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anos, habilitando assim os pais e Mies de família a ocuparem-se da sua lida diária, sea o inconveniente de deixarem os filhos ao

abandone? (GOMES F. , 1977, p.20). lesse oesno ano, criam-se a Casa de

Asilo do Menino de Deus (119 crianças), o Asilo da Junqueira e o de St§ Ana. São utilizados antigos conventos para instalar as Casas ce Asilo

(princípio que se manteve até aos nossos dias).

0 clero secular passou a ser controlado pelo Estado, por quem era pago pelos seus serviços à colectividade. A medida que se foram criando escolas laicas, o seu papel na educação infantil foi diminuindo.

D.Maria I, por Decreto de Abril de 1835, cria o Conselho Geral de Beneficência. Este tea comissões filiais nas capitais de distrito, por todo o país.

Assiste-se, então, a um processo de neutralização da pobreza. Esta é vista como "facto social", entendida como uma "culpa", incapacidade pessoal, prova de inferioridade moral (Adam Smith). Buna sociedade em que se procurava um modelo ideal e harmonioso, em que a burguesia alcança uma grande mobilidade social pela sua ascendência económica, tornava-se necessário isolar o mendigo, reprimir a vadiagem. A mendicidade nas ruas é proibida. Cria-se o Asilo da Mendicidade, para indivíduos de ambos os sexos e de qualquer idade, no antigo Convento de Ste António dos Capuchos, que virá a ser, mais tarde, a Escola Central de Reforma de Caxias.

Funda-se, em Évora, a Casa Pia (1836), destinada a crianças órfãs e abandonadas. Prevê-se, para elas, instrução a nível do ensino primário e das artes fabris. Mo Porto, com os mesmos objectivos, surgem, destinados a rapazes, o Asilo de S.João, o Asilo dos Rapazes Vadios e, para raparigas, o Asilo do Vilar e a Casa de Ste António, entre outros.

A partir de 1850, assiste-se ao regresso dos jesuítas, franciscanos, beneditinos, irmãos de S.João, irmãzinhas dos Pobres, irmãs da Caridade, religiosas do Bom Pastor, etc., justificando-se este retorno pela necessidade de assistência aos pobres e de educação popular.

A cólera que grassara pelo país, deixara, no seu rasto, inúmeros órfãos. A Sociedade Protectora dos órfãos, fundada pela viúva de D.Pedro, via-se a braços com enormes dificuldades. Em Abril de 1857, as irmãs da Caridade (S.Vicente de Paula) tomam conta do Colégio dos

Cardais e, nais tarde, do Asilo da Ajuda. Se os liberais conduzem uma campanha contra as ordens religiosas em geral, o seu principal alvo, sâo as irmãs da Caridade. É criada a Associação Popular Promotora da Educação Popular do sexo feminino, com o objectivo de "obstar à entrega

das instituições da educação popular as Congregações Religiosas nacionais ou estrangeiras" opondo o "asilo liberal ao asilo ultramontano". Alexandre Herculano afirma, num discurso a esta

Associação que "0 instituto das irmãs da caridade cerca-se de uma

auréola factícia, porque é um instrumento da reacção" e que "*a reacção caminha há dez anos de conquista em conquista e agride agora aíliberdade por um lado perigosíssimo (...) porque se trata do envenenamento moral

da sociedade pelo envenamento moral da família". Ho seu "empenho em

transviar a educação popular, entregando-a a congregações religiosas" a

reacção "não acha que apoderarem-se de órfãos adoptados pela Pátria,

seis mulheres e dois ou três padres estrangeiros seja um facto insignificante" (in FERREIRA A., 1973, p.460/468),

0 Conselho Superior de Instrução Pública, no seu relatório anual de 1850/51, refere a acção por ele desenvolvida para a promoção de associações de beneficência, recolhendo crianças que não podem frequentar as escolas públicas. Ko entanto, reconhece que só uma destas instituições se encontra em condições de ser proposta à aprovação de I D.Maria II. E, em novo relatório de 1857/58, lamenta-se que as escolas | dos asilos da infância desvalida estejam desligados do quadro das

escolas públicas : "É muito para desejar que a lei, sem todavia

perturbar e menos ludibriar a acção benéfica da caridade particular, a qual demanda, primeiro que tudo, a liberdade, preste especiais e permanentes auxílios a estes excelentes estabelecimentos, coordenando-os

todavia de algum modo na organização da instrução primária (...)" (in

FERREIRA A., 1973, p.131). Levanta-se ainda o problema da formação das regentes dos asilos, considerando-se, muito embora, que as qualidades humanas que se lhes pedem não podem avaliar-se por um exame.

