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151 2131 * nenhum registo acerca do paradeiro dos pais

A grande maioria destas crianças tem assim, família no distrito do Porto. Kas o número das que estão longe da família (97) é ainda excessivo, apesar de existirem internatos nas zonas assinaladas. É verdade que no distrito de Lisboa tem sido opção das entidades responsáveis, diminuir o número destas instituições e o de educandos em cada estabelecimento. Mas esta opção foi acompanhada de um estudo de situações das crianças internadas, a fim de procurar outras alternativas. Evidentemente, não se refere, nestas alternativas, o envio de crianças para Internatos no Norte.

A questão de saber como chegaram certas crianças a internatos do Porto, vindas do Sorte, do Centra e Sul, manteve-se, para nós, sem resposta. Apenas uma das Instituições refere o pedido de benfeitores de cinco dos seus nove educandos do Centro e do Sul. Nenhuma consulta prévia aos CRSS destas zonas, é referida, nestes casos.

Mesmo as crianças órfãs duplas e abandonadas têm uma história anterior, com espaça afectiva concêntrico ao território geográfico e cultural em que essa história decorreu. Amputá-la dele, é amputá-la do seu direito de integração no meio, impôr-lhe a ruptura com os costumes e valores em que crescera até aí.

2.As Reacções do Educando ao Internamento

Qualquer que tenha sido a situação que tenha provocado o internamento, a criança deve conhecê-la, compreendê-la e participar das decisões que estão a ser tomadas a seu respeito.

0 seu grau de participação e compreensão depende da sua idade, mas supor que uma criança, com menos de três anos, nada entende da situação e não sofre com ela, é um mito de graves consequências.

Vulgarmente, um mundo de silêncio e segredas envolve a entrada da criança no Internato. Tudo se prepara entre adultos. "Porquê esta

dificuldade em reconhecer à criança da ASE que ela é diferente de um animalzinho a assistir, que é, como as outras crianças, um sujeito singular, dotado de uma história que lhe é própria e que não começa no momento da sua admissão no serviço ?' (CLEMENT, 1981, p.29).

A participação do bébé pode passar apenas por uma adaptação progressiva aos novos rostos, novos cheiros e novos sons, enquanto tem ainda a seu lado a mãe ou outra pessoa significativa e aperta entre as mãos algum objecta que lhe pertence (objecta transicional) e que deverá guardar enquanto o desejar.

A experiência de ruptura violenta que certas crianças sofrem ao serem deixadas bruscamente num espaça que desconhecem, entre estranhos, deixa-lhes traços fundos de insegurança e abandono que se reactivarão em todas as situações de mudança, Traumatismo de abandono de que já são responsáveis aqueles que, ao recebê-la no estabelecimento, apenas se preocuparam com uma preparação burocrática,

Trata-se, de facto, de uma situação de crise que necessita de um apoio específico, de modo a permitir à criança viver e ultrapassar o processo de luto, que o afastamento da família inicia.

Por vezes, a entrada de uma criança de cinco, seis anos, é rodeada de falsas explicações e de não-ditos, evitando-se, assim, que conheça, em toda a sua extensão, a sua história passada. 0 segredo é sempre culpabilizante e, as fantasias explicativas da criança são mais de molde a persegui-la do que a ajudá-la. Os segredos são menos comportáveis com pré-adolescentes e adolescentes, Por vezes, será

- 115 - necessário desmontar toda uma imagem de ameaça, em que os pais participam, fornecendo-lhes a ideia de que são internados por castiga.

A reacção da educanda ao internamento vai, assim, depender da sua idade, da forma coma integra as razões que o levam a esta situação, das suas experiências anteriores e ainda, do contexto em que é feito o seu acolhimento e das condições de vida da instituição,

Dado que os primeiros dias, passados na instituição, correspondem a um período extremamente anxiógeno, antes,do seu início, a criança ou jovem deve conhecer os novos espaças, a grupa com que irá,*>em breve, conviver, assim cama os educadores que terão sob a sua responsabilidade esse grupo. A participação da família, nestes primeiras contactas, deve ser um contributo para diminuir a ansiedade do educando e tranquilizar a própria família.

