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Responsabilidade social em entidades de ensino no distrito federal / Social responsibility in educational entities in the federal district

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 55692-55831 aug. 2020. ISSN 2525-8761

Responsabilidade social em entidades de ensino no distrito federal

Social responsibility in educational entities in the federal district

DOI:10.34117/bjdv6n8-119

Recebimento dos originais:08/07/2020 Aceitação para publicação: 12/08/2020

Gladson Rogério de Oliveira Miranda

Mestre em Direito Uniceub e Mestre em Ciências Criminais PUC/RS Instituição: Uniceub

Endereço: 707/907 - Campus Universitário, SEPN - Asa Norte, Brasília - DF E-mail: gladson@mentoryconcursos.com.br

RESUMO

Entidades de ensino do Distrito Federal comumente fazem afirmações sobre sua atuação com responsabilidade social. Entretanto, faz-se necessário verificar se realmente há ações concretas de responsabilidade social, bem como se as ações implementadas realmente possuem tal conotação. Para tanto, busca-se percorrer o histórico, a evolução e o conceito da Responsabilidade Social e, em face da mundialização do Direito, as ocorrências e os exemplos de responsabilidade social no direito pátrio. O percurso sobre as diversas espécies de responsabilidade social permite identificar que ações das entidades de ensino do Distrito Federal podem ser consideradas como típicas incursões em atividades que antes eram vistas apenas como sendo de obrigação do Estado. Com tais premissas, passou-se à análise das informações constantes dos sites de diversas instituições de ensino do Distrito Federal. Buscou-se identificar as informações sobre a existência nas instituições de ações que poderiam configurar ações de responsabilidade social e em que medida essas ações não estariam apenas permitindo a entidade conseguir o seu fim principal, que é o lucro. Além da atividade quantitativa, também buscou-se fazer uma atividade qualitativa, analisando se a atividade informada em determinada instituição é ou não ação de responsabilidade social, considerando-se as discussões já existentes sobre o tema.

Palavras-chave: Responsabilidade; Social; Ensino; Filantropia; Escolas Particulares; Educação;

Distrito Federal.

ABSTRACT

The Federal District’s educational entities commonly make statements about their performance on Socially Responsability. However, it is necessary to verify if there really are concrete actions on social responsibility, as well as if the implemented actions really have such connotation. To this end, we seek to go through the history, the evolution and concept of Social Responsibility, and, in the face of a globalization of the Law, the occurrences and examples of social responsibility in the homeland law. The studies about de many manifestations of Social Responsibility allows us to identify which actions of educational entities in the Federal District can be considered as typical incursions into activities that were previously seen only as being a government obligation. With these premises, we proceeded to the analysis of the information contained in the websites of various educational institutions in the Federal District. We sought to identify the informations about the existence in these institutions of actions that could configure as Social Responsibility actions, and, untill which extent these actions would not only be allowing the entity to achieve its main purpose,

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which is profit. In addition to the quantitative activity, we also sought to do a qualitative activity, analyzing whether or not the activity reported in a given institution is a social responsibility one or not, considering the already existing discussions on the subject.

Keywords: Responsibility; Social; Teaching; Philanthropy; Private schools; Education; Federal

District.

1 INTRODUÇÃO

É comum encontrar em sites de diversas entidades de ensino do Distrito Federal informações sobre a adoção de ações implementadoras de responsabilidade social. Geralmente essas informações buscam agregar valor à própria entidade, sendo os informes um diferencial competitivo que pode pesar na tomada de decisão do consumidor. É comum afirmar que tais ações se configuram como de responsabilidade social. O objetivo, intentado, é o de verificar se as afirmações feitas por entidades de ensino do Distrito Federal realmente trazem carga de responsabilidade social.

As ações de responsabilidade social são fenômenos internacionais que podem inclusive orientar fluxos de investimentos internacionais. É cada vez mais evidente que as entidades empresárias possuem também um papel social, principalmente no que se refere à implementação de igualdade, ética e desenvolvimento sustentável. Cresce o entendimento de que os empresários devem gerir recursos visando também atingir fins sociais, o que supera a noção inicial de atividade empresária, que é a de organizar os fatores de produção com o objetivo de buscar o lucro, permitindo-se a ideia de uma ação no mínimo ética na busca dos lucros1.

Entretanto, falar-se em implementação de responsabilidade social, pode não ser tão simples. O próprio conceito, bastante fluido e complexo, envolve aspectos legais, éticos, socioculturais2 e até mesmo estruturais a permitir a própria sobrevivência e crescimento da entidade. A instituição empresária passa a ter que se relacionar com vários stakeholders, funcionários, acionistas, sociedade civil, governos, dentre vários outros fatores de pressão sobre as ações da entidade empresária.

Na atual fase de nossa sociedade complexa, não há como entender que a busca pelo lucro seria contrária a ações de responsabilidade social. Ao contrário, a responsabilidade social pode inclusive gerar lucros e potencializar o crescimento3. Entretanto, há autores que vislumbram a

1 RIBAS, José Roberto; VICENTE, Túlio Vagner dos Santos; ALTAF, Joyce Gonçalves; & TROCCOLI, Irene

Raguenet. 2017. Integração de ações na gestão sustentável. REAd – Revista Eletrônica de Administração. vol. 23. n. 2. Porto Alegre. Disponível em: http://bit.ly/2m5Gve5. Acesso em: 29 de abr. de 2019.

2 FEDATO, Maria Cristina Lopes. Responsabilidade social corporativa: benefício social ou vantagem competitiva?: um

estudo das estratégias de atuação social empresarial e sua avaliação de resultados. 2005. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo. Disponível em: http://bit.ly/2kD9tS7. Acesso em: 18 de abr. de 2019, p. 25.

3 UFRJ. Laboratório de Tecnologia e Desenvolvimento Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro apud

CZINHOTA, Michael R.; DICKSON; Peter R. Conceitos em Responsabilidade Social Empresarial. Curso de Extensão em Gestão de Iniciativas Sociais. Disponível em: http://bit.ly/2k7uAvF. Acesso em: 09 de maio de 2019, p. 21. No

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existência de responsabilidade social em ações de uma entidade empresária que apenas cumpra suas obrigações, evitando, por exemplo, fraudes e concorrência desleal4.

A base do liberalismo é a preconização de uma atuação livre por parte das pessoas naturais e jurídicas, no objetivo de buscar a maximização de lucros. Às próprias leis do mercado, caberia a regulação, não havendo espaço para imposições estatais, eis que, quanto mais regulado o mercado, menos ineficiente ele se mostra. Essa visão simples e pura do liberalismo não se mostrou suficiente. A alta gama de acesso à informação, a exigência de condutas éticas e o respeito ao meio ambiente fizeram surgir também uma imperiosa ação de cunho social por parte das entidades.

O Brasil não está alheio ao fenômeno internacional. Já na década de 1930, ainda que lentamente, comunidades campesinas e eclesiásticas já pressionavam o empresariado5. E, ao se fazer uma incursão histórica, percebe-se que a base das ações sociais pátrias é a ação filantrópica, que é parte da cultura empresarial brasileira. Uma outra constatação é a de que a responsabilidade social no Brasil não é tão voluntária, eis que, em várias hipóteses, decorre de imposições estatais. Não obstante, percebe-se o caminho para iniciativas promissoras, que demonstram uma maior conscientização.

Com a percepção de ineficiência da seara pública em algumas áreas, abre-se campo para o empresariado trazer soluções criativas, o que vem sendo incentivado por consumidores cada vez mais conscientes.

Uma incursão de interesse é a diferenciação entre as entidades empresárias e as sociedades não consideradas empresárias, o que tem reflexo direto na verificação da natureza das ações, por exemplo, em entidades de ensino. O cerne principal é trazido pelo próprio Código Civil que conceitua o empresário em seu artigo 966 como aquele que “exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços”. As entidades não empresárias, portanto, por não buscarem diretamente o lucro, podem ter mais afinidade com ações e responsabilidade social.

