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involuntariamente, uma definição da situação, de que, a ideia que ela se

faz de si própria, constitui um elemento importante." (idem, p.229).

Esta ideia constitui-se ao longo de uma história, de uma experiência social, tendo como referência valores e normas em que o indivíduo se integra. Em qualquer organização social, os seus elementos cooperam, consciente ou inconscientemente, numa certa imagem de marca, numa definição da situação e "partilham e escondem os segredos que poderiam

trair o espectáculo"(idem, p.225).

Ora, esta definição da situação e esta imagem de marca têm sido construídas, no que se refere aos Internatos, através, de um longo percurso histórico em que, a confluência de factores políticos, sociais e económicos, contribuem para um enquadramento ideológica da problemática" das crianças e jovens desinseridos do seu meio familiar", em termos de abandono e caridade. Daí a definição do Internato como um "mal menor", poupando à criança "o pior". Mascarando perante a sociedade a sobrevivência de uma Pedagogia da Separação, mantém-se um cenário secular, cuja fachada é necessário ultrapassar.

Huma outra perspectiva, Moscovici e Herzlich consideram que "a

representação é uma organização significativa dos elementos de uma situação, que preenche uma função específica; é uma construção mental do objecto concebido como não separável da actividae simbólica de um sujeito, ela mesma solidária da sua inserção no campo social."

(HERZLICH C. , 1972, p.30ô).

É nesse sentido a nossa análise do modo como são vistos os internatos no nosso país, nomeadamente pelos meios de comunicação social.

Assistimos como que a um estranho diálogo (ver Quadro III) : uma instituição, com uma história própria, constrói um cenário, uma "apresentação de si" ao "outro social"; este é, ao mesmo tempo, objecto

(espectador) dessa representação e sujeita de uma representação sobre a instituição (objecto de julgamentos). Este diálogo exprime a representação social como um conceito dinâmico. Mas a sua dinâmica não é apenas externa. Instituição e "outro social" são constituídas por pessoas reais, com a sua história, as suas opiniões, valares e experiência social. São claras estas implicações ao abordarmos as relações com o Poder, as descontinuidades legais, a ambiguidade entre uma "atenção", que o Estado considera ser seu dever privilegiar, no que se refere à protecção da criança e do jovem, e uma autonomia permitida

- 28 I I 1 . . I IS 10 IC II IE ID ID IE I I Q U A D R O I I I

REPRESEITAÇÏO (cenário, apresentação de si)

Objecto (espectador) Constituído por pessoas reais (con una história, valores, experiência social, etc.)

- leio -

Grupo social alargado

sujeito (constrói una representação do int. a partir do que este lhe comunica, dos s/val. e da ;s/ expg colectiva...)

Sujeito (representando um; cenário/fachada) I I I I I I I I I I

I Grupo social reduzido I

Constituído por pessoas reais (com una história, valares, experiência social, etc.)

I objecto de julgamentos I

REPRBSEITAçXO ( Construção Social do Real )

.. I I I 1 I I E I I I A I T I 0 I

às instituições particulares que assumem esse papel e cujas poderes reais nos aparecem fortemente defendidos por forças políticas e interesses económicos não desvendadas.

As questões na campo social integram-se, fundamentalmente, na âmbito das relações com a Poder, na espaço de inserção social da Instituição, nos papeis sociais que lhe estão designadas. Mas estas questões incidem ainda na campa psicológica, nomeadamente, na problemática da dinâmica interna institucional. Daí a nassa atenção ao Universo do Pessoal e ao Universo da Educando. 0 clima socio-emocional da Instituição vive submetido às imposições organizacionais e às relações psico-afectivas dos seus diferentes elementos. Valores e normas são interiorizados pelos indivíduos, criando-se um "elo social", a que não é alheio o modo como se projectam, na Instituição, os desejas, os interesses e os valores de cada um. Para Rouchy, existem, neste processo, fenómenos de incorporação, como a "incorporação na cultura por

uma comunicação de inconsciente para inconsciente, inscrita directamente no corpo e que condiciona o espaço relacional" (ROUCHY, 1981, p.114).

Estes processas são, tanto mais prementes, quanto mais a Instituição tende a bastar-se a si própria, fechando-se ao mundo exterior.

Mau grado um jogo de segredas estratégicos entrelaçados cam segredos inconfessáveis, torna-se passível, a partir do perfil da estrutura do pessoal, da caracterização da Direcção do Internato e do seu clima socio-emocional, dar resposta às questões levantadas, quanta à orientação pedagógica e ao risco de violência destas instituições.

A análise do Universo da Educanda procura, progressivamente, aproximar-se da vida quotidiana na Instituição. Aí, seguindo CAPUL, se configura a realidade psicológica atravessada pela realidade institucional.

A representação de si e do mundo que envolve o educando, surge-nos filtrada pela Instituição. A valorização desta baseia-se na imagem desvalorizada dos seus utentes. Ao devolver-lhes, juntamente com esta, uma representação do mundo exterior marginalizante e abandónica, reduz-se o seu espaço simbólica de crescimento a uma violência insustentável.

C A P I T U L O I I I

COIDIÇÕES HISTÓRICO-SOCIAIS DA PEDAGOGIA DA SEPARAÇÃO 1. Protecção Social e Responsabilidade de Estado

A intervenção do Estado na protecção à "infAnciã desvalida" integra-se no campo nais lato da Política Social. Verificaremos que este

conceito, - definido cano "conjunto de programs e medidas para

assegurar o bea estar social, prioridades e valores julgados importantes

para uma dada sociedade " <MAIA F. , 1978, p. 1) - só tardiamente se pode

aplicar en Portugal.

De facto, a própria noção de bem estar passou por uma referência ao individual, antes de atingir a dimensão do social. Durante a Idade Média, as medidas tomadas respondem a questões pontuais, levantadas nas Cortes. Embora na "fase de transição", a política de centralização do | Estado se tenha reflectido no campo dos problemas sociais, só no final I do século III, graças às lutas do operariado organizado e à sua intervenção na "res publica", o Estado se comprometeu numa Política Social.

1.1 Idade Média - Ausência de Intervenção do Estado

Mas nossas primeiras Cortes encontram-se referências apenas à pobreza dos nobres. A indigência obtém respostas parcelares na iniciativa particular e religiosa.

A própria noção de infância era limitada. Variando segundo os locais, a maioridade obtinha-se a partir dos doze, catorze ou quinze anos. Havia casamentos a partir dos sete anos, embora fosse necessária a autorização do Conselho de Família até aos vinte. Aceitava-se a noção de casamento por registo ou por "publica fama" (direito consuetudinário).

Os problemas de herança de bens de raiz, sobretudo os relacionados com a sucessão dos bens da coroa, começaram a 6er objecto do interesse H«^ Cortes.

Os órfãos tinham uma tutela exercida por um defendedor e um Conselho de Família. As leis de D.Afonso III excluíam da avoenga os filhos das concubinas e a Lei Mental (D.Diniz) nega a sucessão dos bens da coroa aos filhos de ■matrimónio a furto". Os alcaides (influência árabe) e os bispos tomavam a seu ­cargo as crianças pobres órfãs e abandonadas. Procurava­se já evitar o infanticídio. m Igreja acudiu