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8 O diagnóstico e a perícia

No documento Direito Penal (páginas 85-88)

O diagnóstico é de difícil identificação pelos psiquiatras. Isso porque não há dedicação às pesquisas dado ao fato de se entender que são patologias perma-nentes e refratárias ao tratamento. Há, ainda, a polêmica internacional centrada na divergência entre a valorização das entrevistas livres ou a aplicação de testes padronizados (com perguntas diretivas). Segundo Western172, no caso da per-sonalidade antissocial, esta é a que mais se beneficia das entrevistas estruturais, dados os índices objetivos de seus comportamentos. Para o diagnóstico, deve

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170 Stone, 2006 apud CUNHA, Marcus Vinícius Ribeiro; CAVALCANTI, Bernardo Moraes. Se-rial Killers e os crimes hediondos no Brasil: qual a sanção penal adequada?. In ______ (Org.).

O direito penal em debate: a eficácia do sistema criminal na sociedade contemporânea. Belo Horizonte: Clássica, 2014. p. 20-32. p. 24.

171 NEWTON, 2005 apud MARTA, Taís Nader; MAZZONI, Henata Mariana de Oliveira. Assas-sinos em série: uma análise legal e psicológica. Pensar, Fortaleza, v. 15. n. 1, p. 303-322, jan./ jun. 2010. p. 315.

172 MORANA, Hilda C P; STONE, Michael H; ABDALLA-FILHO, Elias. Personality disorders, psychopathy and serial killers. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, v.28, p. s74-s79, 2006. suppl. 2. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbp/v28s2/en_04.pdf>. Acesso em: 2 maio 2014 p. s76

haver, também, avaliação semiológica, investigando-se a história de vida do exa-minado. Cabe ressaltar que

[...] as características relacionadas aos TP manifestam-se em circunstâncias específicas, quando as situações viven-ciadas pelo sujeito assumem um significado tal que desper-tam reações peculiares que, por sua vez expressam a dinâ-mica psíquica latente.173

A American Psychiatric Association (DSM IV) apresenta critérios para se diagnosticar o transtorno de personalidade antissocial – a TPA. Segundo a Asso-ciação, o primeiro ponto seria identificar um padrão global de desrespeito e vio-lação dos direitos alheios, que ocorre desde os 15 anos, indicado por, no mínimo, três dos seguintes critérios: (i) incapacidade de adequar-se às normas sociais com relação a comportamentos ilícitos, indicada pela execução repetida de atos que constituem motivos de detenção; (ii) propensão para enganar, indicada por mentir repetidamente, usar nomes falsos ou ludibriar os outros para obter van-tagens pessoais ou prazer; (iii) impulsividade ou fracasso em fazer planos para o futuro. (iv) irritabilidade e agressividade, indicadas por repetidas lutas corporais e agressões físicas; (v) desrespeito irresponsável pela segurança própria; (iv) au-sência de remorso, indicada por indiferença ou racionalização ou alheia; e (vii) irresponsabilidade consistente, indicada por um repetido fracasso em manter um comportamento laboral consistente ou de honrar obrigações financeiras. por ter ferido, maltratado ou roubado alguém.

O segundo ponto indica a idade do entrevistado, que deve ter, no mínimo, dezoito anos de idade. Em seguida, o terceiro ponto, identifica-se a existência de evidências de transtorno de conduta com início antes dos quinze anos de idade. E o último, e quarto ponto, identificam se a ocorrência do comportamento an-tissocial não se dá exclusivamente durante o curso da Esquizofrenia ou Episódio Maníaco.

Outro critério seria o da Checklist de Hare. O psiquiatra criou a escala PCL-R, instrumento para perceber a condição de psicopatia. Essa escala é um

checklist com vinte item, de pontuação de zero a dois para cara item,

perfazen-173 MORANA, Hilda C P; STONE, Michael H; ABDALLA-FILHO, Elias. Personality disorders, psychopathy and serial killers. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, v.28, p. s74-s79, 2006. suppl. 2. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbp/v28s2/en_04.pdf>. Acesso em: 2 maio 2014 p. s76

do um total de quarenta, no qual o resultado acima de trinta pontos traduz um psicopata.

