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10  CAPÍTULO 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE O DESEMPENHO E A MODELAÇÃO DA LIGAÇÃO FRP/BETÃO 

2.8.  DURABILIDADE DA LIGAÇÃO FRP/BETÃO 71 

2.8.2. Exposição a soluções químicas 

As exposições a soluções químicas podem ser divididas essencialmente em soluções do  tipo  salino  e  soluções  do  tipo  alcalino.  As  primeiras  consistem,  conforme  o  próprio  nome  indica,  em  submeter  o  compósito  de  FRP  a  ambientes,  líquidos  ou  gasosos,  em  que  os  cloretos  de  sódio  (NaCl)  predominam.  Por  outro  lado,  a  soluções  alcalinas  baseiam‐se  essencialmente  em  colocar  em  contacto  com  o  compósito  de  FRP  soluções  químicas alcalinas (por exemplo, hidróxido de cálcio, Ca(OH)2 ou hidróxido de sódio, 

NaOH cujos pH variam entre 12 a 13,5) ou colocar o FRP em contacto com o betão. De  acordo com Karbhari et al. [144] grande parte dos estudos existentes na literatura utiliza  os  compósitos  de  FRP  em  forma  de  laminados  de  barras  circulares  atribuindo  a  degradação do compósito à combinação de mais do que um mecanismo como hidrólise  ou  lixiviação.  Karbhari  et  al.  [144]  referem  ainda  que  apesar  da  resina  envolver  os  filamentos da fibra e que, por inerência, conseguisse proteger a fibra, na realidade o que  se constata é que a degradação da ligação fibra/resina é acelerada bem como a própria  resina, especialmente se esta não se encontrar totalmente curada.    A influência das soluções salinas assume uma grande importância no panorama  da durabilidade dos materiais compósitos uma vez que, muitas estruturas encontram‐se  junto ao mar e estão diariamente expostas a ambientes salinos. Por motivos óbvios, o  recurso  aos  materiais  compósitos  está  desta  forma  em  franca  vantagem  quando  comparados às técnicas de reforço mais tradicionais como é, por exemplo, a aplicação  exterior  de  chapas  metálicas.  Sendo  o  ambiente  salino  um  ambiente  extremamente  agressivo  para  as  chapas  de  aço,  uma  boa  resistência  dos  compósitos  de  FRP  ao  sal  torna‐se muito importante. Mais ainda, o compósito de FRP confere à estrutura de betão  armado uma barreira à penetração de sais protegendo as armaduras da corrosão. Neste  contexto, três situações assumem‐se como potencialmente mais agressivas para o FRP.  São elas: (i) ciclos seco/molhado; (ii) imersão total; e (iii) ciclos de humidade salina ou de  nevoeiro salino.    Mukhopadhyaya et al. [90] realizaram um estudo sobre a influência dos ciclos de  seco/molhado  (em  solução  salina  com  5%  de  concentração  de  NaCl)  na  ligação  GFRP/betão.  Estes  ciclos  tiveram  a  duração  de  36  semanas (6048  horas)  com  1  ciclo  a  corresponder  a  uma  semana  a  seco  e  uma  semana  com  os  provetes  submersos  na  solução  salina.  Dois  tipos  de  betões  foram  utilizados  e  aos  28  dias  as  resistências  à  compressão de provetes cúbicos eram de 37,1MPa e 48,6MPa. Os resultados revelaram  que as forças máximas transmitidas ao GFRP tiveram um aumento médio de 11,1% nos  provetes com betão de menor resistência e um aumento de 5,8% nos provetes com betão  de  maior  resistência  quando  comparados  com  os  respectivos  provetes  de  referência  (sem  envelhecimento).  No  entanto,  a  tensão  de  aderência  máxima  desenvolvida  na  ligação  sofreu  uma  diminuição  em  cerca  de  12,4%  nos  provetes  com  betão  de  menor  resistência. Nos provetes com betão de maior resistência verificou‐se um aumento em  cerca  de  10,6%.  Os  resultados  apresentaram  ainda  alguma  dispersão,  refira‐se,  por  exemplo,  o  caso  dos  provetes  com  betão  de  menor  resistência  em  que  a  tensão  de  aderência máxima variou entre os 2,50MPa e os 6,11MPa. As dispersões de resultados  obtidas foram atribuídas ao tempo de envelhecimento imposto aos provetes. De acordo  com  Mukhopadhyaya  et  al.  [90],  o  tempo  de  envelhecimento  dos  provetes  foi  considerado curto, tendo os autores concluído que a exposição aos ciclos seco/molhado  não  ter  sido  suficiente  para  afectar  a  resistência  global  da  ligação  e  daí,  os  resultados 

