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A REDUÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO COMO FATOR IMPLEMENTADOR DO DIREITO À SAÚDE E AO LAZER DO TRABALHADOR

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PUC-SP

Fábio Nunes de Lima

A REDUÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO COMO FATOR IMPLEMENTADOR DO DIREITO À SAÚDE E AO LAZER DO TRABALHADOR

MESTRADO EM DIREITO

(2)

PUC-SP

Fábio Nunes de Lima

A REDUÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO COMO FATOR IMPLEMENTADOR DO DIREITO À SAÚDE E AO LAZER DO TRABALHADOR

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Direito do Trabalho, sob a orientação da Professora Doutora Carla Teresa Martins Romar.

(3)

Banca Examinadora

Profa. Dra. Carla Teresa Martins Romar Instituição: PUC-SP

Assinatura:________________________________

Profa. Dra. Suely Ester Gitelman Instituição: PUC-SP

Assinatura:________________________________

Prof. Dr. Túlio de Oliveira Massoni Instituição: UNIFESP

(4)

À minha pequena e querida filha, Gabriela Triaca de Lima.

À minha companheira, Veridiana Triaca.

Aos meus pais queridos, José Valfredo Lima e Iraci Lima.

(5)

Aos funcionários e professores da PUC/SP, que contribuíram e me inspiraram de forma contundente.

Aos amigos do Expediente da Pró-Reitoria, Angela, Cristina, Leandro e Wiliam.

Aos amigos do Programa de Direito, Rui e Rafael.

À minha orientadora, Profa. Dra. Carla Romar, pelo incentivo e acolhimento.

(6)

O objetivo deste estudo é analisar a redução da jornada de trabalho como fator implementador para a efetivação dos direitos sociais à saúde e ao lazer do trabalhador.

Inicialmente, são apresentados os conceitos de “duração de trabalho” e “jornada de trabalho”; em seguida, um estudo sobre sua evolução histórica, no Brasil e no exterior.

O capítulo Dos Benefícios da Redução da Jornada de Trabalho aborda os benefícios diretos, relacionados aos direitos à saúde e ao lazer, e os indiretos, relativos à geração de empregos e, consequentemente, ao natural aquecimento da economia.

A efetivação dos direitos sociais à saúde e ao lazer, espécies do gênero Dos Direitos e Garantias Fundamentais, previstos pela Constituição Federal de 1988, merecem uma análise mais aprofundada.

São abordados, ainda, os temas da mercantilização da saúde do trabalhador e, em seguida, a recomendação da Organização Internacional do Trabalho (OIT) para uma duração semanal de até 40 horas de trabalho, com base em documentos e legislação internacional.

A possibilidade de a jornada atual ser reduzida por meio de negociação coletiva é avaliada em face das especificidades do sistema sindical brasileiro.

Por fim, o estudo analisa a grande quantidade de propostas legislativas que visam reduzir a jornada de trabalho no Brasil. Entre elas, merece destaque o projeto de Emenda Constitucional nº 231, pois está em consonância com a presente dissertação ao propor uma jornada semanal de 40 horas, como forma de realmente efetivar o direito à saúde e ao lazer do trabalhador brasileiro.

(7)

The objective of this investigation is to analyze the reduction of working hours as an implementing factor for the realization of workers’ social rights to health and recreation.

Firstly, we introduce the concepts of the "duration of working time" and "working hours", followed by a study of their historical evolution, in Brazil and abroad.

The chapter “The Benefits of Working Hours Reduction” covers both the direct benefits related to the rights to health and leisure and the indirect ones related to the generation of jobs and consequent heating of the economy.

The realization of social rights to health and leisure - part of the “Rights and Fundamental Guarantees” laid down by the Constitution of 1988 - requires further analysis.

We also address some issues like the commercialization of the workers’ health and the recommendation of the International Labor Organization (ILO) for a 40-hour working week, based on documents and international legislation.

The possibility of the current working hours be reduced through collective bargaining is evaluated in light of the specificities of the Brazilian union system.

Finally, this study examines a number of legislative proposals aimed at reducing the working hours in Brazil. Among them, we highlight the Constitutional Amendment 231 project, since it is in line with the present investigation as far as proposing a 40-hour workweek as a way to effectively materialize the right to health and leisure of Brazilian workers.

(8)

INTRODUÇÃO p. 09

1 CONCEITO DE DURAÇÃO DE TRABALHO p. 12

2 CONCEITO DE JORNADA DE TRABALHO p. 14

3 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA JORNADA DE TRABALHO p. 19

3.1 No mundo p. 21

3.2 No Brasil p. 28

4 DOS BENEFÍCIOS DA REDUÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO p. 32

4.1 Dos Benefícios Diretos da Redução da Jornada de Trabalho p. 36

4.1.1 Saúde p. 39

4.1.2 Aspectos fisiológicos p. 47

4.1.3 Aspectos psicológicos p. 49

4.1.4 Lazer p. 52

4.2 Dos Benefícios Indiretos da Redução da Jornada de Trabalho p. 58

4.2.1 Geração de empregos p. 59

4.2.2 Aquecimento da economia p. 62

5 EFETIVAÇÃO DE DIREITOS SOCIAIS: SAÚDE E LAZER p. 64

6 DA MERCANTILIZAÇÃO DA SAÚDE DO TRABALHADOR p. 67

7 A RECOMENDAÇÃO DA OIT PARA UMA DURAÇÃO SEMANAL p. 72

DE 40 HORAS DE TRABALHO

8 A EFETIVIDADE DA REDUÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO p. 80

POR MEIO DE NEGOCIAÇÃO COLETIVA

9 PROPOSTAS LEGISLATIVAS PARA A REDUÇÃO DA JORNADA

DE TRABALHO NO BRASIL p. 92

CONCLUSÃO p. 103

REFERÊNCIAS

ANEXOS

ANEXO A – Tabela: limites das jornadas semanais normais (1967) ANEXO B – Tabela: limites das jornadas normais (1984)

ANEXO C – Tabela: limites das jornadas normais (1995) ANEXO D – Tabela: limites das jornadas normais (2005) ANEXO E – Convenção nº 47 da OIT, de 22 de junho de 1935 ANEXO F – Recomendação nº 116 da OIT, de 26 de junho de 1962

(9)

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa tem por escopo o estudo da redução da jornada de trabalho e a efetividade dos direitos sociais, previstos no art. 6º da Constituição Federal do Brasil de 1988, em especial, o direito à saúde e ao lazer.

Trataremos dos conceitos de duração e de jornada de trabalho, verificando as semelhanças e diferenças.

Observaremos a evolução da jornada de trabalho no Brasil e no mundo, bem como as consequências diretas e indiretas de uma eventual redução de jornada semanal brasileira.

