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Percepção dos Professores Sobre o Uso do Recurso Tecnológico em Sala de Aula O cenário principal para desenvolver o estudo é uma escola de EB, e os professores que

APRENDIZAGEM DE CONCEITOS ESCOLARES

4.1 Percepção dos Professores Sobre o Uso do Recurso Tecnológico em Sala de Aula O cenário principal para desenvolver o estudo é uma escola de EB, e os professores que

constituem esse espaço são os principais protagonistas da ação. O trabalho foi realizado porque nesse espaço houve envolvimento coletivo e incentivo para utilizar os recursos tecnológicos e produzir material audiovisual com os estudantes. Na hipótese de pesquisa, afirmamos que produzir material audiovisual como aporte pedagógico pode ser um coadjuvante nos processos de ensino e de aprendizagem.

Nesse sentido é que foi realizada a oficina de vídeo, conforme descrito no Quadro 2 do Capítulo 3 (p. 91-92). Compreendo que envolver os professores no processo de produção do material audiovisual gera um novo sentido para o exercício da profissão docente. No entanto, esse é um processo que exige um longo caminho que precisa ser permanentemente estimulado, visto que a maioria dos professores não está familiarizada com o uso de certos recursos tecnológicos, como é o caso dos programas de edição de vídeos. Esse ainda é um anseio latente em mim.

Como primeiro passo para melhor conhecer a opinião dos professores sobre o uso de recursos tecnológicos em sala de aula, realizei o questionário com os docentes que estavam envolvidos no processo. Fiz a análise dos dados conforme descrevi no segundo Capítulo. Neste item trago as respostas de dois professores que evidenciam perfis profissionais diferentes, mas que, sobre determinados assuntos, conferem uma mesma opinião ou um afastamento do tema. As respostas dos questionários são descritas em forma de narrativa.

Professor 1 – Utiliza poucas vezes os recursos tecnológicos, porém incentiva seus alunos a utilizarem, e considera que o recurso audiovisual desperta o interesse dos alunos nas aulas, facilitando o processo de aprendizagem, pois existem estudantes que precisam do visual para construir seus entendimentos.

Este professor relata que não recebeu em sua formação inicial incentivo para ministrar as aulas utilizando tecnologias e que também não recebe formação continuada para trabalhar com novos aplicativos e softwares.

Quando se trata de educomunicação: já ouviu falar, mas não sabe ao certo do que se trata. Sobre o uso do celular em atividades, como saídas a campo, que possam utilizar a câmera para produzir vídeos, relata que envolve alguns alunos e há outros que dispersam, mas isso ocorre em diferentes propostas de trabalho!

As dificuldades que enfrenta em seu dia-a-dia quanto à pratica docente e à utilização de recursos tecnológicos se referem à organização curricular das aulas, pois dificultam fazer um trabalho diversificado em um curto tempo, de um período de aula.

Considera o vídeo um instrumento que pode ser utilizado como coadjuvante ao processo de ensino, e dá mais preferência para trabalhar com vídeos do que com filmes, pelo fato de focar específico o que se deseja trabalhar em sala de aula.

Professor 2 – Assim como a descrição do professor 1, utiliza poucas vezes os recursos tecnológicos, porém incentiva seus alunos a utilizarem, e considera que o recurso audiovisual desperta o interesse dos alunos nas aulas e as torna mais atrativas. Quando utiliza material audiovisual, procura editar os filmes comerciais utilizando apenas os trechos que interessam ao contexto do conteúdo que está trabalhando em sala de aula.

Sabe razoalvemente sobre educomunicação;

Sobre o uso do celular em atividades como saídas a campo, que possam utilizar a câmera para produzir vídeos, diz que pode envolver mais os estudantes, mas nem sempre é o que acontece. Em sua formação inicial foi incentivado a utilizar recursos tecnológicos com fins didáticos, relata que já no seu estágio preparou as aulas com uso de slides, o que era comum no curso, em apresentações de trabalho, nas aulas dos professores. Acredita que por ter uma formação mais recente, estes recursos já eram utilizados. No entanto aparelhos móveis como se tem atualmente, em sua formação não existiam.

Sobre as dificuldades enfrentadas no dia-a-dia escolar, diz que faltam equipamentos, como não têm em cada sala um multimídia disponível, fixo, e acesso a internet, isso faz com que se perca muito tempo instalando e desinstalando material. Relata que a escola possui lousa interativa, mas que o tempo que leva para calibrar inviabiliza o seu uso. E finaliza esse item dizendo que a falta de materiais, como extensão, caixas de som, é um problema. Considera o vídeo um instrumento que pode ser utilizado como coadjuvante ao processo de ensino, e diz utilizar alguns vídeos, pequenos documentários, e os alunos relacionam a explicação com as imagens. Para a disciplina que ministra, considera este recurso imprescindível.

