• Nenhum resultado encontrado

4 Dos estereótipos das vítimas ao trolling

No documento Direito Penal (páginas 63-66)

Na maior parte dos casos, o ofensor e sua vítima não se conhecem, não são mortas durante um roubo – isto é, não ocorre latrocínio -, muito menos entram em uma discussão – ou seja, não há nenhuma questão pessoal ou de negócios entre ambos. O prazer deriva do ato de matar e esse costuma ser o pri-meiro motivo da morte. Um estudo nos Estados unidos com 326 seriais killers

demonstrou que 87% deles mataram ao menos um estranho e que 70% mataram apenas estranhos45.

Eles normalmente preferem estranhos porque isso dificulta que sejam pe-gos, uma vez que a policia inicia suas buscas por pessoas próximas da vítima. Eles fazem tudo que estão ao seu alcance para não serem pegos pela policia, de modo que fiquem livres para matar novamente46. Para dificultar ainda mais, al-guns cometem homicídios em vários estados, envolvendo policias de diferentes jurisdições, o que dificulta ainda mais a investigação47.

42 VRONSKY, Peter. Serial killers: The method and madness of monsters. Nova York: Penguin, 2004. p. 308.

43 Rosemary e Fred West foram condenados pelo assassinato de 10 mulheres cujos corpos foram encontrados em sua casa. Entre os corpos estão o de uma das filhas do casal e a enteada de Rosemary, filha de Fred.

44 Em uma tradução livre: Às vezes os serial killers trabalham em equipe de dois e às vezes eles consistem em casais de marido e mulher ou namorado e namorada. Há também vários casos de grupos de culto serial killers que consistem em mais de duas pessoas. VRONSKY, Peter.

Serial killers: The method and madness of monsters. Nova York: Penguin, 2004. p. 8.

45 VRONSKY, Peter. Serial killers: The method and madness of monsters. Nova York: Penguin, 2004. p. 9.

46 Ted Bundy foi contratado pelo governo estadual como consultor de controle de crime, alem de ter escrito instruções de prevenção a estupro para mulheres VRONSKY, Peter. Serial killers: The method and madness of monsters. Nova York: Penguin, 2004. p. 3.

47 VRONSKY, Peter. Serial killers: The method and madness of monsters. Nova York: Penguin, 2004. p.10-11.

Além disso, procuram vítimas com um perfil no qual podemos colocar como “descartável”, isto é, considerados no senso comum como aqueles que não chamam a atenção da sociedade. Deste modo, o maior número de vítimas são os de prostitutas e sem teto48. Agindo nesse modo, possuem certo êxito, dado que fica mais difícil atribuir as mortes a um só assassino49. Após matar, o homicida pode se silenciar por dias, semanas ou meses até procurar uma nova vítima.50

Quando estudou os serial killers masculinos, Eric Hickey51 encontrou um número de 40% na preferência exclusiva de vítimas do sexo feminino52 e apenas 22% tinham preferência apenas pelo sexo masculino. Michael Nexton53 encon-trou número de 65% pela preferência em mulheres, ao passo que apenas 35% preferiam homens.

Não há nada de aleatório ou acidental nessa fase de “trolling”, entretanto, padrões distintos emergem dependendo se o serial killer é do tipo organizado ou desorganizado54. Salvo raras exceções, as vítimas são verdadeiros objetos na mão desse transgressor55. Alguns possuem sua “shopping list56” com vários requisitos, ao passo que outros não são tão exigentes assim57. E isso porque o assassinato apenas faz sentido ao próprio agressor.

Apesar de serem descritos como “monstros”, raramente aparentam ser isso. Muitos se apresentam no primeiro relance como pessoas normais e atrati-vas58 – e esse é o problema, pois as vítimas raramente passam do primeiro

relan-48 Gary Ridgway – the Green river killer – matava prostitutas, moradoras de ruas ou viajantes que pediam carona nas estradas. Ele cometeu assassinatos durante praticamente 20 anos.

49 CASOY, Ilana. Serial killer: louco ou cruel? 6. ed. São Paulo: Madras, 2004. p. 37.

50 VRONSKY, Peter. Serial killers: The method and madness of monsters. Nova York: Penguin, 2004. p. 9.

51 VRONSKY, Peter. Serial killers: The method and madness of monsters. Nova York: Penguin, 2004. p. 305.

52 Outra pesquisa revelou que 65% das vítimas são mulheres. CASOY, Ilana. Serial killer: louco ou cruel? 6. ed. São Paulo: Madras, 2004. p. 38.

