• Nenhum resultado encontrado

De acordo com Williams (2011), a Suécia é bem conhecida por sua capacidade de recuperar energia dos resíduos por meio da incineração não apenas por sua grande fração de resíduos tratados pela tecnologia, mas porque, ao contrário dos EUA que estagnou o crescimento no promissor período de 1970-1980, o país continuou adicionando capacidade de tratamento térmico com recuperação energética.

A Suécia iniciou a recuperação energética de resíduos via incineração ainda no início do século XX, em 1904, mas o período de maior crescimento ocorreu logo depois da Segunda Grande Guerra, mais propriamente durante a crise do petróleo, na década de 1970, quando o país também desenvolveu as suas redes de District Heating para as cidades, com o objetivo de reduzir o consumo de petróleo e a poluição. No início, usava-se carvão para aquecer as cidades, mas quando a consciência climática se disseminou, o carvão foi substituído por biomassa e resíduos sólidos urbanos (WILLIAMS, 2011).

Adicionalmente, as leis que restringiram o aterramento de resíduos sólidos urbanos (em 2002, restringiu-se o aterramento de resíduos combustíveis; em 2005, o aterramento de combustíveis orgânicos), fizeram com que os municípios tivessem de achar um caminho para tratar os seus resíduos, e a incineração com recuperação energética foi a principal opção para aproveitar a grande estrutura de District Heating (ANDERSSON, 2015).

O crescimento recente do setor contempla tanto o crescimento da capacidade de tratamento quanto a geração de energia, conforme a Figura 14, na qual também pode-se verificar que, enquanto a capacidade de tratamento de resíduos aumentou três vezes no período de 1980-2007, a geração de energia cresceu cinco vezes e as emissões de dioxinas caíram 99% (AVFALLS VERIGE, 2009):

Figura 14 – Desempenho das plantas de recuperação energética suecas Fonte: Avfall Sverige (2008).

Apesar de nem todos os poluentes caírem tanto quanto as dioxinas, todos diminuíram consideravelmente suas emissões, como se pode ver na Tabela 10, observando também que a redução de chumbo foi de impressionantes 99,80%, e a menor de óxidos de nitrogênio de 38,20%.

Tabela 10 – Redução de poluentes de plantas de Waste-to-Energy de 1985 a 2007 1985 2007 Evolução Particulados(ton./ano) 420 24 - 94,3% HCl (ton./ano) 8.400 60 -99,30% SOx (ton./ano) 3.400 196 -94,20% NOx (ton./ano) 3.400 2.101 -38,20% Hg (kg/ ano) 3.300 36 -98,90% Cd (kg/ ano) 400 6 -98,50% Pb (kg/ ano) 25.000 51 -99,80% Energy Output (MWh) 2.800.000 12.151.270 334,00% Resíduo Processado (ton.) 1.432.100 4.470.690 212,20%

Fonte: Avfall Sverige (2009).

Em números gerais, Fredén (2018) resume que, em 2016, aproximadamente 2,3 milhões (cerca da metade) de toneladas de resíduos se transformaram em energia. No ano anterior, o país prestou serviço (trazendo para o país resíduos, mas também recebendo por eles) outros 2,3 milhões de toneladas de países como Noruega, Reino Unido e Irlanda. E, desde 1985, as emissões de metais pesados das plantas reduziram 99 %, mesmo que a incineração tenha aumentado três vezes desde aquele ano. Williams (2011) analisa os fatores-chave do sucesso do caso sueco, entre eles:

a) altos preços dos aterramentos: em 2005, enquanto na Suécia as tarifas de aterro (gate fees) variavam entre €135,00 to $175,00/toneladas, países como os EUA cobravam US$ 44,00;

b) políticas de apoio à recuperação energética de resíduos: entre elas, os impostos de carbono, impostos de aterramento, reconhecimento de Waste-to-Energy como uma fonte renovável, quota de renováveis, escala de preferência a partir da hierarquia de resíduos, subsídios e isenção de impostos;

c) grande infraestrutura de District Heating: para aproveitar o calor gerado pelas plantas de cogeração;

d) falta de fontes de energias baratas no país: ao longo da história, a Suécia vem buscando uma fonte energética confiável e barata;

e) altos preços de eletricidade: na Suécia, os preços (em 2010) eram cerca de €0,20/kWh (incluindo €0,04 taxes) contra aproximadamente US$ 0,10/kWh nos EUA;

