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sociais desses séculos iriam modificar e tranformar a condição social e ideológica do pobre "(EAU, 1973, p 297).

D. Duarte "proíbe que se dê usura ao dinheiro dos órfãos o que

mostra que tal costume se verificava" CCQREEIA, 1944, p.455). Ias

Ordenações Afonsinas, encontram-se, ainda, disposições em defesa das viúvas e órfãos. Criam-se os lugares de provedores e corregedores, juizes de órfãos, etc., para dar cumprimento aos testamentos e regular a colaboração do clero com autoridades leigas. É proibida a venda de bens de raiz dos órfãos e é explicitada a obrigação de criar os filhos ilegítimos.

1.2 A Transição - centralização do poder régio e fiscalização das Instituições de Assistência

los finais do século XV, a expansão marítima com a ausência prolongada ou definitiva de homens válidos, as múltiplas revoltas civis e guerras com Castela, levaram à proliferação de viúvas, órfãos, abandonados e mendigos.

A decadência das ordens religiosas atingia o seu máximo, as modalidades de assistência, pouco adaptadas à nova situação, viram-se, aos poucos, substituídas por formas embrionárias de seguras, correspondendo melhor ás necessidades da época.

Desde D.João I, que se assistia a uma mais eficaz centralização política e, daí, a uma maior implicação do Poder na manutenção do bem estar público. A iniciativa do Estado vai tender a substituir ou predominar em relação à particular, no âmbito da Assistência.

D.João II, que, enquanto príncipe, fizera ao Papa uma petição para unificar os Hospitais, funda, em 1942, o Hospital de Todos os Santos, suprimindo os numerosos hospitais, albergarias e outros asilos, que proliferavam na região de Lisboa. Fiscalizado por funcionários nomeados pelo rei, competia ao Hospital recolher crianças abandonadas, que eram

- 34 colocadas em asas até aos três anos, idade em que eram internadas na Casa dos Meninos do Hospital, até aos sete anos. Posteriornente eram colocados en famílias.

D.João II deixa, en testamento, dinheiro a quarenta e una órfãs (tantas quantas os seus anos de idade), e, refere aí, o "abusa cometido

por D. Afonso V, ao desviar, para as despesas de guerra, a prata das Igrejas e o dinheiro dos órfãos"(CORREIA, 1944, p. 483/4).

A luta pela centralização do poder continua can D.Manuel que pede ao Papa o estabelecimento da Inquisição en Portugal, o que se concretizará já no reinado de D.João III.

D.Manuel procura laicizar a assistência e aumenta a vigilância das Instituições através da exigência de regulamentos, criando magistrados que inspeccionavam rigorosamente as diferentes comarcas. Entre estes, os contadores controlavam, nomeavam, substituíam os tutores, podendo castigá-los quando não respeitassem os direitos dos órfãos. Assim, neste âmbito, o Poder civil predomina sobre o canónica.

A fundação da Irmandade de Fã SrS da Misericórdia (D.Leonor, 1948) é um marco no sentido da mudança. A ela vai caber a coordenação da prática assistencial, unificando hospitais, extinguindo instituições desnecessárias e, alargando, ao mesmo tempo, a sua rede de actuação aos *

$ órfãos, abandonados, idosos e doentes. Em 1525, existiam já sessenta e |. una confrarias da Misericórdia. À medida que estas se vão criando, a

assistência aos expostos transita das câmaras para a sua responsabi1idade.

A Inquisição, introduzida em Portugal por D.João III (1536), seguida pela entrada dos jesuítas (1540), criou um ambiente de controle e repressão cultural e social. A grande reforma moral e canónica introduz-se a todos os níveis, da família às instituições nais latas. 0 casamento passa a ser considerado un sacrawento, sendo proibidas as uniões clandestinas,,reprinindo-se o adultério feminino, o aborto e o infanticídio. Criam-se reformatories para mulheres "desencaminhadas". Funda-se em Lisboa, a Casa da Piedade das Penitentes, em Évora, o Recolhimento para mulheres "arrependidas" (Filipe I, 1587). Em Lisboa, o Recolhimento de IS SrS do Amparo, instituído por Diogo Lopes Solia, recolhe órfãos pobres e "arriscados".

