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A EDUCAÇÃO EM GUINÉ-BISSAU

DE LÍNGUA OFICIAL PORTUGUESA NO CONTEXTO DO PÓS-INDEPENDÊNCIA

A EDUCAÇÃO EM GUINÉ-BISSAU

O ensino em Guiné-Bissau, ainda durante a ocupação colonial, seguiu trajetória similar aos outros domínios portugueses do continente afri- cano, ou seja, apenas o ensino básico e instrumentalizado, voltado para formação de mão de obra para os colonizados, com pouquíssimas opor- tunidades de seguir os estudos em outros níveis, e apoiado nas missões religiosas, inicialmente católicas e depois também protestantes. Já para os filhos dos colonizadores, melhores condições e acesso aos demais níveis na capital e depois em mobilidade para outros países da Europa.

Houve ainda toda uma imposição, através do ensino, de outra cultu- ra, de outros valores europeus e a consequente desvalorização de toda riqueza da cultura africana de modo geral e aqui, guineense.

Esse sistema de ensino colonial era caracterizado pelo contraste entre os co- nhecimentos, as normas e os valores da sociedade africana e uma instituição autoritária baseada em valores europeus e católicos, uma necessidade impe- riosa do serviço de expansão e consolidação da dominação, com a função de transformar as pessoas para garantir esses objetivos. (SANÉ, 2018, p. 57) O país passou a enfrentar, após a independência, em 1975, desafios muito parecidos com o que ocorreu com demais países africanos co- lonizados, ou seja, baixíssima infraestrutura educacional, com grande

parte da população analfabeta, e muito distante da ideia de universali- zação da educação como proposto pelo Programa Educação para Todos, e que tornou-se a base para reformulação do sistema educacional da maioria dos países ocidentais.

Somando-se a essa dificuldade, os processos políticos posteriores à declaração de independência dificultaram que as propostas para educa- ção defendidas à época do movimento revolucionário pudessem seguir seu curso. Golpes de Estado seguidos, guerras civis e instabilidade polí- tica para governar foram constantes e essas últimas permaneceram até meados de 2014 quando assumiu, após eleições livres, José Mario Vaz. O governo de Vaz, no entanto, não foi tranquilo, com constates mudan- ças de ministros e alterações em órgãos, o que dificultou a sequência de programas para educação.

Sobre esse período, Cassinela nos traz informações bastante esclare- cedoras:

Logo após a independência, em 1975, o país mergulhou em uma guerra civil, perdendo milhares de vidas. Mais tarde, em 1980, ocorreu um golpe militar que estabeleceu o ditador autoritário João Bernardo “Nino Vieira” como presidente (OCDE, 2014). Vieira foi eleito presidente nas primeiras eleições livres, em 1994, e deixou o poder em 1999, devido a um motim militar, resultando em outra guerra civil…. Um governo de transição pas- sou o poder ao líder da oposição, Kumba Ialá, depois que ele foi eleito para presidente. Em setembro de 2003, tendo permanecido apenas três anos no cargo, Ialá foi derrubado em um golpe militar sem derramamento de sangue, e o empresário Henrique Rosa foi empossado como presidente interino. Em 2005, o ex-presidente Vieira foi reeleito, comprometendo-se a promover o desenvolvimento econômico e a reconciliação nacional. Po- rém, em março de 2009, ele foi assassinado. Em seguida, Malam Bacai Sa- nha foi empossado após uma eleição de emergência, realizada em junho de 2009. No entanto, veio a falecer em janeiro de 2012, por causas naturais. Um golpe militar em abril de 2012 impediu a segunda rodada das eleições

presidenciais de Guiné-Bissau para determinar o sucessor de Sanha. Por intermédio da Comunidade Econômica dos Estados Africanos Ocidentais, um governo de transição civil assumiu o poder em 2012 e permaneceu até as eleições livres, que ocorreram em 2014, tendo vencido José Mário Vaz. (CASSINELLA, 2016, p. 31)

Nas últimas eleições, em 2019, Umaro Sisso Embaló saiu vencedor, tendo o segundo colocado, Domingos Simões Pereira, através de sua agremiação, o Partido Africano para PAIGC, entrado com recurso con- testando o resultado. Em janeiro de 2020, o Supremo Tribunal Federal validou o resultado das eleições, confirmando a vitória de Uamro Sisso Embaló6, aparentemente afastando risco de nova ruptura institucional em Guiné-Bissau.

Esta instabilidade causa impactos no campo educacional, em 2015, a taxa de alfabetização era de 77,28%, sendo que 30% de crianças em ida- de escolar estavam fora do sistema de ensino em 2010, com uma taxa de reprovação foi de 14,07% no mesmo ano (CASSINELA, 2016, p. 31).

Sobre o ensino superior, a primeira universidade pública de Guiné- -Bissau, a Universidade Amílcar Cabral, tem menos de 20 anos de fun- cionamento:

A primeira Universidade Pública do país, intitulada Universidade Amílcar Cabral criada em 1999, que depois começou a funcionar em 2003/2004, é uma universidade constituída por faculdades isoladas, por exemplo, a Es- cola Normal Tchico Té, destinada à Formação de Professores, criada em 1979; Escola Nacional de Direito, criada em 1979, que depois recebeu o nome Faculdade de Direito de Bissau em 1990; a Faculdade de Medici- na criada em 1985 e outros. Também, na década de 1980, o país viu nas- cer o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (Inep), criado em 1984; o

6. CNE valida resultados das eleições presidenciais na Guiné-Bissau. Disponível em: ht- tps://www.dw.com/pt-002/cne-valida-resultados-das-elei%C3%A7%C3%B5es-presidenciais- -na-guin%C3%A9-bissau/a-52038556. Acesso em: 26 set. 2020.

Instituto Nacional do Desenvolvimento Educacional (INDE), criado em 1985. No mesmo ano em que a Universidade Pública começou a funcio- nar, em 2003/2004, criou-se também a Universidade Colinas do Boé de caráter privado, diferentemente de outros países da sub-região, tais como Senegal, Mali e Costa do Marfim, que são países vizinhos da Guiné-Bissau, que tiveram suas universidades ainda no período colonial, concretamente na década de 1960. (SUCUMA, 2018, p. 18)

Esse desenvolvimento tardio do ensino superior em Guiné-Bissau é mais um sinal do quanto a educação ficou em segundo plano no país. É singular que a primeira universidade pública de Guiné-Bissau só tenha co- meçado suas atividades em 2003/2004, como nos mostra Sucuma (2018).