f) alta produção de resíduos: de modo similar ao resto do mundo, a Suécia tem uma produção crescente de resíduos. Embora o país venha reciclando quase metade dos seus resíduos, a quantidade produzida de resíduos aumentou cerca de três vezes desde os anos 1960, principalmente em função do crescimento econômico;

g) apoio público: não obstante a maioria dos suecos prefira a reciclagem, normalmente apoiam a recuperação de energia dos resíduos, principalmente em função da questão climática (87% dos cidadãos suecos apoiam iniciativas mitigadoras das mudanças climáticas) e redução da poluição (que, neste caso, reduziram mais de 90% desde os anos 1980);

h) altas taxas de reciclagem: comunidades com altas taxas de reciclagem tendem a ter maior recuperação energética de resíduos: quanto mais separados os resíduos, melhor o desempenho da planta, já que vidros e metais são prejudiciais à queima;

i) recursos naturais e territoriais limitados: a terra disponível é crucial para tomadas de decisão referente aos resíduos – a terra na Suécia é relativamente cara.

Por outro lado, a Associação de Gerenciamento de Resíduos da Suécia – Avfall Sverige (2008) ressalta a importância das prefeituras e das autoridades locais. Essas instituições, junto com empresas privadas, não apenas criaram condições e garantiram um ambiente adequado para permitir que investidores e tomadores de risco pudessem investir, mas também as próprias prefeituras investiram diretamente na infraestrutura. Novas plantas demandam investimentos consideráveis e a recuperação desses investimentos requer uma fonte de receitas de baixo risco. Nesse sentido, o sistema de District Heating é essencial.

Além da ação dos municípios, a Associação aponta as medidas regulatórias e uma série de sistemas de controle – financeiro e de informação – como essenciais na redução de aterramento. Entre as medidas a Associação destaca: o Código Ambiental, em vigor desde 1999; a Nova Diretiva Europeia, em vigor também em 1999; os impostos sobre aterramento (250 SEK por toneladas), implantados no ano 2000; a diretiva sobre aterramento, de 2001; a proibição de aterramento de resíduos combustíveis separados, introduzida em 2002; o aumento do imposto sobre aterramento (370 SEK por toneladas em 2003); a proibição de aterramento de matéria orgânica a partir de 2005; aumento da taxa de aterramento para 435 SEK por toneladas em 2006; o quadro diretivo de 2008.

Ainda de acordo com a Avfvall Sverige (2009), os resíduos urbanos que abastecem as plantas de incineração variam de acordo com o contrato entre a empresa e a prefeitura. Os resíduos, entretanto, precisam ser pré-separados, de modo garantir a manutenção de suas propriedades combustíveis. Limites com relação a materiais impróprios para a incineração de resíduos perigosos, baterias, lâmpadas, entre outros são exigidos, por exemplo. Metais também devem ser separados não apenas em função de seu alto valor na cadeia de reciclagem, mas porque prejudicam o processo de incineração, desgastando os equipamentos e causando falhas e interrupções.

Além disso, uma boa separação pode ser importante para a redução das emissões das plantas de recuperação energética de resíduos, já que atualmente um terço dos resíduos queimados são de origem fóssil. A separação de plástico para reuso ou reciclagem é, portanto, uma forma de redução das emissões de CO2; outra forma, é a produção de plásticos a partir de fontes renováveis. Atualmente, cerca de 3% das emissões suecas de gases efeito estufa vem das plantas de recuperação energética (RENOVA, 2017),

Em 2015, já havia 34 plantas de incineração no país, todas recuperavam energia (não existe incineração sem recuperação energética). Quase todas são plantas de cogeração que produzem tanto calor quanto eletricidade. A produção elétrica é menor do que nas plantas de cogeração que usam madeira, mas os resíduos precisam ser tratados todo o ano. Portanto, as plantas operam por muitas horas e são tipicamente usadas na base. Durante o verão, essa energia é usada para a geração de calor na produção de água quente e resfriamento, usando sistemas de refrigeração por absorção. Muitas plantas são localizadas em grandes cidades para possibilitar a produção de energia durante todo o ano (ANDERSSON, 2015).

Muito embora as medições gravimétricas indiquem que cerca de 58% dos resíduos suecos são de origem renovável (biogênica), de acordo com as regras europeias, apenas metade da energia gerada por resíduos podem ser consideradas de origem renovável, já que os resíduos possuem materiais de origem fóssil, como plástico, e borracha e fibras sintéticas, tintas, químicos etc. (ANDERSSON, 2015).