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Estado Liberal, sua Ideologia e Políticas Sociais no Capitalismo

4.8 TIPOS DE ESTADO: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO ESTADO

4.10.3 Estado Liberal, sua Ideologia e Políticas Sociais no Capitalismo

O Estado liberal foi traduzido na palavra liberdade, a primeira a compor o lema da Revolução Francesa. Representou uma grande ascensão do indivíduo: o individualismo. Essa teve uma amplitude tão grande que o Estado tomou uma aparência de não-intervencionista quanto à economia. Atingiu-se um estágio tal do individualismo e prevalência da autonomia das vontades, que houve quem o identificasse como sendo o Estado da Insolidariedade, ou seja, ausência de

178CANARIS, Claus-Wilhelm. Pensamento sistemático e conceito de sistema na ciência do direito.

3. ed. Traduzido por Antônio Manuel da Rocha e Menezes Cordeiro. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2002, p. 75.

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solidariedade pelo Estado e, conseqüentemente, na fonte do ordenamento jurídico, a constituição. Isso pois, tendo em vista ser na constituição que se formula o Estado. Segue transcrição: “De ahí que pueda concluirse no solo que el sistema constitucional liberal guarda silencio sobre la Solidaridad o que la Solidaridad no existe en el sistema constitucional necesario del sistema liberal.”180

Melhor se concluirá quando se acompanhar inclusive o movimento econômico. Mas vê-se também que atualmente se aplica a ideologia liberal em outros modelos estatais, como forma de inserir a solidariedade no contexto estatal. Isso ocorre até pela fundamentalidade da solidariedade e, cada vez mais, da necessidade que a própria sociedade declara de incluí-la como lei, como norma jurídica. E jurídica, já que o Direito é o instrumento de organização mais efetivo e neutro da atualidade, por sua conotação científica e técnica, por sua habilidade de se relacionar com vários outros ramos científicos e também de expurgar outras formas de pressão sobre aqueles de quem se espera executem certas condutas, como, a exemplo, se expurga a coação.181

O capitalismo monopolista do Estado ocupa atualmente um espaço de grande importância na sociedade contemporânea, tanto no mundo ocidental como no mundo oriental. A economia é dominada por grandes empresas e grandes potências (países), enquanto os indivíduos se inserem nesse contexto sem se dar conta das conseqüências e amplitude das suas atitudes. O Estado, então, tem um papel fundamental: o de desenvolvimento de políticas públicas, para resguardarem a sociedade. Mas a estratégia do Estado, segundo esse capitalismo, é também a de proteger, financiar182e suportar o próprio capitalismo,

seja nos países hegemônicos ou nos países dependentes.

Com o capitalismo monopolista atual, não mais existe um Estado Liberal, não totalmente apartado de intervenções na economia, como o era no seu nascedouro, conforme o modelo instituído pela burguesia à época das revoluções

180 MARTÍN, Carlos de Cabo. Teoría constitucional de la solidaridad. Madrid: Marcial Pons,

Ediciones Jurídicas y Sociales, 2006, p. 44.

181Como já fora comentado, a coação não integra o Direito. (Nesse sentido escreve Arnaldo

Vasconcelos, em suas obras: Direito e força: uma visão pluridimensional da coação jurídica. São Paulo: Dialética, 2001; e Teoria geral do direito: teoria da norma jurídica. Edição comemorativa dos 90 anos de Fundação da Faculdade de Direito do Ceará. São Paulo: Malheiros, 1993).

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– Revolução Francesa, Revolução Industrial, Revolução Americana, Revolução Russa. Também não assume o modelo intervencionista como no caso do Estado Socialista. Hoje o Estado é o denominado Neo-Liberal, aquele que apresenta um papel de protetor do capitalismo tanto como protetor da sociedade. O Estado busca um equilíbrio entre o modelo liberal e o modelo intervencionista. Na verdade, surge uma síntese desses dois modelos que poderíamos denominar respectivamente de tese e antítese. Com isso, ele adota a posição de Estado Regulador, aquele que intervém, dita medidas de proteção, de concessão, de fiscalização, ou mesmo de proibição, por vezes visando aquecer o mercado, outras resguardando a sociedade. São normas que objetivam ter um crescimento sustentável do mercado, quer dizer, permitir a manutenção do capitalismo, inclusive favorecendo o crescimento do mercado, mas, ao mesmo tempo, permitir um bem-estar a longo prazo aos indivíduos.

Assim, o Estado deve possibilitar a existência permanente de fonte de produção, de produtores, de consumidores em potencial, ou seja, em discurso mais claro, poderia-se relatar da seguinte forma: buscar meios com que a matéria-prima não se esgote, em destaque aos recursos naturais; conciliar os interesses das classes trabalhadoras com o das empresas; oferecer condições mínimas de bem-estar para a população em geral, de maneira que propicie um constante poder aquisitivo.