72  CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE  O DESEMPENHO E A MODELAÇÃO DA LIGAÇÃO FRP/BETÃO  mais  adversos  dos  ensaios.  No  entanto,  refira‐se  ainda  que  a  disposição  dos  extensómetros considerada não foi uma disposição regular entre eles o que, no estudo  do  desempenho  da  ligação  pode  também  contribuir  para  a  dispersão  de  resultados  encontrada. Num comprimento de colagem de 200mm, foram colados 5 extensómetros  tendo os autores adoptado, para a região de aplicação das cargas, um espaçamento mais  curto  entre  extensómetros  quando  comparado  com  o  espaçamento  adoptado  para  a  região oposta (entre os 15mm e os 50mm de espaçamento). Repare‐se que, por exemplo,  no  cálculo  experimental  das  tensões  de  aderência  máximas,  a  consideração  de  uma  distribuição  de  tensões de  aderência  uniforme  entre  extensómetros  consecutivos  pode  dessimular os reais valores daquelas tensões. As tensões de aderência ao migrarem para  as  regiões  opostas  à  aplicação  das  cargas  deixam  de  ser  experimentalmente  quantificadas  de  igual  modo  quando  comparadas  com  igual  cálculo  em  estágios  de  carga  mais  baixos  nos  quais  as  tensões  de  aderência  máximas  se  desenvolvem  nas  regiões junto à aplicação das cargas exteriores. 

  De acordo com a simulação 3D da difusão da humidade na ligação CFRP/betão  realizada por Ching e Büyüköztürk [139], a saturação na ligação é atingida nunca antes  dos  200  dias  de  exposição.  Estes  autores  verificaram  ainda  que  quer  nos  ensaios  de  arrancamento quer nos ensaios de corte realizados, os modos de ruptura mudavam (de  ruptura  coesiva  pelo  betão  para  ruptura  adesiva  pela  interface)  a  partir  da  oitava  semana de exposição. Este resultado, de acordo com a simulação realizada por Ching e  Büyüköztürk  [139],  corresponde  a  uma  saturação  da  interface  em  aproximadamente  50%. No entanto, os resultados obtidos concentraram‐se em apenas um tipo de resina  epoxídica.  A  alteração  do  tipo  de  resina  ou  recorrendo  inclusivamente  a  resinas  que  curam sob o efeito da humidade (tais como resinas epoxídicas de utilização subaquática)  podem  suscitar  uma  alteração  do  tempo  necessário  para  se  conseguir  obter  uma  mudança nos modos de ruptura. 

  Toutanji  e  Gómez  [145]  levaram  a  cabo  um  estudo  sobre  o  efeito  de  ciclos  de  marés em vigas de betão armado exteriormente reforçadas com compósitos de CFRP e  GFRP.  Os  autores  utilizaram  ainda  3  tipos  de  resinas  epoxídicas  na  colagem  dos  compósitos tendo realizado no total 56 ensaios de flexão de quatro pontos. As vigas, de  secção  quadrada  de  50×50mm  e  vão  de  300mm,  foram  igualmente  divididas  em  dois  grupos.  O  primeiro  grupo  de  28  vigas  foi  submetido  a  300  ciclos  de  marés  que  consistiam em 4 horas de imersão em água salina a 3,5% (35g por cada litro de água)  seguidas  de  2  horas  de  secagem  durante  75  dias  de  exposição.  Os  resultados  foram  comparados com vigas não reforçadas e envelhecidas em iguais períodos de exposição.  As restantes 28 vigas foram condicionadas à temperatura de 35°C e a 90% de humidade  relativa  e  serviram  como  referência  às  vigas  expostas  a  ciclos  seco/molhado.  Os  resultados revelaram que, comparando com as vigas não reforçadas, o incremento das  cargas de ruptura verificado para as vigas expostas a ciclos seco/molhado foi menor do  que  nas  vigas  de  referência.  Os  valores  variaram  assim  entre  2,1kN  (com  reforço  de  GFRP)  até  4,4kN  (com  reforço  de  CFRP)  nas  vigas  submetidas  a  ciclos  ciclo/molhado  enquanto que nas vigas de referência os valores variaram entre 4,8kN (com reforço de  GFRP) até 11,3kN (com reforço de CFRP). O modo de ruptura verificado por Toutanji e  Gómez [145] nos provetes expostos a ciclos seco/molhado foi um modo de ruptura do  tipo  adesivo,  ou  seja,  pela  interface  da  ligação  FRP/betão.  Este  resultado  foi  aliás  coerente com os resultados obtidos noutros trabalhos encontrados na literatura [17, 18,  82,  88,  139].  Os  autores  justificaram,  com  base  no  modo  de  ruína  adesivo,  o  menor