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na prática escolar

4. Metodologia

4.3 Procedimentos metodológicos

a) levantamento bibliográfico de temas sobre educação de jovens e adultos, a teoria das representações sociais entre outras;

b) realizadas conversas informais com os alunos e entrevistas com os professores referentes aos saberes e representações dos docentes sobre a diversidade de gênero na prática escolar;

c) dinâmicas pedagógicas com o uso da técnica do desenho e colocando-se no lugar do outro, para visualizar as representações com os alunos da EJA sobre a temática da diversidade de gênero e sexo na escola com o intuito de verificar as atitudes que suscitam inclusão e/ou preconceitos e discriminação na escola.

O roteiro da entrevista com os professores foi dividido em dois blocos de questões, sendo o primeiro referente à diferença de sexo na escola e o segundo sobre a diferença de sexo na prática docente, constituído por perguntas objetivas e subjetivas sobre a diversidade de gênero e sexo na escola e na prática docente.

De posse das informações, foi feita análise dos dados por meio de categorizações temáticas e analíticas e de considerações pertinentes à problemática da pesquisa.

A base de estudo é a teoria das representações sociais na abordagem psicossocial de Moscovici (2003) a qual apresenta as principais características dessas representações que se delineiam no caráter da funcionalidade e no performativo. No aspecto da Funcionalidade das Representações (ou organização do real), as representações são “uma modalidade de conhecimento particular”, que têm por função a elaboração de comportamentos e a comunicação entre os indivíduos.

5. Resultados

Sobre os achados da pesquisa, estes permitiram analisar e refletir sobre as representações sociais de professores e alunos da EJA acerca da diversidade de gênero e sexo na prática escolar, assim como perceber que essas relações são marcadas por atitudes e discursos que expressam por vezes preconceitos e discriminações pelos alunos/as que não apresentam as condutas heteronormativas socialmente valorizadas nas relações pessoais e/ou interpessoais.

Nesse sentido, ao analisar as seguintes categorias representadas pelos professores e alunos depreende-se:

5.1 Diversidade de gênero e sexo em sala de aula

Percebemos que a representatividade de alunos/as com orientação sexual homoafetiva nas turmas da EJA é mínima e que esses alunos/as buscam construir relações pessoais e interpessoais com colegas e professores que demostram respeito e atenção as suas diversidades, poucos alunos/

as tem a oportunidade de conversar com os pais e/ou irmãos sobre sua orientação sexual e buscam na companhia de colegas e diálogos de professores da escola uma forma de representar como se sentem e as dificuldades que enfrentam para viver sua sexualidade na família, na escola e com amigos e conhecidos da comunidade onde moram.

Assim, alguns professores afirmaram ter dificuldades em dialogar e construir laços de afeto com alunos/as homossexuais e buscam em atitudes de imparcialidade preservar a identidade desses alunos/as que sabem dos preconceitos e discriminações que passaram para conseguir o respeito e a dignidade de pessoas humanas na sociedade.

Podemos destacar na relação de inclusão das diversidades de gênero e sexo na EJA a sensibilidade de professoras em abordar a temática da sexualidade e suas nuances com atenção e disponibilidade para fazer relações pertinentes com a disciplina que leciona, buscando minimizar as atitudes de preconceito, discriminação e homofobia.

5.2 Formação inicial/continuada e prática escolar

Detectamos que as práticas pedagógicas e de letramento desenvolvidas em sala de aula com os alunos refletem o processo de formação inicial e continuada, na qual os professores foram e/ou estão submetidos, pois as suas atitudes e discursos diante das diversidades de gênero e sexo representam concepções didáticas tradicionalistas e reprodutivistas ou democráticas e emancipatórias. Aspecto este relevante no processo da pesquisa, pois os professores participantes apresentam perspectivas formativas que interferem diretamente no discurso do respeito e da valorização das diferenças em sala de aula.

Uma vez, que um professor possui 2 habilitações em licenciatura e 20 anos de experiência em sala de aula, mas não consegue dialogar sobre a possibilidade de ver sua disciplina interagir com a diversidade dos sujeitos que está formando para que então tanta formação? Enquanto, outros professores com uma licenciatura, uma especialização e 10 anos ou menos de experiência em sala de aula conseguem

fazer relações profícuas com a diversidade e realidade dos sujeitos que está formando, desse modo, podemos perceber a aplicabilidade e utilidade da formação inicial e continuada.

Portanto, na construção das relações pessoais, sociais e trocas de saberes e conhecimentos na escola, o professor deve colocar-se numa atitude de respeito e valorização das diferenças sejam elas de gênero, sexo, religiosa, cor, etnia, política ou ideológica, pois ele apresenta-se com maior possibilidade de analisar, refletir e criticar os preconceitos e discriminações que surgem em sala de aula.

5.3 Alunos/as homoafetivos

Verificamos que os discursos de alguns professores apresentam-se numa perspectiva de respeito e atenção às diversidades de gênero e sexo na sala de aula, porém ao compararmos com os discursos dos alunos/as homoafetivos detectamos certa dicotomia relativamente as suas práticas cotidianas, como por exemplo, o fato do professor de biologia falar apenas dos aspectos funcionais, reprodutivos e de prevenção (DSTs/AIDS) do sexo eximindo-se de tratar dos aspectos socioculturais, políticos e econômicos que envolvem o discurso da sexualidade e suas relações com vida prática dos alunos.

Entretanto, com os demais professores, aquele docente consegue falar e discutir com proficiência dos aspectos que envolvem a diversidade sexual em sua realidade cotidiana. Os posicionamentos nos faz pensar: porque eximir-se do medo e da vergonha de falar de sexo com seus pares e vestir a ditadura do preconceito e do pudor ao falar com os alunos/as? será que os professores precisam de mais atenção e esclarecimentos do que os alunos sobre as temáticas que envolvem a sexualidade na escola? ou é apenas o medo de não ter didática ou metodologia para abordar com “aprendizes” da sexualidade um tema complexo e nebuloso ainda em muitas práticas docentes?

Temos os convites (conhecimentos/saberes) e os convidados (alunos/as) falta-nos apenas a coragem de convidá-los a comer e beber de nossas experiências e desfrutar das possibilidades que encontraremos ao vermos as diferenças como oportunidade para construir novas e excitantes aprendizagens na escola, a partir da contextualização desses saberes.

5.4 Valorização e respeito pelas construções identitárias

Ficou evidente que para alguns docentes da EJA falta ainda a sensibilidade e a ampliação formativa através da formação continuada para reconhecer, valorizar e respeitar as identidades dos alunos/as homoafetivos em sala de aula, pois aos professores que buscam tratar da temática em suas aulas, ainda o fazem em meio a comentarios preconceituosos de alguns colegas docentes.

Desse modo, enquanto houver profissionais da educação descomprometidos com o papel transformador, emancipatório e humanizador da educação como direito de todos, a prática de professores que buscam dialogar com os alunos/as sobre as diversidades de gênero e sexo na escola serão, muitas vezes, solitária e isolada do currículo escolar, pois pouca é a atenção oferecida pela gestão e coordenação pedagógica aos professores e alunos da EJA a fim de construir ações que respeitem e valorizem as diferenças socioculturais na proposta curriular escolar.