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ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA COMO ESPAÇO-TEMPO DE APRENDIZAGEM

Viviane Rocha Viana

O cotidiano escolar é um desafio presente em qualquer atividade profissional docente. Na formação de professores é possível discutir as distâncias presentes entre o processo de formação inicial e a realidade encontrada nas escolas.

Dessa forma, o estágio supervisionado, componente curricular obrigatório dos cursos de licenciatura, visa oportunizar ao estudante conhecer e vivenciar questões presentes no cotidiano da escola, de maneira que este possa ampliar as possibilidades quanto aos conhecimentos necessários à formação inicial.

Algumas estratégias são importantes no processo de estágio, uma vez que o/a estudante precisa se aproximar da escola com um olhar mais crítico, a fim de observar as situações-problema, propondo soluções a partir das intervenções propostas em cada área de estágio.

Os elementos presentes neste processo formativo, como as fases de observação, elaboração, execução e avaliação das aulas, fortalecem a relação teórico-prática, de maneira que precisam contemplar o desenvolvimento de competências profissionais, assim como também a realidade social e cultural do aluno.

Sabe-se que é no cotidiano da escola que o estudante-estagiário pode colocar em prática os conhecimentos articulados no decorrer do curso, considerando os referenciais de ensino presentes na educação básica, assim como também na educação especial.

É um momento repleto de dificuldades pedagógicas, mas também de vários acertos que provocam nos estudantes-estagiários reflexões acerca do processo de construção dos seus saberes.

Para Pimenta (2002), a formação docente não se dá apenas pela aproximação de cursos ou técnicas que complementem a formação, é importante que seja construído, também, um trabalho de reflexão crítica sobre as práticas e de (re)construção permanente de uma identidade profissional.

Neste sentido, algumas situações do processo formativo ou mesmo nas ações de trabalho têm mobilizado as Instituições de Ensino Superior a uma movimentação, nos seus cursos de licenciatura, de maneira que possam privilegiar, em seus currículos, a dimensão prática como um elemento articulador dos cursos. Dessa forma, o componente Estágio, quando bem articulado, torna-se um momento relevante da formação dos futuros docentes.

Independente da modalidade desenvolvida seja de observação, coparticipação, participação ou regência, o estágio deve ser pensado em uma

organização que contemple o constante exercício de reflexão-ação-reflexão, à luz da relação teoria-prática e da formação-trabalho, uma vez que as problematizações decorrentes das vivências realizadas no estágio tendem a contribuir para com o processo formativo do professor formador, este que certamente refletirá sobre a sua própria prática, assim como também na formação prática do futuro professor.

O espaço-tempo de construção de aprendizagens significativas, no processo de formação prática de professores, é um dos principais objetivos do estágio enquanto componente curricular obrigatório nos cursos de licenciatura. Assim, Freire (2001) afirma que os saberes passíveis de serem construídos no estágio estão diretamente vinculados à atuação profissional do professor que precisa compreender o saber, o fazer e o saber-fazer, numa dimensão que sua prática profissional seja transformadora.

No processo de formação de professores de Educação Física, o componente Estágio torna legítima a possibilidade de um espaço de reflexão e intervenção das práticas de ensino. Dentre as possibilidades existentes, inclusive de se relacionar com o movimento humano, a escola hoje é um lugar privilegiado para várias ações pedagógicas que priorizem o desenvolvimento criativo e imaginativo dos alunos.

Nesta perspectiva é relevante discutir o estágio como um espaço de contribuição para uma formação mais crítica, que privilegie a articulação da produção de saberes, pois no “chão da escola” os estudantes-estagiários terão a percepção da importância de encarar as inovações pedagógicas, assim como também de possibilidades outras de renovação e reestruturação do seu trabalho pedagógico.

Para Pimenta e Lima (2006), o estágio é caracterizado como o eixo central da formação de professores, pois é através dele que o futuro profissional conhece os aspectos importantes da formação para a construção da identidade, sobretudo os saberes do cotidiano.

Para o estudante-estagiário, enquanto acadêmico, o cotidiano é, na maioria das vezes, alimentado com muita disposição, principalmente quando a Universidade lhe proporciona acesso a conhecimentos, seja via ensino, pesquisa e/ou extensão. O estágio funciona, então, para os estudantes- estagiários, sob a lógica de colocar em “prática” aquilo que se aprendeu até o momento na “teoria”. No entanto, é importante que o estudante-estagiário esteja atento a elementos importantes deste momento em que pisa o “chão da escola”, pois a observação será necessária para identificar os possíveis problemas, além da troca de informações que os professores mais experientes possam fornecer, seja o supervisor da Instituição de Ensino Superior ou mesmo o professor regente da escola.

Grandes são os desafios enfrentados no decorrer da profissão, principalmente no processo de formação, quando nos referimos ao fazer pedagógico, as questões metodológicas que envolvem este fazer e a reflexão sobre este fazer. Estas questões se apresentam de forma tão clara nas

disciplinas de estágio, mesmo antes das intervenções, que, a todo o momento, somos levados a discutir a qualidade dessa formação.

Logo, a ideia é que o futuro professor seja levado a exercer sua consciência crítica no exercício da sua prática, mesmo antes dos estágios curriculares e, a partir dela, refletir sobre problemas que envolvem o cotidiano escolar. Consequentemente, o fazer pedagógico presente, tanto nos componentes de estágio, como nos demais oferecidos pelos cursos, será repensado.

Desse modo é relevante provocar reflexões acerca da qualidade que precisamos dar aos estágios ou mesmo encontrar neles. O estudante- estagiário precisa assumir politicamente um conceito de qualidade, de escola pública de qualidade, para pensar os meios de fortalecer a democratização dessa escola, pensando também numa educação decente e nos aspectos que envolvem melhorias em sua formação. Nesse sentido, o estágio deve colocar o estudante diante de desafios quanto a sua prática pedagógica, principalmente no que diz respeito a sua formação.

REFERÊNCIAS

FREIRE, Ana Maria. Concepções orientadoras do processo de

aprendizagem do ensino nos estágios pedagógicos. Colóquio: modelos e práticas de formação inicial de professores, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, Universidade de Lisboa. Lisboa, Portugal, 2001. Disponível em: <http://www.educ.fc.ul.pt/recentes/mpfip/pdfs/afreire.pdf&gt;. Acesso em: 08/06/2020.

PIMENTA, S. G. Professor Reflexivo: construindo uma crítica. In: PIMENTA, S. G.; GHEDIN, E. (Orgs). Professor Reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conceito. São Paulo: Cortez, 2002.

PIMENTA, S. G.; LIMA, M. S. L. Estágio e docência: diferentes concepções. Revista Poiesis, Catalão, v. 3, n. 3 e 4, p. 5-24, 2006.