Entretanto, nos Asilos da Infância Desvalida procurava-se coadunar as práticas Froebel com o "método repentino" de Castilho (1835). É interessante de notar que é precisamente quando as "kindergarden" começam a ser fechadas na Prússia (acusadas de ateísmo e socialismo) que são introduzidas em Portugal por defensares vigorosos. A experiência de

- 42 Froebel na formação de Escolas-Internatos e orfanatos, a sua preocupação com crianças em idade pré-escolar e, consequentemente com a educação das mães e futuras mães, aliadas a uma orientação humanística de espírita liberal, justificam o interesse que despertou no nosso país, que aliás, se mantém até ao início do século XX.

Em Março de 1862, já no reinado de D.Luiz, proíbe-se a existência, no país de comunidades religiosas que tinham regressado após 1833 e 1834. Os elementos destas comunidades foram então impedidos de ensinar em instituições públicas ou particulares. Em 1866 as instituições particulare de assistência são compelidas a vender a maior parte dos seus bens, graças às leis de desamortização. No entanto, na mesma data, chegam a Lisboa a Congregação das irmãs de St S Doroteia que tomará conta' do Asilo do Vilar, a partir de 1873 (expulsas em 1910, o Asilo do Vilar mantém-se como o único refúgio que lhes resta).

0 Decreto de 14 de Karço de 1867, cria o Asilo D. Karia Pia em Xabregas (a recente Mitra). Aqui recolher-se-ão inválidos, servindo ainda para a detenção e correcção de mendigos e vadios, crianças ou adultos, de ambos os sexos. Até 1897, criam-se, só em Lisboa, mais nove casas-asilo. Em 1871, tinham sido extintas as Rodas, alvo de violentas críticas. 0 número de expostos aumentara. Só na cidade do Porto, contava-se, em 1847, uma média de uma criança abandonada por cada sessenta e dois habitantes. Mas as Rodas não evitavam a mortalidade . infantil pelas condições de vida miseráveis que impunham ás crianças. A

sua extinção levantou, com maior acuidade, a necessidade de criar jardins de infância nos asilos, sendo esta problemática longamente debatida. É assim que, Rodrigues Sampaio, pela Carta Lei de 1878, impõe, às Juntas Gerais de Distrito e às Câmaras Municipais, a promoção e ajuda de Asilos de Educação, para crianças entre os três e os seis anos. Para esse efeito, o Governo promete providenciar, regularmente, um apoio financeiro.

José Feliciano de Castro, ministro do reino, insiste, em nova Carta Lei (1880), no necessário apoio às associações particulares. É também ele, que recomenda, em ofício ao Governador Civil de Lisboa a

criação de um asilo-modelo, seguindo a orientação dos métodos de

Froebel. Será esta a origem do Jardim de.Infância da Estrela, inaugurado em 1882.

O discurso dos nossos pedagogos, nesta época, varia entre o idealismo de uma igualdade abstracta e o desejo de desenvolver a economia portuguesa através da formação profissional dos futuras operários. Assim, a sua preocupação com a instrução popular encontra-se submersa na defesa da sociedade burguesa, da repressão da criminalidade e da neutralização da mendicidade.

Por iniciativa do Padre Sebastião Leite de Vasconcelos, funda-se a "Oficina de S.José" e, graças a Silva Leal, nasce o Asilo Profissional do Terço (ambos no Porto), destinadas a receber e corrigir crianças condenadas como vadias, através de uma educação pelo trabalho. Para raparigas, entre 1892 e 1896, cria-se o Centro de Bem Estar Infantil e Juvenil da Coração de Jesus (antigas irmãs Franciscanas de Calais, missionárias de Karia) e o Internato de K§ Srâ da Conceição

(Misericórdia, Matosinhos). Em 1885, é inaugurada, tenda Ernesto Leite de Vasconcelos como director, a Colónia ou Escola Agrícola de Reforma de Vila Fernanda (Alentejo), para aí se recolherem "vadios por culpas leves", ainda hoje conhecida como colónia ou reformatório. Ha mesma linha correccional, surgem ainda as tutorias de Lisboa e Porto e, desenvolve-se a Escala Central de Reforma de Caxias sob a influência do Padre António de Oliveira. Este orientará a criação da Casa Correccional de Vila do Conde (1902), dirigida por Alberto Pinheiro Torres e destinada a rapazes vindas da Cadeia da Relação do Porto, os "corrécios"

(nome que ainda hoje perdura, mau grado a mudança de nome da Instituição, entregue actualmente aos Salesianas).