Con a repressão do infanticídio e do aborto, o abandono de crianças aumenta. Estas eram deixadas, muitas vezes, em sítios ermos e perigosos, com risco de serem devoradas pelos animais. Para impedir a sua morte criam-se novos agentes, os ermitães, que percorriam oo país para recolher os abandonados. Já em 1535, se criara no Porto, o ofício de "Pay dos Meninos", com as mesmas funções que os ermitães, mas por distrito.

É a partir desta época que se começam a utilizar as Sodas. "Estas,

consistia* nuns cilindros giratórios, abertos nun lado e 'colocados verticalmente nas portarias dos conventos, a fim de receberem abjectos sen haver contacto directa com o exterior." (SERRÃO, 1971, *p; 167/168).

Esta possibilidade de manter o anonimato levou à sua generalização como forma de abandono de crianças. Será, no entanto, necessário esperar dois séculos para o seu reconhecimento oficial (D.Maria I).

Embora desde os primórdios da Idade Média houvesse indicações para o ensino de ofícios aos órfãos (e dotações às órfãs), é no século XVII que, com a falta de braços para trabalhar, surge a necessidade de reforçar este recurso, tanto mais que o trabalha com máquinas é considerado uma actividade vulgar, imprópria para nobres, mas aconselhável aos pobres.

De facto, durante o governo filipina, agudiza-se "a falta de braços". As pestes assolam o país e, por outro lado, a índia e o Brasil atraem fortemente a emigração, É também um período de saída de grande número da criatãos-novos. É na área da mão de obra que a grande quebra populacional se verifica. A taxa de natalidade continua muita alta e o país encontra-se cheio de estrangeiros. Só em Lisboa, em 1620, havia 6000 estrangeiros e 3000 frades e freiras.

Procurando remédios para a falta de gente, Manuel Severim Faria preocupa-se com o esquecimento a que estão votados os órfãos

pobres, "Estes, coma não têm com que se sustentar perecem de ordinário os mais deles à fome e ao desamparo", e, os que escapam tornam-se vadios e "ladrões facinorosos". 0 amparo dos órfãos resolveria a falta de gente

popular. Aconselha a que sejam recolhidos, sobretudo nas zonas litorais como Lisboa, Setúbal, Porto, Viana e Algarve, e que lhes sejam ensinadas profissões mecânicas. Quanto às órfãs, considera necessário dotá-las e

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se gastarem em obras pias que não fóssea nomeadas pela testador, se gastasse tudo nestes casamentos" (FARIA S., 1655).

Face à ausência de Instituições públicas dedicadas à educação popular, desenvolve-se o ensino particular. Difundem-se os orfanatos : em Évora, o Colégio dos Meninos órfãos (1649), no Porto, o Colégio de 13 Srâ da Graça (1651), o Recolhimento de StS Isabel ou do Anjo (1672), a Casa dos Meninos Expostos (1685), em Coimbra, o Colégio dos órfãos

(1674), etc.

Entretanto, os jesuítas espalham-se por todo o país, criando hospitais, asilos, escolas e seminários, propondo novas formas de educar. Os seus livros, escritos em latim, são base do ensino até Pombal.

Também os ideais do humanismo apontam para novas concepções da criança e da sua educação. Embora a grande preocupação dos autores conhecidos, pareça ser, nesta época, dar conselhos sobre a educação dos príncipes e nobres, nota-se um reflexo na vida dos orfanatos para crianças pobres.

Jerónimo Osório, Bispo de Silves, em 1572, orienta a educação do príncipe D.Sebastião. Encontramos nele o tema da repressão dos "apetites desordenados" e a importância de beber "os primeiros ensinamentos de

piedade com o leite de sua ama " (in FERREIRA A., 1973, p.25).

