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3.2 Exemplos de ferramentas de Apoio à implementação da Sustentabilidade

3.2.4 Eco-eficiência

Outras ferramentas tentam incluir fatores adicionais, principalmente económicos. Um exemplo disso é a abordagem designada por Eco-eficiência desenvolvida pela WBCSD29. Esta ferramenta foi desenvolvida para promover a melhoria quer económica, quer ambiental das empresas, sendo dirigida a todo o ciclo de vida do produto ou do processo.

A eco-eficiência é uma ferramenta de gestão que encoraja o mundo empresarial a melhorar a performance ambiental e, em simultâneo, a potenciar os benefícios económicos. Incentiva a inovação e, por conseguinte, o crescimento e a competitividade. O termo visionário Eco- eficiência foi desenvolvido em 1991 pelo então Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável, tendo sido progressivamente reconhecido e integrado em variados projetos na área da gestão da sustentabilidade.

O conceito integra o objetivo final de criar valor para as organizações, tornando-as mais competitivas e mais lucrativas. Justifica-se o aumento de competitividade pelo aumento das vendas de produtos/serviços e simultaneamente a diminuição de recursos, de desperdícios e da poluição. Isto é, aumento dos fatores que proporcionam receitas e diminuição dos fatores responsáveis pelas despesas, quer seja pelos recursos adquiridos quer seja por multas e gastos em tratamento dos resíduos (WBCSD, 2000).

A definição da eco-eficiência desenvolvida pela WBCSD (2000, p. 9) é “A eco-eficiência atinge- se através da oferta de bens e serviços a preços competitivos, que, por um lado, satisfaçam as necessidades humanas e contribuam para a qualidade de vida e, por outro, reduzam progressivamente o impacto ecológico e a intensidade de utilização de recursos ao longo do ciclo de vida, até atingirem um nível, que, pelo menos, respeite a capacidade de sustentação estimada para o planeta Terra”. Na prática várias definições elementares são utlizadas, tais como: “Criação de mais valor com menos impacto” ou “fazer mais com menos”, “eficiência económica e ambiental em paralelo, em que o prefixo eco, representa economia e a ecologia”. Importa referir que a eco-eficiência não se resume às operações internas de gestão operacional das organizações, é um instrumento de gestão a toda a cadeia de abastecimento da organização e em todo o ciclo de vida do produto (WBCSD, 2000).

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Todos os departamentos dentro da empresa podem contribuir para aumentar a eco-eficiência: processo de fabrico, compras, investigação e desenvolvimento, qualidade, vendas, marketing, administração. Assim torna-se claro para as organizações que a eco-eficiência se integre na estratégia global do negócio, com importância vital que a gestão de topo adira ao conceito de eco-eficiência.

No desenvolvimento desta ferramenta o WBCSD (2000) recomenda que para a implementação de um sistema de indicadores é necessário ter em consideração todos os passos fundamentais para um sistema de informação, tais como: recolha, gestão, análise e comunicação de dados. Tratando-se de um sistema de informação são necessários os seguintes cuidados na implementação:

o Assegurar a disponibilidade de informação, atendendo às fontes principais de informação do negócio (por ex.: Relatórios de produção; Relatórios de Custos; Relatórios anuais financeiros; Fichas técnicas sobre a segurança dos materiais; relatórios ambientais e de segurança);

o Sensibilidade e erro – o tempo investido na recolha da informação seja proporcional à sua importância;

o Transformação e conversão;

o Agregação – informação agregada e comunicada para a totalidade da empresa. Podendo correr o risco de desvirtuar informação importante, a agregação dever ser efetuada com muito cuidado e com transparência;

o Interpretação e Benchmarking – só se deverão fazer comparações entre empresas que forneçam o mesmo produto/serviço.

Outro ponto de importante consideração é conhecer e compreender as necessidades dos utilizadores. A informação sobre a eco-eficiência pode ser utilizada por um público interno e externo às empresas. Como público interno devem ser atendidos:

o Órgãos de gestão: para melhorar produtos e processos e para estabelecer objetivos de negócio;

o Colaboradores: para decidirem como atuar para melhorar; para conhecer o desempenho da empresa e para quantificar o seu contributo;

o Conselhos de administração: devem incorporar informações de sustentabilidade nas suas decisões estratégicas.

No que se refere ao exterior:

o Investidores, contabilistas, acionistas e analistas financeiros: perceber como o desempenho de sustentabilidade pode influenciar o valor financeiro e a qualidade de investimentos;

o Instituições bancárias: decisões sobre empréstimos;

o Empresas seguradoras: informação de sustentabilidade como meio de identificar os riscos potenciais dos seguros, assim como avaliar as consequências económicas do desempenho da organização;

eco-eficiência nas normas relativas às práticas de gestão;

o Comunidades locais: podem estar interessadas no desempenho das unidades fabris localizadas nas suas áreas de residência;

o Consumidores: o desempenho eco-eficiente como uma parte integrante das decisões sobre as compras;

o Grupos de interesse: como forma de ajudar a documentar o progresso atingido rumo à sustentabilidade.