Verificaremos que a redução da jornada de trabalho trará benefícios aos trabalhadores, ao passo que ficarão menos suscetíveis aos acidentes de trabalho e doenças profissionais, bem como poderão utilizar o tempo livre para o lazer; Os empregadores também serão beneficiados, pois terão funcionários mais dispostos e produtivos, diminuindo os riscos de ocorrência de acidentes de trabalho e de doenças profissionais.

A saúde e o lazer são direitos sociais previstos na Constituição Federal, que podem ser efetivados com a redução da jornada de trabalho.

Muito se fala em redução da jornada de trabalho no Brasil, notadamente pelo amplo interesse que o tema desperta nas mais diversas classes sociais e grupos de interesses coletivos. É também comum a abordagem do assunto por meio de sindicatos de empregados e empregadores.

Exatamente por se tratar de tema extremamente relevante, mas que nem sempre é estudado sob o viés jurídico – mais especificamente à luz da Constituição Federal de 1988 e da legislação trabalhista –, é que surge a necessidade de abordá-lo de forma menos superficial e mais fundamentada.

(10)

trabalhadores urbanos e rurais a duração do trabalho normal não superior a 8 horas diárias e 44 semanais.

Antes da promulgação da Constituição Federal de 1988, vigorava o Decreto n. 21.364, de 04 de maio de 1932, que limitava a duração do trabalho diário em 8 horas, e o semanal, em 48 horas.

Mas, porque haveria a necessidade de previsão expressa na Lei Maior sobre o limite da duração da jornada de trabalho? Não seria mais prático e rápido o ajuste entre o empregado e o empregador, por meio de acordos coletivos e convenções coletivas?

Um dos nossos objetivos é tentar responder a estas indagações, em momento oportuno, quando tratarmos da eficiência dos sindicatos brasileiros nas negociações coletivas entre os empregadores e os empregados.

Assegurar ao trabalhador as condições de trabalho que permitam a manutenção de sua saúde e, ao mesmo tempo, o acesso ao lazer, é uma forma eficiente de garantir a dignidade da pessoa humana nas relações de trabalho, em observação ao disposto no artigo 6º da Constituição Federal de 1988.

Este estudo partirá do trabalho desenvolvido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), que estipulou, como padrão mundial, o limite de 40 horas semanais de trabalho.

Atualmente, no Brasil, o tema da redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais é recorrente em seminários, conferência e demais atividades acadêmicas, porém a Organização Internacional do Trabalho, já em 1935, estabeleceu tal jornada como tempo de trabalho ideal.

(11)

Serão abordadas as diversas implicações de uma eventual alteração de 44 para 40 horas da jornada de trabalho brasileira, enfatizando os aspectos trabalhistas decorrentes desta redução.

Existem muitos projetos de lei em tramitação, que preveem a redução da jornada de trabalho, destacando-se os que tratam de categorias especiais de trabalho, como enfermeiros e psicólogos.

(12)

1 CONCEITO DE DURAÇÃO DE TRABALHO

Preliminarmente, cumpre esclarecer que o conceito de duração de trabalho, objeto de estudo deste tópico, faz referência ao tempo em que o obreiro fica à disposição do empregador, por dia, semana ou mês. Não abordaremos, portanto, o

conceito relativo à expressão “duração do contrato de trabalho”. Ainda que tal expressão possua relação semântica à matéria que estudaremos, esta pesquisa aborda a duração do contrato de trabalho por prazos determinado e indeterminado, ou seja, a medida de tempo em que o trabalhador labora para o empregador, no decorrer do seu contrato de trabalho.

Isto posto, temos que a duração do trabalho pode ser quantificada pelas mais variadas formas, porém as mais comuns, conforme demonstram a doutrina e a jurisprudência, é pelo decurso de horas despendidas em a) um dia; b) uma semana ou c) um mês.

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 7º, XIII, dispõe que a duração do trabalho normal não deverá ultrapassar 8 horas diárias e 44 semanais.

Considerando que a duração de trabalho semanal está limitada a 44 horas, temos que a média diária de uma semana (6 dias) é de 7,33 horas. Multiplicando este número por 30 dias, concluímos que um mês normal de trabalho deverá ter 220 horas.

A duração do tempo de labor, conforme as limitações citadas, foi estabelecida pela Constituição Federal de 1988; já a duração de trabalho anterior era de 48 horas semanais, totalizando 240 horas mensais.

Notamos que a expressão “duração do trabalho” é a forma mais técnica de

medir o tempo de trabalho, e está disposta, inclusive, na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em capítulo específico (II). No entanto, conforme depreendemos da legislação, da doutrina e da jurisprudência, a expressão consagrada no Brasil, como medida de tempo de trabalho, é “jornada de trabalho”.

(13)

a expressão “duração do trabalho” é mais apropriada para medir o tempo de

trabalho:

Embora jornada seja palavra que tem magnetizado as referências culturais diversas feitas ao tempo de trabalho ou disponibilidade obreira em face do contrato, a expressão duração do trabalho é que, na verdade, abrange os distintos e crescentes módulos temporais de dedicação do trabalhador à empresa em decorrência do contrato empregatício1

Para José Montenegro Baca, as expressões “duração do trabalho” e “jornada de trabalho” são comumente equiparadas:

De acordo com a definição de José Montenegro Baca, Professor da

Universidade de Tujillo, Peru, de saudosa memória, “a duração do trabalho

é o tempo durante o qual o trabalhador está a serviço do empregador, compreende a prestação de serviços, comumente denominada jornada de trabalho, e os descansos do trabalhador. Segundo o que acabamos de expor, a duração do trabalho compreende dois aspectos: o ativo ou jornada e o passivo ou descanso do trabalhador.2

Exatamente por ser a expressão “jornada de trabalho” bastante utilizada pela

legislação, doutrina e jurisprudência, optamos por utilizar a expressão “jornada de trabalho” para nos referirmos ao tempo trabalhado ou a disposição do empregado ao empregador, feitas as devidas justificativas.

Assim, passaremos ao próximo capítulo, que consiste no estudo do conceito de jornada de trabalho.

1 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 11. ed. São Paulo: LTR, 2012, p. 866. 2

(14)

2 CONCEITO DE JORNADA DE TRABALHO

Verificamos, inicialmente, que a palavra da língua portuguesa “jornada” tem

origem no vocábulo italiano giorno, que significa dia, conforme nos esclarecem os professores Carla Teresa Martins Romar e Pedro Paulo Teixeira Manus: “O conceito

de jornada, pela própria etimologia da palavra, originariamente referia-se exclusivamente ao dia de trabalho” (...)3.