As instituições para a "infância desvalida" cedo começaram a ser denunciadas pelo seu excessiva autoritarismo, pela forma como a orientação que as vinculava, religiosa ou laica, demarcava as crianças e jovens de todas as outras, obrigando-as a vestir farda e cuidando insuficientemente da sua instrução. Ponte da Horta, que considera que "A

instrução e a criminalidade são dois factos antagonistas perante a

estatística social" (FERREIRA A., 1973, p.233), critica a incúria em que

estão os asilos e o excesso de autoritarismo das casas de correcção. Par a par com a repressão da criminalidade, está o desemprega, a miséria, a exploração do trabalho infantil. Silva Pinto (jornalista) descreve-nos, em 1896, a vida dos "neófitos da desgraça" que aos seis, sete anos, eram levados pelas mães ou "empresários de engeitados" às

- 44 fábricas onde, quando admitidas, trabalhavam de sal a sol, "Tinham de

levantar-se às duas horas da noite e vir, descalços e rotos, tiritando (. . . ) Sei que há trinta anos para cá deram os governos providências sérias em favor dos menores nas fábricas - nomeando inspectores especiais que nunca os menores viram, nem eu, mas de cuja existência testemunha o contribuinte. " (SILVA PIFTO, 1896 ín GODINHO Jí. , 1977, p. 35/37).

0 crescente sentimento de revolta reúne o operariado português à volta de Associações de defesa das seus interesses. Desde a ,Camuna de Paris, que, aos poucas, se vai fazenda ouvir a voz de intelectuais portugueses, a "Geração de 70", extremamente crítica relativamente às estratégias do Governa para solução dos problemas sociais, consideradas ineficazes e carentes de meios de controle.

Trindade Coelho critica duramente os Centros Católicos operários :

"não passam de associações religiosas; mas dispondo de meios de atracção (...)- conferências, récitas, concertos, excursões - interessam também os sócios por meio de socorro mútuo, ao mesmo tempo que ministram aos operários e às crianças a instrução (...) que é, no fundo, de combate, e até de ódio, à doutrina socialista." (in DIAS A.C., 1964, p.301).

Tendo sido, de novo, legalizada a entrada de frades e freiras em Portugal, Trindade Coelha propõe a proibição das Círculos Católicos Operários e o cumprimenta das Leis de Pombal (expulsão dos jesuítas), do Decreto de 1834 (extinção das congregações), do Decreta de 1861

(dissolução da corporação das irmãs da Caridade) e ainda, a laicização do ensina primário, como medidas contra a reacção.

Entretanto, desde 1885, as organizações privadas intentavam organizar um Congresso, cuja preparação se iniciou apenas em 25 de Maio de 1903, logo após a publicação, no Diário do Governo (de 9 de Maio), da Lei n2 33 - B. Segundo as actas da Comissão organizadora o " Governo

queria lançar mão da administração dos estabelecimentos de beneficência, alvejando de preferência as Misericórdias e deixando-lhes apenas uma autonomia aparente e nominativa. " (cit. in Actas do II Congresso das

1.4 A implantação da República

A implantação da República faz reviver o laicismo na nossa sociedade. A grave crise nas relações entre o Estada e a Igreja, a expulsão da ordens religiosas, a Lei da Separação de 1911, a dissolução das irmandades, a apropriação dos bens da Igreja, a supressão do ensino da doutrina criatã nas escolas, são alguns dos elementos mais

significativos dessa laicização. : ç^

Desde 1910, são promulgadas leis de proteoção à criançatã Em 1911, António José de Almeida inicia a reestruturação da Assistência^, criando a Direcção Geral da Assistência e a Provedoria Central de Assistência de Lisboa. Para socorrer os indigentes e evitar a mendicidade, institui-se a Fundo Nacional de Assistência.

Fo que se refere à Educação Infantil, estabelece-se a instrução oficial e livre (infantil e primária), para todas as crianças, entre os sete e os dez anos. Até 1918, a organização e superintendência da

Instrução Primária dependerá dos municípios.

Um interesse crescente pela actualização científica vai reflectir-se na Pedagogia, na Psicologia Experimental e na Antropometria. 0 Instituto Médico-Pedagógico da Casa Pia, fundado em I 1909 e dirigido por António Aurélio da Costa Ferreira, realiza o

| primeiro curso para educadores de deficientes. Abrem-se, nessa altura, os Institutos de Bencanta (Coimbra), António Cândido e Semi-Internato de Campanhã (Porto), destinadas a deficientes auditivos.

António Aurélio da Costa Ferreira cria ainda, em 1912, a primeira Colónia Agrícola para "anormais mentais". Esta, em 1927, passa a Colónia Correccional, sob decisão do Ministro da Justiça, Manuel Rodrigues.