Há várias formas de apresentação de ações da iniciativa privada, buscando de alguma forma trazer benefícios ao corpo social, havendo várias espécies de responsabilidade social, inclusive a que se constitui em atividades de filantropia e as que fazem incursão da implementação de

mesmo sentido: Laboratório de Tecnologia e Desenvolvimento Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro apud KOTLER, Philip; ARMSTRONG, Gary. Conceitos em Responsabilidade Social Empresarial. Curso de Extensão em Gestão de Iniciativas Sociais. Disponível em: http://bit.ly/2k7uAvF. Acesso em: 09 de maio de 2019, p. 21-22.

4 FRIEDMAN, Milton. Does business have a social responsibility? Bank Administration. Apr. 1971; The Social

responsibility of business is to icrease it's profits. 27ie NY Times Magazine, Sept. 13,1970.

5 FEDATO, Maria Cristina Lopes. Responsabilidade social corporativa: benefício social ou vantagem competitiva?: um

estudo das estratégias de atuação social empresarial e sua avaliação de resultados. 2005. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo. Disponível em: http://bit.ly/2kD9tS7. Acesso em: 18 de abr. de 2019, p. 31.

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verdadeiras políticas públicas6. Este estudo dá destaque à verificação de ações de responsabilidade social em entidades de ensino, que, por sua própria natureza, já realizam uma atividade de cunho social, o próprio ensino.

Em praticamente todas as Constituições pátrias apresentam-se vários dispositivos impositivos no que se refere à área educacional. O arcabouço normativo relativo à educação é extenso, sendo que a própria atividade de ensino em si mesma já configura nítida ação de responsabilidade social. O direito social referente à educação é amplamente normatizado, inclusive por nossa atual Constituição, tão analítica e programática.

No âmbito do Distrito Federal, os instrumentos normativos também são os mais variados. Embora com esse amplo arcabouço normativo, não se percebe da análise das normas a imposição de ações de cunho social pelas entidades de ensino, para além da missão que já se desincumbem institucionalmente que é a educação.

Outro ator de destaque é o Poder Judiciário, que tem a palavra final sobre os mais variados aspectos da sociedade, o que ocorre também na seara da educação, muitas vezes até orientando as políticas públicas.

A educação é livre para a iniciativa privada, sendo que a atividade segue regras contratuais de mercado. Entretanto, a atuação não deixa de ser um pouco limitada, por ser a educação um serviço considerado público. Por exemplo, há regramento específico que determina que as instituições de ensino devem se articular com as famílias e comunidades. As regras consumeristas possuem total incidência nas atuações privadas de ensino, bem como na publicidade desenvolvida por tais entidades.

Torna-se importante verificar as ações de cunho social as quais as instituições de ensino estão a desenvolver. Imagina-se que essas estejam relacionadas à formação de crianças e adolescentes, notadamente em relação a ações efetivas com atuação na seara pública. No caso das instituições de nível superior, espera-se ainda mais, eis que projetos científicos podem inclusive envolver nichos de políticas públicas e até mesmo trazer o fomento de crescimento econômico.

No caso das instituições de ensino, faz-se necessário separar o que é ação voluntária do que é imposição decorrente da própria legislação de ensino. Há inclusive ações das entidades de ensino privadas decorrentes de contraprestação pecuniária de financiamentos recebidos pelo Poder Público.

Constatadas as divulgações de responsabilidade social nas entidades de ensino, importante verificar o grau de vinculação da entidade privada na real efetivação das ações sociais por ela

6 CRUZ, Lucia Maria Marcellino de Santa. Responsabilidade social: visão e intermediação da mídia na redefinição do

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anunciadas. Seria obrigação a ser cumprida ou apenas uma diretriz de comportamento constantemente perseguida7? Em se tratando de obrigação, deve haver sanção pelo descumprimento das ações afirmadas e não implementadas. E muitas vezes a própria legislação impõe condutas por parte das empresas, o que não pode ser visto como ação social, que imprescinde voluntariedade.

Essa obrigatoriedade pode decorrer de disposições constantes no próprio estatuto social da pessoa jurídica. Entretanto, a vinculação maior se dá por conta de lei, notadamente o Código de Defesa do Consumidor, que traz vinculação da empresa às publicidades por ela anunciadas.

A publicidade de ações sociais tem a nítida finalidade de criar demanda em consumidores específicos. Cada vez mais, esses tomam decisões de forma consciente e considerando o grau de relação da instituição com a sociedade. Isso pode ser um fator na tomada de decisão do consumidor pela escolha da instituição. Por isso, faz-se necessário analisar a inserção direta e determinante do Código de Defesa do Consumidor, com todos os consectários de serem as condutas amalgamadas aos normativos consumeristas, como o de inversão de ônus da prova sobre a implementação das atividades divulgadas nos sites informativos das instituições.

Com tais premissas, a análise casuística dos sítios eletrônicos das entidades promotoras de educação permite a verificação de existir ou não real atuação de responsabilidade social e eventual dimensão e importância para a comunidade.

É preciso verificar nos estatutos sociais das entidades sobre haver ali o necessário comprometimento. Entretanto, mais efetiva e com maiores reflexos é a análise dos sítios eletrônicos das entidades, nos quais se encontram as informações mais detalhadas sobre as atividades de cunho social desenvolvidas, o que, como visto, vincula as entidades, em face das imposições do Código de Defesa do Consumidor.

A análise dos sites, com a transcrição das afirmações ali constantes para uma posterior análise subjetiva do tipo de eventual ação de responsabilidade social, tem por objetivo a identificação da forma de atuação social das entidades de ensino. A análise tem como finalidade verificar se a tradição do empresariado pátrio em guinar para as ações de cunho filantrópico ainda persiste ou se há projetos específicos e bem definidos em áreas de políticas públicas.

7 LAUTENSCHLEGER JÚNIOR, Nilson. Os desafios propostos pela Governança Corporativa ao Direito Empresarial

Brasileiro – ensaio de uma reflexão crítica e comparada. São Paulo: ed. Malheiros, 2005, p. 86-87. No mesmo sentido: THIRY-CHERQUES, Hermano Roberto. Responsabilidade moral e identidade empresarial. Revista Administrativa Contemporânea, vol.7, Curitiba, 2003. Disponível em: http://bit.ly/2lEQdnI. Acesso em: 09 de maio de 2019.

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CAPÍTULO 01 – A Difícil Construção de um Conceito de Responsabilidade Social e suas Implicações

O desdobramento do que se deve entender sobre responsabilidade social de uma empresa é essencial para analisar que condutas de uma entidade de ensino podem ou não ser consideradas com característica de cunho social.

A ideia de que as entidades empresárias possuem um papel a cumprir ao lado do governo e da sociedade civil vem ganhando força nas últimas décadas. São ações do setor privado que visam a redução das desigualdades, o desenvolvimento sustentável e os movimentos éticos8. Há uma busca por uma inclusão social mais efetiva. Assim, o tema da responsabilidade social das empresas ganha força.

O termo responsabilidade social é amplo e é constantemente apresentado com vários sinônimos, tais como filantropia empresarial e ativismo social empresarial9. O próprio conceito traz em si uma contradição, eis que une o mais puro caráter ideológico das sociedades capitalistas com um processo necessário de relacionamento e comprometimento com o corpo social10.

Vista geralmente como um compromisso moral11, seja ou não em sua área de atuação, firmado por uma organização para com a sociedade em geral, consubstanciado em atos que a afetem de forma positiva12, a Responsabilidade Social da Empresa, ou Responsabilidade Social Corporativa, deve ir além das determinações legais, consistindo em verdadeiro ato de cidadania empresarial13.

8 KON, Anita apud SEN, Amartya; IPEA. Responsabilidade Social das Empresas como Instrumento para o

Desenvolvimento: a Função da Política Pública. 2013. Disponível em: http://bit.ly/2kDtZ5h. Acesso em: 04 de maio de 2019, p. 49-50.