O objetivo do desenvolvimento da eco-eficiência é a sua utilização por todas as indústrias, com o propósito de encontrar uma abordagem comum facilitadora da medição do desempenho por parte das empresas e, por outro lado, que permitisse às diversas partes interessadas a avaliação do progresso feito.

A utilização do conceito da eco-eficiência deveria ser encorajada através de uma abordagem de medição comum, embora suficientemente flexível para ser abrangente, aceite e usada de forma generalizada e interpretada facilmente por todas as partes interessadas.

Assim, o conceito de eco-eficiência é representado por:

Eco-eficiência = 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑜 𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑜 𝑜𝑢 𝑠𝑒𝑟𝑣𝑖ç𝑜𝐼𝑛𝑓𝑙𝑢ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝐴𝑚𝑏𝑖𝑒𝑛𝑡𝑎𝑙

Através da fórmula apresentada são calculados vários indicadores que estão caracterizados em dois grandes grupos:

o Indicadores Genéricos - um indicador é caracterizado como de aplicação genérica se se verificarem os seguintes critérios: O indicador está relacionado com uma preocupação ambiental global ou com um valor global para o mundo dos negócios; É relevante e significativo para praticamente todos os negócios; Os métodos de medição estão estabelecidos e as definições são globalmente aceites.

o Indicadores específicos - devem ser definidos consoante o negócio a que se referem. Cada empresa deve avaliar o seu próprio negócio e determinar quais os indicadores “específicos” que são aplicáveis e úteis à gestão e às partes interessadas. É recomendada a ISO 14031 – Avaliação do Desempenho Ambiental(IPQ, 2013a) para a seleção de indicadores específicos.

A implementação dos indicadores de sustentabilidade exige uma informação metodológica em todo o processo, isto é: na seleção dos indicadores; nas metodologias de recolha de dados; e no conhecimento e clarificação de quaisquer limitações na utilização dos dados. A abordagem desenvolvida é constituída pelos seguintes elementos:

o Conjunto de indicadores de aplicação genérica;

o Diretrizes para a seleção de indicadores específicos do negócio, relevantes para a organização;

o Orientações para a implementação;

A framework da Eco-eficiência contém três níveis de organização de informação (WBCSD, 2000):

o Categorias: vertentes alargadas de influência ambiental ou valor do negócio;

o Aspetos: Informação genérica relacionada com uma categoria específica. A sua função é descrever o que é medido.

o Indicadores: são medidas específicas de um aspeto individual, um determinado aspeto pode ter diversos indicadores.

Esta abordagem apresenta 3 categorias, com se verifica na tabela:

Tabela 6: Categorias da Eco-eficiência (WBCSD, 2000)

Valor do produto/serviço: Influência ambiental na criação do produto/serviço:

Influência ambiental na utilização do produto/serviço: Volume/massa; Monetário; Função. Consumo de energia; Consumo de materiais; Consumo de recursos naturais; Saídas não relacionadas com o produto; Acontecimentos imprevistos. Caraterísticas do produto/serviço; Resíduos de embalagem; Consumo de energia; Emissões durante a utilização/eliminação

A eco-eficiência é um conceito com campo de intervenção e desenvolvimento em várias áreas, tais como:

o A evolução da eco-eficiência para a eco inovação;

o Aplicação nos mercados financeiros, sendo o fator desempenho ambiental e económico um fator decisivo nas decisões de investimento (publicação do desempenho ambiental e o valor para o acionista);

o Quantificação da eco-eficiência “só o que se mede pode de facto ser feito,” desenvolvimento de um instrumento de medição da eco-eficiência e comunicação dos resultados;

o Introdução do conceito sustentabilidade através do mercado com o objetivo de tornar os mercados eco-eficientes: com a oferta de produtos e serviços com menos intensidade de recursos; fomentando alianças com as partes interessadas; disponibilizando informações complementares aos consumidores; e fomentando o processo de compra responsável.

Os empresários devem adotar uma estratégia de eco-eficiência que impulsione a inovação. A inovação acarreta novos produtos e novas competências, sendo que os produtos novos podem conduzir a uma maior competitividade e, desse modo, a um aumento das quotas de mercado, já as novas competências aumentam o conhecimento e levam à criação de novos serviços. No entanto, ambos conduzem a um aumento da oferta de emprego e ao sucesso empresarial, suportando a prosperidade económica e o bem-estar social. No entanto, o vetor social é integrado na Eco-eficiência apenas de uma forma indireta, pois não são incluídos indicadores específicos para este vetor.