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a qualidade da vinculação?

1.1 Enquadramento conceptual

Com efeito, apesar dos inúmeros estudos que comprovam os efeitos nefastos das separações abrutas, assistimos ainda hoje a algo semelhante, como se verificou nas separações que mostraram há pouco tempo a catástrofe humanitária na fronteira Sul dos EUA onde ficaram cativas milhares de crianças separadas das suas mães; ou como assistimos recentemente à crise na América Latina, onde se prevê que 1,1 milhão de crianças da Venezuela necessitará, segundo relatórios da Unicef, de assistência premente.

As crianças e jovens serão sempre alvos frágeis face aos conflitos sociais e políticos; sendo que as repercussões no seu comportamento são semelhantes, pelo que vamos revendo em estudos atuais (Emerich, Carreiro, Justo, et al., 2017; Hasan, 2016; Zequinão; et al., 2017), que apresentam o eclodir dos mesmos tipos de problemas de comportamento manifestando-se quer por exteriorizações ou internalizações, por vezes camufladas (Ghosh, 2018).

Outras variáveis, como a família, e alguns ambientes escolares, determinam também o eclodir de comportamentos nefastos nos adolescentes entre os 11 e 16 anos. E, caraterísticas como o

nível de empatia nos adolescentes, atitudes perante autoridades institucionais, ou a perceção da reputação social entre os jovens, mostram-se relevantes nos comportamentos nestas idades, como indica o estudo de Lopes e colaboradores (2008). De notar ainda que o papel destas variáveis podem influenciar padrões comportamentais negativos, como a agressão no meio escolar (López, Pérez, Ochoa, & Ruiz, 2008).

O trabalho de McGee, Alexander, Cunningham, Hamilton e James (2019), analisando a revisão da literatura sobre exposição à violência, por parte de jovens, em comunidades escolares, mostra como essa realidade se constitui enquanto stressor significativo para os adolescentes, e que mina a probabilidade do desenvolvimento saudável desses jovens. Com efeito, diversos estudos têm vindo a analisar os efeitos da vitimização entre pares nas escolas; nomeadamente como afeta o ajustamento emocional, traduzindo-se em sintomas de internalização entre outros problemas de comportamento (McGee, et al., 2019).

Acresce que, longo do desenvolvimento, transições como a passagem da escolaridade básica para a pré-adolescência podem induzir também vulnerabilidades para muitos jovens; pelo que a importância em avaliar o mesossistema família-pares pode ser esclarecedor do desenvolvimento de fatores de risco, vulnerabilidade, e/ou fatores de resiliência no desenvolvimento nesse período.

Na maioria das sociedades contemporâneas, alterações no seio das famílias, movidas por divórcios, emigração, novas relações, programas Erasmus, são fatores que podem também introduzir riscos na atual geração dos adolescentes/pré-adolescentes, confrontados com sucessivos desafios académicos ou com conflitos relacionados com a sua autoimagem em construção (Sandu, Pânisoara, & Pânisoara, 2014), não se revendo ainda como adultos. Estas questões envolvem a necessidade de reajustar relações significativas, nem sempre fáceis nestas idades, e que podem despoletar problemas de comportamento. Acresce que as influências culturais atuais ditam também novas formas de entretenimentos, sendo que algumas podem despoletar comportamentos desajustados; por exemplo, o estudo de Lan, Chong e Roslan (2010), mostra a grande preocupação face ao aumento de crimes sérios cometidos por jovens entre os 7 e os 18 anos.

Com base em revisões bibliográficas recentes vamos reatualizando e confirmando fatores de risco para o desenvolvimento de problemas de comportamento nestas idades, e em diferentes culturas (Bista, Thapa, Sapkota, Singh, e Pokharel (2016). Um “novo” fator de risco para o desenvolvimento de problemas de comportamento em crianças e jovens é referido na literatura atual e diz respeito às questões, hoje mais comuns, das adoções internacionais (Smith, Cossette, et al., 2018). E, se este tipo de adoções é mais procurado por adultos de níveis sociais de recursos económicos tendencionalmente elevados, não significa que tais recursos possam mitigar facilmente o desenvolvimento de problemas de comportamento (Smith, et al., 2018). Estudos, como o de Bimmel, van IZendoom e Bakermans-Kranenburg (2003), avaliam precisamente a prevalência de problemas de comportamento em amostras

de adolescentes adotados em países estrangeiros. No estudo citado, verificam-se mais problemas de comportamento nos adolescentes adotados do que nos adolescentes não adotados, sendo que os problemas verificados são predominantemente de exteriorização (Bimmell, et al., 2003).

Em 2014, Bor, Dean, Najman e Hayatbakhsh, mostram que as investigações apontaram para um aumento de problemas de saúde mental nos Estados Unidos entre 1979 a 1996; outros, no mesmo artigo, reportam um aumento de problemas de internalização e externalização nos finais do século XX, e Bor e colaboradores apontam para as mudanças no seio das constelações familiares, como mais divórcios, mais famílias monoparentais, mais tempo de exposição a televisão, internet, e as diversas redes “sociais” online como novos possíveis stressores; para além, também, de se verificar uma maior pressão para desempenhos académicos exigentes, que serão também obstáculos para alguns adolescentes.

