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3 Pressupostos da responsabilidade civil pelo acidente de consumo

No documento Direito Penal (páginas 135-138)

A responsabilidade civil por acidentes de consumo tem quatro pressupos-tos: a) defeito do produto; b) nexo de imputação; c) dano patrimonial ou extra-patrimonial; d) relação de causalidade entre o defeito e o dano.22

O defeito consiste na deficiência apresentada pelo produto que não oferece a segurança que se espera dele e, deste modo, o torna perigoso, cau-sando danos ao consumidor. A sistemática do CDC classifica as imperfeições do produto em duas grandes categorias básicas, diferenciadas pela sua natu-reza e pelo regime jurídico a que subsumem: a) defeito do produto; b) vício do produto.23

A primeira grande categoria básica diferenciada abrange as imperfeições chamadas de defeito do produto (de natureza mais grave que o vício) e que é ca-paz de causar danos à saúde ou segurança do consumidor. A segunda categoria compreende as imperfeições que têm como conseqüência somente a inservibili-dade ou mera diminuição do valor do produto.24

É necessária a caracterização do defeito do produto e, uma vez que a legis-lação não fornece um conceito preciso, há necessidade de análise aprofundada

21  BENJAMIN, Antonio Herman. Fato do produto e do serviço. In: ______; MARQUES, Clau-dia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do consumidor. 5. ed. São Paulo: Revis-ta dos Tribunais, 2013. p.152-185. p. 174.

22  SANSEVERINO, Paulo de Tarso Vieira. Responsabilidade civil no código do consumidor e a defesa do fornecedor. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 117.

23  MARINS, James. Responsabilidade da empresa pelo fato do produto: os acidentes de consu-mo no código de proteção e defesa do consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993.

p. 109.

24  MARINS, James. Responsabilidade da empresa pelo fato do produto: os acidentes de consu-mo no código de proteção e defesa do consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993. p. 109-110.

em três tópicos: a) caracterização do defeito; b) suas principais modalidades; c) algumas questões especiais.25

O defeito pode ser subdividido em três categorias menores: a) defeitos de criação ou concepção (projeto e fórmula); b) defeitos de produção (fabricação, construção, montagem, manipulação, acondicionamento); c) defeitos de infor-mação (publicidade, apresentação, inforinfor-mação insuficiente ou inadequada).26

O defeito de criação ou concepção é estabelecido pelo art. 12, caput, do CDC, que se caracteriza como defeito de projeto e fórmula que afeta as caracte-rísticas gerais da produção em consequência de erro havido no momento da ela-boração de seu projeto ou de sua fórmula, a escolha de um material inadequado, ou de um componente químico nocivo porque não é suficientemente testado.27

O defeito de produção, conforme art. 12, caput, do CDC, como defeito de fabricação, construção, montagem, manipulação e acondicionamento, é devido a eventual falha nos processos de elaboração da linha de produção. Geralmente ocorre por falha de determinada máquina ou de um determinado trabalhador ou setor de produção mecânico ou manual. Por suas características, atinge ape-nas um ou alguns produtos de uma série ou séries determinadas em que os de-mais bens tiveram regular produção e não apresentam, portanto, defeito.28

O defeito de produção reúne três características que o distingue dos de-mais: a) não contamina todos os exemplares; b) é previsível, no sentido de que é possível o cálculo estatístico de sua frequência; c) é inevitável, pois mostra-se impossível a eliminação absoluta dos riscos inerentes à produção industrial.29

O defeito de informação, de acordo com o CDC, é aquele decorrente de publicidade, apresentação e informação insuficiente ou inadequada. Diz respeito

25  SANSEVERINO, Paulo de Tarso Vieira. Responsabilidade civil no código do consumidor e a defesa do fornecedor. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 122.

26  SANTANA, Héctor Valverde. Dano moral no direito do consumidor. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014. p. 93.

27  MARINS, James. Responsabilidade da empresa pelo fato do produto: os acidentes de consu-mo no código de proteção e defesa do consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993. p. 113.

28  MARINS, James. Responsabilidade da empresa pelo fato do produto: os acidentes de consu-mo no código de proteção e defesa do consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993. p. 113-114.

29  MARINS, James. Responsabilidade da empresa pelo fato do produto: os acidentes de consu-mo no código de proteção e defesa do consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993. p. 114.

a aspecto formal, respeitando o modo de colocação do produto no mercado.30 Há, portanto, para o empresário uma obrigação de informar, instruir e advetir devidamente os destinatários de seu produto, sobpena de ver-se respon-sabilizado pelos danos que possam advir de eventual falta ou deficiência das in-formações necessárias à correta utilização do produto colocado no mercado de consumo.31

O fornecimento de produto nocivo à saúde ou comprometedor da segu-rança do consumidor é responsável pela grande maioria dos acidentes de consu-mo. Para definir um defeito, um dos critérios utilizados é a falta de capacidade do fabricante de eliminar os riscos de um produto sem prejudicar a sua utilidade.

O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitima-mente se espera, nos termos do art. 12, § 1º, do CDC. 32O acidente de consumo supõe a manifestação de defeito do produto, motivador de evento danoso. O defeito do produto é um dos pressupostos por danos nas relações de consumo.33

O nexo da imputação é o vínculo que se estabelece entre o defeito do produto e a atividade desenvolvida pelo fornecedor para atribuir o dever de in-denizar pelos danos sofridos pelo consumidor.34

Duas perspectivas são importantes na análise de temas relacionados à res-ponsabilidade por acidente de consumo: a) a caracterização de quem pode ser vítima de um acidente de consumo; b) a verificação da extensão do princípio de reparação integral dos danos sofridos pelo consumidor.35

Os danos patrimoniais são todos os prejuízos causados pelo defeito do produto. Para os danos decorrentes das relações de consumo produzidos por

30  MARINS, James. Responsabilidade da empresa pelo fato do produto: os acidentes de consu-mo no código de proteção e defesa do consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993. p. 114-115.

31  MARINS, James. Responsabilidade da empresa pelo fato do produto: os acidentes de consu-mo no código de proteção e defesa do consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993. p. 115.

32  MARINS, James. Responsabilidade da empresa pelo fato do produto: os acidentes de consu-mo no código de proteção e defesa do consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993. p.119-120.

33  GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Código brasileiro de defesa do consumidor. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. v. 1. p. 207-208. p. 204.

34  SANSEVERINO, Paulo de Tarso Vieira. Responsabilidade civil no código do consumidor e a defesa do fornecedor. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 119.

35  SANSEVERINO, Paulo de Tarso Vieira. Responsabilidade civil no código do consumidor e a defesa do fornecedor. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 222.

produto defeituoso lançado no mercado, o fato gerador da responsabilidade do fornecedor não é mais a conduta culposa ou a relação jurídica contratual, mas sim o mero defeito do produto. É suficiente o nexo causal entre o defeito do pro-duto e o acidente de consumo.36

A relação de causalidade entre o defeito e o dano é a relação normativa que se estabelece entre a anomalia de insegurança do produto e a conseqüência danosa sofrida pelo consumidor, para que seja possível reconhecer que um aci-dente de consumo ocorreu, assim como o nascimento da obrigação de indeni-zar.37

Com muita freqüência, os danos sofridos pelo consumidor decorrem de um processo causal mais complexo, com muitas indagações, fazendo-se neces-sário que se estabeleça quais os fatos serão considerados como causa jurídica do dano. Questões essas que são abordadas em duas perspectivas: a) principais teorias explicativas da relação de causalidade; b) principais teorias relacionadas à pluralidade de causadores do dano.

No documento Direito Penal (páginas 135-138)