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A EFETIVIDADE DA REDUÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO POR MEIO DE NEGOCIAÇÃO COLETIVA

É incontestável a importância da negociação coletiva para a conquista de melhores condições sociais à classe trabalhadora, conforme observamos em diferentes períodos da história.

Os primeiros sindicatos foram construídos a partir da luta dos próprios trabalhadores e as negociações coletivas proporcionaram aos trabalhadores uma série de avanços na conquista de direitos sociais; entre eles, a limitação da jornada de trabalho, salários mais equânimes e proteção especial ao trabalho de menores.

Conforme observamos na evolução histórica da jornada de trabalho no mundo, os primeiros sindicados ingleses, denominados Trade-Unions, conquistaram em 1830, entre outros direitos, a importante limitação da jornada diária de trabalho em 8 horas.

É inegável que a negociação coletiva é um meio apropriado e eficaz para reduzir a jornada de trabalho; é o que depreendemos de inúmeros fatos históricos que comprovam tal eficácia.

Eric J. Hobsbawm ilustra um fato interessante de 1889 que atesta a força dos sindicatos e, consequentemente, a efetividade da redução da jornada de trabalho por meio de negociação coletiva:

Quando em 1889 os sindicatos forçaram a indústria inglesa de gás a adotar três turnos de oito horas em vez de dois, de doze horas, a indústria acreditou estar enfrentando (a) uma perda líquida em eficiência e (b) um método de trabalho completamente sem precedentes; mas vários gasômetros do país haviam funcionado em turnos de oito horas durante até cinquenta anos, seus resultados estavam disponíveis para inspeção, e acontecia que a indústria era uma na qual a discussão técnica era particularmente animada e informada.124

124 HOBSBAWM, Eric J. Os trabalhadores – Estudos sobre a história do operariado. São Paulo: Paz e Terra,

Sangheon Lee, Deirdre McCann e Jon C. Messenger reconhecem a eficácia da negociação coletiva como instrumento apropriado para a regulação da jornada de trabalho:

A conclusão mais significativa é talvez a de que a intervenção sob a forma de regulamento se faz necessária para reduzir as jornadas: não se pode simplesmente presumir que tais reduções venham a ser um subproduto inevitável do crescimento econômico. Ademais, em alguns países industrializados, especialmente na Dinamarca, tem sido possível regular a jornada de trabalho pela via da negociação coletiva, conquista que se pode atribuir a um regime regulatório extremamente sofisticado, que envolve grau substancial de coordenação entre os parceiros sociais em âmbito nacional (ANXO e O’REILLY, 2000, LEE, 2004).125

O autor português António Lemos Monteiro Fernandes também entendeu ser a negociação coletiva um instrumento eficaz para a redução de jornada de trabalho dos empregados:

A progressiva redução dos tempos de trabalho acompanha modificações da organização do trabalho, aperfeiçoamentos tecnológicos e melhorias de qualificação dos trabalhadores, que permitem absorver o impacto da redução na economia das empresas (pela melhoria da produtividade) e atribuir-lhe sinal positivo no processo de crescimento económico. Mas o balanceamento correcto e concreto dos factores favoráveis e desfavoráveis à redução de tempos de trabalho tem a sua sede mais apropriada na contratação colectiva de trabalho.126

A negociação coletiva possibilita reduzir a jornada de trabalho, o que gera alta produtividade e diversos outros benefícios que acabam favorecendo tanto ao empregado quanto ao empregador.

A redução da jornada de trabalho por meio de negociação coletiva está expressamente prevista na Constituição Federal, (art. 7º, XIII):

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho.127

125

SANGHEON LEE, Deirdre McCann e Jon C. Messenger. Duração do trabalho em todo o mundo. Suíça. Tradução: Oswaldo de Oliveira Teófilo. OIT, 2009, p. 149.

126

FERNANDES, António Lemos Monteiro. Direito do Trabalho.11.ed. Coimbra: Almedina, 1999, p. 334.

127

Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em 12 set. 2012.

Constatamos a obrigatoriedade da presença de sindicato de trabalhadores e empregadores durante uma negociação coletiva, conforme disposição expressa da Constituição Federal de 1988 (art. 8º, VI) por se tratar de um direito fundamental social: “Art. 8º: É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho”.

128

Ora, se é possível reduzir a jornada de trabalho por meio de acordo ou convenção coletiva, então é possível adequar a brasileira, das atuais 44 horas semanais para a recomendação da OIT, e diminui-la para 40 horas semanais. Assim, se houver uma eficiente negociação coletiva, tal instrumento seria plenamente apropriado para reduzi-la.

Neste sentido, Odonel Gonçales e Pedro Paulo Teixeira Manus, ao tratar da possibilidade de redução de jornada por meio da negociação coletiva, conforme previsão constitucional:

A Constituição Federal, no art. 7º, XIII, prevê a possibilidade de redução da jornada mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho. Trata-se de hipótese em que os empregados estão representados pelo sindicato, não se cogitando de coação por parte da empresa para aceitação da redução de horário, daí por que se constitui em exceção à regra do mencionado art. 468 da CLT.129

Como vimos, são facilmente constatados os relevantes avanços sociais conquistados por sindicatos realmente envolvidos com a melhoria das condições de trabalho dos empregados, que em muitas ocasiões obtém benefícios muito superiores àqueles previstos na legislação brasileira.

Na negociação coletiva, é possível a transação bilateral de direitos trabalhistas, com reciprocidade entre as partes, conforme o art. 7°, VI, da Constituição. Isto porque se trata de disponibilidade relativa, desde que não exista

128

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 13 set. 2012.

129 GONÇALES, Odonel Urbano; MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Duração do Trabalho. São Paulo: LTR, 1996,

transação de direitos absolutamente indisponíveis; é lícita a transação para direitos relativamente indisponíveis e desde que beneficie o trabalhador.

Considerando a possibilidade de transação de direitos relativamente indisponíveis, ressaltamos a extrema importância da presença de sindicatos ilibados durante o processo de negociação coletiva.

Assim, colacionamos julgado do Tribunal Superior do Trabalho que afasta a validade das negociações coletivas quando tratarem de direitos relativamente indisponíveis e que não observam a reciprocidade entre os agentes envolvidos:

RECURSO DE REVISTA. 1. TURNO ININTERRUPTO DE

REVEZAMENTO. FIXAÇÃO DE JORNADA DE TRABALHO SUPERIOR A 6 HORAS POR ACORDO COLETIVO. NORMA COLETIVA INVÁLIDA POR SE CARACTERIZAR COMO MERA RENÚNCIA. INAPLICABILIDADE DA SÚMULA 423/TST. Na hipótese, o Regional considerou inválidos os acordos coletivos que previam a jornada de oito horas para os turnos ininterruptos de revezamento, porquanto inexistente qualquer cláusula negocial em benefício dos trabalhadores, ou seja, o diploma coletivo tem apenas isolada cláusula supressiva da vantagem, sem qualquer outra concessão, seja geral, seja específica. Concluiu, assim, o Regional que houve mera renúncia dos trabalhadores: somente a dilação da jornada, sem nenhuma vantagem, impossibilitando a avaliação do grau transacional dentro da teoria do conglobamento. É certo que esta Corte, ante a controvérsia surgida em torno da interpretação do art. 7º, XXVI, da CF, editou a Súmula 423, no sentido de que é possível a ampliação, por meio de negociação coletiva, da jornada superior a 6 horas, limitada a 8 horas por dia, e carga de trabalho semanal, para o limite de 44 horas, pagando-se como extra as horas que ultrapassarem estes limites. Contudo, conforme consta da citada Súmula, a validade do elastecimento de jornada em turnos ininterruptos de revezamento apenas pode ser aceita se fixada por regular negociação coletiva, o que não se verifica, na hipótese. Isso porque, à luz do princípio da adequação setorial negociada, a regularidade da negociação coletiva supõe efetiva transação (ou seja, despojamento bilateral ou multilateral, com reciprocidade entre os agentes envolvidos), analisando-se o conjunto normativo à luz da teoria do conglobamento. Desse modo, correta a decisão regional em considerar inválida a norma coletiva em questão, pois apenas suprimiu direitos, caracterizando-se como ato estrito de renúncia (e não transação). É inaplicável, portanto, a Súmula 423/TST ao caso concreto. Recurso de revista não conhecido, no aspecto. 2. TURNO

ININTERRUPTO DE REVEZAMENTO. ADICIONAL NOTURNO.

PRORROGAÇÃO EM PERÍODO DIURNO. Se o empregado cumpre integralmente sua jornada de trabalho no período noturno, prorrogando-a no horário diurno, é devido o adicional no tocante à prorrogação, nos termos da Súmula 60, II/TST. Recurso de revista não conhecido, no aspecto. 3. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. BASE DE CÁLCULO. SALÁRIO MÍNIMO. SÚMULA VINCULANTE Nº 4/STF. Embora a proibição expressa contida na Súmula Vinculante nº 04/STF de ser o salário mínimo utilizado como fonte diretiva de indexação da base de cálculo de vantagem de servidor público ou de empregado, deve, na ausência de edição de lei que regule a base de cálculo da parcela em debate, continuar sendo o salário mínimo o parâmetro de apuração do adicional, na forma do art. 192 da CLT.

É que, não obstante o reconhecimento de sua incompatibilidade com o texto constitucional (art. 7º, IV), não pode o Poder Judiciário definir outro referencial - segundo o STF. Assim, a norma celetista continuará vigente até que sobrevenha a criação de norma legal ou negociação coletiva dispondo acerca do parâmetro a ser adotado para cálculo do adicional de insalubridade - a teor da Súmula Vinculante nº 4/STF. Recurso de revista conhecido e provido, no aspecto. (Recurso de Revista, TST, 6ª Turma, Processo:RR - 148000-66.2006.5.15.0105, Relator: Ministro João Batista Brito Pereira, publicado em 20/04/2012).

Há que se garantir um patamar civilizatório mínimo, sob pena de afrontar o princípio da dignidade da pessoa humana.

Mauricio Godinho Delgado destaca que a negociação coletiva não pode afrontar direitos sociais:

Uma larga multiplicidade de normas constitucionais coloca a saúde e segurança do obreiro em patamar destacado e superior a interesses protegidos por outras normas jurídicas, inclusive trabalhistas (ilustrativamente, artigos 7º, XXII; 194; 196; 197; 200, II, todos da Carta de 1988). Pelo texto magno, a saúde e segurança laborais são direito subjetivo obreiro, constituindo, ainda, parte integrante e exponencial de uma política de saúde pública no país. Não há – ao contrário – na Constituição qualquer indicativo jurídico no sentido de que tais valores e objetivos possam ser descurados em face de qualquer processo negocial coletivo. Na verdade, está-se aqui diante de uma das mais significativas limitações abarcadas pelo princípio da adequação setorial negociada, informador de que a margem aberta às normas coletivas negociadas não pode ultrapassar o patamar sócio-jurídico civilizatório mínimo característico da sociedade ocidental e brasileira atuais. Nesse patamar, evidentemente encontra-se a saúde pública e suas repercussões no âmbito empregatício.130

De fato, a redução da jornada de trabalho por meio de negociação coletiva seria uma solução magnífica; no entanto, surgem dúvidas se no Brasil o atual sistema sindical permite uma negociação coletiva realmente efetiva em todas as categorias de trabalho.

Se todos os sindicatos estivessem realmente envolvidos com os anseios dos sindicalizados, certamente a melhor solução para reduzir a jornada de trabalho seria a negociação coletiva; no entanto, a realidade é bastante diferente.

130

Como bem salientado por Túlio de Oliveira Massoni há incompatibilidade entre a Constituição Federal de 1988 e a plena liberdade sindical em virtude de vigorar a unicidade sindical no Brasil:

A incompatibilidade da Constituição brasileira com a liberdade sindical, diante da manutenção da representação sindical categorial e do regime de unicidade sindical impede, pela via reflexa, que se possa falar propriamente em representatividade sindical, uma vez que essa noção pressupõe a pluralidade sindical (ao menos sua possibilidade), o que não se verifica no caso brasileiro. Em regime de unicidade sindical, portanto, não há espaço para se discutir a noção de representatividade, conceito vinculado a sistemas democráticos que prestigiam a liberdade sindical em todas as suas dimensões.131

Isto posto, o uso da expressão “representatividade sindical” é tecnicamente inapropriada no Brasil.

No entanto, mesmo considerando o atual sistema sindical brasileiro, acreditamos que é possível a redução da jornada brasileira de trabalho, por meio da negociação coletiva, quando se tratar de sindicatos com grandes números de trabalhadores e comprometidos, ainda que minimamente, com a luta da classe trabalhadora.

Podemos ilustrar, como exemplo positivo, a situação laboral dos funcionários das montadoras de carros (cerca de 35 mil operários) e dos metalúrgicos da região do ABC, que têm jornadas aquém do limite constitucional de 44 horas semanais. É de se observar que estas categorias profissionais de trabalhadores estão inseridas em entidades sindicais “fortes”.