Esse Estado também poderia ser denominado de Estado Mínimo, aquele que oferece um mínimo à sua nação, intervém na economia em proveito principalmente dos hipo-suficientes. A estratégia é revelada através de políticas públicas, políticas sociais. Por vezes, essa política se reveste de um caráter educador; outras vezes expansiva, ou repressiva, volta-se para uma clientela, ora para outra, enfatiza a saúde ou a previdência, também a assistência, ou a tributação, ou dá amparos fiscais.

Adotou-se a seguinte classificação empírica da intervenção estatal no que se chamam de medidas de políticas sociais: previdência social, prestação de serviços, assistência, proteção jurídica, construção de equipamentos sociais e subsídios.

Previdência social se desenvolve por uma troca: as pessoas passam a compor um grupo que, em um determinado período, pagam prestações pecuniárias (contribuições) a uma caixa, para quando acontecerem eventos danosos ou se incluírem em situações de risco terem de onde prover suas despesas, pois, nessas situações, receberam um benefício pecuniário pré- definido. Os valores dos benefícios só conseguem ser cobertos por sempre existirem pessoas contribuindo enquanto outras usufruem. “A previdência Social constitui um canal de reprodução das relações de classes.”183 É uma instituição liberal que estimula o aumento da produtividade e da demanda.

Assistência consiste em despender valores para garantir a subsistência de pessoas que se enquadrem em certas características. Pode ser privada, no caso de ser desenvolvida por entidades beneficentes. O Estado, nestes casos, incentiva a criação dessas entidades, como, por exemplo, dispensando tributos.

Prestação de serviços inclui uma série de serviços de auxílio às pessoas em geral. Por vezes, têm natureza de serem oferecidos gratuitamente pelo Estado, ou a preço módico; outras vezes, o Estado só fiscaliza através dos conselhos e normas preestabelecidos. Incluem serviços de vacinação, reinserção social, consulta médica, ou psicossocial, assistência judiciária, informação, educação, entre outros. Na legislação brasileira, alguns são incluídos na assistência social; assim, são oferecidos gratuitamente pelo Estado. Mas isso não impede que os mesmos serviços sejam desenvolvidos pela iniciativa privada, situação em que são cobrados por sua execução.

Proteção jurídica dá-se pela determinação normativa de medidas protetivas. Têm-se legislações, como o código do consumidor, o estatuto do idoso, regulação das previdências privadas, políticas cambiais etc.

O Estado constrói equipamentos sociais para possibilitar a estruturação de um serviço, como as escolas, estrutura para a educação, para o ensino, circos, teatros, centros de artesanato para a cultura, lazer, como também o próprio patrimônio público pode ser capaz por si só de alcançar o objetivo, como são exemplos praças, parques infantis, quadras poliesportivas, pistas de cooper,

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urbanização de parques ecológicos, monumentos, esculturas voltadas para o lazer, cultura.

Subsídios são importantes para se dar acesso à população, independente de classes sociais, econômicas, a bens e serviços, ou mesmo para possibilitar a concorrência no mercado. Assim as subvenções ora permitem a gratuidade, ora a diminuição de preços, ora o acesso a mercadorias caras à população de baixa renda, ora o aquecimento do mercado através de concorrência mais acirrada.

Mas o que se depreende de tudo isso é que o capitalismo precisa de instrumentos de controle para que ele possa se manter; caso contrário, sofreria uma autofagia, ele mesmo se autodestruiria. O capitalismo precisa, então, do Direito que age através do Estado para determinar essas medidas de intervenção no mercado e de políticas públicas para a proteção dos indivíduos, pois são eles que são engolidos pelo capitalismo. Quer dizer, para a sobrevivência efetiva dessa ideologia, é necessário que o grupo seja mantido e, diante disso, todos têm limites, todos têm de recuar em suas atitudes, pois um ato de um sempre irá resvalar no grupo. Então, pode-se concluir, pelo que foi demonstrado, que o capitalismo adota a solidariedade como premissa, como valor necessário à sua sobrevivência, o qual será revestido, dentre outras formas, de intervenção estatal, de políticas públicas.

O Estado capitalista liberal-democrático tem legitimidade social a partir da utilização de mecanismos de equilíbrio instável de compromisso entre uma burguesia que é obrigada a aceitar o conflito e um proletariado organizado e relativamente combativo. Tem-se, assim, o liberalismo, o corporativismo e o populismo, como ideologias que sustentam o capitalismo, segundo objetivos de forças sociais em que se destacam as das classes dominantes.

O corporativismo como uma concepção de integração da sociedade, em que o todo funciona em razão da harmonia das partes. Busca-se o equilíbrio de interesses de grupos organizados ao redor de seus objetivos imediatos. Diferencia-se do liberalismo, por ter um caráter monístico, enquanto o liberalismo, pluralista. Sendo comum a ambos o controle das associações de base.

Já o populismo é um movimento de integração controlada das classes subalternas para certos benefícios sociais. As classes são mobilizadas em torno de consignas ambíguas e imprecisas, as quais atuam apelando aos sentimentos e interesses imediatos dessas classes subalternas. Com isso, se provoca um esvaziamento das relações de classe, transformando tudo em relações pessoais (indivíduo versusEstado, ao invés de grupoversusEstado).

4.10.4 O Estado Social e Teorias do Bem-estar Social