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2.3.5 E SQUEMAS ARBÓREOS E LIMITAÇÕES

Os esquemas são um grupo de padrões estruturais disponível para a organização do texto em cada cadeia da escala hierárquica. Esse grupo padronizado presume, segundo Mann e Thompson (1988), o caráter de homogeneidade das estruturas relacionais. Tais esquemas definem o modo como porções de texto relacionam-se para que se formem porções maiores ou um texto inteiro. Nesses esquemas, os arcos representam as relações estabelecidas, com as setas na seguinte direção: sempre do satélite ao núcleo. As linhas horizontais representam as porções de texto e as verticais, os núcleos. A seguir, são apresentados os esquemas arbóreos para relações retóricas do tipo núcleo – satélite e do tipo multinuclear.

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ESQUEMA 2: Relação retórica multinuclear

Segundo Antonio (2004), a aplicação dos esquemas não segue necessária e exatamente os padrões preestabelecidos. Podem surgir variações com as seguintes orientações:

 a ordem em que aparecem o núcleo e o satélite não é fixa;

 as relações individuais, nos esquemas multinucleares, são opcionais, desde que pelo menos uma das relações seja estabelecida;

 uma relação do esquema pode ser aplicada quantas vezes ela for necessária na aplicação do próprio esquema.

Por meio dos esquemas ou diagramas arbóreos podem-se visualizar os tipos de relações quanto a sua organização (tipo núcleo – satélite e tipo multinuclear) e as proposições relacionais que emergem entre as porções identificadas. Os esquemas ou diagramas arbóreos são elaborados por meio do programa RSTool, que é uma ferramenta computacional para a montagem dos esquemas arbóreos e está disponível em <www.wagsoft.com>.

Em sua dissertação de mestrado, Fuchs (2009) questiona os limites e as possibilidades da representação da organização textual por meio dos esquemas. Segundo Fuchs (2009), em muitas situações, a representação da organização textual pela ferramenta RSTTool impõe limites ao analista para demonstrar a coerência (intenções) do produtor do texto examinado. Para a autora, é possível perceber que as noções de coerência e de hierarquia da RST restringem-se a algumas questões próprias da constituição do modelo. “Afinal, a coerência textual é explicada apenas pela coerência relacional, e a hierarquia implica apenas uma estrutura arbórea resultante da aplicação recursiva das relações às partes do texto.” (FUCHS,

2009. p. 84). O que Fuchs (2009) quer dizer é que o modelo não contemplaria questões como a situação sociocomunicativa. Portanto, ao analista caberia, no momento de definir as porções textuais de análise, colocar em funcionamento seus conhecimentos acerca de gêneros textuais, suas configurações e suas funções sociais.

Para Taboada e Mann (2006, p. 435), “o conjunto de relações definido pela RST em textos particulares frequentemente não pode ser representado por árvores únicas.” Esses autores não descartam a possibilidade de outras propostas de representação do texto que não utilizem o esquema arbóreo. Para Taboada e Mann (2006, p. 435), o esquema arbóreo justifica-se porque “árvores são convenientes, fáceis de representar e fáceis de entender. Não há, por outro lado, nenhuma razão teórica para assumir que árvores são a única representação possível da estrutura do discurso e das relações de coerência.”

Knott et al. (2001), com base em análises feitas de textos descritivos de livros-guia de museus, identificaram que o satélite aparece frequentemente separado do núcleo. Para esses autores, o analista, portanto, seria obrigado a não obedecer ao princípio da adjacência26 e a adotar o que eles denominam de constituintes descontínuos. kittredge et al. (1991) já haviam identificado essa questão. Para eles, para ratificá-la, uma porção de texto, mesmo que estabeleça uma relação com outra, aparecia separada dessa outra. Isso impõe um obstáculo ao esquema arbóreo RST. Dizem eles: “Estamos encarando uma sensibilidade suave ao contexto que não pode ser representada naturalmente em regras de construção arbórea independentes do contexto.” (KITTREDGE et al., 1991p. 312). Segundo esses autores, portanto, a ordem dos segmentos nos textos analisados por eles não parece derivar-se de princípios gerais; parece, sim, derivar-se das especificidades dos gêneros textuais nos quais os textos se materializam.

