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3 DESAFIOS E POTENCIALIDADES DA PRODUÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA SITUAÇÃO DE ESTUDO “SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL”

3.2 Educar para a Sustentabilidade Ambiental

A Educação Ambiental (EA) tem sido amplamente debatida no contexto mundial desde a Conferência de Estocolmo no ano de 1972. Nesse período, nosso país buscava desenvolvimento econômico, e a preocupação com o meio ambiente ainda era incipiente. A partir da Eco-Rio92 (Conferência das Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável), é que a temática ambiental começa a ser debatida com mais veemência no Brasil. No entanto só no final da década de 90 a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) foi homologada, Lei nº 9795/99, que regulamenta os artigos 205 e 225 da Constituição Federal de 1998. Ficou instituído que as políticas públicas que incorporam a dimensão ambiental devem promover EA em todos os níveis de ensino, pelo engajamento social visando à recuperação e à conservação do ambiente para melhoria da qualidade de vida (BRASIL, 1999a).

Apesar, no entanto, de a EA ser uma das bases documentais do ensino, na maioria das escolas ainda é possível perceber que a temática é tratada de forma fragmentada e em datas específicas. Ignoram que a EA é “possibilitadora de uma interação criativa de um novo homem, preparado para agir nos contextos complexos, respondendo aos desafios colocados pelo sistema de desenvolvimento dominante” (SILVA, 2011, p. 73). Essas palavras deveriam ser incorporadas ao fazer pedagógico para que esse ensino envolva os estudantes de maneira que possam ser críticos em relação aos atuais modos de produção e consumo impostos em nome da ascensão econômica. Conforme Reigota (2009), o aspecto pedagógico da educação ambiental deve ser trabalhado como dimensão política, pois:

enfatiza a necessidade de se dialogar sobre e com as mais diversas definições existentes, para que o próprio grupo (alunos e alunas e professores e professoras) possam construir juntos uma definição que seja a mais adequada para se abordar a problemática que se quer conhecer e, se possível, resolver (p. 37).

Neste ponto, a educação como “prática social é vista por diferentes segmentos sociais como uma das possibilidades da atuação, na tentativa de rever ou amenizar o quadro de desequilíbrio instalado na natureza” (SILVA, 2011, p. 74). A Lei nº 9795 de 27 de abril de 1999, no seu art. 6º, institui que é dever da “sociedade como um todo, manter atenção permanente à formação de valores, atitudes e habilidades que propiciem a atuação individual e coletiva voltada para a prevenção, a identificação e a solução de problemas ambientais” (BRASIL, 1999a).

Um dos maiores desafios contemporâneos é formar um ser humano com consciência individual e coletiva em respeito ao patrimônio natural. O ser humano não é dono da natureza, mas nela precisa viver em interação harmoniosa com todos os constituintes do Universo. Tendo como base esse foco, a temática sustentabilidade e desenvolvimento sustentável ganha força especialmente na última década. A Organização das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura (Unesco) lançou, em 2005, o documento chamado “Plano Nacional de Implementação” considerando o período de 2005 a 2014 como a Década das Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (UNESCO, 2005).

Partindo desse viés de educar para sustentabilidade, questiono-me sobre qual é a definição de sustentabilidade? Moraes e Alves (2013, p. 2) dizem que “definir sustentabilidade não é uma tarefa fácil, pois encontraremos discursos diferentes ainda que estes possuam elementos comuns como a preocupação com um futuro viável”. Para Boff (2012, p. 1), “sustentabilidade é toda ação destinada a manter as condições energéticas, informacionais e físico-químicas que sustentam todos os seres, especialmente a terra viva, a comunidade de vida e a vida humana”.