9 CRUZ, Lucia Maria Marcellino de Santa. Responsabilidade social: visão e intermediação da mídia na redefinição do

público e do privado. Rio de Janeiro, 2006. Disponível em: http://bit.ly/2kDuBI7. Acesso em: 20 de abr. de 2019. “Responsabilidade social é um conceito amplo, com muitos significados e sinônimos: cidadania corporativa, desenvolvimento sustentável, crescimento sustentável, sustentabilidade, capitalismo sustentável, filantropia empresarial, marketing social, ativismo social empresarial. São muitos termos que em geral se referem ao conjunto de ações empreendidas por empresas em relação à sociedade e que ultrapassam a esfera direta e imediata da sua atividade econômica” (p. 13). No mesmo sentido: “Frequentemente, a responsabilidade social de uma empresa é estabelecida por meio de contribuições extraídas de uma panaceia conceitual, dentro da qual se impera o intuito não muito comprovado de resolver a pobreza mundial, a exclusão social e a degradação do meio ambiente.” MUNCK, Luciano; DE SOUZA, Rafael Borim. Responsabilidade social empresarial e sustentabilidade organizacional: a hierarquização de caminhos estratégicos para o desenvolvimento sustentável. REBRAE, v. 2, n. 2, p. 185-202, 2009. Disponível em: http://bit.ly/2kbg5an. Acesso em: 17 de abr. de 2019, p. 190.

10 ALVES, Elvisney Aparecido. Dimensões da responsabilidade social da empresa: uma abordagem desenvolvida a

partir da visão de Bowen. Revista de Administração da Universidade de São Paulo, v. 38, n. 1, 2003. Disponível em: http://bit.ly/2lMgWyp. Acesso em: 18 de abr. de 2019, p. 38.

11 FARIA, Alexandre; SAUERBRONN, Fernanda Filgueiras. A responsabilidade social é uma questão de estratégia?

Uma abordagem crítica. Revista de Administração Pública, v. 42, n. 1, p. 7-34, 2008. Disponível em: http://bit.ly/2lIcpgz. Acesso em: 18 de abr. de 2019, p. 18.

12 ASHLEY, Patrícia Almeida. Ética e responsabilidade social nos negócios. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 150. 13 BENINE, Renato Jaqueta, apud MARTINELLI, Antônio Carlos. Responsabilidade social empresarial: um conceito

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O gestor de uma entidade empresária ou civil deve atuar em um ambiente econômico que comporta expectativas do público em geral, devendo gerenciar os recursos com o objetivo de atingir os grandes fins sociais14. Parte-se da premissa de que as organizações teriam responsabilidades diretas no que se refere à resolução de entraves ao desenvolvimento da sociedade15.

Os objetivos econômicos, sociais, humanos e ambientais tornaram conhecida a sigla 3Ps (people, planet and profit) para caracterizar a responsabilidade social das empresas16. Com efeito, o tratamento humano, seja dos consumidores, funcionários e comunidade, faz-se sempre presente, e, aliado a preocupações ambientais, exige a compatibilidade de tais ações com a busca de lucro.

Vista como um compromisso por implicar assunção de obrigações para com a sociedade, as ações decorrentes devem ir além da organização dos fatores de produção com o objetivo de lucro, buscando uma atuação ética17 em todas as frentes, como o equilíbrio ecológico e o desenvolvimento sustentável18. Pode ser verificada em formas de gestão que, de maneira transparente e ética, define objetivos empresariais compatíveis com o desenvolvimento19 em quaisquer de seus diversos aspectos (ambiental, econômicos, cultural20, social, ético21, corporativo22), mas sempre seguindo os valores e objetivos da sociedade23.

O conceito de responsabilidade social empresarial é complexo e dinâmico, permitindo várias abordagens. Uns a veem como responsabilidade legal, outros, como responsabilidade ética, ou como

14 IRIGARAY, Hélio Arthur Reis, VERGARA, Sylvia Constant, & ARAUJO, Rafaela Garcia. 2017. Responsabilidade

social corporativa: o que revelam os relatórios sociais das empresas. Organizações & Sociedade, 24(80), 73-88. Disponível em: http://bit.ly/2lKYfLw. Ac3esso em: 29 de abr. de 2019.

15 TOMEI, Patrícia A., 1984. Responsabilidade social de empresas: análise qualitativa da opinião do empresariado

nacional. Revista de Administração de Empresas, 24(4), 189-202. Disponível em: https://dx.doi.org/10.1590/S0034-75901984000400029. Acesso em: 29 de abr. de 2019.

16 MUNCK, Luciano; DE SOUZA, Rafael Borim. Responsabilidade social empresarial e sustentabilidade

organizacional: a hierarquização de caminhos estratégicos para o desenvolvimento sustentável. REBRAE, v. 2, n. 2, p. 185-202, 2009. Disponível em: https://periodicos.pucpr.br/index.php/REBRAE/article/view/13457. Acesso em: 17 de abr. de 2019, p. 191.

17 RIBAS, José Roberto; VICENTE, Túlio Vagner dos Santos; ALTAF, Joyce Gonçalves; & TROCCOLI, Irene

Raguenet. 2017. Integração de ações na gestão sustentável. REAd – Revista Eletrônica de Administração. vol. 23. n. 2 Porto Alegre. Disponível em: http://bit.ly/2m5Gve5. Acesso em: 29 de abr. de 2019.

18 TENÓRIO, F. G. Responsabilidade social empresarial: teoria e prática: Rio de Janeiro: FGV, 2006. p. 25.

19 INSTITUTO ETHOS DE EMPRESAS E RESPONSABILIDADE SOCIAL. Formulação e Implantação de Código

de Ética em Empresas. São Paulo, 2003, p. 3. No mesmo sentido: IDOWU, Samuel O. et al apud WORLD BANK. Corporate Social Responsibility in Times of Crisis: Practices and Cases from Europe, Africa and the World. Springer; Edição: Softcover reprint of the original 1st. ed. 2017, p. 395.

20 KON, Anita apud FLETA, Luis Solano. Responsabilidade Social das Empresas como Instrumento para o

Desenvolvimento: A Função da Política Pública. 2013. Disponível em: http://bit.ly/2kDtZ5h. Acesso em: 04 de maio de 2019, p. 51.

21 CARROL, Archie B. apud BITELLI, Marcos Alberto Sant’Anna. Temas Atuais de Direito Civil na Constituição

Federal. São Paulo: ed. Revista dos Tribunais, Ano 2000, p. 269.

22 DE Lucca, Newton. Da ética geral à ética empresarial. São Paulo: Quartier Latin, 2009, p. 327. 23 BOWEN, Howard R. Social responsibilities of businessman. New York, Harper & Row, 1953. p. 6.

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uma forma de atuação concreta a produzir resultados naturalísticos24. A presença de valores éticos é constante na conceituação da responsabilidade social25. A voluntariedade por parte da entidade empresária também é característica essencial26. O mesmo ocorre em relação ao comprometimento com o desenvolvimento sustentável27. O conceito de responsabilidade social inclusive é analisado no aspecto sociológico – que significa a adoção de padrões de comportamentos com aceitação na cultura de determinada sociedade28. E as ações exigidas das empresas são modeladas por tais padrões socioculturais29.

Preocupa-se a entidade empresarial com a implementação da capacidade produtiva e também com a transmissão de valores ambientais, econômicos e sociais, de uma geração a outra30. Os direitos sociais há muito vem sendo garantidos pelas leis, e o Estado é o principal promotor de tais direitos. Entretanto, diante da ineficiência do Estado, a sociedade passa a demandar das prórias empresas determinados serviços31.

A responsabilidade social de uma pessoa empresária – física ou jurídica – traria, no sentido de adotar decisões de conhecimento gerencial que considerem a ética, o respeito às desigualdades, os valores da comunidade na qual está inserida, atendendo e até mesmo superando valores éticos de destaque32. Seria um comprometimento permanente dos empresários, sejam eles individuais ou 24 BERTONCELLO, Silvio Luiz Tadeu; CHANG JÚNIOR, João. A importância da responsabilidade social corporativa

como fator de diferenciação. FACOM – Revista da Faculdade de Comunicação da FAAP, nº 17, 2007, p. 72.

25 RICO, Elizabeth de Melo. A responsabilidade social empresarial e o Estado: uma aliança para o desenvolvimento

sustentável. Revista São Paulo em perspectiva, v. 18, n. 4, p. 73-82, 2004. Dísponível em http://bit.ly/2m5GKpv. Acesso em: 23 de abr. de 2019, p. 76: “[..] a responsabilidade social empresarial é uma forma de conduzir as ações organizacionais pautada em valores éticos que visem integrar todos os protagonistas de suas relações: clientes, fornecedores, consumidores, comunidade local, governo (público externo) e direção, gerência e funcionários (público interno), ou seja, todos aqueles que são diretamente ou não afetados por suas atividades, contribuindo para a construção de uma sociedade que promova a igualdade de oportunidades e a inclusão social no país”.