Francisco Sanches sublinha a importância da educação na modificação do homem, quer seja rico, quer seja pobre. Critica, no entanto, aqueles que estudam com intenção de se promoverem socialmente.

Um século após Jerónimo Osório, Alexandre Gusmão, secretário de D.João V, escreve a Arte de criar bem os filhos na idade da Puerícia, onde preconiza uma educação idêntica àquele, retomando a necessidade de domar, cortar a vontade à criança, defendendo com calor os castigos corporais. Antes de Locke e Fenelon, compara a criança a uma "tábua rasa", em que tudo dependerá das primeiras marcas impressas. A educação é, para ele, um elemento superior à própria natureza, embora a classe a que se pertence, ao nascer, defina diferenças : "o menino de inferior

condição bem ensinado pode igualar ao que tem condições de ouro, faltando-lhe a criação (. ..;."(FERBAIDES R. , 1978, p.36). Gusmão é,

que a entrega a usa ana, deveria surgir como uma última solução e submetida a escolha rigorosa.

Durante todo o século XVIII, a vara e os açoites aparecem como a "fonte de sabedoria" na educação da criança. Por outro lado, recomenda-se aos nobres, que mesmo havendo escola pública, mantenham os filhos em casa com mestres, pelo prejuízo que poderia causar o convívio com crianças de diferente origem social.

Verney surge, como voz dissonante no que se refere Aos castigos corporais, criticando-os severamente, mas mantém a ideia da educação diferenciada, propondo, para os filhos dos pobres, a existência de uma Escola Pública em cada bairro. Dá indicação quanto à educação em internatos de raparigas, seguindo os modelos que conhecera no estrangeiro.

As mudanças que Pombal traz ao país vâo-se reflectir no campo da educação popular, sobretudo devido à expulsão dos jesuítas. Toda uma nova concepção do poder régio centrado na autoridade de Pombal, vai permitir a ascensão da burguesia que, estrategicamente é um ponto de apoio contra a nobreza. A Inquisição, instrumentalizada pelo poder régio, reprime de forma violenta todas as manifestações populares.

Ribeiro Sanches, de forma consonante, defende que a Educação é da competência do Estado e não da Igreja. Considera perigosa a instrução | dos filhos dos trabalhadores, que poderão vir a recusar profissões

J penosas. Daí que Pombal, seguindo as suas ideias e preocupado com o desenvolvimento económico do país, necessitando de novas formas de produção, invista na instrução técnica das classes populares.

0 sistema de liberalismo económico (Adam Smith) só mais tarde terá peso em Portugal. Pombal censura e impede a sua vulgarização. 0 laicismo e anti-jesuitismo que o caracterizaram, são, no entanto, pontos comuns com o liberalismo económico que, mais tarde, os liberais, porão em relevo.

Com D. Maria I a Assistência encontra-se, de novo, dentro das competências do poder, que as assume em consonância com os direitos fundamentais do indivíduo e o filantropismo iluminista.

Em 1783 oficializa as Eodas, determinando a fundação, em todas as cidades e vilas, de "Casas da Eoda". Estas deviam situar-se em lugares isolados de modo a que, quem aí expusesse as crianças, pudesse manter o

- 38 anonimato. Uma rodeira encarregava-se de receber os expostos, conservando os objectos que traziam consigo, de modo a poderem ser identificados, nais tarde, pelos pais, se estes o desejassem. Entretanto, nenhum inquérito era feito nesse sentido. Às crianças dava-se o nome do santo venerado no dia da exposição. Eram protegidas, até aos vinte anos, pelo Juiz de órfãos. Entregues a amas até aos sete anos, recebiam, posteriormente, formação dada pela Casa da Roda, sendo postos a servir aos doze anos. Embora a infanticídio diminuísse, a mortalidade infantil era, nas Rodas, inquietante, despertando críticas acérrimas.