Tozoni-Reis (2007)argumenta que é preciso rever as bases da construção social, pois a sustentabilidade precisa ser compreendida como:

democracia, equidade, justiça, autonomia e emancipação. Isso significa superar a ideia de educação ambiental centrada na mudança de comportamento dos sujeitos em busca de comportamentos considerados ambientalmente corretos, na sensibilização ambiental como forma de estimular a responsabilidade individual, na ação de conservação ambiental sem reflexão sobre os condicionantes históricos, políticos, sociais e econômicos, e na transmissão de conhecimentos técnico-instrumentais sobre o ambiente. Trata-se portanto, de buscar a superação do caráter controlador, moralista, ingênuo, imediatista, racionalista, empirista e imobilizante presente em algumas ações educativas ambientais para a construção da educação ambiental crítica, transformadora e emancipatória (p. 217-218).

Reigota (2007) afirma que sustentabilidade é um termo controverso e muitas vezes confundido com desenvolvimento sustentável, e assim, parte do principio que são termos opostos radicalmente. Com base em Dobson (1999), Reigota (2007) explica que, na tentativa de encontrar a definição para sustentabilidade que contemple o seu pensamento, embasa-se na aplicação de sustentabilidade, e isso pressupõe mudanças do sistema econômico em seus fundamentos capitalistas.

A utopia da sociedade sustentável é uma perspectiva política presente na produção acadêmica da educação ambiental (...) A noção de sustentabilidade implica uma dimensão política, social, cultural e biológica e que exige uma extensiva produção e difusão de conhecimentos e de princípios ético-políticos nos espaços das práticas sociais cotidianas (REIGOTA, 2007, p. 221-222).

Pensar nessas dimensões da EA exige diferenciar a sustentabilidade e o desenvolvimento sustentável. A definição de desenvolvimento sustentável no documento da Unesco está contemplada em dois momentos complementares: 1 – no ano de 1987 a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento lançou o livro “Our Common Future” (Nosso Futuro Comum), que define “o desenvolvimento sustentável como desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações de satisfazer suas próprias necessidades” (UNESCO, 2005, p. 34); 2 – em 1991 pelo Fundo Mundial pela Natureza (WWF), que apresenta uma definição complementar à definição anterior, “o conceito de desenvolvimento sustentável foi definido como propósito para melhorar a qualidade da vida humana respeitando a capacidade do ecossistema” (UNESCO, 2005, p. 35). É preciso considerar a raiz desse pensamento que foi formulado como uma espécie de “caminho do meio”, pois, em Estocolmo, na Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano em 1972, estavam presentes representantes de duas vertentes opostas, uma que buscava “solução” para os impactos causados a natureza em prol do desenvolvimento e outra que buscava progresso econômico, Reigota (2009) destaca,

o grande tema em discussão nessa conferência foi a poluição ocasionada principalmente pelas indústrias. O Brasil e a Índia, que viviam na época “milagres econômicos”, defendem a ideia de que “a poluição é o preço que se paga pelo progresso” (p. 23).

Essa atitude e posição por parte dos representantes desses países tiveram graves consequências. Por isso é necessário refletir sobre o sentido escolhido para trabalhar a temática “desenvolvimento sustentável”. Sachs (2002, p. 54) argumenta que a base conceitual do desenvolvimento sustentável, esta fundamentada “na harmonização de objetivos sociais, ambientais e econômicos”. Zasso et al.(2014) dizem que,

em síntese: o modelo de desenvolvimento sustentável apresentado no Relatório Nosso Futuro Comum garante o mesmo ritmo e padrão de crescimento econômico, desde que ocorra um gerenciamento destes recursos para que eles durem mais. Podemos dizer, então, que a sustentabilidade é apenas uma ideia de durabilidade dos recursos (p. 86).

Seria possível continuar com uma demanda crescente de desenvolvimento econômico com baixo impacto na natureza? A responsabilidade pela preservação é individual? O discurso atual do desenvolvimento sustentável esta popularizado, mas refletir sobre o sentido real faz perceber que neste enunciado existem elementos contraditórios.

Em busca de propiciar diálogos, reflexões e ações sobre a sustentabilidade e a questão ambiental é que a SE “Sustentabilidade Ambiental” foi planejada e desenvolvida na escola. No item que segue (3.3), busco aproximar os diálogos dos professores com os referenciais teóricos, e apresento alguns dos resultados da evolução e desenvolvimento dessa forma integrada de currículo.