26 COMMISSION OF THE EUROPEAN COMMUNITY [COM]. (2002). Comunicação relativa à responsabilidade

social das empresas: um contributo das empresas para um desenvolvimento sustentável. COM 347. Bruxelas. Disponível emhttp://bit.ly/2kAoAMh. Acesso em: 21 de abr. de 2019, p. 4.

27 WORLD BUSINESS COUNCIL FOR SUSTAINABLE DEVELOPMENT [WBCSD]. (1998). Corporate Social

Responsibility: Meeting Changing Expectations. Disponível em: http://bit.ly/2kCYxnz. Acesso em: 21 de abr. de 2019, p. 20.

28 FEDATO, Maria Cristina Lopes. Responsabilidade social corporativa: benefício social ou vantagem competitiva?:

um estudo das estratégias de atuação social empresarial e sua avaliação de resultados. 2005. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo. Disponível em: http://bit.ly/2kD9tS7. Acesso em: 18 de abr. de 2019, p. 25.

29 SILVA, Alice Rocha da; MIRANZI, H. N. F. A Responsabilidade Social dos Partidos Políticos para a

Sustentabilidade do Regime Democrático. Nomos (Fortaleza), v. 38, p. 323-343, 2018. Disponível em: http://periodicos.ufc.br/nomos/article/view/39525. Acesso em: 14 de jun. 2019, p. 328.

30 SILVA, Solange Teles de. A ONU e a proteção do meio ambiente. In: MERCANTE, Araminta; MAGALHÃES, José

Carlos de (Org.). Reflexões sobre os 60 anos da ONU. Ijuí: Unijuí, 2005, p. 447.

31 DE SOUSA, Marisa Jaconini. A responsabilidade social de empresas privadas como novo elemento na dinâmica

democrática do Brasil, 2010, Tese de monografia (título de Especialista em Democracia Participativa, República e Movimentos Sociais), Universidade Federal de Minas Gerais. Disponível em: http://www.secretariadegoverno.gov.br/.arquivos/monografias/Marisa%20Jacomini%20de%20Sousa.pdf. Acesso em: 07 de maio de 2019, p. 7.

32 SZTAJN, Rachel. A Responsabilidade Social das Companhias. In: Revista de Direito Mercantil, Industrial,

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societários, com os compromissos éticos, buscando acima de tudo a qualidade de vida, seja de empregados, de seus familiares, dos integrantes da comunidade ou dos próprios clientes33.

No que se refere a empregados, em face da intensa regulamentação já existente e que obriga as empresas, não se podendo falar de responsabilidade social, há ainda iniciativas que vão para além da legislação, bucando maior qualidade de vida, como planos de saúde, qualificações profissionais, dentre outras ações34.

Sob a perspectiva de uma linha evolutiva, a responsabilidade social empresarial seria verificável em empresas que estivessem no nível mais avançado de seus estágios. O primeiro estágio seria o da entidade empresária que se resume a atuar para o seu próprio negócio, visando lucro com a organização dos fatores de produção, sendo os funcionários, a comunidade, o governo, o meio ambiente, os fornecedores e os clientes vistos como meios para se atingir os fins. No segundo, a entidade empresarial já se aproximaria de uma organização social, mantendo relação de interpendência com os stakeholders35 acima indicados. Busca-se nesse estágio intermediário construir uma relação ética com os diferentes públicos que se relacionam com uma entidade empresária, como funcionários, acionistas, governos, sindicatos, entidades governamentais e da sociedade civil organizada36. O último estágio seria formado por uma instituição empresarial cidadã, que busca propiciar modificações principalmente em seu campo de atuação37.

Seria a superação da busca perene e incessante pelo lucro, não configurando a entidade empresária um mero agente econômico, mas também um agente social. Além do lucro, o bem-estar

São Paulo: Malheiros Editores, abr./jun., 1999, p. 35. No mesmo sentido: FERREIRA, Cassia Bianca Lebrão Cavalari. A Responsabilidade Social Empresarial e o Direito. Disponível em: https://tede2.pucsp. br/bitstream/handle/7110/1/A%20RSE%20e%20o%20Direito%20revisada%20deposito%20digital.pdf. Acesso em: 05 de maio de 2019, p. 24.

33 MELO NETO, F. P. et al apud Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável em Holanda,

1998. Responsabilidade Social & Cidadania Empresarial – A Administração do Terceiro Setor. 2º ed. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001, p. 91.

34 COSTA, Maria Alice Nunes. Fazer o bem compensa? Uma reflexão sobre a responsabilidade social empresarial.

Revista Crítica de Ciências Sociais, n. 73, p. 67-89, 2005. Disponível em: https://journals.openedition.org/rccs/956. Acesso em: 17 de abr. de 2019, p. 75.

35 SCHOMMER, Paula Chies; ROCHA, Fabio. As Três Ondas da Gestão Socialmente Responsável no Brasil: Dilemas,

Oportunidades e Limites. ANPAD, XXXI Encontro ANPAD. Rio de Janeiro, 2007. No mesmo sentido: FEDATO, Maria Cristina Lopes. Responsabilidade social corporativa: benefício social ou vantagem competitiva?: um estudo das estratégias de atuação social empresarial e sua avaliação de resultados. 2005. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo. Disponível em: http://bit.ly/2kD9tS7. Acesso em: 18 de abr. de 2019, p. 29.

36 PEREIRA, Adriana Camargo. Responsabilidade Empresarial. Anuário da Produção Acadêmica Docente. Vol. III, nº

6, Ano 2009. p. 239-248. Disponível em: http://bit.ly/2lMUqWb. Acesso em: 20 de abr. de 2019, p. 245.

37 BENINE, Renato Jaqueta apud MARTINELLI, Antônio Carlos. Responsabilidade social empresarial: um conceito

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também seria sempre visado38, buscando-se maximizar o impacto positivo da entidade empresária sobre o meio na qual se encontra inserida39.

De início, poder-se-ia tentar se afirmar que a responsabilidade social seria sacrificar os lucros por interesse social40. Ocorre que, em uma sociedade complexa e globalizada, a responsabilidade social pode, além de gerar lucros, permitir a continuidade da empresa, eis que o consumidor pode privilegiar o empresário que tenha uma reconhecida atuação social. Assim, a responsabilidade social poderia estar dentro do objetivo de lucro do empresário, sendo que há inclusive ilações no sentido de ser também a responsabilidade social um conjunto de ações de marketing41.

Nessa linha, identificam-se ações voltadas ao público interno da entidade empresária, ou seja, seus funcionários e colaboradores, assegurando-se-lhes melhores condições de vida, proporcionando planos de saúde, de cargos e salários, condições de segurança, visando-se o aumento da produtividade corporativa. Em relação ao público externo, há os programas e projetos comunitários42.

Entretanto, há quem negue a existência da própria responsabilidade social, destacando que uma atuação com responsabilidade social nada mais é do que obrigação de uma entidade empresarial, que sempre deve buscar lucros evitando concorrência desleal ou fraudes43. Por serem como os indivíduos, as empresas são passíveis de responsabilização pelas consequências de suas atitudes, devendo por isso fazer uma análise profunda antes de adotar esta ou aquela forma de atuação44. Nos mais diversos estágios de uma entidade empresária, as ações, gerencial, estratégica

38 CARVALHO, Lúcia Regina Faleiro et al apud KROETZ, Cesar Eduardo. Demonstração da Responsabilidade

Social. Comissão de Estudos de Responsabilidade Social, Porto Alegre-RS, Julho de 2009. Disponível em: http://www.crcrs.org.br/arquivos/livros/livro_resposocial.pdf. Acesso em: 09 de maio de 2019.

39 UFRJ. Laboratório de Tecnologia e Desenvolvimento Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro apud

FERRELL & FRAEDTRICH & FERRELL. Conceitos em Responsabilidade Social Empresarial. Curso de Extensão em Gestão de Iniciativas Sociais. Disponível em: http://www.mobilizadores.org.br/wp-content/uploads/2014/05/texto-5363c742b8043.pdf. Acesso em: 09 de maio de 2019, p. 22.

