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1 INTRODUÇÃO

1.2 Epidemiologia da Diabetes mellitus tipo 2

1.2.2 Morbilidade

Os resultados do King’s Report (King et al, 1998) apontam para que se registe um aumento de 35% na prevalência mundial de diabetes nos adultos, entre 1995 e 2025. Estimam ainda que, em 2025, a prevalência mundial de DM corresponderá a 5,4% do total da população do planeta.

Zimmet (2000) refere-se à diabetes como uma das principais ameaças directas à saúde humana, deste século e defende que a diabetes tipo 2, mais do que uma patologia, é a tradução do efeito das alterações ambientais e do estilo de vida, na saúde (Zimmet at al, 2001), tendo vindo a sofrer um aumento tão dramático que, alguns autores, se referem a uma epidemia de diabetes (Passa, 2002; Zimmet, 2003; Mainous et al, 2007).

Na Figura 10 podemos ver um mapa mundial, retirado do IDF Atlas (2011), no qual se destacam as projecções globais da variação do número de pessoas com diabetes (20- 79 anos), em 2011 e 2030.

Figura 10: Regiões da IDF e projecções globais da variação do numero de pessoas com diabetes (20-79 anos), em 2011 e 2030 (Fonte: IDF Atlas, 2011)

Como se pode observar, em termos globais, entre 2011 e 2030, é esperado um acréscimo de 51% no número de diabéticos, com idades entre os 20 e 79 anos. África é a região em que se estima que ocorra o maior acréscimo (90%) e a Europa é onde se espera que este acréscimo seja menor (22%) (IDF, 2011).

De acordo com dados do ID (2011), a maioria das pessoas com diabetes, a nível mundial, terá entre 40-49 anos, cerca de 80% vive em países de baixo e médio rendimento, 2/3 têm uma idade inferior a 60 anos e a maioria vive em áreas urbanas (63%, uma razão de quase 2:1).

Na Figura 11, encontra-se a representação da prevalência mundial de diabetes (20-79 anos), em 2011. Como se pode observar há diferenças importantes entre os vários países, sendo de realçar que Portugal se destaca com um dos valores mais elevados de prevalência, nomeadamente por comparação à Espanha e à maioria dos países da Europa (IDF, 2011).

Figura 11: Prevalência (%) de diabetes (20-79 anos), em 2011 (Fonte: IDF Atlas, 2011)

De uma forma geral, a prevalência da diabetes tem uma distribuição semelhante por sexo. Contudo, é ligeiramente superior nos homens em idades inferiores aos 60 anos e nas mulheres, em idades mais avançadas (Wild et al, 2004), o que estará provavelmente associado à maior longevidade das mulheres.

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A Figura 12, ilustra a prevalência de diabetes, por idade e sexo. Como se pode ver, em 2011, nas idades mais jovens, havia mais homens com diabetes do que mulheres, situação que se alterou depois dos 65 anos (IDF, 2011).

Figura 12: Prevalência (%) de pessoas com diabetes no Mundo, por idade e sexo, 2011 (Fonte: IDF Atlas, 2011)

No relatório de King e col (1998) é apresentada uma estimativa da prevalência de diabetes nas pessoas com mais de 20 anos, em 1995, 2000 e 2025, para todos os países do mundo. Segundo estes autores, a prevalência de DM em Portugal, no ano 1995 teria sido de 7,1%, correspondendo a 513 000 pessoas afectadas, em 2000 seria de 7,3% (538 000 pessoas afectadas) e em 2025 deverá observar-se um incremento para 8,8%, com 647 000 pessoas afectadas. Estima-se que 55,2% destas tenham idades superiores a 65 anos, e que a razão homens/mulheres seja de 0,71.

Trabalhos mais recentes, tais como o de Shaw e col (2010) apresentam estimativas ainda mais pessimistas para a prevalência de diabetes em Portugal. Considerando os adultos de 20-79 anos, a prevalência padronizada, estimada por estes autores para 2030, é de 12.2%, o que corresponde a 1 143 000 pessoas.

Até muito recentemente, não se dispunha de dados populacionais de prevalência de diabetes a nível nacional. Segundo os dados dos Inquéritos Nacionais de Saúde, referentes à prevalência auto-reportada, esta aumentou, entre 1995 e 2006, de 5.1% para 6.5%, o que corresponde a um crescimento relativo de 27.5%. (INS 1995; INS, 2005)

Cortez-Dias e col (2010) publicaram um trabalho efectuado numa amostra representativa de adultos residentes em Portugal continental e ilhas, seguidos nos centros de saúde portugueses, no qual participaram 719 médicos de família e foram avaliados 16 856 indivíduos, tendo identificado uma prevalência de diabetes tipo 2, ajustada ao sexo e idade, de 13%, com predomínio do sexo masculino (prevalência DM2 nos homens: 14.4%; nas mulheres: 11.9%; p<0.001).

Em 2008/09, foi desenvolvido o primeiro estudo epidemiológico nacional (Gardete- Correia, 2010) – PREVADIAB –, com o objectivo de determinar a prevalência de diabetes, pré-diabetes – anomalia da glicemia em jejum (AGJ) e tolerância diminuída à glicose (TDG) – e factores de risco associados (HTA, excesso de peso, dislipidemias e sedentarismo). Neste trabalho, foi identificada uma prevalência padronizada de diabetes tipo 2 na população portuguesa de 11.7% (IC95%: 10.8% - 12.6%), com diferenças significativas por sexos (homens:14.2%; mulheres: 9.5%, p<0.05). A maior prevalência da diabetes no sexo masculino, verificou-se em pessoas com menos de 60 anos

Os autores verificaram um aumento de prevalência, com o aumento da idade, apesar do grupo etário mais jovem (20-39 anos) apresentar já uma prevalência de 2.4%, dos quais mais de metade (58.3%) não tinham diagnóstico prévio desta condição. Estes valores encontram-se ilustrados na Figura 13.

Figura 13: Prevalência padronizada da Diabetes na população portuguesa, por grupos etários de 20 anos (Fonte: PREVADIAB, 2010)

Como se pode ver, a prevalência de diabetes é muito superior nos indivíduos com 60- 79 anos (26.3%), comparativamente aos grupos etários mais jovens (20-39 anos: 2.4%; 40-59 anos: 12.7%).

Apesar de tudo o que se sabe hoje acerca do prognóstico da diabetes e da pré- diabetes, o estudo PREVADIAB veio confirmar as estimativas de que um terço a metade dos diabéticos tipo 2, não está diagnosticado. Como já vimos, neste trabalho,

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os autores identificaram uma prevalência padronizada de diabetes na população portuguesa dos 20-79 anos, de 11.7% (6.6% diagnosticada e 5.1% não diagnosticada) e uma prevalência de 23.2% de pré-diabetes, o que significa que 34.9% da população portuguesa, entre 20-79 anos, tem diabetes ou pré-diabetes, sendo os casos diagnosticados, apenas uma pequena ponta do iceberg (Gardete-Correia et al, 2010). No país, apesar das diferenças na prevalência de diabetes por região, não serem estatisticamente significativas, observam-se algumas dissemelhanças, como se pode ver na Figura 14.

Figura 14: Prevalência padronizada de diabetes, por região (Fonte: PREVADIAB, 2010)

O Grande Porto foi a zona que apresentou uma maior prevalência (13.9%), dos quais 50.36% correspondiam a situações não diagnosticadas (Figura 15). A proporção média nacional de casos da diabetes não diagnosticados foi de 43.6%, variando entre 35.3% no Alentejo, a região que apresentou uma menor proporção e, 51.4% no Norte.

Figura 15: Prevalência padronizada de diabetes diagnosticada e por diagnosticas, por região (Fonte: adaptado de PREVADIAB, 2009)

O Observatório Nacional da Diabetes, em Fevereiro de 2011, referentes ao Relatório Anual de 2010, reporta os dados de prevalência de diabetes do PREVADIAB – já antes apresentados – mas também os da Amostra ECOS2 do INSA, segundo os quais, a prevalência da diabetes diagnosticada e auto-declarada, em 2009/10 foi de 7.3% (OND, 2010).