53 VRONSKY, Peter. Serial killers: The method and madness of monsters. Nova York: Penguin, 2004. p. 305.

54 VRONSKY, Peter. Serial killers: The method and madness of monsters. Nova York: Penguin, 2004. p. 303.

55 CASOY, Ilana. Serial killer: louco ou cruel? 6. ed. São Paulo: Madras, 2004. p. 16.

56 VRONSKY, Peter. Serial killers: The method and madness of monsters. Nova York: Penguin, 2004. p. 305.

57 David Berkowitz, conhecido também como “filho de Sam”, matava apenas mulheres, sem ne-nhuma outra especificidade. CASOY, Ilana. Serial killer: louco ou cruel? 6. ed. São Paulo: Madras, 2004. p. 17.

ce. Outros são praticamente invisíveis até que se noticie que ele matou alguém59. [...] o serial killer desenvolve uma personalidade para conta-to, ou seja, um fino verniz de personalidade completamen-te dissociado do seu comportamento violento e crimino-so. [...] A dissociação não é anormal, todos nós temos um comportamento social mais “controlado” do que aquele que temos com nossos familiares mais íntimos.60

Muitos desses homicidas têm esposas, filhos e empregos como qualquer pessoa da sociedade61.“Serial killers, [...] slipback to their normal state of life be-tween their murders62. A fantasia capacitaria uma dissociação, pois quanto mais obscura, maior é a distância mentalmente criada entre o comportamento crimi-noso do assassino em série e seu comportamento dissociado63.

Eles têm noção que seu comportamento é recriminado pela sociedade, eles têm capacidade de discernir o certo do errado, por isso buscam controlar seu comportamento. E é justamente por isso que muitos negariam veemente-mente que teriam cometido os crimes nos quais estão sendo acusados, julgados ou condenados. E por essa consciência e a capacidade de discernir que muitas pessoas ao redor dele acreditam que sejam realmente inocentes6465.

A escolha da vítima está extremamente ligada à fantasia. Na verdade, elas acabam sendo o meio de se chegar à fantasia, um objeto que o permite a tal66. O

CASOY, Ilana. Serial killer: louco ou cruel? 6. ed. São Paulo: Madras, 2004. p. 38.

59 CASOY, Ilana. Serial killer: louco ou cruel? 6. ed. São Paulo: Madras, 2004. p. 21.

60 CASOY, Ilana. Serial killer: louco ou cruel? 6. ed. São Paulo: Madras, 2004. p. 21.

61 Gary Ridgway, o “Green River Killer”, ou assassino do Rio Verde, é um exemplo disso. Ele foi o serial killer com um dos maiores números de mortes associadas, matando mulheres nas décadas de 1980 e 1990, foi acusado pela morte de 48 delas, apesar de ele afirmar que matou bem mais que isso. Ele era casado a mais de 10 anos com Judith Mawson na época em que foi preso, já que Ridgway já havia se casado outras duas vezes, e tinha um filho, chamado Matthew. KO, Michael. Ridgway gave no hint he was a killer, son said. The Seattle Times, Se-attle, 23 dez. 2003. Disponível em: <http://community.seattletimes.nwsource.com/archive/?-date=20031223&slug=ridgway23m>. Acesso em: 14 out. 2014).

62 Em uma tradução livre: Serial killers, [...] escorregam de volta ao seu estado normal de vida entre seus assassinatos. VRONSKY, Peter. Serial killers: The method and madness of mon-sters. Nova York: Penguin, 2004. p. 11.

63 CASOY, Ilana. Serial killer: louco ou cruel? 6. ed. São Paulo: Madras, 2004. p. 21.

64  Jerry Brados nega até hoje os crimes pelo qual foi condenado, mesmo com a polícia encon-trando em sua garagem uma coleção de fotografias das vítimas demonsencon-trando a fantasia de Brados, as vestes e sapatos de suas vítimas e partes do corpo delas em seu freezer. Ele era ca-sado e sua esposa impedida de chegar perto da garagem. Na penitenciária onde se encontra, seus guardas e diretores falam muito bem do preso e é tratado como “não perigoso”, com seu pedido de liberdade provisória sendo revisto de 2 em 2 anos.

65  CASOY, Ilana. Serial killer: louco ou cruel? 6. ed. São Paulo: Madras, 2004. p. 23.

homicida em série retira tudo o que pode da vítima e depois se livra dela, seja de uma forma organizada, seja jogando-a em uma mata, ou mutilando-a e aban-donando seus restos onde lhe achar conveniente. Não há como se identificar a vítima de um serial killer quando não se conhece sua fantasia.

No documento Direito Penal (páginas 63-66)