A IS República sofre, entre 1920 e 1926 o seu período mais agitado, que termina com a Ditadura Militar em 28 de Maio de 1926.

1.5 0 Estado Ebvo

Salazar, no governo a partir de 1928, assume a sua chefia em 1932. A política de isolamento e repressão da criminalidade infantil é um dos elementos característicos desta fase em que a Censura começara a

­ 46 imperar. Também à infância se impõe uma "nova ardem". Laga em 1927, inaugura­se a Tutoria Central de Coimbra, com um "refúgio" masculino, criando­se, no Porto, um "refúgio" feminino. Um ano depois, abrem­se os "refúgios femininos de Lisboa e Coimbra, cria­se o Reformatório Feminina de Viseu. Em 1933 abre a secção preparatória do Reformatório de S.Fiel e, em 1934, o Reformatório de Caxias vê­se acrescentado de novas oficinas e a Colónia Correccional de Vila Fernando de novas herdades. Ainda neste ano, cria­se a Prisão Escola de Leiria, na Quinta do Lagar de El­Rei.

Entretanto, desde 1929, regressavam as ordens religiosas,

retomando o seu papel de assistência e educação da infância desvalida, O Poder manterá, no entanto, o controle sobre os representantes da Igreja e sobre a acção das ordens religiosas.

Mo domínio da Educação em geral' "inlcla-se uma campanha

sistemática e concertada visando :

- o ataque aos conceitos de necessidade de alfabetização e cultura, que irão ser apresentadas como ideias perigosas, mesmo nocivas;

- o ataque à importância até aí dada ao Ensino Primário, que irá ser progressivamente destruído, com o pretexto de o livrar do "enciclopedismo";

- o ataque também ao "enciclopedismo" e às "excessivas ambições" do Ensino Secundário." (CORTESÃO L., 1982, p.65/67).

Entende­se que, sob tal campanha, a educação de crianças vivenda ■j em internatos e reformatories, deixasse de ser alvo de preocupações,

\ como o fora durante os Governos Liberais e a IS República.

Em 1940 cria­se a Subsecretariado de Estado da Assistência Social. Quatro anos depois, a remodelação dos serviços de Assistência deve­se ao

Estatuto da Assistência Social (Lei n5 1998 de 15/5/44 e ainda,

posteriormente, ao Dec­Lei n2 35108 de 7/11/1945). São reorganizados os serviços centrais e locais. Os órgãos de coordenação, ligados à protecção da infância serão o Instituto de Assistência à Família, o

Instituto Maternal, a Instituto de Assistência aos Menores e as Misericórdias.

Ao Instituto de Assistência à Família vai competir "fomentar a

criação de estabelecimentos e serviços de assistência infantil"(art.123). 0 Instituto de Assistência a Menores deverá "estimular a criação de asilos-escolas e de outras instituições, destinadas a amparar os menores" (art.127).

A Assistência é, de novo, predominantemente particular : "a função

do Estado e das autarquias na prestação de assistência é, normalmente suplectiva das iniciativas particulares, que àquele incumbe orientar, tutelar e favorecer. Na falta ou insuficiência de iniciativas particulares, devem, o Estado e as autarquias sustentar, dentro das possibilidades económicas, as obras de assistência que as necessidades reclamarem, devendo porém os mesmos ser desofícíalizados logo que isso se torne possível sem prejuízo da assistência que prestar"

0 Estado comparticipa nas obras de construção e adapjtação dos edifícios necessários às Instituições, indo até 75% do seu custo e, nas despesas de manutenção até 70¾.

A orientação relativa aos internatos infantis aponta para a sua instalação fora das meias urbanas. Estes deverão possibilitar a instrução elementar, o ensino agrícola e o de artes e ofícios.

Desenvolvem-se assim os Patronatos, as Casas dos Pobres, a Legião de Maria, as Criadinhas dos Pobres, as Conferências de S.Vicente de Paula, a Obra de St§ Zita, etc. A lista de internatos para "filhos de

miseráveis e órfãos" é longa. Só na região do Porto, poderemos apontar o

Internato das Filhas de Maria Imaculada, as Florinhas do Lar do Abrigo do Sagrada Coração de Jesus, o Lar da Criança Portuguesa, o Lar ;§ Evangélico Português, a Obra da Criança Abandonada, a Obra Regeneradora | dos Rapazes da Rua, a Obra de SS Sr§ das Candeias, etc. De realçar, a Associação Protectora da Criança contra a Crueldade e Abandono, cujo fundador foi Leonardo Coimbra. A Associação tem uma publicação, a "Criança", e o seu projecto é ambicioso. Com a finalidade de "lutar

contra as causas que pesam sobre a criança, como factor de sofrimento e de desarmónica formação da sua Personalidade" (Ï2 1), procura-se criar

"um sistema de escuta" que informará a associação das situações concretas de abandono e sevícias. Ressalta ainda a crítica à "indústria de exploração infantil" e a acusação dos falsos cristãos. A análise feita pelo Padre Américo à Casa da Criança (Bonfim, POrto), é uma indicação positiva para a grande generalidade das actuais instituições : "Os pequenitos andam atrás de nós. Nada lhes é proibido. Podem mexer.