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O princípio da adjacência refere-se ao fato de que os segmentos de cada aplicação do esquema constituem um segmento contíguo, ao contrário dos constituintes descontínuos, que podem relacionar- se com segmentos de qualquer parte do texto.

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Essas posições quanto às limitações da RST são importantes para este trabalho, uma vez que se pretende mostrar que da associação de manifestações interjetivas com outras porções de textos, por adjacência ou por descontinuidade, pode emergir uma proposição relacional. Como já foi exposto, as interjeições são dependentes do contexto e da situação sociocomunicativa para que a elas se possa atribuir um sentido. Não se descarta a possibilidade de que as ocorrências de interjeições possam figurar como porções de texto que manteriam apenas relações adjacentes. Se as manifestações interjetivas proporcionam um colorido emocional a todo o texto em que residem, não se pode esperar uma análise da coerência apenas localmente. A coerência, conforme já se disse, é radicular, principalmente quando da participação das interjeições, que são fenômenos que contaminam todo o ambiente (con)textual em que se encontram.

Outra questão importante que deve ser registrada, neste momento, é a (quase) ausência de abordagem acerca de relações retóricas em textos da conversação, com, no mínimo, dois interactantes, e acerca de proposições relacionais advindas de porções de textos de natureza emocional. Dois motivos poderiam justificar essa ausência: 1) o princípio norteador da RST, que é a geração automática de textos; 2) os estudos da língua(gem) emocional, que (ainda) se encontram no limbo das descrições linguísticas.

Quanto às relações retóricas em textos da conversação, talvez os analistas estejam presos ao esquema arbóreo gerado pela RSTTool. Sabe-se que, numa conversação espontânea ou não, há sobreposições de turnos, há descontinuidade tópica mesmo que aparentemente seja caótica, e há, muitas vezes, mais de dois interactantes. Essas questões dificultam a montagem de esquemas arbóreos por meio da RSTTool. A sensibilidade do analista, neste momento dos estudos da RST, é que permitirá a ele demonstrar, esquematicamente, a coerência peculiar das elocuções formais e dos diálogos espontâneos. A criatividade do observador será uma questão

gerenciadora da análise, uma vez que ainda não há um software que permita a representação cruzada e descontínua das porções textuais.

Antonio e Barbosa (2012) investigaram, à luz da RST, relações retóricas estabelecidas por perguntas e respostas e as funções dessas perguntas e respostas na condução de tópicos discursivos em um corpus formado por elocuções formais gravadas durante aulas de graduação. A análise empreendida por esses autores permitiu a identificação de relações retóricas de solução e de preparação. As perguntas careciam de respostas (solução) ou preparavam os alunos para novo tópico a ser instaurado pelo professor no decorrer da aula. A pesquisa de Antonio e Barbosa (2012) contribui com a reflexão sobre como se trabalhar com textos dialogais à luz da RST. Os autores consideraram para a análise a relação de um turno (pergunta) com outro (respostas), considerando o tópico discursivo instaurado pela situação sociocomunicativa; depois disso, montaram o esquema arbóreo para a identificação das proposições relacionais.

A geração automática de textos, por mais avançados que sejam os recursos da tecnologia, baseia-se na logicidade e, a ser assim, contribuiria para manter no limbo as manifestações emocionais e até algumas emotivas. As interjeições, independentemente de suas manifestações, ou em textos escritos, ou em textos falados, em diferentes gêneros, são fenômenos da língua(gem); portanto, merecem ser vistas na sua integração com o texto, e não apenas em pequenos enunciados como vêm sendo tratadas ao longo do tempo. A RST é um aparato teórico-metodológico para tal empreitada; no entanto, ao analista das interjeições caberia uma atenção especial: mostrar-se sensível à situação sociocomunicativa e ao contexto, nos quais elas se inserem.