A leitura das narrativas me fez refletir sobre o sentido que é dado para o recurso tecnológico na escola. Ambos os professores relatam que não utilizam recursos tecnológicos com muita frequência, mas que costumam incentivar os seus estudantes a fazer o uso por considerar que os recursos tornam o processo de aprendizagem mais atraente. O professor 1 relata que alguns estudantes precisam do visual para “construir o seu entendimento”. Isso mostra que ele entende que o uso do recurso, no caso específico, refere-se à imagem, é uma forma de linguagem. De acordo com Vigotski (2013, p. 70), “todas as funções psíquicas superiores são processos mediados e os signos constituem o meio básico para dominá-las e dirigi-las”. Nesse contexto a imagem pode representar um signo à medida de sua necessidade para mais tarde tornar-se símbolo corroborando no processo para formação de um conceito.

Ao responderem ao questionamento se já ouviram falar em educomunicação, ambos os professores respondem que sabem razoavelmente. O professor 1 explicitou não saber ao certo do que se trata, e o professor 2 não justificou o que seria essa compreensão razoável. Talvez aí esteja a chave da compreensão de como os docentes estão percebendo o uso de recursos tecnológicos para produções audiovisuais. Soares (2004) publicou no site da Universidade de São Paulo (USP) um pequeno texto explicando o que é a educomunicação:

a Educomunicação define-se como um conjunto das ações destinadas a:

1 – integrar às práticas educativas o estudo sistemático dos sistemas de comunicação (cumprir o que solicita os PCNs no que diz respeito a observar como os meios de comunicação agem na sociedade e buscar formas de colaborar com nossos alunos para conviverem com eles de forma positiva, sem se deixarem manipular. Esta é a razão de tantas palestras sobre a comunicação e suas linguagens);

2 – criar e fortalecer ecossistemas comunicativos em espaços educativos (o que significa criar e rever as relações de comunicação na escola, entre direção, professores e alunos, bem como da escola para com a comunidade, criando sempre ambientes abertos e democráticos. Muitas das dinâmicas adotadas no Educom apontam para as contradições das formas autoritárias de comunicação);

3 – melhorar o coeficiente expressivo e comunicativo das ações educativas (Para tanto, incluímos o rádio como recurso privilegiado, tanto como facilitador no processo de aprendizagem, quanto como recurso de expressão para alunos, professores e membros da comunidade) (p. 1-2).

Educomunicação, na minha interpretação, consiste em utilizar os instrumentos de comunicação (rádio, vídeo) para o ensino, e isso não minimiza a responsabilidade do fazer docente, pelo contrário, aumenta o desafio por ter que, talvez, transformar algumas concepções, como deixar de ver o uso do telefone celular e de redes sociais (tema bastante polêmico) só como prejudicial, e passar a utilizar mais esses recursos em sala de aula. O que precisa nesse caso é desenvolver o potencial teórico para que determinadas situações sejam vistas sobre outra perspectiva.

Escrever este item me fez recordar do tempo em que iniciei atividade profissional em uma emissora de televisão. Foi no momento em que a internet e os anúncios publicitários começavam a ganhar espaço no mercado digital como um serviço de fácil acesso e com custo mais baixo. Seria mais econômico e eficaz então fazer esses anúncios na internet, e a televisão perderia seu espaço, ou reduziria bastante seu impacto comercial. O que foi feito? Em momento algum o veículo (internet) foi visto como ameaça ou “concorrência” (termo utilizado na área comercial). Esse veículo foi considerado um aliado, e o formato dos programas de televisão começou a mudar, ou seja, agora os programas de televisão oferecem entretenimento de forma interativa. Pela primeira vez na história o público espectador consegue se comunicar com a televisão de forma instantânea. Essa postura só fortalece o veículo televisivo de comunicação.

Posso ter uma visão ingênua, mas gostaria de ver os recursos tecnológicos, como aparelhos celulares, sendo utilizados nas escolas para produzir vídeos, para debates interativos. Educar nossos jovens para utilizar esses instrumentos de forma saudável é necessidade emergente na sociedade atual. Nas respostas dos professores foi possível perceber que a formação docente em períodos diferentes também colabora para posturas distintas quanto ao uso de recursos tecnológicos.

O professor 2, que relata ter uma formação mais recente, foi estimulado a utilizar tecnologias disponíveis na época (Power-point) na elaboração de suas aulas. Esse mesmo professor relata que faz uso de filmes e edita as partes que são favoráveis para discussão de determinado conteúdo e também utiliza as redes sociais como modo de comunicação entre os estudantes. Ele vê essa inserção tecnológica de forma positiva, talvez não utilize mais por falta de incentivo coletivo, ou por outros fatores que ele apontou, como os períodos de aula fragmentados, o que impede uma ação mais elaborada.