Podem falar. Cada um usa a roupíta que tem e como eles não são iguais, nem a roupa." ( in "A Criança", n3 2, Agasto 1955, p.10).

- 48 Q Padre América é, sem dúvida, a grande personalidade da Assistência à Infância, nesta época, A primeira Casa do Gaiato surge em 1940, em Miranda do Corvo. Depois, vêm as de Paço de Sousa (1943), de Lisboa (1947/48), de Setúbal e Baire (1955). A partir de 1952, o Património dos Pobres constrói mais de quatro mil casas por todo o país. A obra tem Lares para estudantes em Coimbra, Lisboa, Porto e Setúbal. "O GAIATO", quinzenário da Obra da Rua, é conhecido por todo o país. A forte personalidade do Padre Américo, o seu espírita de luta e dedicação aos rapazes, deram às Casas do Gaiato uma imagem de marca, ainda hoje dificilmente posta em causa. Com efeito, recusando o sentimento de caridade e evitando o internismo, as Casas do Gaiato mantêm um claro distanciamento dos internatos, mau grado as dificuldades que atravessam.

Em termos mais gerais, é ainda de pôr em relevo a Obra Diocesana de Promoção Social, criada em 1965, cuja acção nos Bairros Camarários se manteve e alargou, até aos nossos dias, num importante esforça de prevenção e protecção social.

Em 1966, existiam no país cinquenta e seis Ordens e Congregações Religiosas femininas e quatro masculinas com actividades de saúde e assistência,

5o recenseamento geral da população (Instituto Nacional de Estatística) de 1970, cerca de 11% das crianças, entre os dez e os quatorze anos, exercia uma profissão e 2% procura emprego. A exploração do trabalho infantil, a julgar, pelo exemplo das Minas de S.Pedro da Cova, não era menos violenta que a descrita em 1896 par Silva Pinto.

1.6 0 25 de Abril de 1974

As grandes mudanças que o nosso país sofreu logo após o 25 de Abril atingiram, como é obvio, a protecção social. 0 Programa da Ministério dos Assuntos Sociais preconiza especificamente a

"substituição progressiva dos sistemas de previdência e assistência por

um sistema integrado de segurança social. " A Constituição da República Portuguesa consagra o princípio da universalidade do direita à segurança social. Ao Estado competirá "organizar, coordenar e subsidiar um sistema

participação das associações sindicais e outras organizações das classes trabalhadoras" (MAIA F.,1978, p.45).

De facto, durante os Governos Provisórios toda uma política de reorganização dos serviços de saúde, de aumento dos salários e de abertura à iniciativa dos movimentos populares, na procura de" soluções condignas, nomeadamente no que se refere à Infância (Infantários, Jardins Infantis, Actividades de Tempos Livres, etc.), e ainda, aos problemas de habitação, conduziu a uma sensível melhoria das condições de vida. As instituições particulares de assistência sofrem um retrocesso, fechando umas e alterando o seu espaço de intervenção, outras, É o caso de secções médicas destas obras, de patronatos, de "visitadoras", "sopas dos pobres", etc. Algumas destas práticas caritativas voltam, no entanto, a ser recurso, a partir dos anos 80.

Ho apoio à "infância abandonada e órfã", as perspectivas vão manter-se ambiguamente entre a manutenção de práticas assistenciais e a possível responsabilização futura do Estado. Este, dividido pelos diferentes Ministérios, exerce funções de tutela, nem sempre coerentes.

Em 1978, Pedro Loff apresentava como "diagnóstico dos problemas

específicos do sector de segurança social" (lâ Semana de Estudos da

Infância e Juventude - Instituto da Família e Acção Social) diversos pontos críticos. Entre estes, a ausência de coordenação entre os

% departamentos que tutelavam os lares e internatos para crianças e

1- jovens, como o Ministério dos Assuntas Sociais, o então Ministério da Educação Investigação e Cultura e o Ministério da Justiça. Refere ainda a "inexistência dum regulamento dos internatos balizando as funções do