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9 O Perfil criminal

No documento Direito Penal (páginas 88-92)

O perfil criminal é rabiscado pelas conclusões baseadas na cena do crime,

175 NEWTON, 2005 apud. MARTA, Taís Nader; MAZZONI, Henata Mariana de Oliveira. Assas-sinos em série: uma análise legal e psicológica. Pensar, Fortaleza, v. 15. n. 1, p. 303-322, jan./ jun. 2010. p 315.

176 MORANA, Hilda C P; STONE, Michael H; ABDALLA-FILHO, Elias. Personality disorders, psychopathy and serial killers. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, v. 28, p. s74-s79, 2006. suppl. 2. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbp/v28s2/en_04.pdf>. Acesso em: 2 maio 2014p. s77

reconstruindo o comportamento do homicida177178. É por meio desses dados que se rascunha um perfil psicológico, uma possível aparência física, uma possível profissão, entre outros, e todos esses dados se unem de modo a diminuir o nú-mero de suspeitos. Não há aqui um trabalho metafísico, mas um trabalho lógico e racional baseado em dados psicológicos e sociológicos179.

É diferente daquilo que se chama de “traçar o perfil do criminoso”. Isso porque este último é realizado por um psicólogo, psiquiatra ou médico legista. Segundo Ronald M. Holmes180, o perfil criminal é apropriado apenas em casos de infratores desconhecidos e que apresentam sinais de psicopatologia, ou em crimes violentos e ou rituais.

Ocorre que raramente um perfil criminal resolve um crime, apesar de ser peça que auxilia bastante durante a investigação. Fazer um perfil criminal e do ‘criminoso’ auxiliam na redução do número de suspeito, delimitando-o. No caso do serial killer, trata-se de trabalho difícil uma vez que a lógica desse homicida é muito particular181.

Nesse sentido, para se traçar um perfil objetivo deve se levar em conta dois fatores: o fato de que o homicida já viveu seu crime em suas fantasias por diversas vezes antes de executá-lo e o fato de seu comportamento exprimir um desejo, uma necessidade. Logo, pela observação da cena do crime, tenta se perceber os desejos e necessidades do assassino em série por meio de seu comportamento nela182.

Brent Turvey183 foi responsável por criar um método chamado BEA, o

Behavioural Eidence Analysis – ou Análise das Evidências de Comportamento

177 Um dos casos mais conhecidos do uso do perfil criminal foi o de Adolf Hitler, o qual foi de-senhado pelo Dr. Walter Langer, na Segunda Guerra Mundial, por pedido da CIA. A necessi-dade era justamente para tentar saber quais as ambições e quais atitudes se poderiam esperar dele ao fim da guerra. O impressionante foi que Langer revelou, justamente, que a saída de Hitler após a guerra seria o suicídio. CASOY, Ilana. Serial killer: louco ou cruel? 6. ed. São Paulo: Madras, 2004. p. 44

178 Esse método foi usado em vários seriais killers, como “Jack, o estripador”, em que Thomas Bond, médico legista, concluiu que a ponta do lençol a direita da cabeça da vítima estava mui-to cotada e daturada de sangue, o que indicaria que o rosmui-to dela teria sido coberta na hora da morte. Ele sugeria que Jack era um quieto e inofensivo homem, provavelmente de meia-idade e muito bem vestido. CASOY, Ilana. Serial killer: louco ou cruel? 6. ed. São Paulo: Madras, 2004. p.43-44.

179 CASOY, Ilana. Serial killer: louco ou cruel? 6. ed. São Paulo: Madras, 2004. p. 38 - 39

180 CASOY, Ilana. Serial killer: louco ou cruel? 6. ed. São Paulo: Madras, 2004. p. 42

181 CASOY, Ilana. Serial killer: louco ou cruel? 6. ed. São Paulo: Madras, 2004. p. 42

182 CASOY, Ilana. Serial killer: louco ou cruel? 6. ed. São Paulo: Madras, 2004. p. 43

–, que tem como base as evidências físicas de um crime específico, isso porque, muitas vezes, a única coisa com que o investigador pode contar é com a recons-trução do comportamento do transgressor. Em razão do seu direito constitucio-nal de permanecer calado ou de não produzir prova contra si mesmo, o trans-gressor nem sempre conta realmente como aconteceram suas ações.

Na fase de julgamento, identificado o agressor de um crime conhecido, o perfil BEA ajuda a determinar o valor de uma determinada evidência para um caso em particular, auxilia o desenvolvimento de uma estratégia de entrevista ou in-terrogatório, de um insight dentro da mente do assassino, compreendendo suas fantasias e motivos, relaciona a cena do crime com o modus operandi e a “assinatura” comporta-mental.184

Este método, diferente dos outros usados na ciência forense, se utiliza de estatísticas e se divide em quatro principais passos. Pela análise forense

questio-nável uma evidencia pode ter diversas interpretações e esse ponto elenca todos

os significados.

Esta análise é feita com base em fotos/vídeos/esboços da cena do crime, relatórios de investigadores, registros das evidências, relatório de autópsia/vídeos/fotos, entrevistas com testemunhas e vizinhos, qualquer outra documentação e/ou entrevistas ou informação relevante, mapa do trajeto da vítima antes da morte e seu histórico185.

Pela Vitimologia há uma profunda analise da vítima, até porque sua es-colha como tal tem um fundamento e pode falar muito sobre o transgressor. O físico da vítima costuma ser a explicação mais importante, até porque em muitos casos há mudança do corpo da vítima de lugar e isso revelaria a condição física do agressor, ou que ele conduziu a vítima, seja porque a conhecia ou por se uti-lizar de certa encenação186.

Quanto às características da cena do crime há uma indicação de fatores relevantes encontrados no local do delito e a comparação desse com outros cri-mes, além de reconstruir a forma com que o transgressor se aproxima da vítima. Por fim, o último passo é o das características do transgressor, que busca re-velar o comportamento e a personalidade do transgressor, buscando seu retrato

184  CASOY, Ilana. Serial killer: louco ou cruel? 6. ed. São Paulo: Madras, 2004. p. 58.

185 CASOY, Ilana. Serial killer: louco ou cruel? 6. ed. São Paulo: Madras, 2004. p. 56

de forma a comparar, inclusive, com outros suspeitos conhecidos187. Algumas ca-racterísticas são importantes: “constituição física, sexo, tipo de trabalho e hábitos, remorso ou culpa, tipo de veículo utilizado, histórico criminal, nível de habilidade, agressividade, localização da moradia em relação ao crime, histórico médico, esta-do civil e raça188.”

Outro método é a Psicologia Investigativa, desenvolvido por David Can-ter e utilizado pela Scotland Yard. Segundo esse método,

Os transgressores conhecidos são estudados, as tipologias são definida se um crime cometido por um desconhecido será comparado com este grupo.As características do novo criminoso serão definidas a partir de sua semelhança na comparação feita com o grupo de transgressores identifi-cados189.

Este método se baseia em cinco aspectos chamados de “fatores-modelo” e derivam da interação entre a vítima e seu agressor. O primeiro fator fala da (i) coerência interpessoal, o qual se refere ao quanto a atividade criminal do transgressor relaciona-se com sua vida pessoal190. O segundo, da (ii) importância da hora e local, isso porque esse tipo de transgressor dificilmente comete crimes em locais que não lhes sejam familiares, além de que a hora pode indicar que o momento da morte se deu em seu tempo livre, quando não está trabalhando, por exemplo. O terceiro, das (iii) características criminais, utilizado para desenvol-ver subsistemas de classificação191. O quarto, da (iv) carreira criminal, trata da avaliação de reincidência do homicida em série no mesmo crime ou em outros crimes, isso porque a forma de transigir não mudaria, apesar de poder se aumen-tar a violência ou se sofisticar na execução192. O quinto, da (v) da avaliação – ou

consciência - forense, o qual observa o conhecimento do transgressor sobre as

técnicas policiais e o procedimento de coleta de evidências193; esse modo de agir,

187 Isso porque, inclusive, a reincidência é comum na maior parte dos homicidas em série.

188 CASOY, Ilana. Serial killer: louco ou cruel? 6. ed. São Paulo: Madras, 2004. p. 57

189 CASOY, Ilana. Serial killer: louco ou cruel? 6. ed. São Paulo: Madras, 2004. p. 52

190 Comumente, a vítima representa alguém no passado do serial killer. CASOY, Ilana. Serial killer: louco ou cruel? 6. ed. São Paulo: Madras, 2004. p. 53.

191 Para o FBI, apenas se subdividem em Organizados e Desorganizados CASOY, Ilana. Serial killer: louco ou cruel? 6. ed. São Paulo: Madras, 2004. p. 53. Ilana Casoy nos traz outra classi-ficação, que foi apresentada no tópico segundo do capítulo primeiro desta monografia.

192 Os primeiros crimes de um serial killer costumam deixar mais evidencias que o primeiro. CASOY, Ilana. Serial killer: louco ou cruel? 6. ed. São Paulo: Madras, 2004. p. 53.

193 Alguns serial killers chegam a usar luvas, removerem algum fluido que possa ter sido usado, alguns chegam, inclusive, a limpar e banhar a vítima depois de um ataque sexual, por

exem-inclusive, revela que essa não é uma prática primária, mas que o transgressor pode ter cometido outros crimes e, com isso, a polícia pode pesquisar em seus arquivos aqueles transgressores já conhecidos194.

Canter Também desenvolveu uma tese que foi apelidada de Teoria

cir-cular. Segundo ele haveriam dois tipos de transgressores, os “vagabundos” e os

“viajantes diários”. O primeiro trata daqueles que saem de suas casas em num repente para cometer o crime, que normalmente se dão perto de suas casas. Di-ferente, pois, do segundo, o qual viajaria para longe de sua residência para poder cometer alguma atividade criminal. Ocorre que essas categorias apenas são veri-ficáveis após prender o transgressor195.

No documento Direito Penal (páginas 88-92)