Considerando que a duração do trabalho diário pode ocorrer entre 0h e 23h59, seria inapropriado nos referirmos à expressão “jornada de trabalho”, como

medida de tempo a ser utilizada na quantificação das horas trabalhadas pelos empregados, já que as relações de trabalho ocorrem não só no período diurno, mas também nos períodos vespertino e noturno. Seguindo este raciocínio, também seria

tecnicamente inapropriado utilizar as expressões “jornada semanal”, “jornada mensal” e “jornada anual”.

Por outro lado, Amauri Mascaro Nascimento esclarece que o vocábulo italiano giornata tem vários sentidos e não está adstrito somente ao significado de dia:

O vocábulo giornata, que em italiano significa dia, tem diversos sentidos, próximos, mas não coincidentes, em seu núcleo, sempre indicando uma relação de tempo que pode ser examinada sob diversos aspectos, como a medida da duração desse tempo, a sua distribuição em módulos de repartição diário, semanal, mensal ou anual, a contagem desse tempo para distinguir o que é incluído ou excluído dela, o horário de começo e fim desse tempo, a classificação dos tipos como o período noturno, diurno, normal, extraordinário, sobreaviso e assim por diante.4

De qualquer forma, ao nos afastarmos da acepção estritamente literal da palavra italiana giorno, que deu origem ao termo brasileiro “jornada”, julgamos mais

apropriado utilizarmos a expressão “jornada de trabalho”.

3

MANUS, Pedro Paulo Teixeira e ROMAR, Carla Teresa Martins. CLT e Legislação Complementar em Vigor. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 90.

4

(15)

Mauricio Godinho Delgado destaca que a expressão “jornada de trabalho” é bastante utilizada para medir não só o tempo de trabalho diário, mas, também, o semanal e o mensal:

Na cultura da língua portuguesa, porém, tem-se, comumente, conferido maior amplitude à expressão, de modo a abranger lapsos temporais mais amplos, como a semana, por exemplo (com o que se falaria, pois, em jornada semanal). Esta extensão semântica é reconhecida pelo legislador (o parágrafo 2º do art. 59 da CLT refere-se, ilustrativamente, “...à soma das

jornadas semanais de trabalho previstas...”). A pesquisa jurídica também o

atesta: Sadi Dal Rosso, nesta linha, esclarece que constitui uma particularidade da língua portuguesa o uso da expressão para designar tempo de trabalho, qualquer que seja a medida de duração.5

Carlos Henrique Bezerra Leite é enfático, ao esclarecer que a expressão

“jornada de trabalho” abrange não só a jornada diária, mas semanal, mensal e

anual:

Concebida, inicialmente, com o sentido de tempo diário do trabalho, hoje em dia confere-se à expressão jornada de trabalho amplitude suficiente para alcançar, também, as noções de jornada semanal, jornada mensal e até jornada anual. A expressão jornada de trabalho é utilizada, via de regra, para designar duração do trabalho diário.

...

A jornada de trabalho, portanto, pode ser diária, semanal ou anual (férias anuais).6

Valentin Carrion também admite a possibilidade de utilizar a expressão

“jornada de trabalho” para se referir ao tempo de trabalho diário e semanal:

(...) nesse sentido amplo, há uma “jornada” normal diária e semanal. Pelo limite imposto pela Carta Magna a diária é de 8 horas, limitada pela semanal, que é de 44 horas.7

Carla Teresa Martins Romar define que o tempo de trabalho do empregado é

medido pelas expressões “jornada normal máxima” e “jornada normal especial”.

Jornada normal especial é aquela que regula o tempo de trabalho de categoria específica, como telefonista, bancário, ascensorista, entre outros. Assim, ao

5 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 11. ed. São Paulo: LTR. 2012, p. 867. 6

BEZERRA LEITE, Carlos Henrique. Curso de direito do trabalho. 4. ed. Curitiba: Juruá, 2013, p. 402.

(16)

conceituar o tempo de trabalho de todas as categorias de trabalho como “jornada

normal máxima”, temos que:

Jornada normal máxima é aquela cuja duração é o limite máximo de tempo que o empregado pode ficar às disposição do empregador autorizado pelo ordenamento jurídico; é a prevista pelo art. 7º, XIII, da Constituição Federal, que assim dispõe: “XIII – duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro horas semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou

convenção coletiva de trabalho”.8

Feitas estas ressalvas, e retomando o tópico anterior, não obstante seja a

expressão “duração do trabalho” mais tecnicamente apropriada para utilizarmos nos

estudos que compreendem a quantificação do tempo de trabalho, vislumbramos que a doutrina e a jurisprudência brasileiras, ao tratar do assunto, preferiram utilizar a

expressão “jornada de trabalho”.

Até mesmo autores estrangeiros costumam se referir à expressão “jornada de trabalho” para tratar do tempo de trabalho. Neste sentido, o autor espanhol, Manoel

Alonso Olea, ao mencionar a expressão “jornadas de trabalho”: “(...) aparecem limitações das jornadas semanal e diária de trabalho, também relacionadas com a

idade e o sexo”.9

Passamos agora à definição de jornada de trabalho, em conformidade com a doutrina brasileira.

Octavio Bueno Magano, ao adotar a expressão “jornada de trabalho”, como

forma mais apropriada para medir o tempo de trabalho, assim a define: “Jornada de

trabalho é o tempo dedicado ao trabalho, excluído, portanto, aquele em que o empregado não esteja executando ou aguardando ordens”.10

Entendemos mais apropriado que a expressão “jornada de trabalho” deva ser

compreendida não só pelo tempo efetivamente trabalhado, mas também pelo tempo em que o trabalhador estiver a disposição do empregador, ainda que não desempenhe funções, efetivamente.

8 ROMAR, Carla Teresa Martins. Direito do trabalho esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 282. 9

OLEA, Manuel Alonso. Introdução ao direito do trabalho. Tradução de Regina Maria Macedo Nery Ferrari, Aglaé Marcon, Itacir Luchtemberg e Sebastião Antunes Furtado. 5. ed. Curitiba: Genesis, 1997, p. 368

10

(17)

Amauri Mascaro Nascimento, ao definir “jornada como medida do tempo de trabalho”:

Jornada como medida do tempo de trabalho é o estudo dos critérios básicos destinados a esse fim, a saber, o que é e o que não é incluído no tempo de trabalho: o tempo efetivamente trabalhado, o tempo à disposição do empregador, o tempo in itinere e os intervalos para descanso ou alimentação. 11

Cláudia José Abud e Fabíola Marques, também entendem que “jornada de

trabalho é o período de tempo diário em que o empregado está a disposição do

empregador em razão do contrato de trabalho”.12

Valentin Carrion reitera o entendimento de que a jornada de trabalho é o tempo efetivamente trabalhado, bem como o tempo em que se fica a disposição:

A jornada normal é o lapso de tempo durante o qual o empregado deve prestar serviço ou permanecer à disposição, com habitualidade, excluídas as horas extraordinárias.13

Para finalizar a exposição doutrinária, Maurício Godinho Delgado define jornada de trabalho:

(...) o lapso temporal diário em que o empregado se coloca à disposição do empregador em virtude do respectivo contrato. É, desse modo, a medida principal do tempo diário de disponibilidade do obreiro em face de seu empregador como resultado do cumprimento do contrato de trabalho que os vincula.14

Assim, temos que jornada de trabalho é o interregno no qual o empregado fica à disposição do empregador para o exercício de atividades laborais, que não podem ultrapassar 8 horas diárias e 44 semanais, em consonância com nossa Carta Magna, art. 7º, XIII, sob pena de serem convertidas, as horas excedentes, em horas

11

NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho. 25. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 759. 12 MARQUES, Fabíola e ABUD, Cláudia José. Direito do Trabalho. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2011, p. 73. 13

CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis do trabalho. 32. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 107.

14

(18)

pagas com acréscimo de, no mínimo, 50% do valor devido, conforme o artigo 7º, XVI da Constituição.

Isto posto, temos que na legislação brasileira atual, a jornada normal de trabalho é assim quantificada: a) 8 horas por dia; b) 44 horas por semana e c) 220 horas por mês.

Assim, quando abordarmos a jornada de trabalho, poderemos nos referir à jornada diária, semanal ou mensal, de acordo com a pertinência do estudo pretendido.

(19)

3 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA JORNADA DE TRABALHO

A evolução histórica da jornada de trabalho é fruto de uma reivindicação antiga do homem, que está constantemente em busca de melhores condições sociais.

A limitação da jornada de trabalho, na história da humanidade, não foi estabelecida de forma natural e espontânea, mas por meio de muita luta da classe trabalhadora, que sempre procurou melhorar suas condições para garantir a preservação da saúde.

Conforme observado por Cláudia José Abud e Fabíola Marques, a limitação da jornada de trabalho tem fundamento não só em relação às necessidades físicas, mas também sociais dos trabalhadores:

a limitação da jornada de trabalho fundamenta-se em necessidades físicas e sociais, tendo em vista que a saúde e o lazer são considerados direitos sociais nos termos do art. 6º da Constituição Federal.15

Assim, os motivos que determinaram a necessidade de limitar a jornada de trabalho transcendem os de ordem biológica. Segundo Carlos Henrique Bezerra Leite:

As razões para a limitação da jornada de trabalho são de ordem biológica, social, econômica, religiosa e familiar. As jornadas estafantes foram, durante o século XIX, uma das principais causas de movimentos revolucionários dos trabalhadores.16

Iniciaremos nosso estudo a partir de jornadas de trabalho absurdamente extenuantes; verificaremos a evolução na diminuição da jornada de trabalho do homem, que chegou a admitir o trabalho de crianças em jornadas superiores a 12 horas diárias.

Verificaremos também a importância que os sindicatos exerceram na limitação da jornada de trabalho.

15 MARQUES, Fabíola e ABUD, Cláudia José. Direito do Trabalho. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2011, p. 77. 16

(20)

É interessante apreciarmos a constante evolução na redução da jornada de trabalho; porém é um fenômeno complexo, que parece estar fundamentado na contínua busca do homem em melhorar sua condição de vida.

Não obstante afirmarmos que a decrescente jornada de trabalho fora motivada por constantes reivindicações do homem, temos que o processo evolutivo de tais jornadas é bastante complexo. Neste sentido, constatação da OIT, contida na obra Duração do trabalho em todo o mundo:

O processo evolutivo das jornadas de trabalho é muito mais complexo do que normalmente se percebe – eis uma inferência importante que provavelmente se pode extrair desta seção. O desenvolvimento econômico e o aumento da renda são importantes para a redução das jornadas de trabalho, mas a rapidez com que ela é alcançada varia muito entre os países. Em alguns casos, as jornadas de trabalho podem aumentar a despeito do crescimento da economia e da renda. A experiência europeia indica, na verdade, que o arcabouço institucional do país e a força dos sindicatos são muito mais importantes na determinação das jornadas de trabalho.17

Ainda que estejamos muito distantes de jornadas de trabalho dignas, é possível vislumbrar os significativos avanços que instituíram um patamar mínimo civilizatório de limitação de jornada de trabalho, conforme abordaremos oportunamente.

Para exemplificar, citamos a constatação de Octavio Bueno Magano: “no passado, já vigorou o entendimento que o trabalhador deveria trabalhar de sol a sol.18

Atualmente, a redução da jornada de trabalho é tema muito debatido no Direito do Trabalho.

Segundo Pedro Romano Martinez, a evolução legislativa tem acompanhado, ainda que parcialmente, às reivindicações por menores jornadas:

17

SANGHEON LEE, Deirdre McCann e Jon C. Messenger. Duração do trabalho em todo o mundo. Suíça.

Tradução: Oswaldo de Oliveira Teófilo. OIT, 2009, p. 26. 18

(21)

A duração do trabalho tem sido um dos temas mais debatidos no moderno direito laboral. De facto, após a extinção das corporações, com a industrialização, proliferaram as situações clamorosas, em que a duração do dia de trabalho era frequentemente superior a doze horas e uma das principais reivindicações dos trabalhadores tem sido a redução do número de horas de trabalho diário e semanal.

A evolução legislativa tem acompanhado essas reivindicações, satisfazendo-as parcialmente.19

Assim, passaremos ao estudo da evolução da jornada de trabalho no mundo e, posteriormente, no Brasil.

3.1 No mundo

Na história da civilização humana, temos que as primeiras relações de trabalho ocorreram sob o regime de escravidão, portanto, de trabalho forçado.

Considerando que os escravos não se submetiam a nenhum tipo de controle de jornada, não há que se falar em jornada de trabalho no período escravagista.

Neste sentido, Orestes Campos Gonçalves, na obra coordenada por Alice Monteiro de Barros:

Com efeito, as primitivas civilizações se baseavam no trabalho escravo direto, para o qual não se conhecia limites no tempo, a não ser na vontade do senhor.20

Manuel Alonso Olea esclarece que, no passado, a escravidão exerceu relevante papel na economia:

Talvez a terça parte dos habitantes de Atenas foi escrava. Por um lado, “a

escravidão foi tão característica da economia da polis como o assalariado o

é da nossa”, e, por outro, “Roma edificou-se pelo trabalho do escravo” e

edificou-se progressiva e cada vez mais intensamente sobre tal base, na expansão da era republicana, de forma que, no século I a. C., a densidade da população escrava chegou a cifras similares às de Atenas.21

19

MARTINEZ, Pedro Romano. Direito do Trabalho. 5. ed. Coimbra: Almedina, 2010, p. 561.