É evidente que, quando a instituição não tem educadores (nem grupos...), quando os espaços a dar a conhecer são as camaratas, a enorme cantina e os vazias salões para "convívio", onde não existem nem jogos, nem actividades organizadas pelas crianças, o primeira contacta reduz-se a uma "entrega da encomenda" na sala do Sr. Director. E tudo fica por dizer, num corte violento, em que o desconhecido surge com um peso esmagador. •

Especificamente nas instituições estudadas, não nos foi possível obter dados, quanto à reacção ao internamento. Ias fichas relativas aos educandos, encontrámos frases como : "adaptou-se bem", " p o r t a s e bem, mas

na escola estava muito atrasada, foi preciso metê-la outra vez na 1$ classe"... Em contactas directas com pessoal dos estabelecimentos,

recolhemos frases coma : "chorou muito a princípio, mas depois

habituou-se. Não tinha outro remédio", "são muito espertinhas quando aqui chegam, mas depois. .. nada!", "o pai veio cá deixá-lo, dizendo que eram só umas férias. Nunca mais apareceu. Durante meses teve sempre a sua mala pronta para partir. Agora já não diz nada. é um rapaz muito fechado","Esta é uma porca. Nunca se habituou a tomar banho e a pentear- se.

Algumas descrições de adolescentes, relembrando o dia em que foram "abandonadas", deram-nos conta da violência a que foram sujeitas e de como a marca do sofrimento se não apagou... mas antes, se foi acumulando com a revolta e a raiva.

Entre as recordações, ficaram horas de choro, "no mais completa

isolamento, para aprendermos", a agressividade das outras crianças e as

frases soltas sobre a mãe que "se pôs a andar com outro homem" ou "não

chames por ela que não quere mais saber de ti..."

A incompreensão, que envolve estas situações, está patente neste discurso. Cria-se assim um ciclo viciosa...A criança, reagindo agressivamente ao internamento, obtém, como resposta, a agressividade do pessoal, reforçando os seus comportamentos de violência. Do mesmo modo, a criança, que se entrega à depressão, se vê empurrada para.uma imagem de abandono, que interioriza na sua totalidade, reforçando a sua atitude.

Na realidade, uma criança não deixa, de repente, de "ser espertinha", não é "porca" por natureza, nem se transforma num "rapaz muito fechado", sem razões fortes. 0 que importa, não é que ela se "habitue" a um determinada ambiente, aprendendo regras de coexistência. A primeira fase da sua estadia na instituição será - mesmo quando acolhida convenientemente - de coexistência. Mas esta não é suficiente. Segundo Jimenez, o atingir-se progressivamente a convivência humana, é essencial para se tornar adulto, e depende muito do sistema de organização formal dos internatos. "Chegar a ma autêntica convivência com os

outros - que nisto venha a consistir a vida social - é um fenómeno humano que só se logra quando diminuímos a distância que separa o Eu e o Tu que está 'ali', à aproximação conduz-nos ao Tu que se encontra 'aqui', transformando-se de um simples semelhante num próximo, Os outros (,,,) ir-se-So tornando íntimos e aptos para a convivência na medida em que a 'alteridade' que nos separa se transforma em 'nostridade'," (JIMENEZ, 1967,

p.552).

Mas, esta relação dialógica exige do internato, uma capacidade de se criar como espaço aberto e espaço de pertença. Exige manter os anteriores laços afectivos, que davam à criança a segurança de ser "eu", e criar novos laços de modo a que o novo não signifique ruptura, mas sim crescimento.

"0 internato é tanto mais eficaz quanto menos internato é, e quantos mais laços conserva o educando com a própria família e quanto mais aberta está a instituição ao mundo exterior." (SIGUAH, cit. por

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3. Forras de sentir a vida quotidiana no Internato

Só excepcionalmente as crianças e jovens respondem a questões directas sobre a sua vida no internato. Por vezes, são perguntas não intencionais que despertam a descrição de retalhos da sua vida quotidiana, dos seus medos, dos seus anseios e frustrações. A realidade institucional é vivida e sentida de formas diferentes por cada uma destas crianças e jovens. Se o seu testemunho não é aceitável, pelo menos legalmente, para determinar a realidade institucional ele é, de qualquer modo, fruto da sua forma de viver essa mesma realidade. Do discurso estereotipado ao discurso delirante expressa-se o testemunho do real, da seu real.

0 Questionário (1) de que seguidamente analisaremos as respostas a duas questões, foi realizado num internato de crianças e jovens do sexo feminino do Porto.

As duas questões que retivemos são as que mais se relacionam com a problemática que ora tratamos :

1. Gostas de viver aqui, no Internato? Porquê?

2. 0 que gostarias que mudasse? Que modificações queres propor? 0 número de educandas é de trinta e cinco, com idades variando entre os seis e os quinze e com um tempo de internamento a partir de alguns meses até doze anos.

Q U A D R O X I I I

QUESTÃO 1 - GOSTAS DE VIVER AQUI JQ IFTERSATO ?