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Após a recolha dos dados, é necessária a análise consistente dos mesmos, que consiste no exame, na categorização, na tabulação, nos testes ou nas evidências recombinadas para chegar às conclusões empíricas. A metodologia desenvolvida que permite este processo de análise é designada por Análise de Conteúdo (Strauss & Corbin, 1990).

A Análise de Conteúdo dos dados recolhidos foi desenvolvida através da codificação dos dados, que se traduz num conjunto de “operações pelas quais os dados são divididos, conceptualizados, e reagrupados de forma diferente. É o processo nuclear de construção das teorias a partir dos dados” (Strauss & Corbin, 1990, p. 57).

Conforme descrito pelo autor Flick (2005, p. 183) um dos traços essenciais da análise de conteúdo é “a utilização de categorias, derivadas frequentemente de fundamentos teóricos: as categorias são aplicadas ao material empírico, não são necessariamente extraídas dele, embora sejam repetidamente confrontadas com ele e, se necessário, modificadas”.

Robert e Bouillaguet (citado em Amado et al., 2014, p. 304) apresentam a seguinte definição para este técnica “A análise de conteúdo define-se como uma técnica que possibilita o exame

metódico, sistemático, objetivo e, em determinadas ocasiões, quantitativo, do conteúdo de certos textos, com vista a classificar e a interpretar os seus elementos constitutivos e que não são totalmente acessíveis à leitura imediata”.

Segundo Bogdan e Biklen (2013), a análise envolve o trabalho com os dados, a sua organização, divisão em unidades manipuláveis, síntese, procura de padrões, descoberta de aspetos importantes do que deve ser apreendido e a decisão do que vai ser transmitido aos outros. A análise da evidência do Estudo de Caso é um dos aspetos mais desafiantes neste processo. Os investigadores procuram fórmulas, receitas, ferramentas que ajudem nesta análise de forma a chegar ao resultado analítico eficazmente. Estas ferramentas só se tornarão úteis se estiver bem definida uma estratégia analítica geral que defina claramente o que se está à procura. O autor Yin (2010) descreve quatro estratégias gerais a seguir:

o Baseado nas proposições teóricas: a primeira estratégia é seguir as proposições teóricas que levaram ao desenvolvimento do estudo de caso, que por sua vez refletiam um conjunto de questões de pesquisa, revisões de literatura e novas hipóteses ou proposições.

o Desenvolvimento da descrição do caso: não deve ser preferida à primeira estratégia descrita acima, no entanto pode ser desenvolvida uma estratégia com a estruturação de uma teoria para a organização do estudo de caso.

o Uso de dados qualitativos e quantitativos: determinados estudos de caso podem incluir dados quantitativos que poderão ser submetidos a análises estatísticas ao mesmo tempo que os dados qualitativos permanecem centrais em todo o estudo.

o Pensar sobre explicações rivais: nesta estratégia são utilizadas as três anteriores. Neste caso, os investigadores seguem uma estratégia em que usam as teorias rivais para impulsionar toda a análise do estudo de caso.

De acordo com a estratégia geral, várias técnicas analíticas são relevantes. Yin (2010) identifica cinco que podem ser eficazes para a fundamentação dos estudos de alta qualidade:

o Combinação Padrão: compara um padrão empírico com um padrão previsto;

o Construção da explanação: o objetivo é analisar os dados do estudo de caso construindo uma explanação sobre o caso;

o Análise de séries temporais: conduzir uma análise de séries temporais (simples, complexas, cronologias);

o Modelos lógicos: encadeamento complexo de eventos durante um longo período de tempo. Consiste em combinar eventos empiricamente observados com eventos teoricamente previstos.

o Síntese cruzada dos casos: aplica-se apenas a estudos de caso múltiplos.

Uma vez que foi construída uma base de dados no software de análise qualitativa WebQDA50 aquando da recolha dos mesmos, o processo de análise dos dados também se alicerçou no mesmo software.