Outros autores refletem acerca do impacto negativo da cultura ocidental dos jovens, que propiciaria o desenvolvimento narcisista particularmente, em estudantes das grandes universidades americanas (Bor, et al., 2014). Por outro lado, estudos, da área da psicologia escolar e da educação, sugerem que alunos com dificuldades de aprendizagem são geralmente avaliados – em relação aos seus colegas – como menos populares e tendem a apresentar maior probabilidade de serem rejeitados pelos seus pares de classe, encontrando-se em maior risco de ajustamento social, e de bom desempenho académico (Feitosa, Matos, Del Prette, & Del Prette, 2009).

Em 2015, a UNICEF alertava, que em Portugal se verificava um elevado risco de consequências a nível da saúde mental dos adolescentes, a médio e longo prazo, devido essencialmente aos elevados níveis de pobreza infantil, dependente das privações económicas das famílias. Nessa altura, entre 31 países, só Portugal e a Irlanda reportaram um aumento de sintomas relacionados com a saúde mental dos adolescentes; sintomas associados ao desemprego dos seus progenitores (Matos, Reis, Camacho, et al., 2015). Com efeito, os problemas comportamentais nos adolescentes/pré-adolescentes são periodicamente alvo de avaliações, justificando-se essa preocupação pelas taxas de prevalência que continuam a indiciar o desenvolvimento de problemas quer de externalização como de internalização ao longo das gerações. Para Turley, Gamoran, McCarty e Fish (2017), uma estratégia promissora de prevenção dos problemas de comportamento nestas idades, ou mesmo mais cedo – i.e., na escolaridade básica – passaria por incentivar o desenvolvimento de estratégias que promovam o sucesso escolar.

Segundo Lopez, Pérez, Ochoa e Ruiz (2008), quer os fatores familiares como os ambientes escolares são particularmente influentes na modelação de caraterísticas individuais das crianças e adolescentes ao longo do desenvolvimento. A vinculação segura aos pais constitui um fator de proteção permitindo aos pré-adolescentes que construíram modelos internos seguros a sentirem-se

à vontade para procurar ajuda, conselhos, e apoios em figuras de referência do seu meio; pois que estão habituados a ser ajudados por figuras próximas; ao contrário dos pré-adolescentes que não se sentem confortáveis a pedir ajuda ou conselhos a outros. Na maioria das sociedades ocidentais contemporâneas o período de transição entre a adolescência e a passagem para o secundário pode ser um período de riscos variados, de certa forma como sendo um teste pessoal das suas capacidades versus inseguranças. De salientar, como referem Morison Taylor e Gervais (2019), que as estratégias de vinculação podem mudar consoante o contexto, e também dependendo da própria maturação dos cuidadores que consigam (ou não) ajudar os jovens a superar as crises.

2. Método

2.1 Participantes

A amostra é composta por 258 pré-adolescentes de ambos os sexos, 134 raparigas (51,9%) e 124 rapazes; a idade varia entre os 9 e 12 anos. Quanto à escolaridade, 24.4% frequentava o 4º ano, 45.0% frequentava o 5ª ano e 30.6% o sexto ano; todos os alunos frequentavam o ensino público.

Relativamente às famílias dos alunos, a escolaridade dos pais corresponde maioritariamente ao nível do secundário.

O Inventário de Vinculação aos pais e pares (IPPA-R) foi usado para avaliar a qualidade da vinculação, e o Questionário de Forças e Dificuldades (SDQ) avaliou os problemas de comportamento. Os problemas de comportamento nos pré-adolescentes são induzidos não rara vezes por expectativas irrealistas, o que se compreende dado não terem, alguns deles, ainda desenvolvido o raciocínio operatório formal, que se inicia aproximadamente pelos 12 anos. As dimensões que avaliam a qualidade da vinculação aos pais, neste estudo, são a comunicação-proximidade, aceitação-compreensão e afastamento-rejeição aos cuidadores.

A amostra é composta por 258 pré-adolescentes de ambos os sexos, 134 raparigas (51,9%) e 124 rapazes; a idade varia entre os 9 e 12 anos. Quanto à escolaridade, 24.4% frequentava o 4º ano, 45.0% frequentava o 5ª ano e 30.6% o sexto ano; todos os alunos frequentavam o ensino público.

Relativamente às famílias dos alunos, a escolaridade dos pais corresponde maioritariamente ao nível do secundário.

Instrumentos

Questionário papel e lápis, para recolha de informações sócio-demográfica de alunos e pais;

e Inventário de vinculação aos Pais e Pares (IPPA-R); instrumento desenvolvido por Armsden e Greenberg em 1987, e muito usado desde então, reportando resultados fidedignos, sendo os seus itens facilmente compreendido por pré-adolescentes.