20 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho Estudos em memória de Célio Goyatá. Volume II. São Paulo: LTR, 1993, p. 337.

(22)

Ainda que a escravidão tenha representado algum tipo de ‘avanço’, do ponto

de vista da preservação da vida, já que em tempos remotos optava-se por imolar os combatentes que perdiam a batalha, ao invés de escravizá-los, aos poucos, o homem compreendeu que a negação de sua liberdade também significava uma violência inadmissível.

Neste sentido, Manuel Alonso Olea:

Só um amadurecimento muito lento da realidade e das ideias leva à convicção de que o pacto de trabalhar para outro “por toda a vida” envolve

uma negação radical da liberdade de quem assim compromete seus serviços.22

Após a escravidão, surgiram as fases de servidão, corporações de ofício e locação de serviços, conforme destacado por Adalberto Martins e Hélio Augusto Pedroso Cavalcanti.23

Durante o período das corporações de ofício, apesar de superada a fase histórica da escravidão, a jornada de trabalho ainda era degradante.

As longas jornadas de trabalho, que se estendiam do nascer ao pôr do sol, perduraram na época das corporações de ofício, conforme nos esclarece, Domingos Sávio Zainaghi:

Na época dessas corporações, o trabalho era exercido em longas jornadas, as quais iam do nascer ao pôr do sol. Somente em 1789, com a Revolução Francesa e seus ideais de igualdade, fraternidade e liberdade, é que as corporações de ofício são extintas, mais precisamente por uma lei de 17 de junho de 1791.24

No mesmo sentido, Sérgio Ferraz, ao afirmar que as jornadas de trabalho mais remotas eram também desumanas: “Desde a Antiguidade, e até mesmo o

22

OLEA, Manuel Alonso. Introdução ao direito do trabalho. Tradução de Regina Maria Macedo Nery Ferrari, Aglaé Marcon, Itacir Luchtemberg e Sebastião Antunes Furtado. 5. ed. Curitiba: Genesis, 1997, p. 58.

23

MARTINS, Adalberto e CAVALCANTI, Hélio Augusto Pedroso. Elementos de direito individual do trabalho.

Porto Alegre: Síntese, 2000, p. 13. 24

(23)

início da Idade Moderna, as jornadas se estendiam, de regra, e sobretudo no trabalho agrícola, de sol a sol.”25

Após constatar as exaustivas jornadas de trabalho, em diferentes períodos da História, passaremos a expor, sucintamente, suas principais alterações, em diversos locais do mundo, que visaram a melhoria da condição humana.

Em 1593 surgiu, na Espanha, durante o reinado de Felipe II, a primeira norma que regulamentou a duração do trabalho sobre a qual se tem notícia. Denominada Ley de Índias, estabeleceu uma jornada diária de 8 horas de trabalho nas fortificações e nas fábricas.

Em 1802, a Lei de Peel, na Inglaterra, chamada também Moral and Health Act., proibiu o trabalho de menores durante à noite e limitou a jornada em até 12 horas diárias. Em seguida, surgiram diversas normas que trataram da duração do trabalho ao redor do mundo.

Elencamos, abaixo, algumas das principais regulamentações da jornada de trabalho, em diversos países:

 1830 – Inglaterra: os Trade-Unions (primeiros sindicatos ingleses) visavam

fixar um limite diário de até 8 horas de trabalho;

 1840 – França: proibição do trabalho das mulheres nas minas e,

posteriormente, redução para 10 horas nas outras indústrias;

 1841 – França: proibição do trabalho dos menores de 8 anos. Jornada de 8

horas para crianças entre 8 e 12 anos; jornada de 12 horas para crianças entre 12 e 16 anos;

 1849 – Inglaterra: sob pressão dos cartistas, surge a primeira lei sobre a

duração do trabalho de adultos masculinos; a jornada é fixada em 10 horas diárias;

 1868 – Os Estados Unidos da América limitaram a duração da jornada diária

em 8 horas para os empregados e operários federais;

25

(24)

 1891 – Rerum Novarum, do Papa Leão XIII – O pontífice escreveu e divulgou esta Carta Encíclica que defendia, entre outros assuntos, a necessidade de impor limite à jornada de trabalho;

 1917 – Constituição do México (1917) – estabeleceu jornada de 8 horas

diárias de trabalho;

 1919 – Espanha adotou a jornada de 8 horas diárias;

 1935 – A Convenção Internacional da OIT, nº 47 dispunha que a jornada

semanal ideal seria de 40 horas de trabalho semanais;

 1948 – Declaração Universal dos Direitos Humanos: adotada e proclamada

pela resolução 217 A (III), da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948, previa que deveria haver uma limitação razoável das horas de trabalho.

Das leis citadas, destacamos a de 1802, editada pela Inglaterra e chamada Health and Morals of Apprentices Act. Foi a primeira lei que limitou em até 12 horas o trabalho do menor de 12 anos.

Ainda que continuasse sendo uma jornada extenuante, principalmente porque permitia que uma criança de 12 anos laborasse até 12 horas, foi um significativo avanço ao princípio da dignidade da pessoa humana já que, ao menos, estabeleceu um limite de trabalho diário.

Cláudia José Abud destaca a importância do ano de 1830, no que tange à luta operária por uma jornada de trabalho mais reduzida:

Em 1830, as ideias de Owen inspiraram os trabalhadores que deram início a

um movimento operário organizado, denominado “trade unions”, que

objetivava reduzir a jornada, fixando o dia de trabalho em oito horas.26

Antonio Lamarca destaca uma lei da extinta Prússia, criada em 1839, pela relevância no que tange à limitação da jornada de trabalho dos relativamente incapazes:

Pode-se, ainda, citar como eventos dignos de registro uma Lei prussiana de 1839, seguida por outras de Estados alemães, e que objetivavam

26

(25)

regulamentar o trabalho de menores (jornada de trabalho, proibição do trabalho noturno, frequência à escola, etc.).27

Também merece destaque a lei francesa de 22 de março de 1841, que proibiu o trabalho de menores de 8 anos e limitou em até 8 horas diárias o labor de crianças entre 8 e 12 anos, e até 12 horas diárias, as atividades das crianças entre 12 e 16 anos.

Não menos importante, na seara trabalhista, foi a encíclica Rerum Novarum, de 1891, escrita pelo Papa Leão XIII, que em sua essência, defendia de forma inédita, condições básicas mínimas ao trabalhador. Estes tópicos do documento foram denominados Princípios de Proteção ao Trabalhador, e tinham entre vários objetivos, limitar a jornada diária de trabalho.

Júlio Ricardo de Paula Amaral destaca a importância da Constituição Política dos Estados Unidos Mexicanos, de 5 de fevereiro de 1917, ao relatar:

(...) além de reconhecer diversos direitos fundamentais, teve grande importância na evolução jurídica, tendo em vista que assegurou o direito à educação – outorgada pelo Estado de maneira laica, gratuita e obrigatória –, à liberdade de trabalho, à liberdade religiosa, e, ainda, reconheceu expressamente direitos dos trabalhadores, tais como a jornada de trabalho de 8 (oito) horas diárias, o direito de greve, a liberdade de associação e organização sindical, entre outros direitos trabalhistas. 28

Alinhados a este pensamento, muitos outros dispositivos normativos surgiram ao redor do mundo, estabelecendo um limite máximo de trabalho para o ser humano, atendendo, ainda que parcialmente, os anseios dos trabalhadores para uma jornada de trabalho mais curta.

O art. 160 da Constituição de Weimar previa a obrigatoriedade de tempo livre para os empregados e os operários poderem exercer seus direitos cívicos e funções públicas gratuitas.

27

LAMARCA, Antonio. Curso normativo de direito do trabalho. 2. ed. São Paulo: RT, 1993, p. 22.

(26)

Alexandre de Moraes ressalta que a Constituição de Weimar possuía forte espírito de defesa dos direitos sociais:

Além desses direitos sociais expressamente previstos, a Constituição de Weimar demonstrava forte espírito de defesa dos direitos sociais ao proclamar que o império procuraria obter uma regulamentação internacional da situação jurídica dos trabalhadores que assegurasse ao conjunto da classe operária da humanidade um mínimo de direitos sociais e que os operários e empregados seriam chamados a colaborar, em pé de igualdade, com os patrões na regulamentação dos salários e das condições de trabalho, bem como no desenvolvimento das forças produtivas. 29

A Declaração Universal dos Direitos do Homem especifica em seus artigos XXIV e XXV:

Artigo XXIV Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e férias periódicas remuneradas; Artigo XXV – 1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle.

2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social.

Paulo Bonavides destaca a importância da Declaração no que tange ao respeito à dignidade do ser humano:

A Declaração Universal dos Direitos do Homem é o estatuto de liberdade de todos os povos, a Constituição das Nações Unidas, a carta magna das minorias oprimidas, o código das nacionalidades, a esperança, enfim, de promover, sem distinção de raça, sexo e religião, o respeito à dignidade do ser humano.30

Observamos que a redução da jornada de trabalho sempre foi efetivada por meio de leis, motivo pelo qual acreditamos que não é um fenômeno natural, mas uma conquista dos trabalhadores.

29

SILVA, Jane Granzoto Torres e Pellegrina, Maria Aparecida. (coordenadoras). Constitucionalismo social –

Estudos em homenagem ao ministro Marco Aurélio Mendes de Farias Mello. São Paulo: LTR, 2003, p. 237. 30

(27)

Amauri Mascaro Nascimento resume, de forma bastante esclarecedora, a evolução da limitação da jornada de trabalho:

Nem sempre, na história da humanidade, os homens puderam contar com um tempo livre. Na antiguidade, somente uma elite socioeconômica o desfrutava. Na Idade Média, poucas foram as modificações, apesar do maior respeito pelo homem. Novas convicções desenvolviam-se no pensamento humano.

Na Idade Moderna, o movimento trabalhista modificou substancialmente a atitude dos homens diante do problema, com a ação vigorosa pela limitação das horas diárias de trabalho e com um início, posterior, incipiente, de participação dos operários em pequenas atividades culturais e esportivas, nos países de maior desenvolvimento, e com as invenções do rádio, cinema, televisão etc. Aos poucos, a necessidade de dosagem entre tempo de trabalho e tempo livre passa a constituir uma exigência legal, de tal modo que hoje ninguém mais duvida da imperatividade desse equilíbrio, meio de eficaz e salutar evolução dos povos.31

Neste sentido, ao traçar um histórico sobre a jornada de trabalho, Orestes Campos Gonçalves explica:

Os progressos na legislação sobre jornada não cessaram e foram influenciados também pela ação da Igreja, através da encíclica papal Rerum Novarum, de Leão XIII (1891), do Tratado de Versalhes e dos organismos internacionais, sobretudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT), através das Convenções n. 1/1919, n. 30/1930, n. 3/1931, n. 47 (em vigor só em 1947), n. 67/1939 e n. 116/1962, além de várias Recomendações.32

Constatamos nos anexos desta pesquisa alguns dados estatísticos da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que comparam os anos de 1967, 1984, 1995 e 2005; houve, neste período, uma evolução da redução de jornada semanal de trabalho em todo o mundo.

Verificamos que aumentou o número de países que reduziram a jornada de trabalho para 40 horas semanais, nos últimos 40 anos. Em 1967, foram 15 países. Já em 1984, 1995 e 2005, foram 27, 31 e 47 países, respectivamente. Atualmente, os que adotam a jornada semanal de 40 horas são maioria.

31

(28)

Sangheon Lee, Deirdre McCann e Jon C. Messenger, ao constatarem a evolução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, observam:

Os estudos analisados, referentes ao período de 1967 a 1995, revelaram uma evolução gradual em direção às 40 horas, enquanto, durante a última década, a vasta maioria dos governos conservou os limites de suas jornadas estatutárias e as poucas mudanças foram no sentido do estabelecimento de limites de jornadas mais curtos. Como resultado, os dados de 2005 confirmam que o limite de 40 horas é o padrão dominante atualmente.33

Por fim, não obstante a tendência de uma jornada de 40 horas semanais, verificamos que alguns países europeus, como a Alemanha e a França, por exemplo, têm jornada bastante reduzida, que pode chegar a 36 horas de trabalho semanais.

3.2 No Brasil

No Brasil, a mais recente redução da jornada de trabalho se deu com a promulgação da Constituição Federal de 1988, que definiu o limite de 44 horas em relação ao previsto em lei anterior (48 horas semanais).

Conforme José Martins Catharino, no início do século XX, houve no Brasil um grande movimento legislativo em torno do tema da jornada de trabalho, considerando as diversas vantagens, não só para a classe operária, mas também aos empregadores.

No Parlamento, senadores e deputados, sensíveis à situação criada pelo desenvolvimento econômico que se iniciava, apresentaram projetos sobre duração e acidentes do trabalho, principalmente.34

A primeira lei que tratou da limitação da jornada de trabalho no Brasil foi o Decreto n. 313, de 17 de janeiro de 1891, que fixou o limite em 9 horas diárias aos

33

SANGHEON LEE, Deirdre McCann e Jon C. Messenger. Duração do trabalho em todo o mundo. Suíça.

Tradução: Oswaldo de Oliveira Teófilo. OIT, 2009, p. 20. 34

(29)

menores do sexo masculino, e em 7 horas de trabalho às jovens do sexo feminino. Porém, a lei só foi aplicada ao distrito federal que, naquela época, se localizava no Rio de Janeiro.

Em 04 de maio de 1932, por meio do Decreto n. 21.364, passou-se a limitar a jornada de trabalho diária em 8 horas e a semanal, em 48 horas, aos empregados em estabelecimentos industriais de qualquer natureza.

Foi então que, a partir de 1932, o tema da limitação da jornada de trabalho começou a ser tratado com mais veemência, conforme observa Orestes Campos Gonçalves:

Em 1932 editaram-se os Decretos 21.186, 22.033 e 21.364, destinados, respectivamente, aos comerciários (os dois primeiros) e industriários, fixando-se a jornada em oito horas diárias, a qual foi estendida posteriormente aos profissionais de barbearias e congêneres (Dec. 22.979/33), farmácias (Dec. 23.084/33), panificação (Dec. 23.104/33), bancários (Dec. 23/322/33), etc. Em 1940, Decreto-Lei 2.308 unifica em um só diploma legal a regulamentação normal de duração de trabalho, continuando em vigor os regimes excepcionais.35

Com o advento de várias leis esparsas que trataram da limitação da jornada de trabalho, finalmente, em 1934, foi promulgada a primeira Constituição brasileira que tratou diretamente da regulação da jornada de trabalho:

Pela primeira vez, entre nós, o Estado tornava-se intervencionista e o Título IV daquela Carta foi dedicado à Ordem Econômica e Social. Elencaram-se, então, direitos já consagrados pela Organização Internacional do Trabalho, dos quais podem ser salientados os seguintes: (...) jornada de trabalho.36

As Constituições de 1934 e 1937 também regularam as jornadas de trabalho dos brasileiros, conforme Cláudia José Abud:

As Constituições de 1934 e 1937 estabeleceram a regra das oito horas diárias de trabalho. A Carta Constitucional de 1934 estabeleceu na alínea c

do § 1° do art. 121 “trabalho diário não excedente de oito horas, reduzíveis, mas só prorrogáveis nos casos previstos em lei”.

A Constituição de 1937 acompanhou o diploma antecedente, e no inciso I

do art. 137 determinou “dia de trabalho de oito horas, que poderá ser reduzido, e somente suscetível de aumento nos casos previstos em lei”.37

35 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho Estudos em memória de Célio Goyatá. Volume II. São Paulo: LTR, 1993, p. 338-339.

36 LAMARCA, Antonio. Curso normativo de direito do trabalho. 2. ed. São Paulo: RT. 1993, p. 33. 37

(30)

Em 1º de maio de 1943, por meio do Decreto-Lei nº 5.452, surge a Consolidação das Leis do Trabalho, popularmente conhecida por CLT que, além de ratificar os limites de jornada de trabalho dispostos pela Constituição Federal, acrescentou a limitação do período adicional de trabalho a duas horas extras diárias e estabeleceu férias por 30 dias.

Observamos que a CLT foi a mais importante medida brasileira, no que tange à adequação da legislação trabalhista. Antes dela, havia somente leis esparsas. Exatamente por esse motivo é que foi denominada Consolidação das Leis do Trabalho.

Neste sentido, José Martins Catharino, ao mencionar a relevância da CLT no direito trabalhista:

A CLT – que também codificou – é o mais importante texto legal trabalhista do Brasil. Divisor de águas, entre a fase encachoeirada das leis esparsas e a do seu represamento sistemático. É um marco do progresso técnico-legislativo brasileiro. Ainda hoje, apesar de retalhada, permanece como texto básico, e, a partir de seu advento, a produção doutrinária brasileira aumentou consideravelmente, e foi ganhando consistência e elevação.38

A Constituição de 1967, com a redação dada pela Emenda nº 1 de 1969, também regulamentou a jornada de trabalho no Brasil. O inciso VI do seu artigo 165, dispunha: “duração diária do trabalho não excedente a oito horas, com intervalo para descanso, salvo casos especialmente previstos”.39

Por fim, em 5 de outubro de 1988 é promulgada a Constituição Federal de 1988, que em seu art. 7º, XIII, limitou a jornada de trabalho diária em 8 horas e a semanal em 44 horas, o que significou um relevante avanço na efetivação dos direitos sociais.

Após 56 anos, desde o Decreto nº 21.364, de 04 de maio de 1932, a Constituição reduziu em 20 horas mensais a jornada de trabalho brasileira.

38

CATHARINO, José Martins. Compêndio de direito do trabalho. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1982, p. 26. 39

(31)

Assim nos esclarecem Carla Teresa Martins Romar e Pedro Paulo Teixeira Manus, ao ressaltarem que a jornada mensal foi reduzida de 240 para 220 horas:

O art. 7º, XIII, da CF reduziu a duração do trabalho por semana para 44 horas. A jornada normal continua sendo de 8 horas. Ao menos uma vez por semana deve a jornada ser reduzida, obedecendo o limite, sendo o excesso horário extraordinário. A duração mensal foi reduzida de 240 para 220 horas.40

Atualmente tramita um Projeto de Lei (PEC nº 231), proposto em 1995, que pretende diminuir a jornada de trabalho semanal brasileira (de 44 para 40 horas) e aumentar o percentual de pagamento para as horas de trabalho extraordinárias (de 50% para 75%).

Se aprovada tal redução, será um momento histórico e marcante em benefício da efetivação dos direitos sociais brasileiros, em consonância com a recomendação da OIT, que concluiu, em pesquisa recente, ser de 40 horas o ideal de labor semanal.

(32)

4 DOS BENEFÍCIOS DA REDUÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO

Antes de adentrarmos aos estudos dos eventuais benefícios da redução da jornada de trabalho, é importante esclarecer que esta limitação é uma reivindicação antiga da humanidade.

Entre os inúmeros movimentos sociais, leis e convenções que trataram das jornadas de trabalho, destacamos alguns41 que se tornaram referências mundiais e inspiraram vários países para estabelecer jornadas mais equânimes:

1) 1802 (Lei de Peel ou Moral and Health Act) – Inglaterra - Proibia o trabalho de menores durante à noite e limitava sua jornada até 12 horas;

2) 1830 (Trade-Unions) – Iniciaram o movimento operário inglês para fixar um limite diário de 8 horas de trabalho;

3) 1935 (A Convenção Internacional da OIT, nº 47) – Estabelecia 40 horas como jornada semanal ideal.

