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EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A POLÍCIA MILITAR AMBIENTAL

CURSO DE POLICIAMENTO AMBIENTAL

3.3. EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A POLÍCIA MILITAR AMBIENTAL

O marco mundial para a Educação Ambiental é a I Conferencia Internacional sobre Meio Ambiente, realizada em Estocolmo em 1972, na Suécia. Seus objetivos principais foram no sentido de abrirem espaços para a discussão de políticas públicas em geral relacionadas com o meio ambiente onde as ações de Estado deveriam se mostrar cada vez mais presentes.

A partir da primeira Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, em Tbilisi, na Geórgia – antiga URSS –, em 1977, foram estabelecidos os princípios orientadores da educação ambiental, e também foi enfatizado seu caráter interdisciplinar, crítico, ético e transformador. A educação ambiental surge com proposta de mudanças de atitudes por parte dos indivíduos com o objetivo de conscientizar e, por fim, ampliar sua percepção em relação ao seu meio.

Outro marco temporal foi a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro em 1992. Nessa deu-se também a consolidação das propostas apresentadas tanto em Estocolmo 20 (vinte) anos antes, bem como em Tbilisi além de outros vários documentos importantes e norteadores para a educação ambiental e que oportunizaram a atuação conjunta de outros setores como ONGs e sociedade civil organizada. Um dos documentos foi o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, elaborado pelo grupo de trabalho das Organizações Não Governamentais (ONGs), durante à Conferência da Sociedade Civil sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, simultaneamente a Rio 92. Sendo assim observa-se em um de seus princípios que

a educação ambiental deve ter como base o pensamento crítico e inovador, em qualquer tempo ou lugar, em seus modos formal, não-formal e informal, promovendo a transformação e a

construção da sociedade (WWF, 2000, p.22)

No mesmo sentido, complementa ainda com outro princípio que

educação ambiental deve ajudar a desenvolver uma consciência ética sobre todas as formas de vida com as quais

compartilhamos este planeta, respeitar seus ciclos vitais e impor limites à exploração dessas formas de vida pelos seres humanos

(WWF, 2000, p. 24).

No Brasil, a Carta Política de 1988 elevou tanto a atividade de educação ambiental, como a de informação ambiental, a um princípio constitucional, em seu artigo 225, parágrafo 1o, inciso VI, onde: “VI – promover a educação ambiental em todos os

níveis de ensino e a conscientização pública para preservação do meio ambiente”. Com

esse advento, pode-se dizer, juridicamente, que o Estado Democrático deve oferecer um maior suporte aos órgãos, entidades, às sociedades civis organizadas ou não, dispostas a auxiliar na promoção de toda e qualquer atividade de educação ambiental precípua na defesa do meio ambiente.

Para os limites do presente estudo, pode-se entender que a educação ambiental

é parte do movimento ecológico [...] é herdeira direta do debate ecológico e está entre as alternativas que visam a construir novas maneiras de os grupos sociais se relacionarem com o

meio ambiente[...]. (CARVALHO, 2004, p. 51-52).

Para melhor compreensão no que se refere à prática de uma EA de acordo com o compromisso dos dias atuais onde a mudança de valores e atitudes são relevantes para a obtenção de resultados mais consistentes, observamos que

A EA acrescenta uma especificidade: compreender as relações existentes entre sociedade e natureza e intervir nos problemas e conflitos ambientais. Nesse sentido, o projeto político- pedagógico de uma EA crítica poderia ser sistematizado na intenção de contribuir para uma mudança de valores e atitudes, formando um sujeito ecológico capaz de identificar e problematizar as questões socioambientais e agir sobre eles. (CARVALHO, 2004, p. 156).

Nesse mesmo sentido, verifica-se um princípio ecológico no mais original sentido da palavra,

porque se acredita que aprender algo é integrar sentimentos e saberes orientados ao ‘cuidado da casa’, a começar pelo lar interior de cada um de nós, até todos os espaços – tempos da vida que compartimos na por agora única morada comum

disponível à vida e à espécie humana. (BRANDÃO, 2003, p.

Ao que se pode observar o homem é formado por todos os fatores que o cercam, que o conduzem a uma formação em seu meio. Esse meio pode ser observado em relação ao seu cotidiano, cultural, religioso, econômico, social o ambiente é o homem e seu lugar

e o seu lugar. Mais do que isso, é o homem no seu lugar, no seu entorno e a integração sistêmica que se dá entre o homem e o restante interativo, com as suas devidas funções orgânicas de auto-regulação (OLIVEIRA, 1999, p. 40-41).

Reconhecer o outro, reconhecer o meio natural como parte integrante de si mesmo pode causar estranheza e gerar mecanismos de exclusão. Os pontos de vista, de acordo com cada formação cultural, social e até mesmo familiar, afasta ainda mais as diferentes culturas e diferentes observações em relação ao meio, e assim devemos compreender a

educação ambiental como permeadora de uma educação transformadora e construtora de novas posturas, hábitos e condutas (PEDRINI, 1997, p. 72 ).