Sem dúvida, o desenvolvimento tecnológico trouxe mudanças no espaço escolar. Algumas instituições, especialmente em segmentos específicos ou cursos superiores, passaram a oferecer aulas virtuais. Esse é apenas um exemplo que trago para pensar como a tecnologia está mudando nossa forma de nos relacionar. Consequentemente, o fazer docente precisa entrar nessa discussão. Para Masetto (2014, p. 143),

esse cenário envolve totalmente o professor em sua função docente, colocando-a na contingência de conhecer os novos recursos tecnológicos, adaptar-se a eles, usá-los e compreendê-los em prol de um processo de aprendizagem mais dinâmico e motivador para seus alunos. Novamente a mediação pedagógica entra em discussão.

Concordo com o autor, mas o que ele refere como mediação pedagógica, eu penso ser o fazer docente, pois no caso do uso de tecnologias, considero o recurso tecnológico como instrumento mediador.

Conforme ambos os professores argumentam ao responder aos questionários, a linguagem audiovisual envolve mais o estudante nas aulas, e cabe aos professores se constituírem em meios da mediação. Ou seja, conforme Vigotski (2001), o elemento mediador é o signo, e para “elaborar um instrumento de mediação, temos que conhecer as características típicas dos conceitos cotidianos na idade escolar, assim como a direção do seu desenvolvimento nesse período” (VIGOTSKI, 2013, p. 109).

Nesse caso, percebe-se o interesse que os jovens têm pelo uso de recursos tecnológicos; eles estão familiarizados com dispositivos móveis que são parte do seu cotidiano. Conforme a concepção da SE, é importante na etapa da problematização partir de uma questão de vivência dos estudantes. Seria interessante a inserção do meio tecnológico como elemento mediador no ensino para produção do conhecimento, como considera Vigotski (2013).

Arroio e Giordan (2006, p. 9) salientam que “os meios de comunicação, especialmente a televisão, desenvolvem formas sofisticadas e multidirecionais de comunicação sensorial, emocional e racional, superpondo linguagens e mensagens, que facilitam a interação com o

público.” Nesse sentido, percebi nas respostas dos professores insegurança ao utilizarem certos softwares e dispositivos. Ou seja, fica evidente a necessidade de um domínio maior desses recursos tecnológicos para colocar seu uso em prática mais vezes. Moran (2013) expressa uma opinião bastante coerente e relevante sobre a temática, conforme segue:

O avanço do mundo digital traz inúmeras possibilidades, ao mesmo tempo em que deixa perplexas as instituições sobre o que manter, o que alterar, o que adotar. Não há respostas simples. É possível ensinar e aprender de muitas formas, inclusive de forma convencional. Há também muitas novidades, que são reciclagens de técnicas já conhecidas. Não temos certeza de que o uso intensivo de tecnologias digitais se traduz em resultados muito expressivos. Vemos escolas com poucos recursos tecnológicos, assim como outras que se utilizam mais de tecnologias. E o contrário também acontece. Não são os recursos que definem a aprendizagem, são as pessoas, o projeto pedagógico, as interações, a gestão. Mas não há dúvida que o mundo digital afeta todos os setores, as formas de produzir, de vender, de comunicar-se e de aprender (MORAN, 2013, p. 11-12).

Essa citação evidencia o quanto o papel do professor é importante para os processos de ensino e de aprendizagem. São as pessoas envolvidas nesses processos que definem a qualidade da educação. Masetto (2014, p. 142) explica que “trabalhar com tecnologias visando criar encontros mais interessantes e motivadores dos professores com os alunos não significa privilegiar a técnica de aulas expositivas e audiovisuais, mais convencionais, ou mais modernos”. Isso expressa o quanto o recurso é um dos meios para o fazer docente.

Baseada nas respostas dos professores, posso afirmar que, embora existam muitas dificuldades até mesmo de ordem técnica como o professor 2 destaca, faltam equipamentos fixos na sala de aula, e instalá-los demanda tempo e recursos financeiros. Os professores demonstram aceitação e motivação especialmente por envolver os estudantes nos processos de ensino e de aprendizagem fazendo uso de tecnologias.

Finalizo este item com base nos dizeres de Moran (2013), independente de a escola dispor de recursos tecnológicos ou não, é o fazer docente que faz a diferença nos processos de ensino e de aprendizagem. O professor precisa respeitar e interagir com as diferenças e individualidades dos estudantes. “O ambiente propício para mudar a educação escolar se dá quando se amplia o relacionamento entre gestor – professor – aluno – escola – família e sociedade, num clima amoroso e criativo de solidariedade, intercâmbio e apoio” (MORAN 2013, p. 18).