Os itens da escala de Hare são: (i) loquicidade/charme superficial; (ii) autoestima inflada; (iii) necessidade de estimulação/tendência ao tédio; (iv) mentira patológica; (v) controle/manipulação; (vi) falta de remorso ou culpa; (vii) afeto superficial; (viii) insensibilidade/falta de empatia; (ix)estilo de vida parasitário; (x) frágil controle comportamental; (xi) comportamento sexual pro-míscuo; (xii) problemas comportamentais precoces; (xiii) falta de metas realís-ticas em longo prazo; (xiv) impulsividade; (xv) irresponsabilidade; (xvi) falha em assumir responsabilidade; (xvii) muitos relacionamentos conjugais de curta duração; (xviii) delinquência juvenil; (xix) revogação de liberdade condicional; e (xx) versatilidade criminal.

Segundo Morana174, pela análise de grupos de transgressores classificados com transtorno antissocial de personalidade, podemos subdividi-los em dois transtornos: um global e outro parcial. Ela concluiu que aqueles que pontuaram entre doze e vinte e três corresponderiam a um transtorno parcial, já aqueles que pontuaram entre vinte e quatro e quarenta portariam transtorno global.

Deve se diferenciar, ainda, transtornos de personalidade com os neuróti-cos. Ambos apresentam comportamento de rigidez. Entretanto, o segundo pos-sui aversão ao risco em alto grau, isso porque possuem receio de causar prejuízo e culpam a si mesmos por insucessos. Diferente do primeiro, que tendem a cul-par os outros por insucessos e desavenças.

Na realização de perícia cabe ressaltar que os periciados tendem a repetir seu padrão de funcionamento mental, ainda que de forma inconsciente. Quanto aos psicopatas, não se contesta a deficiência de empatia e incapacidade de res-posta emocional, no que se destaca o fato de: (i) entenderem muito bem os fatos, mas não se importares; (ii) processos emocionais tratam de uma segunda língua; e (iii) conhecerem as palavras, mas não a música. Ou seja, podem entender o que os outros sentem, do ponto de vista intelectual, dado que não há alteração alguma da realidade, mas são incapazes de sentir como pessoas não portadoras.

174 MORANA, Hilda C P; STONE, Michael H; ABDALLA-FILHO, Elias. Personality disorders, psychopathy and serial killers. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, v. 28, p. s74-s79, 2006. suppl. 2. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbp/v28s2/en_04.pdf>. Acesso em: 2 maio 2014 p. s76

Outro elemento útil são as entrevistas com familiares do periciando, pois pode revelar dados sobre a história da vida do examinado. A sociopatia, no âm-bito das doenças mentais, são apenas 5% da etiologia da criminalidade, em con-trapartida, representam 80% dos criminosos comprovados com antecedentes pessoais e familiares de psicopatia175. Não se deve olvidar que

os portadores de TP anti-social tipicamente indivíduos ma-nipuladores, eles podem tentar exercer um controle sobre sua própria fala durante a perícia, simular, dissimular, en-fim, manipular suas respostas ao que lhe for perguntado. Os testes psicológicos dificultam tal manipulação e fornecem elementos diagnósticos complementares176.

Judicialmente, essa defesa usada pelos assassinos em série, pleiteando me-dida de segurança. A consequência de tal decretação significa que surgirá, todo ano, a possibilidade de sua soltura desses, uma vez que a lei ordena que nesse caso se faça anualmente um exame de cessação de periculosidade. Mas os Assas-sinos em série possuem boa conversa, são convincentes, podendo convencer o perito que está recuperado e conseguir laudo favorável a sua soltura.

Entretanto, não nos cabe tecer uma pesquisa mais profunda em relação essa questão, visto que ela incide de maneira mais incisiva na questão proces-sual. Portanto, quanto ao momento da investigação criminal uma ferramenta de grande valia é justamente o perfil criminal, que permite delimitar e, assim, facilitara identificação daqueles homicidas seriais que ainda não foram identifi-cados pela polícia.

No documento Direito Penal (páginas 85-88)