Ao observar que a educação ambiental entendida como prática esclarecedora e includente em todos os níveis sociais e ainda, equânime no que se refere aos sistemas vivos existentes e em convívio harmônico em nosso Planeta, percebe-se também que essa EA deve fazer parte de toda uma gama de conhecimentos a serem somados para dirimir problemas e resultar em ações favoráveis às questões ambientais como um todo. Para tanto, verifica-se que

A educação ambiental deve lidar com todos os aspectos da vida do cidadão, como um sujeito em construção, no vir-a-ser consciente de seu tempo e das exigências de seu espaço: A educação ambiental deve proporcionar ao homem a oportunidade de conhecer-se como cidadão; estimular, propiciando ao outro, a mesma condição; reconhecer no mundo o mundo de todos: caracterizar o tempo e o espaço de todos como sendo os mesmos; admitir que as gerações futuras devam ter a qualidade de vida que merecem. Para isso, é necessário que se julguem os homens iguais, em tempo e lugar, com as mesmas necessidades essenciais e referências que permitam, na consciência e responsabilidade das alternativas das posturas, as relações ambientais que indiquem a atuação de um sujeito realmente ético, no meio em que se vive. (OLIVEIRA, 1999, p. 62)

A Educação Ambiental deve ser promovida pelos diversos setores públicos e privados e ainda, atuar em parceria uns com os outros o que os torna, além de legais, legítimos e deve realmente colocar em prática conhecimentos internalizados de um sujeito ecológico fundada na formação e no esclarecimento humano para as questões de relacionamento com seu meio, onde

os processos de formação de uma consciência ecológica passam [...] pela história do movimento ecológico e da própria Educação Ambiental. A tomada de consciência do problema ambiental tem que ver também com a crescente visibilidade e legitimidade dos movimentos ecologistas que vão ganhando força e conquistando adeptos para um núcleo de crenças e valores que apontam para um jeito ecológico de ser, um novo estilo de vida, com modos próprios de pensar o mundo e, principalmente, de pensar a si mesmo e as relações com os outros neste mundo [...] esse modo ideal de ser e viver orientado pelos princípios do ideário ecológico é o que chamamos de sujeito ecológico(CARVALHO, 2004, p. 65).

Observando ainda as características de comportamento, verifica-se que resultados ecologicamente corretos podem ser provenientes de uma reflexão ética além de mais ampla e de uma perspectiva crítica no que se refere às questões ambientais sistêmicas e gerais, onde

A formação de uma atitude ecológica pode ser considerada um dos objetivos mais perseguidos e reafirmados pela EA crítica. Essa atitude poderia ser definida, em seu sentido mais amplo, como a adoção de um sistema de crenças, valores e sensibilidades éticas e estéticas orientado segundo os ideais de

vida de um sujeito ecológico. (CARVALHO, 2004, p. 177)

O modo individual de ser deve se sobrepor aos modos de viver de toda uma coletividade que está progressivamente se inserindo e sendo impulsionada pelos parâmetros de produção de massa e acúmulo de riquezas. A EA deve sensibilizar e esclarecer esse ideal transformador de valores difusos com resultados coletivos e não mais individuais, não mais egoístas, pois

a questão ambiental é, talvez, uma das esferas da vida social que hoje mais reúne esperanças e apostas na possibilidade de mudanças tanto em termos coletivos – sociais e até planetários – quanto em termos de estilo de vida e de transformações na vida pessoal [...] a existência de um sujeito ecológico põe em evidência não apenas um modo individual de ser, mas

sobretudo, a possibilidade de um mundo transformado, compatível com esse ideal. Fomenta esperanças de viver melhor, de felicidade, de justiça e bem-estar. Assim, além de servir de fonte de identificação para os ativistas e ecologistas, mobiliza sensibilidades que podem ser experienciadas por muitos segmentos de nossa sociedade. Os educadores que passam a cultivar as idéias e sensibilidades ecológicas em sua prática educativa estão sendo portadores dos ideais do sujeito ecológico [...] Contribuir para a construção de uma atitude ecológica caracteriza a principal aspiração da EA. [...] a EA está efetivamente oferecendo um ambiente de aprendizagem social e individual no sentido mais profundo da experiência de aprender.

(CARVALHO, 2004, p. 69).

Ao que parece, a construção de um sujeito capaz de observar, decifrar e analisar o que ocorre à sua volta e ainda, ser capaz de discernir acerca dos resultados que poderão vir a refletir as condutas e posturas de um verdadeiro cidadão ambiental é um dos focos da formação de uma EA crítica. Falhas desse discernimento deverão ser apresentadas e sanadas por projeto político-pedagógico proporcionados por uma EA crítica, sendo

O projeto político-pedagógico de uma EA crítica poderia ser descrita como a formação de um sujeito capaz de “ler” seu ambiente e interpretar as relações, os conflitos e os problemas aí presentes. Diagnostico crítico das questões ambientais e autocompreensão do lugar ocupado pelo sujeito nessas relações são o ponto de partida para o exercício de uma cidadania ambiental. (CARVALHO, 2004, p. 75).

