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A educação é tema diretamente relacionado à política pública governamental federal, cabendo à União regular os vários temas que circundam a educação. Não há muita margem aos Estados, Distrito Federal e Municípios e muito menos aos entes privados que a implementem.

A política pública na educação envolve a alocação de recursos em relação a um dos interesses básicos e primordiais do ser humano que é a busca pelo conhecimento. E por estar regulada de forma analítica na Constituição Federal, também no que se refere à educação, a palavra final em tal política pública termina sendo do Poder Judiciário. Mesmo diante da sempre ausência de recursos, até porque estes sempre são finitos, sendo que a reserva do possível não tem muita aplicação quando se trata de observância pelo Poder Público de seus encargos constitucionais.

É tema pacífico que

a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal tem reconhecido a possibilidade de o Poder Judiciário determinar, excepcionalmente, em casos de omissão estatal, a implementação de políticas públicas que visem à concretização do direito à educação, assegurado expressamente pela Constituição270.

E vários temas afetos à educação há a influência final do Supremo Tribunal Federal. Por exemplo, quanto ao ensino domiciliar (homeschooling), não há direito público da família ou mesmo do aluno em relação a ele, devendo haver regulamentação por parte do Congresso Nacional, por ser a educação dever solidário do Estado e da família271.

coletivos, em segmento de extrema delicadeza e de conteúdo social tal que, acima de tudo, recomenda-se o abrigo estatal. [RE 163.231, rel. min. Maurício Corrêa, j. 26-2-1997, P, DJ de 29-6-2001], STF; AI 606.235 AgR, rel. min. Joaquim Barbosa, j. 5-6-2012, 2ª T, DJE de 22-6-2012.

270 STF; ARE 1092138 AgR-segundo, Relator(a): Min. Ricardo Lewandowski, Segunda Turma, julgado em 30/11/2018,

Processo Eletrônico DJe-262. Divulg 05-12-2018. Public 06-12-2018.

271 STF; RE 888815, Relator(a): Min. Roberto Barroso, Relator(a) p/ Acórdão: Min. Alexandre de Moraes, Tribunal

Pleno, julgado em 12/09/2018, Processo Eletrônico DJe-055. Divulg. 20-03-2019. Public. 21-03-2019: “A Constituição Federal não veda de forma absoluta o ensino domiciliar, mas proíbe qualquer de suas espécies que não respeite o dever de solidariedade entre a família e o Estado como núcleo principal à formação educacional das crianças, jovens e adolescentes. São inconstitucionais, portanto, as espécies de unschooling radical (desescolarização radical), unschooling moderado (desescolarização moderada) e homeschooling puro, em qualquer de suas variações. 4. O ensino domiciliar não é um direito público subjetivo do aluno ou de sua família, porém não é vedada constitucionalmente sua criação por meio de lei federal, editada pelo Congresso Nacional, na modalidade “utilitarista” ou “por conveniência circunstancial”, desde que se cumpra a obrigatoriedade, de 4 a 17 anos, e se respeite o dever solidário Família/Estado, o núcleo básico de matérias acadêmicas, a supervisão, avaliação e fiscalização pelo Poder Público; bem como as demais previsões impostas diretamente pelo texto constitucional, inclusive no tocante às finalidades e objetivos do ensino; em especial,

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 55692-55831 aug. 2020. ISSN 2525-8761

Também se exige tratamento nacional uniforme previsto em lei federal (art. 22, XXIV, da Constituição da República) no que se refere à internacionalização de títulos acadêmicos, de graduação, pós-graduação latu sensu, mestrado e doutorado, sendo inconstitucionais formalmente leis estaduais que versem sobre o tema272. Em relação à validação de diplomas de curso superior no estrangeiro, não há validação automática273.

Também já determinou o STF que

[...] são constitucionais a exigência de idade mínima de quatro e seis anos para ingresso, respectivamente, na educação infantil e no ensino fundamental, bem como a fixação da data limite de 31 de março para que referidas idades estejam completas274.

