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3. SITUAÇÃO JURÍDICA DOS APÁTRIDAS NO BRASIL

3.3. A realidade das políticas públicas estendidas aos apátridas

3.3.5. Educação

235 Art. 3º. Para a indicação dos beneficiários do PMCMV, deverão ser observados os seguintes requisitos: I - comprovação de que o interessado integra família com renda mensal de até R$ 4.650,00 (quatro mil, seiscentos e cinquenta reais); II - faixas de renda definidas pelo Poder Executivo federal para cada uma das modalidades de operações; III - prioridade de atendimento às famílias residentes em áreas de risco ou insalubres ou que tenham sido desabrigadas; IV - prioridade de atendimento às famílias com mulheres responsáveis pela unidade familiar; e V - prioridade de atendimento às famílias de que façam parte pessoas com deficiência. § 1º. Em áreas urbanas, os critérios de prioridade para atendimento devem contemplar também: I – a doação pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios de terrenos localizados em área urbana consolidada para implantação de empreendimentos vinculados ao programa; II – a implementação pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios de medidas de desoneração tributária, para as construções destinadas à habitação de interesse social; III – a implementação pelos Municípios dos instrumentos da Lei no 10.257, de 10 de julho de 2001, voltados ao controle da retenção das áreas urbanas em ociosidade. § 2º. Vetado. § 3º. O Poder Executivo federal definirá: I - os parâmetros de priorização e enquadramento dos beneficiários do PMCMV; e II - a periodicidade de atualização dos limites de renda familiar estabelecidos nesta Lei. § 4. Além dos critérios estabelecidos no caput, os Estados, Municípios e Distrito Federal poderão fixar outros critérios de seleção de beneficiários do PMCMV, previamente aprovados pelos respectivos conselhos locais de habitação, quando existentes, e em conformidade com as respectivas políticas habitacionais e as regras estabelecidas pelo Poder Executivo federal. § 5º. Os Estados, Municípios e Distrito Federal que aderirem ao PMCMV serão responsáveis pela execução do trabalho técnico e social pós-ocupação dos empreendimentos implantados, na forma estabelecida em termo de adesão a ser definido em regulamento. § 6º. Na atualização dos valores adotados como parâmetros de renda familiar estabelecidos nesta Lei deverão ser observados os seguintes critérios: I - quando o teto previsto no dispositivo for de R$ 4.650,00 (quatro mil, seiscentos e cinquenta reais), o valor atualizado não poderá ultrapassar 10 (dez) salários mínimos; II - quando o teto previsto no dispositivo for de R$ 2.790,00 (dois mil, setecentos e noventa reais), o valor atualizado não poderá ultrapassar 6 (seis) salários mínimos; III - quando o teto previsto no dispositivo for de R$ 1.395,00 (mil, trezentos e noventa e cinco reais), o valor atualizado não poderá ultrapassar 3 (três) salários mínimos.

236 WROBLESKI, Stefano. Imigrantes haitianos são escravizados no Brasil. Disponível em <http://reporterbrasil.org.br/2014/01/imigrantes-haitianos-sao-escravizados-no-brasil>. Acesso em: 02 fev. 2016.

O acesso à educação em todos os níveis (básico, médio e superior) reveste- se de fundamental importância em países que visam o desenvolvimento. No Brasil, essa projeção reflete-se até mesmo no slogan do Governo Federal237. Nos últimos

quatorze anos, houve relevante investimento com relação à expansão da rede de ensino por meio da criação e ampliação de creches, escolas públicas, institutos tecnológicos e universidades238.

Reforçando os arts. 205 e 206 da Constituição Federal, a Lei n.º 9.394/96 (Diretrizes e Bases da Educação Nacional) elenca como princípios educacionais do país a solidariedade, a igualdade de condições para o acesso e permanência na escola e a atenção à diversidade étnica239. A lei, responsável por regulamentar os

níveis de educação básico (ensinos infantil, fundamental e médio) e superior (cursos de graduação, especialização, mestrado e doutorado), em nenhum momento cita os migrantes em quaisquer das suas modalidades, tampouco veda a sua cobertura, o que, pelo menos aparentemente, vai ao encontro da universalidade constitucional.

Apesar da inexistência de entraves legais expressos para a inserção do estrangeiro no ambiente escolar, a realidade prática desguarnecida por instrumentos de adaptação apresenta os reveses. Com a crescente chegada de migrantes no início do século em busca de vagas em escolas fundamentais, o medo do preconceito e a dificuldade da língua dificultam o contato da criança com os professores e colegas, especialmente quando ela está em situação irregular240.