40 KON, Anita apud ELHAUGE, Einer. Responsabilidade Social das Empresas como Instrumento para o

Desenvolvimento: A Função da Política Pública. 2013. Disponível em: http://bit.ly/2kDtZ5h. Acesso em: 04 de maio de 2019, p. 51.

41 UFRJ. Laboratório de Tecnologia e Desenvolvimento Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro apud

CZINHOTA, Michael R.; DICKSON; Peter R. Conceitos em Responsabilidade Social Empresarial. Curso de Extensão em Gestão de Iniciativas Sociais. Disponível em: http://bit.ly/2k7uAvF. Acesso em: 09 de maio de 2019, p. 21. No mesmo sentido: Laboratório de Tecnologia e Desenvolvimento Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro apud KOTLER, Philip; ARMSTRONG, Gary. Conceitos em Responsabilidade Social Empresarial. Curso de Extensão em Gestão de Iniciativas Sociais. Disponível em: http://bit.ly/2k7uAvF. Acesso em: 09 de maio de 2019, p. 21-22.

42 COSTA, Maria Alice Nunes, op. cit.

43 FRIEDMAN, Milton, Does business have a social responsibility? Bank Administration, Apr. 1971; The Social

responsibility of business is to icrease it's profits. 27ie NY Times Magazine, Sept. 13,1970.

44 GUIMARÃES, Heloisa Werneck Mendes. Responsabilidade social da empresa: uma visão histórica de sua

problemática. Revista de Administração de Empresas, v. 24, n. 4, 1984. Disponível em: http://bit.ly/2ksh3zd. Acesso em: 05 de maio de 2019.

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e civil – sejam elas relacionadas à defesa da entidade e à compliance – em todas, o objetivo final seria maximizar os ganhos para a entidade45.

A principal indagação é se a responsabilidade social é uma obrigação ou apenas uma diretriz de comportamento a ser seguida46. Entendida como obrigação, deve estar acompanhada de sanção, culpa, reprovação e castigo47. O legislador traz, em alguns casos, a resposta, quando, por exemplo, trata das sociedades anônimas, impondo ao administrador de uma sociedade por ação a obrigação de atuar considerando o bem público e a função social da empresa, tratando inclusive da distribuição de benefícios aos empregados48.

Acrescenta-se que a escolha do termo “responsabilidade” em detrimento do termo “dever” foi escolhido em face da não obrigatoriedade que o direito internacional impunha às empresas, por se consubstanciarem os intrumentos internacionais em materializações da soft law49.

No entanto, se a atuação é determinada por lei, não se teria a configuração de uma responsabilidade social da empresa50, eis que esta sempre deve ser voluntária, não podendo ser confundida com imposições compulsórais feitas pelo legislador, ou mesmo atuação para se conseguir benefícios, por exemplo, fiscais51. A responsabilidade social, por natureza, deve ser voluntária52, buscando a entidade empresária contribuir com um melhor ambiente e uma sociedade

45 BATTAGELLO, Ligia Antonio apud ZADEK, S. Responsabilidade Social Empresarial e Parcerias Sociais – Modelo

Relacional e Estudo de Caso. 2013. Disponível em: http://bit.ly/2lEoeob. Acesso em: 09 de maio de 2019, p. 38-40.

46 LAUTENSCHLEGER JÚNIOR, Nilson. Os desafios propostos pela Governança Corporativa ao Direito Empresarial

Brasileiro – ensaio de uma reflexão crítica e comparada. São Paulo: ed. Malheiros, 2005, p. 86-87.

47 THIRY-CHERQUES, Hermano Roberto. Responsabilidade moral e identidade empresarial. Revista Administrativa

Contemporânea, vol.7, Curitiba, 2003. Disponível em: http://bit.ly/2lEQdnI. Acesso em: 09 de maio de 2019.

48 BRASIL, Lei nº 6.404/1976, Art. 154: “O administrador deve exercer as atribuições que a lei e o estatuto lhe conferem

para lograr os fins e no interesse da companhia, satisfeitas as exigências do bem público e da função social da empresa. § 1º O administrador eleito por grupo ou classe de acionistas tem, para com a companhia, os mesmos deveres que os demais, não podendo, ainda que para defesa do interesse dos que o elegeram, faltar a esses deveres. § 2° É vedado ao administrador: a) praticar ato de liberalidade à custa da companhia; b) sem prévia autorização da assembléia-geral ou do conselho de administração, tomar por empréstimo recursos ou bens da companhia, ou usar, em proveito próprio, de sociedade em que tenha interesse, ou de terceiros, os seus bens, serviços ou crédito; c) receber de terceiros, sem autorização estatutária ou da assembléia-geral, qualquer modalidade de vantagem pessoal, direta ou indireta, em razão do exercício de seu cargo. § 3º As importâncias recebidas com infração ao disposto na alínea c do § 2º pertencerão à companhia. § 4º O conselho de administração ou a diretoria podem autorizar a prática de atos gratuitos razoáveis em benefício dos empregados ou da comunidade de que participe a empresa, tendo em vista suas responsabilidades sociais”.

49 SILVA, Alice Rocha da; FIRME, Telma. A Contribuição do Direito Administrativo Global para a Construção de

Regras de Responsabilidade Social Empresarial. Rei – Revista Estudos Institucionais, [S.l], v. 3, n. 1, p. 677-700, ago. 2017. ISSN 2447-5467. Disponível em: https://www.estudosinstitucionais.com/REI/article/view/109. Acesso em: 14 de jun. de 2019, p. 692.

50 OLIVEIRA, José Arimatés de. Responsabilidade social em pequenas e médias empresas. Revista de Administração

de Empresas. V. 24, nº 4, p. 203-210, out/dez 1984, p. 205.

51 EON, Fábio Soares. O que é responsabilidade social? Revista Responsabilidade Social.com, 2015. Disponível em:

http://www.responsabilidadesocial.com/wp-content/uploads/2015/04/O-Que-E-Responsabilidade-Social.pdf. Acesso em: 05 de maio de 2019, p. 01.

52 COMISSÃO DAS COMUNIDADES EUROPEIAS. Livro Verde da Comissão Europeia: promover um quadro

europeu para a responsabilidade social das empresas. Bruxelas: CCE, 2001, parágrafo 8º. No mesmo sentido: MONTAGNA, Douglas. Responsabilidade social empresarial: sustentabilidade ou estratégia de negócio?. 2015.

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mais justa. Pode-se afirmar que a responsabilidade social corporativa se inicia quando termina as obrigações decorrentes de imposição legal53, não podendo ser fruto de embates entre entidade, trabalhadores, sindicatos ou órgãos de fiscalização estatais54.

Um panorama sobre as diversas conceituações para responsabilidade social faz percebermos, como ponto comum entre os diversos conceitos, a necessidade de a entidade empresarial adentrar na seara de políticas. Ou seja, ações que de algum modo tenham algum reflexo na comunidade em que está inserida, não devendo a ação ser confundida com a mera filantopria pontual, mas sim como ação que envolve planejamento e implementação.

Dessa forma, entendemos que a responsabilidade social está relacionada com as ações de uma entidade empresária que, em seu objetivo de lucro, implementem políticas planejadas e permanentes que tenham algum reflexo na comunidade em que está inserida.

2 HISTÓRICO E EVOLUÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL

Por natureza, a atividade da empresa era pautada com base nas diretrizes da propriedade privada e da livre iniciativa, permitindo as empresas uma atuação livre. É base do liberalismo uma atuação livre do indivíduo na busca pela maximização de seus lucros.

As próprias leis de mercado regulariam as condutas, sendo que sequer ao Estado caberia interferências, além daquelas necessárias para proteger a propriedade privada e a concorrência. A mão invisível e sempre eficiente do mercado seria incumbida de prevenir o abuso econômico e, inclusive, promover o bem-estar social pelas próprias leis de mercado55.

Entretanto, em um contexto de crise mundial, no que se refere à confiança nas empresas e à atuação politicamente correta56, surgiram novas diretrizes e exigências. O acesso à informação, o respeito ao meio ambiente e aos padrões éticos, decorrentes da globalização, fez com que correntes

Dissertação (Mestrado em Planeamento e Estratégias Empresariais), Universidade Autónoma de Lisboa Luís de Camões – UAL, Lisboa. Disponível em: http://hdl.handle.net/11144/1847. Acesso em: 28 de abr. de 2019, p. 17.