50

Cada empresa foi analisada individualmente com o objetivo de ir complementando o conjunto de informação capaz de responder às questões de investigação. Assim, foi criada a seguinte estrutura de categorias no referido software:

Figura 31: Estrutura Geral de Dados no WebQDA (Fonte Própria)

Integração da Sustentabilidade Reconhecimento Liderança Estrutura organizacional Cultura Estratégia Ferramentas Processo de Implementação Estapas de implementação Envolvimento Execução Monitorização Comunicação Ferramentas Sustentabilidade na GCA Estratégia da GCA Intervenientes na CA Ações na Cadeia de Valor Upstream Operações internas Downstream Ações desenvolvidas "Triple Bottom Line"

Económico

Social

Segundo o autor Flick (2005) foi seguido um processo de codificação teórica, uma vez que o objetivo é contribuir para o desenvolvimento da teoria nos processos de implementação da sustentabilidade na gestão da cadeia de abastecimento. As categorias derivaram dos pressupostos teóricos que foram sendo aplicados ao material empírico.

Assim foram criadas três categorias no primeiro nível. A categoria “Integração da Sustentabilidade” visa identificar e interpretar um conjunto de evidências que permitam descrever como a Sustentabilidade deve ser integrada nas organizações, bem como o conjunto de ferramentas que poderão ser implementadas neste processo. Portanto, permite identificar todo o trabalho de preparação que contribuirá para a construção das condições necessárias à implementação da sustentabilidade. Na codificação “Processo de implementação” procura-se perceber o processo percorrido pelas organizações na integração da sustentabilidade nos seus modelos de gestão, complementando com a identificação de um conjunto de ferramentas mais adequadas a cada etapa. A categoria designada como “Sustentabilidade na Gestão da Cadeia de Abastecimento (GCA)” foi criada para recolher e organizar um conjunto de dados que permita perceber como a Sustentabilidade é disseminada à Gestão da Cadeia de Abastecimento e em que atividades é integrada.

Estas categorias derivam das dimensões e proposições teóricas identificadas no capítulo 4.

Finalmente o último desafio, a elaboração do relatório do estudo de caso. Embora aqui tenha sido referido com finalmente, recomenda-se que o relatório comece a ser redigido mesmo antes da recolha e análise de dados tenham sido completas. Deve ir sendo redigida a parte da bibliografia e da secção da metodologia. O autor Yin (2010) destaca alguns tópicos a ter em atenção na fase da elaboração dos relatórios:

o Conhecer o público-alvo dos relatórios do estudo de caso;

o Incluir outros métodos que servirão de análise no estudo de caso (por exemplo análises quantitativas, análise de indicadores);

o Ter em conta a estrutura do relatório: estruturas analíticas lineares, estruturas comparativas, estruturas cronológicas, estruturas de construção da teoria, estruturas de suspense; estruturas não sequenciais;

o Definir procedimentos para a análise de dados (uso de software, por exemplo).

O relatório deve ser completo, considerar as perspetivas alternativas e apresentar evidências suficientes. Esta fase deve refletir a realidade estudada, que através de um processo descritivo leve a algum grau indispensável de teorização capaz de revelar o contributo do trabalho analítico e interpretativo da investigação realizada (Amado & Vieira, 2014).

Os relatórios podem ter um caráter reflexivo, onde se verifica um registo mais literário com uma notável presença do investigador. Nos relatórios analíticos é abundante um tipo de escrita objetiva e interpretativa, com forte enfoque nos participantes no caso (Amado & Vieira, 2014).

Nesta fase recai especial atenção para as questões éticas e o cumprimento de todos os acordos inicialmente estabelecidos com os participantes (por ex. anonimato, confidencialidade, integridade).

A estratégia de apresentação dos dados segue a estrutura de responder às questões de investigação e respetivas proposições teóricas, indo cruzando a informação das várias organizações cujos dados foram analisados.