Em pesquisa realizada no ano de 2010 cujo público alvo foram os bolivianos presentes nas escolas do estado de São Paulo, foram detectadas barreiras variadas para o seu acesso à educação. Quando em situação irregular, tais pessoas não

237 Desde que foi reconduzida à Presidência da República em 01 de janeiro de 2015, a Presidente Dilma Rousseff anunciou que o lema de sua segunda gestão é Brasil, Pátria Educadora.

238 Esses anos de crescimento contrastam com o momento atual de crise econômica e política do país. Em 2015, o Estado investiu apenas 27% do que originalmente havia previsto em educação, situação que aparentemente não sofrerá modificação para melhor em 2016. Cenário de tal natureza põe em cheque a prática educacional realizada em sala de aula e reflete no cotidiano dos jovens brasileiros, cada vez mais impulsionados ao consumo e não à reflexão intelectual dos mais diversos gêneros. Cf. RABAÇA, Carlos A. Carlos Alberto Rabaça: Pátria Educadora? Disponível em:

<http://odia.ig.com.br/noticia/opiniao/2016-01-31/carlos-alberto-rabaca-patria-educadora.html>. Acesso em: 01 fev. 2016.

239 Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; [...] XII - consideração com a diversidade étnico-racial.

240 HEIDRICH, Gustavo. O desafio das escolas brasileiras com alunos imigrantes. Nova Escola, ed. 235, Setembro 2010. Disponível em <http://revistaescola.abril.com.br/formacao/desafio-escolas- brasileiras-alunos-imigrantes-594423.shtml>. Acesso em: 02 fev. 2016.

dispõem da documentação requisitada pelas unidades escolares para ingresso, para mudança (impedimento de obtenção do histórico escolar) e mesmo para saída (não emissão do certificado de conclusão do curso ou diploma)241. A falta de informações

é uma adversidade peculiar dos migrantes. Os apátridas são mais vulneráveis que os nacionais de outros países por não portarem documento de Estado patrial.

O Ministério da Educação, em parceria com os governos estaduais e municipais, executa programas educacionais de nível básico para pessoas em idade escolar regular e avançada. O Programa Mais Educação, regulado pelo Decreto n.º 7.083/2010, visa oferecer educação integral associada a conhecimentos práticos em capitais e regiões metropolitanas do país com baixo índice de desenvolvimento educacional. Já o Programa Brasil Alfabetizado, regido pela Lei n.º 12.722/2012, tem por público alvo jovens a partir de quinze anos, adultos e idosos em situação de vulnerabilidade que não sabem ler ou escrever.

No ensino superior em nível de graduação, permite-se aos estrangeiros regulares a participação no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), nos termos da cláusula 11.2 do Edital n.º 06/2015 do INEP242, e a inscrição no Sistema de Seleção

Unificada (SISU), atualmente responsável por definir os beneficiários das vagas da maioria das universidades públicas do país. Ao participarem do Exame Nacional, também podem eles alcançar o financiamento estudantil para custeamento de mensalidades em universidades privadas concedido pelo Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES), regulado pela Lei n.º 10.260/2001.

Para acessar esses serviços, os estrangeiros têm que portar documentos comprobatórios da sua regularidade no país, o que se constitui em desafio aos apátridas. Ao fim das considerações sobre os serviços públicos no Brasil para estrangeiros, constatamos que todos eles têm na irregularidade documental a sua maior dificuldade, sendo imprescindível a criação de mecanismos para: i) facilitar a

241 MAGALHÃES, Giovanna Modé. O direito humano à educação e as migrações internacionais contemporâneas: notas para uma agenda de pesquisa. Cadernos Cenpec, São Paulo, v. 2, n. 2, dez.

2012, p. 58-59.

242 11.2 Consideram-se como documentos válidos para identificação do PARTICIPANTE: cédulas de identidade (RG) expedidas pelas Secretarias de Segurança Pública, pelas Forças Armadas, pela Polícia Militar, pela Polícia Federal; identidade expedida pelo Ministério da Justiça para estrangeiros; identificação fornecida por ordens ou conselhos de classes que por lei tenham validade como documento de identidade; Carteira de Trabalho e Previdência Social, emitida após 27 de janeiro de 1997; Certificado de Dispensa de Incorporação; Certificado de Reservista; Passaporte; Carteira Nacional de Habilitação com fotografia, na forma da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997; e identidade funcional em consonância com o Decreto nº 5.703, de 15 de fevereiro de 2006.

obtenção de documentos oficiais pelos migrantes de todas as naturezas; e ii) oferecer o serviço mesmo quando o não nacional não porte o documento, ditando-lhe prazo para regularização.