53 MACÊDO, N. M. M. N. Considerações acerca da Responsabilidade Social Empresarial: um estudo a partir de sua

evolução histórica. 2013. Universidade Federal da Paraíba. Simpósio de Excelência e Gestão em Tecnologia. Disponível em: http://bit.ly/2kcK7dQ. Acesso em: 02 de maio de 2019, p. 05.

54 CHEIBUB, Zairo B.; LOCKE, Richard M. Valores ou interesses? Reflexões sobre a responsabilidade social das

empresas. Empresa, empresários e globalização. Rio de Janeiro: Relume Dumará, p. 279-291, 2002. Disponível em: http://bit.ly/2m1cJHl. Acesso em: 18 de abr. de 2019, p. 02.

55 BORGER, Fernanda Gabriela. Op. cit., p. 15.

56 RICO, Elizabeth de Melo apud MIFANO, G. A responsabilidade social empresarial e o Estado: uma aliança para o

desenvolvimento sustentável. São Paulo em perspectiva, v. 18, n. 4, 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-88392004000400009&script=sci_arttext&tlng=pt. Acesso em: 05 de maio de 2019.

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do neoliberalismo permitissem o surgimento de um poder privado supra estatal voltado à área social57.

A teoria de responsabilidade social surgiu na década de 195058, tendo forte referencial teórico o autor Howard Bowen. Este constatou que as ações empresariais atingem a vida dos cidadãos, sendo que os impactos sociais, bem como a atuação ética e com destinação social, deveriam ser incorporados à gestão de negócios, devendo, inclusive, ser objeto de auditorias59. Por outro lado, também em meados do século XX, em face da Grande Depressão do Mercado de Capitais e também da Segunda Guerra Mundial, o conceito de responsabilidade social iniciou um processo gradativo de consolidação60.

Também pode ser considerado como marco da responsabilidade social a guerra entre Estados Unidos e Vietnã, quando se passou a questionar o papel de determinadas empresas61. Na sociedade americana, evidenciaram-se correntes teóricas sobre responsabilidade social, pregando a defensa pelas empresas do interesse público, por meio de ações responsáveis, havendo também influências ora religiosas ora humanistas62.

Na década de 1960, foram vários os movimentos impondo que a finalidade das empresas deve ser maior que apenas a busca pela maximização dos lucros, exigindo-se uma postura pública da empresa perante os problemas sociais.

Na década de 1970, a responsabilidade social passa a fazer parte dos debates públicos sobre pobreza, desemprego, diversidade, desenvolvimento, poluição, igualdade, entre diversos outros temas, ensejando um maior comprometimento das organizações. Autor de destaque é Carroll, criador do modelo conceitual tridimensional de performance social63. No final da década, fora proposto um modelo negocial englobando expectativas sobre a responsabilidade social de uma

57 SILVA, Alice Rocha da; FIRME, Telma. Op. cit., p. 690.

58 MACÊDO, N. M. M. N, op. cit., p. 03: “Mais precisamente em 1953, o tema foi discutido, tendo sido caracterizado

como filantropia, condição reconhecida pela Suprema Corte Norte-americana. Nesse mesmo ano, a obra de Bowen (1953), intitulada Social Responsabilities of the Businessman, que tinha como questão central discutir a responsabilidade do homem de negócio para com a sociedade além de suas obrigações laborais, dá início à era moderna da RSE (apud CARROLL, 1999)”.

59 BERTONCELLO, Silvio Luiz Tadeu; CHANG JÚNIOR, João apud BOWEN, Howard R.; KHEITH DAVIS;

McGUIRE, J.W, CARROL, A.B. A importância da responsabilidade social corporativa como fator de diferenciação. FACOM – Revista da Faculdade de comunicação da FAAP nº 17, 2007, p. 71.

60 BATTAGELLO, L. A.; PRADO JÚNIOR, S. T. Responsabilidade social empresarial e parcerias sociais : modelo

relacional e estudo de caso. 2013. Disponível em: http://bit.ly/2lKqYQY. Acesso em: 02 de maio de 2019, p. 18.

61 FERREIRA, Cassia Bianca Lebrão Cavalari. A Responsabilidade Social Empresarial e o Direito. Disponível em:

http://bit.ly/2m0q0Qq. Acesso em: 05 de maio de 2019, p. 80.

62 BITTENCOURT, Epaminondas; CARRIERI, Alexandre. Responsabilidade social: ideologia, poder e discurso na

lógica empresarial. Revista de Administração de empresas, v. 45, n. SPE, p. 10-22, 2005. Disponível em: http://bit.ly/2lEsqnV. Acesso em: 18 de abr. de 2019, p. 13.

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empresa: legal, ética, econômica e discricionária64. A França, em 1977, foi pioneira em criar uma lei obrigando as empresas a demonstrar em forma de balanço suas ações sociais65.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 1977, publicou a Declaração Tripartite de Princípios sobre as Empresas Multinacionais e a Política Social com o objetivo de sensibilizar sobre a responsabilidade social das empresas66. A crise do petróleo que se dera entre os anos de 1973 e 1979, bem como os vários acidentes ambientais que ocorreram na década de 1980, alertaram para a finitude dos recursos e potencial danoso de algumas atividades humanas para o meio ambiente67.

Na década de 1990, houve um fortalecimento da responsabilidade social da empresa frente aos desafios da globalização e uma verificação de crise de Estados e de fortalecimento e mobilização da sociedade civil organizada68.

Em 2008, as Nações Unidas lançaram um quadro com o objetivo de “proteger, respeitar e reparar”, cujos pilares eram a proteção do Estado em relação a atos violadores dos direitos humanos, inclusive os praticados por empresas69.

A revolução nos meios de transportes, a comunicação instantânea e a globalização fizeram surgir a realização de negócios em uma escala nunca antes vista. E com ela veio a responsabilidade de empresas. Mesmo atuando em países em que sequer os governos possuem muitas preocupações políticas, a imagem mundial de uma empresa que atuasse, por exemplo, explorando trabalhadores em determinado país, trazia consequências prejudiciais ao seu mercado mesmo em outros países70.

O surgimento dos conglomerados empresariais em que cada vez mais as atividades eram exercidas por um mesmo grupo empresarial, sendo que, a depender do porte de uma empresa e do país em que ela atue, ela pode inclusive ditar as regras a serem seguidas pelos entes estatais, sob pena de com o governo não fazer negócios. E atualmente, não apenas em pequenos países ou países pobres, as organizações possuem destaque. As operações das empresas afetam a sociedade como

64 BERTONCELLO, Silvio Luiz Tadeu; CHANG JÚNIOR, João apud BOWEN, Howard R.; KHEITH DAVIS;

McGUIRE, J.W, CARROL, A.B. Op. cit, p. 71.

65 PEREIRA, Adriana Camargo. Responsabilidade Empresarial. Anuário da Produção Acadêmica Docente, Vol. III, Nº

6, Ano 2009, p. 239-248. Disponível em: http://bit.ly/2lMUqWb. Acesso em: 20 de abr. de 2019, p. 244.

66 SILVA, Alice Rocha da; FIRME, Telma, op. cit., p. 689.

67 SOUSA, Ana Carolina Cardoso. Responsabilidade Social e Desenvolvimento Sustentável: a incorporação dos

conceitos à Estratégia Empresarial. Rio de Janeiro, 2006. Disponível em: http://bit.ly/2lL2J4O. Acesso em: 17 de abr. de 2019, p. 26.

68 COSTA, Maria Alice Nunes, op. cit.: “Atento a esse processo, em 1996, o Presidente norte-americano Bill Clinton

promoveu uma conferência reunindo empresários, líderes trabalhistas e estudantes para discutir, disseminar e incentivar práticas de empresas socialmente responsáveis”.

69 SILVA, Alice Rocha da; FIRME, Telma, op. cit., p. 691. 70 BORGER, Fernanda Gabriela. Op. cit., p. 16-17.

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um todo71. Garantias trabalhistas, atuações ambientais, relações empresariais com o Poder Público, promoção de igualdade, enfim, vários aspectos não são mais aqueles outrora restritos aos ambientes internos das empresas. Tornou-se fluida a linha divisória entre os problemas que estão fora e dentro das empresas72.

