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Rúbia Mara de Sousa Lapa Cunha

O texto em tela traduz as experiências advindas das práticas construídas nos espaços de formação de professores com base nas representações simbólicas presentes nos rituais das solenidades, nos ambientes cívicos e festivos marcados pelo fenômeno da espetacularização política, social e cívica, consideradas resultantes da atuação do professor “leigo” num movimento para se “mostrar” nas ruas das cidades, com aparições agendadas e noticiadas em jornais.

Visto que tudo isso estava ancorado e alinhado nas aulas ministradas em escolas domésticas e/ou em “habitus”/lugar do professor “leigo” nos episódios festivos com projeções, valendo-se de uma educação do corpo e da alma com viés civilizatórios ora guiados nesse contexto popular.Face a isso, os desfiles internos e externos nas escolas foram projetados pelos leigos com as atividades corporais e as maneiras pelas quais as metodologias foram incorporadas nesse viés republicano foram reproduzidas no cotidiano. No entanto, é importante o pontuar as passagens comemorativas que foram materializadas pela via de algumas contribuições significativas e valorativas alinhadas à projeção de seu aluno nas projeções em “fazer” (re)viver momentos históricos , religiosos e cívicos implementados no calendário festivo da unidade escolar . Mesmo que seja no campo do esporte e ou nas aparições festivas e culturais, como materialização de saberes construídos nos espaços reservados e separados para as festividades nas instituições escolares em sua maioria com vista à promoção e visando atrair e garantir a boa formação nos educandários e um possível fortalecimento das ideias liberais e republicanas reproduzidas nos atos de passagens dos professores “leigos” nesses rituais.

Além dessas vivências, o professor leigo passa a ser protagonista para desenhar o caminho de ações de pesquisa que se configuram nos cenários festivos, apesar da lacuna no quesito valorização do seu conhecimento por parte de especialistas da área por não considerarem os rituais de passagens nos espaços educativos como fenômeno político, social e de reverência as histórias vividas pelos sujeitos em defesa de ideais individuais ou mesmo “incutidos” nos procedimentos pedagógicos de época.

Daí os “leigos” surgem nos espaços de formação “autorizados” para que esses professores, verdadeiros protagonistas, venham a ser legitimados nos discursos e nas experiências/vivências autorizadas nas práticas corporais. São eles: freiras, militares e padres nas ações educativas. E podemos citar dentre estes: Padre Alfredo Haasler,Felipe Valois,Adhemar Silveira,Jairo Alves, João Paulino,Antonio Timoteo,Noese Matos,Rute Sousa,Elci Gonçalves,Stefanio Lima,Eronildes Reis,Benedito Lemos,Jorge Brito,Laúzia Carvalho e os demais que se fizeram presentes nesse cenário e que permanecem lembrados pelos alunos das escolas normais.

Por outra maneira, era prioridade se formar e se preparar os futuros professores normalistas com fins e estratégias pedagógicas civilizatórias para além de se seu papel fomentar ações de evangelização, sociais e instrução. De certo, mesmo sem ser “especialista”, a sua prática o faz figurar no cenário educativo como protagonista de rituais festivos e solenidades. Nesse ângulo, torna se possível uma denominação de “guardião” de memória nos palcos das escolas normais pois foi a partir da prática que se consolidou como conteúdo formativo e o o registro no calendário passou a ser pela determinação das datas comemorativas pelo governo republicano como mostra de “controle” sobre a funcionalidade das escolas e no controle do tempo em sua totalidade.

Tal ação comemorativa se justifica nas vivencias e tanto que já aparece no panorama moderno como parte de calendário com rigor nas apresentações , embora fosse vislumbrada pelo coletivo nas áreas urbanas como “parada festiva ou desfile” de caráter obrigatório .

Nessa condição, os desfiles e comemorações eram avaliadas desde os saberes projetados no chão da escola isolada e, sob a disciplinarização militar e moralista até a realização nos atos de festividades pelas instituições que se materializavam nas ruas, sempre como forma de se garantir juntamente com as autoridades em um “lugar” de destaque nesse palco de apresentações.

