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EFEITO DA MUDANÇA DAS CONDIÇÕES

No documento A Origem das Espécies (páginas 149-151)

- Uso e não uso das partes combinadas com a seleção natural; órgãos do vôo e da vista.

- Aclimatação.

- Variações correlativas.

- Compensação e economia de crescimento. - Falsas correlações.

- Os organismos inferiores múltiplos e rudimentares são variáveis.

- As partes desenvolvidas de maneira extraordinária são muito variáveis; os carac- teres específicos são mais variáveis que os caracteres genéricos; os caracteres sexuais secundários são muito variáveis.

- As espécies do mesmo gênero variam de uma maneira análoga. - Regresso a caracteres de há muito perdidos.

- Resumo.

EFEITO DA MUDANÇA DAS CONDIÇÕES

Tenho, até ao presente, falado de variações - tão comuns e tão diversas nos seres organizados reduzidos ao estado doméstico, e, num grau menor, na- queles que se encontram no estado selvagem - como se elas fossem devidas ao acaso. É, sem contradita, uma expressão muito incorreta; talvez, contudo, tenha vantagem porque serve para demonstrar a nossa ignorância absoluta sobre as causas de cada variação particular. Alguns sábios julgam que uma das funções do sistema reprodutor consiste tanto em produzir diferenças individuais, ou pequenos desvios de estrutura, como em produzir descendentes semelhantes aos pais. Mas o fato de as variações e de as monstruosidades se apresentarem em maior núme- ro no estado doméstico que no estado natural, o fato de as espécies tendo um habitat muito extenso serem mais variáveis que as que têm um habitat restrito, autorizam-nos a concluir que a variabilidade deve ter, de ordinário, qualquer rela- ção com as condições de existência às quais cada espécie foi submetida durante algumas gerações sucessivas. Tentei demonstrar, no primeiro capítulo, que as mudanças de condições atuam de duas maneiras: diretamente, sobre a organiza-

ção inteira, ou sobre certas partes unicamente do organismo; indiretamente, por meio do sistema reprodutor. Em todo o caso, há dois fatores: a natureza do orga- nismo, que é a mais importante, e a natureza das condições ambientes. A ação direta da mudança das condições conduz a resultados definidos ou indefinidos. Neste último caso, o organismo parece tornar-se plástico, e encontramo-nos em presença de uma grande variabilidade incerta. No primeiro caso, a natureza do organismo é tal que cede facilmente, quando se submete a certas condições e todos, ou quase todos os indivíduos, se modificam da mesma maneira.

É muito difícil determinar até que ponto a alteração das condições, tal, por exemplo, como a alteração do clima, da alimentação, etc., atua de uma maneira definida. Há razão para acreditar que, no decorrer do tempo, os efeitos destas al- terações são tão consideráveis que se podem estabelecer pela prova direta. To- davia, podemos concluir, sem receio de errar, que se não podem atribuir unica- mente a uma tal causa atuante as adaptações de estrutura, tão numerosas e tão complexas, que observamos na natureza entre os diferentes seres organizados. Nos casos seguintes, as condições ambientes parecem ter produzido um ligeiro efeito definido: E. Forbes afirma que os mariscos, na extremidade meridional do seu habitat, revestem, quando vivem nas águas pouco profundas, cores muito mais brilhantes que os mariscos da mesma espécie, que vivem mais ao norte e a uma grande profundidade; mas esta lei não se aplica certamente sempre. M. Gould observou que as aves da mesma espécie são mais brilhantemente colori- das, quando vivem num país em que o céu é sempre puro, do que quando habi- tam junto das costas ou nas ilhas; Wollaston assegura que a residência junto das costas afeta a cor dos insetos. Moquin Tandon dá uma lista de plantas de que as folhas se tornam carnudas, quando crescem junto do mar, posto que isto se não produza em qualquer outro lugar. Estes organismos, levemente variáveis, são In- teressantes, no sentido de apresentarem caracteres análogos aos que possuem as espécies expostas a condições semelhantes.

Quando uma variação constitui uma superioridade por pequena que seja para um ser qualquer, não se poderia dizer que parte convém atribuir à ação acu- muladora da seleção natural, e que parte convém atribuir à ação definida das con-

dições de existência. Assim, todos os peleiros sabem muito bem que os animais da mesma espécie têm uma pele tanto mais espessa e tanto mais bela, quanto mais setentrional é o país que habitam; mas quem pode dizer se esta diferença provém de que os indivíduos mais quentemente vestidos têm sido favorecidos e têm persistido durante numerosas gerações, ou se é uma conseqüência do rigor do clima? Parece, com efeito, que o clima exerce uma certa ação direta sobre a pele dos nossos quadrúpedes domésticos.

Poderiam citar-se, para a mesma espécie, exemplos de variações análo- gas, ainda que esta espécie esteja exposta às condições ambientes tão diferentes quanto possível; por outra parte, poderiam citar-se variações diferentes produzidas em condições ambientes que parecem idênticas. Enfim, todos os naturalistas po- deriam citar inumeráveis casos de espécies que persistem absolutamente as mes- mas, isto é, que não variam de maneira alguma, posto que vivam em climas muito diversos. Estas considerações fazem-me inclinar a atribuir menos valor à ação direta das condições ambientes do que a uma tendência à variabilidade, devida a causas que nós ignoramos em absoluto.

Pode dizer-se que, num certo sentido, não somente as condições de exis- tência determinam, direta ou indiretamente, as variações, mas que influenciam também na seleção natural; as condições determinam, com efeito, a persistência desta ou daquela variedade. Quando, porém, o homem se encarrega da seleção, é fácil compreender que os dois elementos da alteração são distintos; a variabili- dade produz-se de qualquer maneira, mas é a vontade do homem que acumula as variações em certos sentidos; ora, esta intervenção responde à persistência do mais apto no estado natural.

EFEITOS PRODUZIDOS PELA SELEÇÃO NATURAL SOBRE O AUMENTO DO USO

No documento A Origem das Espécies (páginas 149-151)

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