Há uma aproximação crescente entre os interesses das organizações produtivas e o da sociedade. Surgem inclusive empresas muito lucrativas cujo foco principal é a sustentabilidade, como as que promovem a produção de veículos elétricos, energias renováveis, reciclagem, dentre diversos outros modelos de negócios em que o desenvolvimento social e sustentável é a tônica principal. As vantagens que consideram apenas preços muitas vezes não são suficientes para o obtenção de mercado consumidor, estando cada vez mais a qualidade do produto relacionada à relação da empresa com a sociedade73.

Mesmo as entidades que não tenham como objetivo social a sutentabilidade, passam a ser exigidas um engajamento ético em sua cultura organizacional74. Nas sociedades de capital aberto, a Responsabilidade Social Corporativa impõe um conjunto de atividades de assistência social75, o que é inclusive exigido por determinados grupos de acionistas. Quando as atividades não são desenvolvidas pela própria entidade empresarial, esta cria um braço para tal atuação, por exemplo, por meio de fundações e de outros institutos empresariais para se incumbir do objetivo social76.

As mais variadas certificações têm sido uma forma de premiar empresas com reconhecida atuação social nas mais variadas áreas. Pode ser citado como exemplo os relatórios da Associação Internacional para Esforços Voluntários (International Association for Volunteer Effort – Iave), que congrega empresas com atuação na área de responsabilidade social voluntária, nas mais variadas áreas como finanças, seguros, tecnologia, mineração, entre outras diversas áreas. Os relatórios da

71 PIOVESAN, Flávia; SOARES, Inês Virgínia Prado. Direito ao desenvolvimento. São Paulo, 2002. Disponível em:

http://www.dhnet.org.br/direitos/militantes/flaviapiovesan/piovesan_direito_ao_desenvolvimento.pdf. Acesso em: 05 de maio de 2019, p. 12: “No que se refere ao setor privado, há também a necessidade de acentuar sua responsabilidade social, especialmente das empresas multinacionais, na medida em que constituem as grandes beneficiárias do processo de globalização, bastando citar que das 100 (cem) maiores economias mundiais, 51 (cinqüenta e uma) são empresas multinacionais e 49 (quarenta e nove) são Estados nacionais”.

72 BORGER, Fernanda Gabriela, op. cit., p. 17.

73 PAES, A. A Responsabilidade Social Empresarial (RSE): espaço de intervenção profissional do Serviço Social. 2003.

Trabalho de Conclusão de Curso. Faculdade de Serviço Social da PUC-SP, São Paulo, 2003, p. 25.

74 KON, Anita. apud IAVE – International Association for Volunteer Effort. Responsabilidade Social das Empresas

como Instrumento para o Desenvolvimento: A Função da Política Pública. 2013. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/ppp/index.php/PPP/article/view/234. Acesso em: 04 de maio de 2019, p. 49-50.

75 CEZAR, M. D. J. Responsabilidade Social: uma expressão da hegemonia. In: FRANCISCO, E. M. V.; ALMEIDA,

C. C. L. de (Org.). Trabalho, território, cultura. São Paulo: Cortez, 2007, p. 121.

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entidade permitem a visão panorâmica global, verificando-se as diversidades culturais empresariais existentes nas diversas partes do planeta77.

As práticas sociais estão sendo consideradas e quantificadas, o que evita meros recursos a publicidade muitas vezes enganosa sobre a existência de engajamento social nas empresas.

Desde 2002, o Banco Mundial definiu regras socioambientais para nortear os seus critérios de financiamento, conhecidas como Princípios do Equador, sendo que estes, desde então, têm se tornado cada vez mais rigorosos, sendo os projetos classificados em face de seu nível de risco socioambiental, notadamente no que se refere às populações potencialmente atingidas pelos financiamentos78. Várias instituições financeiras mundiais, dentre elas grupos brasileiros, aderiram aos Princípios do Equador79.

3 RESPONSABILIDADE SOCIAL NO BRASIL

As atividades filantrópicas configuram a base do surgimento da responsabilidade social no Brasil e até os dias atuais ambos os termos muitas vezes são percebidos, de forma equivocada, como sinônimos.

Por aqui, movimentos associativos envolvendo as classes trabalhadoras no final do século XIX atuavam suprindo a ausência de legislação trabalhista. Já na década de 1930, houve atuação de ligas campesinas e comunidades eclesiais de base. Havia imposições vindas da sociedade que pressionavam, ainda que paulatinamente, os empresários80. Sentia-se a transição de uma economia agrícola para uma economia industrial, o que fez eclodir vozes pela proteção de consumidores, do meio ambiente e dos direitos humanos, permitindo-se o surgimento nas décadas de 1950 e 1960 de uma atuação empresarial filantrópica81.

Entretanto, indica-se que o debate formal teria surgido apenas com a criação da Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresa (ADCE), na década de 197082. A Igreja pode ser considerada como o primeiro e até mesmo como o principal ator no século XIX, trazendo um aspecto de caridade às políticas sociais, o que de certa forma até hoje é muito sentido na ação dos atores empresariais83. 77 KON, Anita apud IAVE – International Association for Volunteer Effort, op. cit., p. 69.

78 Ibidem, p. 74. 79 Idem, p. 74.

80 CAPOAVA, ALIANÇA. Responsabilidade Social Empresarial: Por que o guarda-chuva ficou pequeno. São Paulo:

Aliança Capoava, 2010. Disponível em: www.unesco.org.ve/documents/Alianzacapoava.pdf. Acesso em: 29 de abr. de 2019, p. 9.

81 SILVA, Alice Rocha da; FIRME, Telma, op. cit., p. 687.

82 FERREIRA, Cassia Bianca Lebrão Cavalari. A Responsabilidade Social Empresarial e o Direito. Disponível em:

http://bit.ly/2m0q0Qq. Acesso em: 05 de maio de 2019, p. 80.

83 FEDATO, Maria Cristina Lopes. Responsabilidade social corporativa: benefício social ou vantagem competitiva?:

um estudo das estratégias de atuação social empresarial e sua avaliação de resultados. 2005. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo. Disponível em: http://bit.ly/2kD9tS7. Acesso em: 18 de abr. de 2019, p. 31.

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Mas, ainda que crescente a atuação de empresas brasileiras na responsabilidade social, fazendo uma comparação mundial, ainda há uma timidez do setor empresarial. Muitas vezes, a ação social configura práticas de assistencialismo de curto prazo, com ênfase em políticas de doações e realização de filantropia84.

Todavia, entendemos que a responsabilidade social empresarial deve ir além da mera ação filantrópica. Esta, embora tenha muitos méritos, não pode ser reduzida à responsabilidade social85, que tem o objetivo maior de amalgamar comportamentos que sejam consensos a diversos atores da vida social e que sejam uma ação pró-ativa para, melhorando a qualidade de vida de funcionários, de seus familiares, de consumidores, da sociedade e da comunidade em geral.

Historicamente nem sempre assistência e filantropia fizeram parte da cultura empresarial no Brasil. Sempre houve muita dependência de impulso do Estado. É certo também que, na década de 1980, com a intensificação do processo tecnológico e notória eliminação de fronteiras nacionais com socialização de diversos valores e globalização econômica, tornou-se imperativo incursões na área social pelo empresariado86.

O impulso do Poder Público trazendo obrigações para as entidades empresariais é sensível. Em clima de crise socioeconômica internacional, muitas vezes, cabe às entidades governamentais determinar às empresas a implementação de responsabilidade social, o que é feito por meio de dispositivos legais87.

Mas para além, ora da imposição governamental, ora da necessidade econômica, há iniciativas promissoras, tendo havido sim o investimento de empresários na seara social88, notadamente daqueles com pretensões internacionais89.

Na década de 1990, em face de várias reformas neoliberais, houve a realização de diversas parcerias entre parte do setor privado, ávido por lucros, e parte atuante sem fins lucrativos, com soma de esforços para se multiplicar ações sociais90. Houve um processo de conscientização por

84 KON, Anita.Op. cit, p. 47.

85 MELO NETO, Francisco Paulo de; FROES, César. Gestão da responsabilidade social corporativa: o caso brasileiro

– da filantropia tradicional à filantropia de alto rendimento e ao empreendedorismo social. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001. p. 09.

