, saúde, alimentação, hi- giene, desporto, artes, indisciplina, violência e conflitos, mediação, associativismo, TIC) e orientados para a promoção de um desenvolvimento integral, que permitis- se a articulação das dimensões cognitiva-motora-afectiva.

Os estágios classificados na categoria “outros” foram, essencialmente, realiza- dos em empresas, na administração pública, central e local, e em escolas de vários níveis de ensino. Estes estágios incidiram particularmente na análise da cultura e do clima organizacional; na análise de programas e de projectos educativos; na concepção, gestão e avaliação de sistemas de qualidade; na análise de compe- tências das autarquias locais no domínio da educação; e na avaliação do projecto educativo de escola.

Os estágios centrados numa grande diversidade de grupos etários são pouco frequentes e constam no gráfico na categoria “intergeracionais”. Na maioria dos casos, trata-se de dinâmicas associativas, de natureza comunitária, que permitem a realização de actividades abertas, as quais abrangem crianças, jovens, adultos e idosos. Registam-se também estágios realizados em museus e quintas pedagó- gicas, espaços onde as actividades contemplam todas as pessoas, independente- mente da sua idade. Entre estes estágios apenas um deles teve a intencionalidade de promover um projecto intergeracional, como possibilidade de interacção, so- cialização e aprendizagem entre crianças, adultos e idosos.

Os estágios orientados para os idosos centraram-se em processos de alfabeti- zação e em actividades socioculturais. Os dados recolhidos tornam evidente uma intervenção mais frequente junto de adultos, crianças e jovens, percebendo-se uma incidência muito reduzida em projectos de intervenção com idosos. Esta si- tuação contrasta com as características demográficas da população portuguesa, sendo que os residentes com idade igual ou superior a 65 anos representam 16% do total da população, valor com tendência a aumentar nos próximos anos. Es- tes elementos revelam um número muito elevado de idosos em Portugal e um reduzido investimento de estágios orientados para a população mais idosa. O reduzido investimento em estágios com idosos pode resultar de vários factores, nomeadamente, da falta de motivação e interesse dos estagiários para actuarem neste domínio, e do desconhecimento e da ausência de contacto com entidades e projectos educativos neste domínio. A intervenção educativa junto de idosos é um domínio pouco explorado nos estágios do Mestrado em Educação e Forma- ção, contudo, os estágios realizados revelaram-se experiências muito positivas, do ponto de vista técnico e humano, para todos os envolvidos no processo – o estudante estagiário e os idosos.