Entretanto, para o TJDFT, menor de dezoito anos aprovado no vestibular antes da conclusão do ensino médio em curso supletivo tem direito à matrícula em curso superior275.

Sobre a duração do horário letivo, também já há direcionamentos de políticas públicas por parte do STF e STJ, que possuem o entendimento de que não há obrigatoriedade de que a educação infantil em creche e pré-escola seja em período integral276. Por outro lado, segundo o TJDFT há obrigatoriedade no Distrito Federal em o Poder Público assegurar a matrícula em creche da rede pública próxima à residência dos responsáveis pela criança277, o que de certa forma não é de difícil implantação em face das dimensões territoriais dessa Unidade da Federação.

No que se refere ao ensino religioso confessional em escolas públicas, admitiu o STF que pode ser disciplina facultativa nos horários normais das escolas fundamentais. A decisão considerou a laicidade do Estado e a liberdade de crença e de culto278.

evitar a evasão escolar e garantir a socialização do indivíduo, por meio de ampla convivência familiar e comunitária (CF, art. 227).”

272 STF; ADI 5168, Relator(a): Min. Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, julgado em 30/06/2017, Processo Eletrônico DJe-

186. Divulg. 22-08-2017. Public. 23-08-2017.

273 STJ; AgRg no REsp 1286603/RS, Rel. Ministro Og Fernandes, Segunda Turma, julgado em 06/03/2018, DJe

13/03/2018: “O entendimento, ora impugnado, de que é ‘vedado o reconhecimento automático de diplomas obtidos no exterior sem o anterior procedimento administrativo de revalidação, consoante determina a Lei de Diretrizes e Bases (Lei n. 9.394/96), em seu art. 48, § 2º’, encontra amparo na jurisprudência da Primeira Seção desta Corte Superio”.

274 Informativo 909/STF.

275 TJDFT; Acórdão n.1148684, 07065029220178070018, Relator: James Eduardo Oliveira 4ª Turma Cível, Data de

Julgamento: 06/02/2019, Publicado no PJe: 27/02/2019.

276 STJ; RMS 59.964/PR, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 26/03/2019, DJe 22/04/2019:

“As Leis 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases) e 8.069/1990 (ECA) não preveem a obrigatoriedade do fornecimento da vaga em período integral.3. O STF entende que "o sistema educacional brasileiro não adota, com obrigatoriedade, a educação em período integral. O art. 34 da Lei das Diretrizes e Bases da Educação dispõe que a jornada escolar no ensino fundamental deve ser de, no mínimo, quatro horas diárias e, de acordo com as possibilidades do ente público, este período deve ser ampliado, porém nada dispõe sobre o tempo de permanência das crianças no sentido infantil" (ARE 677008/SC, Relator: Min. Luiz Fux, Public 09/04/2012). 4. Recurso Ordinário não provido.”

277 TJDFT; Acórdão n.1164292, 07094758320188070018, Relator: Alvaro Ciarlini 3ª Turma Cível, Data de Julgamento:

10/04/2019, Publicado no PJe: 15/04/2019.

278 STF; ADI 4439, Relator(a): Min. Roberto Barroso, Relator(a) p/ Acórdão: Min. Alexandre de Moraes, Tribunal

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 55692-55831 aug. 2020. ISSN 2525-8761

Mas como conciliar a liberdade com o fato de que o ensino necessariamente será de uma religião, em regra a religião católica. E como ficam os que seguem outras crenças. O correto seria aulas de disciplina obrigatória sobre os diversos tipos de religiões existentes no mundo e os papéis que cada uma teve e tem na coordenação da vida cooperativa em sociedade. Verifica-se aqui clara situação de ativismo judicial, em que as opções pessoais e experiências subjetivas do julgador trazem imposições à sociedade como um todo.