86 RICO, Elizabeth de Melo apud RICO, E.M.; SPOSATI, A.O. et al.; BOSCHI, R.R.; DINIZ, E. A responsabilidade

social empresarial e o Estado: uma aliança para o desenvolvimento sustentável. São Paulo em perspectiva, v. 18, n. 4, 2004. Disponível em: http://bit.ly/2m5GKpv. Acesso em: 05 de maio de 2019.

87 INSTITUTO ETHOS DE EMPRESAS E RESPONSABILIDADE SOCIAL. Op. cit. 88 RICO, Elizabeth de Melo. Op. cit.

89 FISCHER, R, M. Estado, Mercado e Terceiro Setor: uma análise conceitual das parcerias intersetoriais. In R. Adm.,

São Paulo, v.40, n.1, jan./fev./mar. 2005, p. 8.

90 ASSIS, Karina Gomes; BELEM, Marcela Purini. Modelos de Empresa, Modelos de Responsabilidade Social. XXIX

Encontro Nacional de Engenharia de Produção. A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão. Disponível em: http://bit.ly/2kbljTx. Acesso em: 30 de abr. de 2019.

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parte das empresas para buscar colaboração visando uma maior responsabilidade social e ambiental91. Ganhou força no Brasil o movimento de valorização de empresas que praticassem a responsabilidade social, o que se nota pelo advento de diversas instituições não governamentais que fomentavam e incentivavam tal atuação, como o Instituto Ethos de Responsabilidade Social, caracterizada como uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE), a Rede de Informação do Terceiro Setor (RITs) e a Fundação Abrinq92.

O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) foi criado em 1997 e vincula-se ao World Business Concil for Sustainable Development (WBCSD), tendo o conselho a função de buscar a interlocução e entendimento entre o setor produtivo, a sociedade civil e o Governo93.

Há destaques de instituições privadas, inclusive as de ensino. O empresariado, ciente da ineficiência estatal em várias áreas para atender as demandas sociais, fez surgir grupos de atuação94. Por outro lado, a organização da sociedade civil e o surgimento de um consumo mais consciente por parte dos consumidores fizeram com que o empresariado visasse uma atuação social como forma de angariar mercados.

O Instituto Ethos de Empresas e Responsablidade Social, entidade não governamental, tem buscado sensibilizar e auxiliar entidades empresárias a gerir os negócios de forma socialmente responsável95. Por meio de diversos indicadores96, lançados no ano de 2000, trouxe destaques que

91 CAPOAVA, ALIANÇA. Op. cit., p. 10.

92 SILVA, Alice Rocha da; FIRME, Telma, op. cit., p. 689.

93 SOUSA, Ana Carolina Cardoso. Responsabilidade Social e Desenvolvimento Sustentável: a incorporação dos

conceitos à Estratégia Empresarial. Rio de Janeiro, 2006. Disponível em: http://bit.ly/2lL2J4O. Acesso em: 17 de abr. de 2019, p. 43.

94 KON, Anita, op. cit., p. 71-72: “Com a intensificação, na década de 1980, do debate internacional sobre a relativa

incapacidade do Estado de atender a todas as demandas sociais, bem como a necessidade de fortalecimento da sociedade civil, foram formados dois grupos informais de empresas brasileiras, o Grupo de Institutos Fundações e Empresas (Gife), em 1989, e o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social (Ethos), em 1998, para a discussão deste tema. Iniciaram um movimento para o debate da questão do papel das empresas privadas em relação à responsabilidade pelo desenvolvimento social do país, bem como a forma de contribuição efetiva e empírica para este objetivo”.

95 MATHIS, Adriana de Azevedo. et al. Responsabilidade social corporativa e direitos humanos: discursos e realidades.

Rev. Katálysis, vol.15, nº 1, Florianópolis Jan./Jun., 2012. Disponível em: http://bit.ly/2kAxucD. Acesso em: 08 de maio de 2019.

96 Ibidem. “Dentre os indicadores de divulgação do Balanço Social pode-se citar o Instituto Brasileiro de Análise Social

(Ibase), associação sem fins lucrativos e o Global Reporting Initiative (GRI), instituição que colabora no desenvolvimento de normas globais de elaboração de relatórios de sustentabilidade, principalmente, voltados para a temática da gestão ambiental. Cabe a esses institutos, entre outras coisas, a tarefa de regulamentar lei e certificar as empresas que produzem socialmente de maneira responsável.”

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se irradiaram inclusive para outros países da América Latina97, fomentando os instrumentos de comunicação que buscam garantir a transparência empresarial.

O Brasil tem firmado compromissos internacinais para reconhecer os esforços dos que possuem atuação solidária. Como exemplo, em 2004, endossou a Declaração do Milênio, em parceria com o Movimento Nacional pela Cidadania e Solidariedade e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), quando se criou o Prêmio ODM Brasil98.

As diretrizes sobre responsabilidade social da ABNT, de 2010, vincula as organizações a seus impactos ambientais, às suas condutas éticas e transparentes que contribuam para o desenvolvimento sustentável e bem-estar da sociedade. Tudo sempre em conformidade com a legislação nacional, com as normas internacionais e com o regramento interno da própria organização99.

4 EXEMPLOS DE EMPRESAS INTERNACIONAIS QUE ADOTAM A

RESPONSABILIDADE SOCIAL DA EMPRESA

A globalização impõe padrões de atuação às entidades privadas independentemente das regras específicas do país em que esteja atuando. Há nesse particular uma evidenciação de que a ação empresarial poder estar motivada por pressões não necessariamente provenientes dos regramentos dos entes públicos internacionais.

Entre as 50 empresas mais inovadoras do mundo, em análise feita pela Fast Company em 2018, não havia nem uma empresa brasileira100. Mas já há empresas como a Alunorte que aplica e divulga em seu código de ética as atividades sociais da empresas nos mais variados campos101.

97 LÁZARO, Benites; LUZ, Lira; GREMAUD, Amaury Patrick. A responsabilidade social empresarial e

sustentabilidade na América Latina: Brasil e México. Brazilian Journal of Management/Revista de Administração da UFSM, v. 9, n. 1, 2016. Disponível em: http://www.academia.edu/download/46200930/12279-104871-1-PB.pdf. Acesso em: 18 de abr. de 2019, p. 145: “A experiência de utilização dos Indicadores Ethos no Brasil foi referência para as organizações que trabalham o tema de RSE nos países da América Latina. Assim, o PLARSE, foi concebido com o intuito de contribuir para a construção de um único padrão de indicadores de responsabilidade social na América Latina, considerando os aspectos comuns do contexto latino-americano e as realidades específicas de cada país, além de difundir o componente de indicadores de SER do Programa Latino-Americano de Responsabilidade Social Empresarial – RSE-PLARSE. A versão latino-americana dos indicadores foi lançada no marco do PLARSE, que conta com a participação da ADEC (Paraguai), do CECODES (Colômbia), do CERES (Equador), da COBORSE (Bolívia), do IARSE (Argentina), do próprio Instituto Ethos (Brasil), do Perú2021 (Peru) e da UniRSE (Nicarágua)”.

98 DE SOUSA, Marisa Jaconini, A responsabilidade social de empresas privadas como novo elemento na dinâmica

democrática do Brasil, 2010, Tese de monografia (título de Especialista em Democracia Participativa, República e Movimentos Sociais), Universidade Federal de Minas Gerais, Disponível em: http://bit.ly/2lMzXkg. Acesso em: 07 de maio de 2019, p. 19.

99 ABNT. ISO. ABNT NBR ISO 26000. Diretrizes sobre responsabilidade social. 1ª ed. 2010, p. 04.

100 ÉPOCA NEGÓCIOS ONLINE, 2018. Disponível em: https://glo.bo/2lIjD4b. Acesso em: 05 de maio de 2019. 101 MATHIS, Adriana de Azevedo. et al. apud ALUNORTE. Responsabilidade social corporativa e direitos humanos:

discursos e realidades. Rev. Katálysis, vol.15, nº.1, Florianópolis Jan./Jun., 2012. Disponível em: http://bit.ly/2kAxucD. Acesso em: 05 de maio de 2019.

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