Em 1780, sob os auspícios de Pina Manique, funda—se a Casa Pia de Lisboa, É já um reformatório, destinada a reprimir a vagabundagem e a mendicidade, ao mesmo tempo que presta assistência e asilo a menores desamparados. A sua acção cultural vai ser de tal modo importante, que Latino Coelho a classificará, mais tarde de "Universidade Plebeia",

"porventura a mais arrojada instituição de quantas assinalaram em Portugal o derradeiro quartel do século XVIIF (SERRÃO J., 1971, p.513).

Em 1752, cria-se também a Casa Pia do Porto, acumulando funções de reformatório e quartel, que nunca terá a importância da Casa Pia de Lisboa. Com efeito, esta alastra a sua influência a todo o país, quer em termos económicos, quer em termos culturais. Por um lado, a aprendizagem técnica nas oficinas, não só permitia que os casapianos aí formados, ao voltarem para os seus locais de origem, criassem novas oficinas e aí formassem outros aprendizes, como a produção das oficinas, estando integrada na produção nacional, permitia uma resposta à concorrência estrangeira. As raparigas tinham também formação em tecelagem, rendas e bordados e uma instrução geral de base.

Os mais aptos tinham uma formação complementar compreendendo escrituração comercial, línguas estrangeiras, farmacologia e física (com experiências aplicadas à metalurgia, farmácia e agricultura), e ainda, aritmética militar e civil, desenho, etc. Foi a primeira escola em que se fez a formação científica de parteiras (incluindo aulas de anatomia). A Casa Pia criou a Academia do lu, podendo, os seus melhores alunos, frequentar com bolsas de estudo a Academia de Portugal em Roma. Havia casapianos a frequentar a Universidade de Coimbra, a Academia das Fortificações e da Marinha e, bolseiros, em Copenhaga, Londres,

Edimburgo, etc. En 1805 vários casapiaiios eram lentes, professores, mestres, arcebispos, oficiais, físicos, médicos, etc.

Com as invasões francesas o seu caracter de centro cultural perde-se, para se limitar ao apoio à"Infância desvalida". Ho entanto, Ponte da Horta, em 1881, refere-se ainda à Casa Pia elogiosamente, ao compará-la com Instituições em que os maus tratos eram regra.

A influência das invasões francesas abrangeu toda a Assistência, que passou a depender da iniciativa particular, sobretudo de ordens religiosas. A perda de vidas fez-se sentir sobretudo na Morte. Daí a criação, no Porto, de diversos estabelecimentos para socorros a órfãos. Entre eles, o Recolhimento de Mfi SrS das Dares e S.José do Postigo do Sol ¢1809), a Seminário dos Meninos Desamparados (1814) e o Asilo das Raparigas Abandonadas (1818), que ainda hoje existem, embora o primeiro recentemente, tenha deixado de ter as mesmas funções, e os outros tenham alterado a sua designação.

1.3 A Ordem Mova. Monarquia Constitucional

Aproxima-se o fim do "antiga regime" em Portugal. Conforme a relação de forças, assim a Assistência vai passar da tutela e respansabilidade do Estado para as ordens religiosas, ou aquele, reforça o seu poder, despajando-as dos seus privilégios, expulsando-as da país. Com a Revolução Liberal, os "vintistas" vão chamar a atenção para a responsabilidade do Estado e para a de cada cidadão na "res publica". As ideias da Revolução Francesa, até aí limitadas a um círculo de intelectuais, começam a vulgarizar—se. 0 liberalismo faz-se ouvir, na sua defesa da igualdade e do laicismo, apoiando-se numa linguagem e filosofia positivistas. As trocas com a Europa alargam-se e têm grande peso a nível cultural.Segue-se um longo período de lutas civis entre absolutistas e liberais.

Em 1834, D.Pedro IV decide a abolição de todos os mosteiros masculinos. São expulsas as Congregações Religiosas. 0 Regente funda a Sociedade das Casas de Asilo e Infância desvalida de Lisboa, com o

objectiva de "dar protecção e educação e instrução às crianças pobres de

euabos os sexos, desde que tenhas acabado a criação de leite, tratando dos meninos até à idade sete anos e das meninas até à idade de nove

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anos, habilitando assim os pais e Mies de família a ocuparem-se da sua