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Os países mais avançados em gestão de resíduos já saíram da primeira fase de simplesmente evitar o aterramento e agora se dedicam a aumentar a fração da destinação dos níveis mais altos da hierarquia de resíduos. Por isso, buscam aumentar o reuso e a reciclagem, criando uma circularidade da matéria, alterando o paradigma produtivo, portanto concebendo um novo conceito econômico: a economia circular.

A economia tradicional foca no aumento da produção e do consumo e desconsidera os recursos usados e a destinação final dos materiais residuais dos processos de produção e consumo. A partir desse paradigma, empresas e países estabelecem suas estratégias para otimizar a sua produção e fomentar o consumo dos seus produtos. Tal modelo funciona em um mundo sem restrições de espaço e recursos e enquanto o impacto humano no meio ambiente era irrelevante.

Entretanto, desde a década de 1970, economistas e gestores foram percebendo que essa não era mais uma realidade. Autores como Walter Stahel, David W. Pearce e R. Kerry Turner iniciaram a apresentar os problemas da economia tradicional que não prevê o fim dos recursos naturais. O relatório da Fundação Ellen MacArthur “Em Direção à Economia Circular” define o paradigma econômico tradicional como economia ‘pega-faz-joga’, que está levando à escassez, portanto à volatilidade e à subida dos preços (ELLEN MACARTHUR FOUNDATION, 2013).

Para lidar com isso, foi criado o conceito de Economia Circular, onde o valor dos produtos, materiais e recursos é mantido na economia por tanto tempo quanto possível, com isso a geração de resíduos é minimizada. Esse conceito entende que a gestão de resíduos segue a hierarquia de resíduos, cujo primeiro propósito é estabelecer uma ordem de prioridade que minimize efeitos ambientais adversos e otimize a eficiência de recursos.

A produção e o consumo no qual esse conceito é baseado possui duas “voltas”, uma para materiais “biológicos” (que podem ser decompostos por organismos vivos) e outra para materiais técnicos (que não podem ser decompostos por organismos vivos). Em ambos os casos, o objetivo é reduzir ao máximo o desperdício de recursos (EP, 2016).

Em dezembro de 2015, a Comissão Europeia, focada nos objetivos de desenvolvimento sustentável, estabeleceu um Pacote de Economia Circular, o “Fechando o Ciclo – Um plano de ação da União Europeia para a Economia Circular”, que inclui propostas legislativas revisadas sobre resíduos para impulsionar o caminho da Europa rumo à economia circular que, por sua vez, pretende impulsionar a competitividade global, incrementar o crescimento econômico e gerar novos empregos.

Esse pacote estabelece um concreto e ambicioso programa de ação, com medidas cobrindo todo o ciclo: da produção e consumo à gestão de resíduos e ao mercado de materiais secundários, contribuindo para “fechar a volta” do ciclo de vida dos produtos por meio de maior reciclagem e reuso e trazendo benefícios tanto para o meio ambiente quanto para a economia (ÖSTLUND, 2017).

O resumo das características básicas do Pacote de Economia Circular, lançado pelo Parlamento Europeu (EP, 2016), estabelece que “o movimento em direção à economia circular poderia oferecer oportunidades como a redução de pressão sobre o meio ambiente, aumento da segurança no abastecimento de matérias-primas, aumentar a competitividade, inovação, crescimento e empregos”. Mas ressalta que “a mudança também coloca mudanças como o financiamento, viabilizadores-chaves do financiamento, talentos, comportamento dos consumidores e modelos de negócios, e governança em todas as instâncias”.

O Pacote de Economia Circular inclui um Plano de Ação e uma lista de medidas. Entre essas medidas, a emenda das Diretivas sobre Resíduos Waste (2008/98), Resíduos de Embalagem (94/62), Aterros (1999/31), e Resíduos Elétricos e Eletrônicos (2012/19), mas também desenvolveu padrões de qualidade para matérias-primas secundárias, estabeleceu um plano de trabalho de Ecodesign, revisou a regulação em fertilizantes e criou uma estratégia sobre plásticos na economia circular.

A iniciativa deu um sinal econômico para operadores de que a União Europeia pretende transformar a economia, abrindo caminho para novas oportunidades de negócios e impulsionando a competitividade. A estratégia é apoiar modos inovadores e mais eficientes de produzir e consumir e, sendo assim, criando empregos enquanto preserva recursos valiosos e cada vez mais escassos (EUROPEAN COMMISSION, 2015). As metas estabelecidas pelo pacote são:

a) uma meta comum da União Europeia de reciclar 65% de resíduos sólidos urbanos até 2030;

b) uma meta comum da União Europeia para reciclar 75% de resíduos de embalagens até 2030;

c) uma meta obrigatória de reduzir aterramento de no máximo 10% dos resíduos municipais em 2030;

d) proibição de aterramento de resíduos alimentares coletados separadamente. Para alcançar essas metas, o pacote também determina:

- sistema de monitoramento imediato para cumprimento das metas;

- requerimentos mínimos para esquemas de responsabilidade dos produtores estendida; - medidas promovendo reuso e prevenção (incluindo de restos alimentares);

- racionalizar as disposições relativas aos subprodutos e ao estado final de resíduos;

e) definições, métodos de cálculo para metas, obrigações sobre relatórios e disposições sobre atos delegados e implementados (EP, 2016).

As medidas devem ser divididas em: legislativas, comunicados e relatórios; implementação e obrigatoriedade; guias e melhores práticas; indicadores; padrões; apoio; instrumentos financeiros (EP, 2016). Entre os exemplos, podem ser mencionados os incentivos econômicos para desencorajar o aterramento e promover o reuso, estimular a simbiose industrial, fomentar produtos verdes no mercado, apoiar esquemas de recuperação e reciclagem, assim como estabelecer definições simplificadas e melhoradas, métodos de cálculos harmonizados para taxa de reciclagem (EROPEAN COMMISSION, 2015)

Portanto, o continente está a caminho de um futuro mais sustentável, com modelos de gestão de resíduos, materiais e energia progressivamente melhorados. Até agora, a Suécia é um dos principais modelos a serem seguidos, pois tem 34,6 % de reciclagem; 16,2% de reciclagem biológica (digestão anaeróbica) e somente 0,7% de aterros. O desempenho médio dos 27 países é bem pior, com aproximadamente 25% aterrado, 27% reciclado e 25% incinerado, o resto é compostado ou tem outra destinação (EUROSTAT, 2017)

De todo modo, alguns atores chaves suecos estão desconfortáveis devido ao fato de que metade dos resíduos tem a sua energia recuperada basicamente por incineração. Consequentemente, há uma grande discussão no país sobre a necessidade de expansão das plantas de incineração, ou se a recuperação energética dos resíduos deve se expandir somente por meio do tratamento biológico. Alguns, por outro lado, defendem as usinas como forma de

obtenção de recursos, uma vez que há vários países que precisam evitar aterramento e a Suécia tem grande experiência e capacidade no setor.