Embora guiados nesse contexto popular, os desfiles internos e externos nas escolas foram projetados pelos leigos com as atividades corporais e as maneiras pelas quais as metodologias foram incorporadas nesse viés republicano foram reproduzidas no cotidiano. No entanto, esse panorama de atuação que se consolidou como uma força “revolucionaria” para que as trans(formações) construídas no chão das escolas fossem reproduzidas no cotidiano num alinhamento onde tudo fosse voltado á propagação da fé, instrução e civilização com vistas a um cidadão civilizado pela esteira liberal das instituições educativas.

Era prioridade se formar e se preparar os futuros com estratégias pedagógicas civilizatórias além de incutir os princípios religiosos com a criação de colégios inferiores (ginásios) e colégios superiores (universidades e seminários), como um trabalho voltado á pedagogia inovadora através do “traning School” que repercutiu em toda a microrregião e proporcionar ao homem do campo uma oferta de melhoria de vida com práticas de esporte e sociabilidades nos grêmios, salões de Igreja e templos presbiterianos e seminários.

Como prerrogativas onde eram reproduzidas na ordem, disciplina e limpeza cujos alunos iam se apropriando dos “trabalhos”, como arar a terra e as meninas se encarregando dos trabalhos e prendas domésticas que estavam correlacionados á disciplina do currículo levando-se em consideração que eram professores “leigos” com cursos do Premem e de outros cursos de suficiência no exercício de suas funções.

Ainda assim, já existiam as escolas nas fazendas e com classes particulares consideradas domésticas cujos professores “leigos” já atuavam por

isso eram consideradas deficitárias, portanto, houve a necessidade de suprir essas deficiências através da criação de escolas normais e cursos preparatórios que habilitassem os professores/normalista, e como meio de valorização da profissão docente que se ajustava a ideário republicano e inovador. Assim, como afirma Villela (2008) para a conquista do reconhecimento do ofício, foi fundamental o surgimento das escolas normais, responsáveis pelo estabelecimento de um saber especializado e um conjunto de normas que constituiriam esse campo profissional.

Por fim, é importante reafirmar o papel e a atuação dos professores “leigos” que receberam a incumbência de se “tornarem” professores em cadeiras de ensino de ginástica com prerrogativas de um trabalho que não era reconhecido como mestre nem a remuneração era condizente aos outros professores considerados mestres no rol das disciplinas nas escolas normais e diante dessa assertiva pontuamos as ações e sua “luta” para se fazer mostra se nesse cenário de festas.

Então, o trabalho dos professores “leigos”, as escolas americanas ideias dos escolanovistas propiciaram mudanças significativas para que a escolas católicas se organizassem para se integrar ou concorrer com instrumentos pedagógicos alternativos mas não modernos.Portanto, a ascensão dos professores leigos surge no rol das escolas normais para fazer valer o método intuitivo e nas experiências de trocas desde as excursões no esporte e jogos organizados sob a responsabilidade dos “leigos” professores em “preparar” e/ou “forjar” novo cidadão para dar visibilidade ao processo civilizatório num conchave de aceites republicanos instaurados.

Por outro lado e bem interessante mencionar que o ensino rural era composto predominantemente por professoras leigas pois os significados atribuídos ao professor “leigo” o projeta num cenário em que se compreende a prática a partir de seu fazer nessas atividades corporais resistências criaram modos próprios de fazer, os quais resultaram na alfabetização das populações e se tornaram “inventores” de trilhas esportivas e de sociabilidades nos educandários. Enfim, a ação de ensinar estava subjacente a um processo de “inventividade” característico do professor “leigo” que foi considerado “herói” silenciado pois a sua carreira foi delimitada pelo oficio e ai construiu a sua pratica no cotidiano de suas vivências.

REFERÊNCIAS

VILLELA. Heloisa de O.S. O Mestre-Escola e a Professora. In: LOPES, Eliane M.T; FILHO, Luciano M. F; VEIGA, Cynthia G. 500 anos de educação no Brasil. 5ª ed. 2ª reimpressão: Autêntica. 2016, p. 95-134.

SEGREDOS E RAZÕES DA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES