• Nenhum resultado encontrado

Coriolano P. da Rocha Junior

Vivemos um tempo em que as ações regulares cotidianas foram absolutamente modificadas por um novo, por um agente externo que chegou e fez, ou deveria fazer pessoas, cidades e instituições alterarem seus modos, atitudes e comportamentos.

Esse novo, mesmo que diferente, acaba repetindo situações já vividas. Ele nos trouxe uma inovadora e necessária medida do estar em sociedade, onde o sujeito diretamente tem de agir em função de si e do outro. Tudo isto em função de possíveis formas de bem-estar, ou ao menos assim deveria ser.

Esta nova realidade nos leva a pensar nas formas de ação do poder público e da pessoa. O ente público é aquele que deveria ter em conta o bem- estar coletivo, pensar formas de criar redes protetivas às pessoas e às instituições, além de ser o agente catalisador das boas falas e condutas. A pessoa caberia se organizar e agir dentro de procedimentos que, para além de si, levasse em conta o outro. Assim, toda e qualquer atitude individual deve ser pensada dentro do coletivo. Desse jeito, com estas posturas saberíamos viver esta cena e a ultrapassar, na tentativa de nos fazermos melhores, de termos uma nova sociedade e novas formas de vida individual e coletiva.

Neste cenário, a educação aparece como essencial, pois é ela que poderia e já deveria ter agido na formação desse sujeito, sendo ele capaz de entender isto que nos aparece como um novo modo de viver.

Falo aqui de uma educação que se pense para além da seriação tradicional, que vá mais distante do que a transmissão de saberes estandartizados. Muito embora estes sejam absolutamente necessários. Refiro- me a uma educação que possa pensar uma vida em sociedade que se faz coletiva, que valoriza o indivíduo naquilo que ele tem de melhor, na capacidade de se relacionar, onde a empatia e o bem-querer sejam o normal cotidiano.

De forma diferente daquilo que possamos pensar como o ajustado, as cenas diárias de nosso cotidiano têm nos mostrado outras realidades que nos fazem pensar e repensar sobre tudo que foi feito e vivido até agora em nossa sociedade e mais diretamente na educação.

Num tempo onde o poder público deveria assumir o protagonismo das boas ações de controle, segurança e apoio social, com exceções nas esferas estaduais e municipais, temos visto o governo central agir de forma temerária, num claro desrespeito a toda forma de vida e a coisa pública. Se o governo fala e age de maneira calamitosa, incitando à barbárie, gerando medo, insegurança, mal-estar e mesmo caos, por seu lado, o sujeto também tem se mostrado atabalhoado. Reconhecemos que esses sujeitos, felizmente, não são a maioria, mas mesmo não a sendo, sua forma de ser e estar no mundo causa

perplexidade, pois demonstra absoluto desprezo ao outro, a vida comum, só havendo espaço para o prazer imediato, para aquilo que toca a si.

De novo nos perguntamos: e a educação com isso? Se essas ações e comportamentos existem, como a educação tem agido então? Estas perguntas ficam para reflexão e nelas que vamos nos ater.

As exigências sanitárias que foram postas à sociedade passaram a demandar ações imediatas que dessem respostas efetivas. Elas vieram e continuam a vir da ciência. A ciência e seus personagens cientistas, das mais diferentes áreas, rapidamente envidaram os maiores esforços para buscar soluções às diversas crises vividas e criadas. No entanto, temos visto, por mais incrível que possa parecer, uma onda de negação a própria ciência e suas capacidades de respostas. Esse negacionismo faz com que pensemos: como se deu a educação científica? Bem! Somos obrigados a crer que ela falhou.

A educação foi incapaz de lidar com a formação de pessoas que soubessem se relacionar e reconhecer os saberes científicos como essenciais. E nessa incapacidade, negar, duvidar, olvidar acaba sendo a fuga dos que não sabem e não querem saber. Diante disso, a resposta que nos vem é: a educação falhou!

Outra situação que esta crise social gerou foi a acentuação das desigualdades sociais e capacidades de acesso aos bens sociais e materiais mínimos para uma segura sobrevivência. Aí, novamente, vemos o descaso e a culpabilização desses que não têm acesso a esses materiais necessários, sem levar em consideração suas condições de existência. Além disto, a necessidade de acúmulo em detrimento de quem não tem.

Tudo isto mostra a ausência de empatia, de um olhar para o outro, como alguém que, assim como você, tem valor. O individualismo, o egoísmo, o desprezo ao outro se mostram nas atitudes irresponsáveis do ponto de vista da segurança sanitária, pois mais vale aquilo que me toca de imediato, do que qualquer coisa que se refira ao outro. E aí, de novo: e a educação? Se ela não foi capaz de construir valores éticos, afetivos e de significação social, o que aconteceu: ela falhou, mais uma vez!

Se temos visto um negacionismo científico, uma ausência de amor ao outro, por outro lado, tem sido cada vez mais aguda uma virulência social, onde agressões verbais ou físicas, posturas raivosas contra quem é diferente de você acabam se tornando respostas possíveis para quem não consegue articular uma capacidade de se relacionar. E aí, as chamadas minorias acabam se tornando alvo direto dessas aberrações. Aqui, chamamos de minorias todo aquele grupo social ou pessoa que foge de uma pretensa heteronormatividade. São essas pessoas atacadas por quem é incapaz de dar respostas não- violentas aos problemas sociais, fazendo de uma pretensa força sua resposta.

E a educação, bem, de novo falhou! E de novo falhou por não se fazer capaz de criar uma formação que consiga reconhecer a diferença como algo essencial a vida humana.

Nisto tudo, por isto tudo nos sentimos na obrigação de um repensar aquilo que se deu até agora e repensar nossa ação maior: a educação.

Uma educação que não foi capaz de atuar numa formação científica, onde saberes e sua construção devem ser vistos como essenciais a vida humana. Uma educação que não pode gerar valores, princípios e o bem-maior, amor. Uma educação que não soube afirmar a diferença como essencial e comum. Bem de tudo isto, se deve dizer, não houve educação. Ou melhor, sim houve, mas numa direção contrária aquilo que possamos imaginar como valorável.

E neste cenário, onde nós professores nos colocamos? Aonde me coloco? Se educadores somos, se educador sou e a educação falhou, falhamos nós, falhei eu. Este reconhecimento e este sentimento por ele gerado pode nos incapacitar, nos paralisar. Ou, ao contrário, pode nos mobilizar e fazer acreditar que há que se mudar e, este deve ser o sentimento que nos mobiliza, que me mobiliza. Reconhecer limites, identificar erros e acreditar que pode ser diferente e melhor é tarefa essencial do ser docente. Isto nos mobiliza. Sigamos, seguirei buscando ser melhor.

ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO EM EDUCAÇÃO