A EA torna a visão mais ampla e mais apurada das questões que nos envolve, que envolve toda uma sociedade e faz compreender que ela deve atuar na condição de parceira para a busca de soluções e construção de novos saberes, onde

A EA fomenta sensibilidades afetivas e capacidades cognitivas para uma leitura do mundo do ponto de vista ambiental. Dessa forma, estabelece-se como mediação para múltiplas compreensões da experiência do indivíduo e dos coletivos

sociais em suas relações com o ambiente. (CARVALHO,

2004, p. 79).

A educação, a formação humana decorre de todo um processo histórico e evolutivo onde o acumulo de experiências e fatos marcantes nos envolve e nos direciona para a promoção de ações e posturas com outros tempos, outras crenças, culturas o que proporciona uma melhor reflexão do mundo, uma visão aprofundada e mais ampla das

questões que estão à nossa volta e contidas em nosso mundo. Aqui surge o educador que é um promotor do conhecimento, pois

O educador é por “natureza” um intérprete, não apenas porque todos os humanos o são, mas também por ofício, uma vez que educar é ser mediador, tradutor de mundos. Ele está sempre envolvido na tarefa reflexiva que implica provocar outras leituras da vida, novas compreensões e versões possíveis sobre o

mundo e sobre nossa ação de mundo. (CARVALHO, 2004, p.

77).

Poderíamos nos perguntar acerca de qual EA estaríamos a procura, de qual EA estaríamos buscando para solucionar problemas ambientais de ordem geral e somente após tal questionamento respondido é que teríamos uma direção a seguir, mas enquanto isso não ocorre podemos direcionar nossos pensamentos onde a EA crítica seria,

portanto, aquela capaz de transitar entre os múltiplos saberes: científicos, populares e tradicionais, alargando nossa visão do ambiente e captando os múltiplos sentidos que os grupos sociais atribuem a ele. (CARVALHO, 2004, p. 125).

Também poderíamos apontar as rupturas, as dificuldades e as arestas a serem aparadas para a construção desse sujeito ecológico o que poderia amparar posturas e ações mais precisas, mas isso talvez não seja o mais adequado já que a criação de espaços, a liberdade de se avaliar caso a caso, e a constante evolução desse sujeito, são fatores fundamentais para a sua construção. Podendo-se assim, dizer que

A EA tem uma proposta ética de longo alcance que pretende reposicionar o ser humano no mundo, convocando-o a reconhecer a alteridade da natureza e a integridade e o direito à existência não utilitária do ambiente. Essa proposta ética tem repercussões, quando se trata de eleger os princípios pedagógicos da EA. (CARVALHO, 2004, p. 151).

No mesmo sentido,

Ao constituir-se como prática educativa, a EA posiciona-se na confluência do campo ambiental e as tradições educativas, as quais vão influir na formação de diferentes orientações pedagógicas no âmbito da EA ou, dito de outro modo, produzir diferentes educações ambientais. Contudo, é importante não esquecer que esse encontro entre o ambiente e o educativo, no caso da EA, se dá como um movimento proveniente do mundo da

vida – ao da puramente biológica, mas da vida refletida, ou seja, do mundo social. (CARVALHO, 2004, p. 151).

As dimensões conflitantes que envolvem nosso mundo social, no que se refere ao conhecimento de vida em sociedade relacionado ao conhecimento com nosso meio natural, estão longe de se tornar uma saída para as questões de equilíbrio que buscamos entre esses diferentes saberes, pois a sociedade em que estamos inseridos hoje é fruto de uma modernidade de acúmulo de material onde as presentes e futuras gerações terão que repensar seus modos de vida. Presenciaremos um choque de culturas e de conhecimentos entre gerações, mas devemos ser os precursores desse momento modificador, onde.

A EA é uma proposta educativa que nasce em um momento histórico de alta complexidade. Faz parte de uma tentativa de responder aos sinais de falência de todo um modo de vida, o qual já não sustenta as promessas de felicidade, afluência, progresso e desenvolvimento. A modernidade ocidental, da qual somos filhos, apostou todas as suas fichas em uma razão científica objetificadora e no otimismo tecnológico correspondente. Do mesmo modo, fez-nos crer que o bom viver residia no imperativo da acumulação material baseada nos circuitos de trabalho, produção e consumo, dos quais parcelas cada vez maiores da população do planeta estão sendo dramaticamente excluídas ou, dito de outra forma, incluídas em

posições de absoluta inferioridade e desigualdade.

(CARVALHO, 2004, p. 154).

Portanto a EA desenvolvida na Polícia Militar Ambiental deve se balizar pelos princípios da construção do sujeito ecológico, onde a mudança de comportamento e a percepção ambientalmente aguçada deve ser percebido em relação ao que ocorre ao seu redor. Tais princípios devem ser construídos com o embasamento no acúmulo de experiências obtidos com o passar do tempo, com sua própria história, ela deve ser crítica e includente no que diz respeito às ações coletivas e protetivas e ainda fazer parte de uma construção coletiva, pois ela existe para um melhor convívio coletivo e uma melhor prestação de serviço à sociedade.

3.4. A POLÍCIA MILITAR AMBIENTAL: UMA INSTITUIÇÃO TOTAL