A busca por melhores condições sociais aos trabalhadores, por meio de negociação coletiva, encontra obstáculos no Brasil.

Verifiquemos algumas especificidades do sistema sindical vigente, ao atentarmos à realidade do sistema sindical brasileiro.

Um primeiro apontamento está relacionado à exacerbada proliferação de sindicatos.

131

Renato Rua de Almeida, ao comentar sobre a proliferação de sindicatos no Brasil, em entrevista ao jornal O Globo, em 03 de novembro de 2011, para a matéria

A mina de ouro dos sindicatos, assim se manifestou:

Eu relaciono essa proliferação de sindicatos com o dinheiro da contribuição sindical, e não considero isso saudável porque se está criando uma pluralidade sindical que eu considero perversa.

.

A reportagem constatou a falta de informações sobre endereços e telefones de alguns sindicatos criados a partir do desmembramento de outros. Muitos deles são estranhos até mesmo aos próprios trabalhadores; são conhecidos como sindicatos “de fachada”.

Para o ano de 2012, a estimativa de arrecadação de imposto sindical foi de aproximadamente R$ 2 bilhões.

É de se presumir que a proliferação dos sindicatos no Brasil ocorra pela obrigatoriedade da contribuição sindical, que desperta interesses escusos, em virtude dos altos valores envolvidos. Neste panorama os interesses e compromissos de tais sindicatos serão os mais variados possíveis e, certamente, alheios aos interesses dos trabalhadores.

Assim, concluímos que não há nenhuma vantagem aos trabalhadores na existência destes “sindicatos de fachada” já que muito provavelmente não haverá eficiência na luta pela implementação de políticas de trabalho que assegurem um patamar mínimo para garantir a dignidade da pessoa humana.

Neste sentido, Octavio Magano, ao comentar o atual sistema sindical brasileiro:

Toda gente sabe que o nível de sindicalização, no Brasil, é reduzido, girando em torno de 10%. Dimana daí a proliferação dos sindicatos fantasmas. Toda gente sabe que a enorme receita proveniente da contribuição sindical é negligentemente fiscalizada, provindo daí mordomias e corrupção. Toda gente sabe que, com o aparato das organizações sindicais, o intercâmbio entre dirigentes e representados, exclui o diálogo racional, só podendo ter curso em termos emocionais, em grandes espaços físicos e com o uso de possantes alto falantes. E daí resulta a vocação

demagógica de muitos dirigentes. Toda gente sabe que, por causa do mesmo aparato, os dirigentes sindicais têm de se ocupar prioritariamente de assuntos que os tornem populares. Com isso, descuidam-se da solução de problemas menos galvanizadores, mas importantíssimos para os trabalhadores, como, por exemplo, o da morosidade das reclamações trabalhistas (duração aproximada de sete anos). Toda gente sabe que a unicidade sindical tende a perpetuar em seus postos os dirigentes sindicais, dificultando o surgimento de novos líderes e impedindo o funcionamento de autêntica democracia sindical.132

Diante desta conjuntura, não há como defender a efetividade de movimentos sindicais que visem reduzir a jornada de trabalho, naqueles casos que envolvem os “sindicatos de fachada”.

Por outro lado, verifica-se que algumas categorias profissionais, como metalúrgicos e comerciários, possuem sindicatos muito bem organizados, a despeito de vigorar a unicidade sindical. Tais sindicatos, em muitas ocasiões, obtêm vantagens diversas em negociações coletivas, que proporcionam melhores condições de vida aos empregados e seus familiares.

Acreditamos que a atuação dos sindicatos, ao disseminar a ideia da redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, é bastante oportuna. No entanto, a efetiva limitação desta jornada deveria ser instituída por meio de emenda constitucional, sem prejuízo de futuros acordos ou convenções coletivas que pudessem reduzi-la ainda mais.

A história comprova e eficiência da redução de jornada de trabalho baseada tanto na legislação quanto na negociação coletiva, conforme relata Eric J. Hobsbawm:

Mais importante, o movimento para encurtar as horas ganhou terreno, em parte através da legislação, em parte através de acordos e negociações privadas, como no meio-feriado de sábado, que entrou em uso razoavelmente geral a partir da década de 1840 entre os construtores e em algumas partes das províncias, e em Londres a partir do meio da década de cinquenta. As horas mais curtas obrigavam virtualmente os patrões e elevaram a produtividade, e o fato de que isto pôde ser feito era agora mais amplamente apreciado.133

132 SILVA, Jane Granzoto Torres e Pellegrina, Maria Aparecida. (coordenadoras). Constitucionalismo social

Estudos em homenagem ao ministro Marco Aurélio Mendes de Farias Mello. São Paulo: LTR, 2003, p. 99.

