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1 INTRODUÇÃO

1.5 Plano de Cuidados ao Doente com Diabetes mellitus tipo 2

1.5.1.1 Educação do doente

O grande objectivo da educação terapêutica na diabetes consiste em autonomizar o doente na gestão do auto-cuidado e do auto-controlo, dotando-o de forma progressiva de capacidades para a tomada quotidiana de decisões em relação à doença, nomeadamente quando a esta sofre alterações e/ou quando o esquema terapêutico é modificado. Pretende conseguir a optimização do controlo metabólico, a prevenção e gestão de complicações, bem como a optimização da qualidade de vida, de uma forma custo-efectiva (DGS, 2000; ADA, 2011).

São identificadas como competências esperadas do diabético, as seguintes: (1) seleccionar objectivos de auto-cuidado; (2) modificar a sua dieta; (3) tomar de forma adequada a medicação prescrita e, (4) ajustar a sua actividade física.

Os auto-cuidados do diabético podem ser definidos como o conjunto de tarefas diárias que o diabético executa/desenvolve, no sentido de controlar a sua doença, ao longo de toda a sua vida (Weinger et al, 2005).

O plano de auto-cuidados é multicomponente e pode revestir-se de uma complexidade considerável. De uma forma geral envolve actuações diversas, nomeadamente, sobre: (1) o estilo de vida, com ajustes na dieta e nos hábitos de prática de exercício físico, (2) a medicação (antidiabéticos orais e/ou insulina), (3) a monitorização dos níveis de glicemia, (4) a resposta a sintomas/situações de hipo ou hiperglicemia, (5) cuidados com os pés e, (6) a procura de cuidados de saúde adequados, para a diabetes ou para problemas que lhe estão associados (Weinger et al, 2005).

Idealmente, todo o diabético deveria ter conhecimentos que lhe permitissem tomar decisões relativas ao tratamento, ou à modificação do seu plano de auto-cuidados, em função dos valores de glicemia que observasse durante a auto-vigilância. Estes conhecimentos são de tal forma relevantes, que a Federação Internacional de Diabetes (IDF) seleccionou o tema “Diabetes – Educação e Prevenção”, para 2009-

2013, com especial enfoque em: (i) conhecer os riscos para a diabetes e os sinais de alarme; (ii) saber reconhecer a diabetes e saber a quem recorrer; e, (iii) saber gerir e assumir o controlo da diabetes.

Ainda assim, há estudos que apontam para uma elevada percentagem de pessoas com diabetes que não tem conhecimentos para fazer a gestão da doença (Clement, 1995), apesar de estar descrito que os diabéticos que não tiveram educação apresentam um risco quatro vezes superior de vir a desenvolver complicações, comparativamente com os que estiveram envolvidos em programas de educação (Nicolucci et al, 1996).

Numa revisão sistemática sobre a avaliação do impacte da educação individual ao diabético há dados que sugerem um efeito significativamente positivo dos programas de educação individual no controlo glicémico, em particular nos doentes com valores basais de HbA1C mais elevados (> 8%) (Duke et al, 2009).

Numa perspectiva de avaliação económica, há trabalhos que identificam que os benefícios associados à educação na auto-vigilância, auto-controlo e às alterações dos estilos de vida dos diabéticos têm resultados positivos e compensam os custos associados com a intervenção (Brownson et al, 2009; Boren et al, 2009).

Actualmente é consensual que a maximização de obtenção de ganhos em saúde no tratamento do doente com diabetes carece da motivação e do envolvimento real deste, na gestão da sua doença. É ainda reconhecido que o plano de gestão, deve integrar a educação do diabético para a auto-vigilância e a promoção do auto-controlo, como componentes fundamentais dos cuidados (ADA, 2011). No trabalho realizado por Carrasco e col (2007), conclui-se que os diabéticos estão mais informados e mais conscientes da sua doença, mais envolvidos no auto-cuidado, mas que a co- responsabilização ainda é baixa (Carrasco et al, 2007).

Apesar de tudo o referido, estão identificadas barreiras psicológicas à realização de auto-controlo, bem como diversas variáveis com impacte nos auto-cuidados, tais como a auto-eficácia conseguida no controlo da diabetes, a auto-estima e, depressão e ansiedade. A redução da morbi-mortalidade por diabetes requer uma atenção especial a aspectos multifactoriais como as escolhas alimentares, o exercício físico, a terapêutica farmacológica, a auto-vigilância da glicemia e a gestão dos sintomas (Weinger et al, 2005).

Em 1999, a Direcção-Geral da Saúde (DGS) emitiu uma Circular Normativa sobre a avaliação da qualidade de prestação de cuidados de saúde ao diabético, enquadrado

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no sistema de garantia de qualidade DiabCare e da sua monitorização, para que fosse operacionalizado a nível nacional no Programa de Controlo da Diabetes Mellitus. O sistema DiabCare foi estabelecido a nível europeu para dar cumprimento aos objectivos da Declaração de St. Vincent e, foi adaptado para Portugal de forma a permitir a monitorização da avaliação da estrutura, processo e resultados dos cuidados de saúde prestados ao diabético, no âmbito do Programa de Controlo da Diabetes Mellitus, permitindo uma auto-avaliação dos profissionais e a avaliação comparativa dos cuidados prestados em diferentes áreas geográficas (DGS, 1999). Neste documento (DGS,1999), são contemplados indicadores de processo, de resultado intermédio e de resultado final. Os indicadores de processo têm que ver com a avaliação dos olhos, da função renal, dos pés, da auto-vigilância, do índice de massa corporal, dos hábitos tabágicos, do controlo metabólico, da hipertensão arterial, da obesidade e da doença vascular. Os indicadores de resultado intermédio estão relacionados com fotocoagulação, tratamento antihipertensivo, tratamento de nefropatia, pés, dias de incapacidade, urgências, amputações e, por fim, indicadores de resultado final, de acordo com os objectivos de St. Vincent, no que diz respeito a amputações, insuficiência renal terminal, doença cardiovascular e cegueira.

Na Circular Normativa nº14 da DGS (DGS, 2000), é definido como Educação Terapêutica, o “processo educativo preparado, desencadeado e efectuado por profissionais de saúde, devidamente capacitados, com vista a habilitar o doente e a sua família a lidar com uma situação de doença crónica, como a diabetes, e com a prevenção das suas complicações”. De facto, para que o doente possa actuar na gestão da diabetes, é reconhecido que o direito à educação sobre a sua doença e as formas de a controlar, constituem uma importante arma terapêutica de combate à diabetes mellitus e, uma forma de eleição para a co-responsabilização do doente pelo controlo da sua doença (DGS, 2000).

Falcão e col (2008), num estudo efectuado na Rede Médicos-Sentinela identificaram complicações da diabetes em 18,7% dos diabéticos tipo 2 analisados, sendo mais frequentes nos grupos etários mais avançados.

As recomendações da ADA (2011) são no sentido de: (i) envolver os diabéticos em programas de Educação do Diabético para o Auto-Controlo (EDAC) de acordo com as normas nacionais, aquando do diagnóstico e sempre que necessário; (ii) a modificação do comportamento de auto-controlo é um resultado chave na EDAC e deverá ser avaliado e monitorizado como parte integrante da prestação de cuidados; (iii) a EDAC

deverá contemplar aspectos psicológicos, já que o bem-estar emocional está fortemente associado a resultados positivos em saúde nos cuidados ao diabético; (iv) a EDAC deverá ser alvo de reembolso/comparticipação.