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Efeitos da Aplicação: Universalização, Moralização e Humanização

5.2 PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE: CARACTERIZAÇÃO, APLICAÇÃO,

5.2.2. Efeitos da Aplicação: Universalização, Moralização e Humanização

Direitos Fundamentais, Princípio da Dignidade da Pessoa

Humana

Quando se volta ao princípio da solidariedade para estudá-lo no contexto estatal, observa-se claramente que ele determina deveres, como já se frisou, aos indivíduos e ao próprio Estado. Isso vem a refletir diretamente na soberania, pois é um dos fatores que possibilita que um Estado tenha a interferência de outros organismos e/ou entidades a lhe determinarem condutas. E apesar de não serem condutas previstas em seu ordenamento jurídico, esse Estado se sentirá impelido a cumpri-las. Isso, pois, tanto por se tratar de normas gerais de um Direito adotado universalmente, a exemplo de algumas técnicas de aplicação do Direito e matérias como os direitos humanos, quanto pelas próprias características do princípio da solidariedade, as quais são as justificativas de sua aplicação.

Veja, ainda que seu ordenamento jurídico estatal não especifique tal situação, supondo que aquele Estado estaria a agir arbitrariamente diante dos

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fundamentos do princípio da solidariedade, esse Estado estará sujeito a sofrer interferência de outros organismos e/ou entidades, com o fim de se evitarem tais arbitrariedades. A interferência externa representaria para esse Estado um abalo na sua soberania, já que ela seria o argumento de oposição erga omnes contra qualquer tipo de interferência externa. Porém, nesta análise, deve-se levar em consideração que essa atitude tomada por essas entidades não estará fundada na superioridade das entidades, mas na relevância do tema. A relevância é caracterizada pela repercussão das conseqüências em outras sociedades que não apenas por aquele Estado, ou seja, se aquela arbitrariedade trará conseqüência para a sociedade humana, para a humanidade. Assim, constata-se que o princípio da solidariedade é propagador da universalidadedo Direito e não apenas por moldar um ordenamento jurídico e o próprio Estado. Pois, é com base no princípio da solidariedade que se fundamenta a superioridade hierárquica de alguns interesses ou necessidades, bem como, ainda que ele não seja positivado em determinado ordenamento jurídico, deve ser chamado a ser observado mesmo que através do valor solidariedade, uma vez que sua juridicização é “regra” constante do Direito como um todo – norma geral do Direito, a adoção dos valores como elementos do Direito – e não apenas enquanto pertencente a ordenamento jurídico específico. Logo, esse princípio deve ser aplicado em prol de toda a humanidade. E quando se fala em toda a humanidade, quer-se frisar que não se distinguem subgrupos, que, para o caso, seriam os Estados com suas soberanias. Mas a justificativa da sua aplicação deve conter todos aqueles aspectos que o caracterizam, bem como levar em consideração que o próprio Estado pode estar aplicando o princípio da solidariedade em defesa daquela sociedade. Então, os interesses de ambas as sociedades, Estado e Humanidade, devem ser sopesados. Uma vez que, quando se situa o tema indivíduo nas características do princípio da solidariedade, pode e deve ampliar-se para subgrupos, ou pequenas coletividades, ou melhor ainda, associações, pois, sejam os indivíduos ou sejam as associações, todos são componentes da coletividade total. Claro que não se deve confundir a proteção aos componentes com a proteção a interesses individuais.

Observa-se que o princípio da solidariedade deve proteger o interesse público – conceito trazido em tópico anterior – e esse será de todos os aspectos

apresentados até agora aquele que mais proximidade teria de um sinônimo, principalmente por, nesse momento, estar-se analisando não mais a solidariedade valor, a qual é muito ampla, mas apenas a solidariedade princípio, o qual é a norma jurídica solidária mais ampla; é verdade, porém, enquanto comparada ao valor, é relativa, limitada às próprias técnicas jurídicas.

Quando se busca novamente trazer à tona o conteúdo da solidariedade, conclui-se que ela está constantemente enumerando deveres de progresso, de pacificidade, que tanto fazem com que a coletividade seja protegida e cada um de seus membros individualmente também tenha resultados morais visíveis. O princípio da solidariedade é um princípio que motiva o Direito a se espelhar na moral e, assim, cada vez mais, adotar para si regras morais, ou seja, a elas dar juridicidade. Quer dizer, o princípio da solidariedade é fomentador da moralização do Direito.

Além desse aspecto, da moralização, por essa mesma constatação, há de se concluir que o princípio da solidariedade é fomentador da humanização do Direito, uma vez que ele toma como uma preocupação a dignidade da pessoa humana e todos os seus demais direitos fundamentais, que serão inclusive formadores da sua personalização. Sua contribuição para a humanização do Direito se transpõe à prática, às condutas tomadas por cada sujeito, as quais são sempre voltadas à integração, ao respeito, ao amor. Assim, o Direito é traduzido em comportamentos virtuosos. O princípio da solidariedade é mais um instrumento para enfatizar e ampliar a aplicação no mundo jurídico desses aspectos que tornam o Direito mais humano.

Então, ressalta-se que o princípio da solidariedade também se caracteriza por ser fomentador da moralização e humanização do Direito. Não que seja ele a única ou a primeira causa para isso, mas quer-se dizer que ele integra perfeitamente esse contexto.

Constata-se ainda que, se o princípio da solidariedade tem como característica dirigir-se ao respeito à dignidade da pessoa humana, como já foi destacado, quer-se com isso afirmar que o princípio da dignidade da pessoa humana é um subprincípio contido, obrigatoriamente, no princípio da solidariedade. Acrescenta-se que, se muitos jurisconsultos se referem ao princípio

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da dignidade da pessoa humana como sendo mais o importante, o primordial, em uma escala de preferência dentre outros princípios, deve-se então concluir que mais importante ainda seria o próprio princípio da solidariedade, pois este tanto destaca a necessidade de observância do princípio da dignidade da pessoa humana, como ele próprio apresenta-o em sua inteireza no seu conteúdo jurídico. Aliás, o princípio da solidariedade é também, em alguns modelos de Estados, o fundamento do próprio Estado. Assim, para esses Estados Solidaristas, sem sombra de dúvida, em uma escala de preferências, com certeza o princípio da solidariedade estaria em preferência em relação ao princípio da dignidade da pessoa humana.