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L ISTA DE S IGLAS E A CRÓNIMOS

2.2 A DESÃO À T ERAPÊUTICA

2.4.1. E VOLUÇÃO DO C ONCEITO

O conceito de qualidade de vida está diretamente associado ao conceito de saúde. A qualidade de vida surge de tal forma associada à saúde que muitas vezes os termos aparecem indissociáveis. De facto, entende-se facilmente esta forte associação entre saúde e qualidade de vida, porque, apesar de a saúde não ser o único fator que influencia a qualidade de vida, ela tem uma importância fulcral nesta perceção.

Na realidade o conceito de qualidade de vida é muito mais abrangente, mas na sua génese está a definição de saúde da Organização Mundial de Saúde (OMS) proclamada em 1946: “Saúde é um completo estado de bem-estar físico, mental e social e não apenas ausência

de doença” (Fleck et al., 1999).

De então para cá o conceito de qualidade de vida tem suscitado uma crescente atenção, tanto na sociedade como na comunidade científica, assistindo-se a uma vulgarização da utilização do termo. No entanto, apesar das várias tentativas para o conceptualizar, não se tem obtido concordância dos diversos autores que sobre ele se têm interessado. Uns colocam a problemática no bem-estar económico, outros no sucesso, outros ainda no desenvolvimento cultural e/ou valores éticos (Campinho, 2005; Pereira, Teixeira, & Santos, 2012).

Nos finais da Segunda Guerra Mundial, os elementos que contribuíam para uma “vida boa” estavam associados à posse e usufruto de determinados bens, ao direito, ao poder, ao sucesso, ao lazer, ao ser humano detentor de grandes virtudes. Contudo, segundo alguns autores, a origem do termo qualidade de vida é recente e tem raízes no contexto sociopolítico, apontando como referência o discurso do presidente americano Lyndon Johnson em 1964. O Presidente proferiu um discurso que levou à introdução deste vocábulo, ao defender que o progresso social reclamava mais do que a abundância de bens materiais e não se circunscrevia a critérios quantitativos, mas à qualidade de vida proporcionada às pessoas (Fleck et al., 1999; Silva & Pinto, 2006).

A partir dos anos 70 a expressão passou a fazer parte do discurso de especialistas e da linguagem corrente e foram várias as tentativas feitas para definir com objetividade o termo qualidade de vida (Silva & Pinto, 2006).

Em 1986, Nutbeam definiu a qualidade de vida como a perceção dos indivíduos, ou grupos, de que as suas necessidades estão a ser satisfeitas e de que não lhes estão a ser negadas oportunidades para alcançar a felicidade e satisfação completas (Albuquerque & Oliveira, 2002). A própria OMS adotou este conceito com o objetivo de facilitar a comunicação entre as nações, as organizações e o número crescente de profissionais que trabalhavam no campo da promoção da saúde (Smith, Tang, & Nutbeam, 2006).

No início da década de 90, Shumaker e Anderson definiam a qualidade de vida como a satisfação individual global com a vida, e a sensação geral, pessoal, de bem-estar (Albuquerque & Oliveira, 2002).

Farquhar (1995), citado por Silva & Pinto (2006), afirma que a qualidade de vida deve ser definida subjetivamente em termos individuais e de acordo com a evolução da experiência de vida de cada pessoa, dado ter diferentes significados para pessoas diferentes. Este autor, após uma revisão da literatura, em 1995, destacou várias definições de qualidade de vida, tais como:

x Grau de satisfação das pessoas em relação a vários aspetos das suas vidas; x Grau de satisfação e de prazer que caracteriza a existência humana;

x Sensação pessoal de bem-estar, de satisfação ou de insatisfação, felicidade ou infelicidade com a vida;

x Concretização de uma situação social satisfatória dentro dos limites e das capacidades do indivíduo;

x Nível de bem-estar pessoal que representa a experiência que cada pessoa tem da sua própria vida e das situações concretas.

Neste contexto, Farquhar (1995) defende que as definições que incluam ou que associem aspetos genéricos com uma ou mais dimensões são de maior utilidade, pelo facto de permitirem uma operacionalização e definição do conceito (Silva & Pinto, 2006).

Capítulo 2 – Enquadramento Teórico

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Para Bowling (1994), citado por Cavalheiro (1999), a qualidade de vida, ao envolver os componentes do bem-estar social, é um conceito muito mais amplo do que o estado de saúde pessoal, não abrangendo apenas os fatores relacionados com a saúde, tais como, o bem-estar físico, funcional, emocional e mental (Cavalheiro, 1999).

São consideradas componentes da qualidade de vida a capacidade funcional, o desenvolvimento das funções ou papéis habituais, o grau da qualidade das interações sociais e comunitárias, o bem-estar psicológico e a satisfação com a vida (Bowling, 1994, citado por Cavalheiro, 1999). Este conceito admite que, dos fatores que influenciam a qualidade de vida, aqueles que não se modificam pelos cuidados ou estado de saúde do indivíduo podem, no entanto, influenciar esse mesmo estado de saúde.

Foi já num contexto de falta de precisão conceptual do conceito de qualidade de vida que a OMS a definiu como: “A perceção do indivíduo sobre a sua posição na vida, dentro do contexto dos sistemas de cultura e valores nos quais está inserido e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. É um amplo conceito de classificação, afetado de modo complexo pela saúde física do indivíduo, estado psicológico, relações sociais, crenças pessoais, nível de independência e pelas suas relações com as características mais

relevantes do seu meio ambiente” (Fleck et al., 1999; Morais, 2000).

Muitos têm sido os investigadores que se têm debruçado sobre este tema. Contudo, cada investigador tende a interpretar o sentido de qualidade de vida de modo diferente, atribuindo-lhe diferentes conceções, que se integram no contexto em que se encontram. Apesar da multiplicidade de definições propostas, parece que a multidimensionalidade do conceito é um dos pontos de concordância entre os investigadores. Assim, como conceito multidimensional, a qualidade de vida incorpora todos os aspetos objetivos (funcionalidade, competência cognitiva, interação do indivíduo com o meio) e subjetivos (sentimento geral de satisfação e perceção da própria saúde) da vida de um indivíduo (Santos & Ribeiro, 2001).

Além da multidimensionalidade, também parece unânime que o conceito de qualidade de vida é um conceito dinâmico, alterando-se com o tempo, as experiências e os acontecimentos vivenciais (Santos & Ribeiro, 2001).

Deste modo, o conceito de qualidade de vida assume algumas características gerais que começaram a ser aceites pelos investigadores (Albuquerque & Oliveira, 2002):

x A qualidade de vida não é ausência de doença;

x A qualidade de vida manifesta-se ao nível do bem-estar e da funcionalidade;

x A qualidade de vida define-se por uma configuração de bem-estar, que é uma dimensão autopercebida;

x A qualidade de vida abrange aspetos físicos, mentais, sociais e ambientais, que apresentam uma relação sistémica entre eles, ou seja, não se trata de realidades diferentes;

x A qualidade de vida é um processo dinâmico;

x A qualidade de vida só tem sentido se for avaliada e concebida no meio ambiente em que o indivíduo está inserido e com o qual interage.