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na prática escolar

2. Educação de jovens e adultos e a diversidade de gênero e sexo na escola

Hoje, toda gente fala mais livremente de assuntos relacionados a sexo. Entretanto, há ainda rígidos mecanismos de controle, repressão e muita ignorância sobre a questão, mais o assunto é bem mais frequente do que alguns anos atrás.

O segredo do sexo não é, sem dúvida, a realidade fundamental em relação a qual se dispõem todas as incitações a falar de sexo – quer tentem quebra-lo quer o reproduzam de forma obscura, pela própria maneira de falar. Trata-se, ao contrário, de um tema que faz parte da própria mecânica dessas incitações: maneira de dar forma à exigência de falar, fábula indispensável à economia infinitamente proliferante do discurso sobre o sexo. O que é próprio das sociedades modernas não é o terem condenado o sexo a permanecer na obscuridade, mas sim o terem-se devotado a falar dele sempre, valorizando-o como segredo. Foucault, (1977, p. 36)

Observamos que os processos comunicacionais que desvelam a temática da sexualidade na escola e que se refletem nas relações sociais são marcados por mecanismos que controlam a exposição, a análise e a reflexão ao sexo, porque este assunto geralmente vem à tona, como um método de prevenção sexual, como por exemplo, para falar das DST/AIDS, gravidez na adolescência, drogas e contracepção. Assim, conhecer, analisar, refletir, criticar e discutir questões inerentes à diversidade de gênero e sexo no ambiente escolar e especialmente na EJA, ainda é tarefa negligenciada por muitos docentes no processo de aprendizagem escolar. Nessa perspectiva, Louro (2000, p. 31) pontua:

Na escola, pela afirmação ou pelo silenciamento, nos espaços reconhecidos e públicos ou nos cantos escondidos e privados, é exercida uma pedagogia da sexualidade, legitimando determinadas identidades e práticas sexuais, reprimindo e marginalizando outras.

A EJA traz em seu desenvolvimento histórico marcas culturais de preconceito e discriminação que precisam ser retificadas pelo respeito à diversidade dos sujeitos que a constituem como afirma, Oliveira (2011, p. 47):

A educação de jovens e adultos apresenta uma especificidade etária porque tem o olhar para jovens, adultos e idosos das classes populares que não tiveram acesso à escola, na faixa etária da chamada escolarização (dos 07 aos 14 anos) ou

foram “evadidos” ou “expulsos” da escola. Jovens, adultos e idosos “excluídos”

e “marginalizados” pelo sistema econômico-social, vistos como “analfabetos” e muitas vezes considerados “incapazes” de aprender.

Além disso, a EJA, além de ter como públicos-alvo jovens, adultos e idosos que foram impedidos de prosseguir a escolarização na idade adequada, comportam também alunos/as com orientação sexual diferente da heteronormativa/heterossexual, ou seja, homens e mulheres que sentem atração/desejo sexual por pessoas do mesmo sexo ao invés do sexo oposto Louro (2001,p. 31).

As dificuldades para que possamos desenvolver práticas de ensino emancipatórias na EJA são inúmeras estruturais, geográficas, políticas e econômicas e que muitas vezes nos falta à sensibilidade para perceber as peculiaridades que envolvem as histórias de vida dos sujeitos que a constitui. De modo, que ignoramos segundo Comerlato (2004, p. 11):

Os adultos analfabetos tem uma experiência que os ajuda a ver e organizar o mundo – visão eivada ao mesmo tempo de sonhos, fantasias, expectativas, realizações e muitas limitações: dores e frustrações que afetam a sua autoestima e sua inserção na sociedade, onde são excluídos política, social e economicamente, marcados frequentemente por uma história de fracasso escolar.

O que nos faz refletir sobre as questões da sexualidade e suas diferenças no espaço escolar, pois por constituírem-se de alunos/as marcados por processos de descontinuidade escolar e numa perspectiva, muitas vezes, tradicionalista não observaram ou tiveram a possibilidade de analisar e refletir sobre a relevância e contrariedades das diferenças sexuais e de gênero na formação humana e social.

Para Silva (2000), mediante a perspectiva da teoria cultural contemporânea, a construção de identidades ocorre por meio da ideia de movimento, no qual há a ruptura com a fixação da identidade como um processo socialmente imposto de homogeneização cultural, comportamental e estético.

Portanto, falar dos alunos/as e professores/as da EJA e das diversidades de gênero e sexo na escola é um dilema para muitos professores nas escolas públicas brasileiras, uma vez que emerge de conquistas sociais e políticas recentes, que não nos comprometemos e responsabilizamos como devia para efetivá-las, analisá-las e refleti-las como merecem. Mas, que também causa medos e inseguranças, pois advém de um cenário silencioso e repleto de preconceitos e discriminação, seja pelo assunto ou por quem o profere.

É no contexto das formas de representação de si que as identidades sexuais e de gênero são estabelecidas por cada sujeito, como nos indica Louro (2008, p.26):

Suas identidades sexuais se constituiriam, pois, através das formas como vivem sua sexualidade, com parceiros/as do mesmo sexo, do sexo oposto, de ambos os sexos ou sem parceiros/as. Por outro lado os sujeitos também se identificam, social e historicamente, como masculinos ou femininos e assim constroem suas identidades de gênero.

No processo de construção de identidade, cada sujeito estabelece, embora não de forma estável ou fixa, suas relações com o gênero a partir de suas identidades sexuais e de gênero. Esses processos que tomam corpo na construção das identidades de cada sujeito, tendo em vista fatores, como classe social, história de vida, etnia, estética, nacionalidade, subjetividades, dentre outros, estão diretamente ligados às condições de tensões de poder estabelecidas nas relações sociais, fazendo com que atue o caráter de ocultação de identidades, tendo em vista os padrões instituídos a partir de critérios e modelos de normalidade.

3. Objetivos

Este estudo teve como objetivo geral investigar as representações dos docentes da EJA sobre a diversidade de gênero e sexo (alunos/as com orientação ou estereótipos homoafetivos) no processo de aprendizagem escolar.

E como objetivos específicos: verificar os saberes e representações dos docentes e discentes sobre a diversidade de gênero nas turmas da EJA; identificar os processos de aprendizagem utilizados pelos docentes que visam tratar a diversidade de gênero na sala de aula; analisar a relação dos docentes com os discentes que apresentam condutas homoafetivas em sala de aula e; perceber como se desenvolvem as práticas de letramento, a fim de minimizar as atitudes de preconceito e discriminação entre os alunos que apresentam orientação sexual homoafetivas.