133 HOBSBAWM, Eric J. Os trabalhadores – Estudos sobre a história do operariado. São Paulo: Paz e Terra,

Um segundo apontamento, como nos referimos há pouco, é que a atual estrutura sindical brasileira não contempla a plena liberdade sindical. Um exemplo é o fato de se ter adotado a unicidade sindical que prejudica a eficácia das negociações coletivas por não permitir ao trabalhador escolher o sindicato que melhor o represente, além da obrigatoriedade da contribuição sindical.

O ideal seria a adoção do pluralismo sindical, o que certamente ensejaria mais vantagens ao trabalhador.

Vejamos as ponderações de Octavio Bueno Magano:

Considerando-se o pluralismo, cumpre esclarecer, inicialmente, que o termo não guarda identidade com o vocábulo pluralidade, significando o primeiro garantia de liberdade e o segundo existência concreta e simultânea de múltiplas entidades sindicais. E nisto já reside a primeira vantagem do pluralismo sobre a unicidade, pois que - repita-se - o primeiro constitui garantia de liberdade, sem prejuízo de que os trabalhadores optem por erigir, com as suas próprias forças, regime unitário, ao passo que a segunda caracteriza-se sempre como imposição estatal.

Pela razão indicada, a unicidade mostra-se visceralmente incompatível com a Convenção n. 87, da Organização Internacional do Trabalho, em que se condensam os princípios da liberdade sindical, próprios das democracias pluralistas. Na verdade, inexiste, no mundo ocidental, país democrático com unicidade sindical. Nem mesmo em Portugal, onde, durante certo tempo, a CGT comunista exerceu poderes hegemônicos, a ideia em causa pôde prevalecer.

O argumento de que o pluralismo enfraquece o movimento sindical é falacioso, como se demonstra claramente com o exemplo italiano. Com efeito, desmantelado na Itália, antes mesmo do término da Segunda Grande Guerra, o aparato fascista, em que medrava o sindicato único, verificou-se que o clima do pluralismo foi muito mais propício ao fortalecimento das entidades sindicais.

Mas as razões que mais fortemente militam em prol do pluralismo são as de que constituem o melhor antídoto para a eliminação das mazelas da unicidade, tal como existe em nossa legislação.

...

Considerando-se os prós e os contras dos dois sistemas postos em cotejo, não há como se recusar a palma ao pluralismo.134

Importante destacar a incompatibilidade entre a ratificação do Brasil ao Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (que consagra o

134

SILVA, Jane Granzoto Torres e Pellegrina, Maria Aparecida. (coordenadoras). Constitucionalismo social – Estudos em homenagem ao ministro Marco Aurélio Mendes de Farias Mello. São Paulo: LTR, 2003, p. 98-

pluralismo sindical) diante da Constituição Federal de 1988, que adota a unicidade sindical.

Sobre o tema, destaca Arion Sayão Romita:

A ratificação do Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais incorporou ao direito interno o princípio de liberdade sindical, no aspecto que consagra a possibilidade de pluralidade sindical. Manifesta é a incompatibilidade entre o princípio insculpido no art. 8º do Pacto, e o disposto no art. 8º, II, da Constituição Federal. 135

Conforme dados do Sistema de Acompanhamento de Contratações Coletivas do Dieese (SACC-Dieese), – que armazena informações relativas aos contratos coletivos de trabalho das principais categorias profissionais do Brasil –, apenas 15% das negociações apresentaram cláusulas de jornada inferior ao limite legal de 44 horas semanais.136

Os indicativos corroboram nossa ponderação sobre não haver uma efetiva política de redução de jornada por meio de negociações coletivas, considerando a totalidade de categorias dos trabalhadores brasileiros.

Assim, entendemos que atualmente no Brasil, a redução da jornada de trabalho somente poderia ser efetivada por meio de lei. Neste sentido, plenamente justificável o PEC nº 231, que tem como objetivo reduzir a jornada de trabalho brasileira para 40 horas semanais.

Partindo de premissa equivalente, Sangheon Lee, Deirdre McCann e Jon C.