Para Arion Sayão Romita, a limitação da duração diária do trabalho é uma das mais antigas e importantes reivindicações dos trabalhadores:

A limitação da duração diária do trabalho (jornada de trabalho) constituiu, durante mais de um século, a mais importante reivindicação das classes

trabalhadoras. A jornada de 8 horas era, na época, o objetivo da “conquista”

que os trabalhadores mais almejavam. 42

Como já vimos, a jornada semanal de trabalho brasileira foi reduzida, em 1988, para as atuais 44 horas semanais, o que significou uma diminuição mensal em 20 horas, após 56 anos. Até então, vigorava a jornada de trabalho semanal de 48 horas, instituída pelo Decreto nº 21.364, de 4 de maio de 1932.

41

Dados mais completos estão no capítulo 3, Evolução Histórica da Jornada de Trabalho no Mundo. 42

(33)

Assim, destacamos esses fatos como os mais importantes, no que tange à evolução da jornada de trabalho do homem, para basearmos nossas primeiras ponderações.

Verificamos que este movimento para limitar a jornada de trabalho ocorreu em vários momentos da história da humanidade. Houve época em que a grande conquista foi limitar a jornada de crianças em até 12 horas diárias. Hoje, além de banir o trabalho infantil, muitos países adotam a jornada de até 8 horas diárias, como regra geral.

A primeira constatação deste fenômeno é a de que o trabalhador, na história do Direito do Trabalho, tem percebido jornadas cada vez menos extenuantes, o que significa um notável benefício à sociedade.

Notamos, no Brasil, que a redução da jornada semanal para 44 horas, ocorrida há 24 anos, foi benéfica ao trabalhador, ao passo que proporcionou mais tempo disponível ao descanso, ao lazer e à educação, o que implicou mais saúde ao empregado.

Esta crescente redução da jornada de trabalho é um fenômeno complexo no Direito do Trabalho; está estritamente relacionado ao surgimento de tecnologias, que proporcionam ao homem executar tarefas em menos tempo, com a mesma perfeição de antigamente. Simultaneamente, sente o trabalhador a necessidade, cada vez maior, de usufruir mais momentos de lazer. Compreende ainda que as jornadas de trabalho extenuantes comprometem sua saúde e o convívio familiar.

No que tange ao fenômeno de diminuição da jornada de trabalho, em razão do surgimento de novas tecnologias, Domenico de Masi acredita que a atual poderia ser de 5 ou 6 horas diárias:

(34)

malfeita, mas, para a maioria, diminui o trabalho, de modo que muitas pessoas poderiam se limitar a trabalhar cinco ou, no máximo, seis horas por dia.43

Isto posto, ao examinarmos a situação brasileira, entendemos que a eventual redução da jornada semanal de trabalho, por meio de Emenda Constitucional (PEC 231), que tem por objetivo fixá-la em 40 horas (em face das 44 horas semanais atuais) é medida de extrema importância no que tange à efetivação dos direitos fundamentais, e está em consonância com a realidade de países europeus, endossado por estudos da OIT, como observa Sangheon Lee, Deirdre McCann e Jon C. Messenger:

O limite de 40 horas, no entanto, não tem sido visto apenas como um estímulo para a geração de empregos, mas tem sido reconhecido como contribuição para um conjunto maior de objetivos, inclusive, em anos recentes, o aprimoramento do equilíbrio trabalho-vida.44

Entendemos que, se aprovada a proposta de redução de jornada de trabalho semanal para 40 horas, haverá o surgimento imediato de benefícios aos trabalhadores, os quais classificamos em a) benefícios diretos (saúde e lazer) e b) benefícios indiretos (geração de emprego e aquecimento da economia).

Cláudia José Abud constata a existência de vários benefícios que derivam de uma redução de jornada de trabalho:

Segundo opinião de pesquisadores de diversas áreas, a redução da jornada de trabalho é um fator potencial de geração de empregos, ao mesmo tempo em que melhora a qualidade de vida do trabalhador, que terá mais tempo livre para o lazer, a educação e para a família.45

De fato, os benefícios diretos da redução da jornada semanal de trabalho têm como finalidade melhorar a condição social do trabalhador em curto prazo. Tal

43

DE MASI, Domenico. (1938). O ócio criativo / Domenico de Masi; entrevista à Maria Serena Palieri; tradução: Léa Manzi. Rio de Janeiro: Sextante, 2000, p. 171.

44

SANGHEON LEE, Deirdre McCann e Jon C. Messenger. Duração do trabalho em todo o mundo. Suíça.

Tradução: Oswaldo de Oliveira Teófilo. OIT, 2009. 45

(35)

redução gera uma eficácia imediata quanto à previsão constitucional disposta no artigo 6º da Carta Maior:

São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.46

Já os benefícios indiretos da redução da jornada semanal de trabalho (geração de empregos e aquecimento da economia), não são tão imediatos, mas igualmente importantes.

Amauri Mascaro Nascimento, ao comentar sobre a redução da jornada de trabalho, também vê um avanço quanto à efetivação dos direitos sociais do homem e um efeito positivo na economia. Todos os benefícios decorrem da redução da jornada:

A proposta de redução do tempo de trabalho não se limita à função social de melhoria da qualidade de vida. Outros fins são acoplados aos mesmo pleito. O segundo deles é a redução do desemprego como forma de repartir os empregos para que o maior número de pessoas possa ter acesso ao emprego.47

Conforme verificamos, houve, gradativamente, uma evolução na redução da jornada de trabalho. Há 24 anos, com a Constituição de 1988, a jornada de trabalho brasileira passou de 48 horas semanais para as atuais 44 horas e a jornada diária de 8 horas.

Ocorre que, nestes últimos 24 anos, as relações de trabalhos ficaram cada vez mais complexas, intensas e tensas, já que o trabalhador, em função das especificidades da vida moderna, empreende mais esforços para realizar seus trabalhos em comparação aos desenvolvidos no passado.

46 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 10 set. 2012.

47

(36)

Em muitas ocasiões, os trabalhadores modernos encontram dificuldades em se desligar do trabalho até mesmo nos períodos de férias, fato que vem sendo objeto de muitos estudos sobre a saúde do trabalhador.

Os apontamentos de Sebastião José Geraldo são incisivos para demonstrar que as relações de trabalho já não seguem mais a mesma dinâmica de uma época passada:

Além disso, considerando que o trabalho é cada vez mais tenso, denso e intenso, conforme já mencionamos, mesmo a jornada que no passado era considerada normal, atualmente produz mais desgaste que pode levar ao adoecimento. Em consequência, assume destacada importância a regra insculpida no art. 7º, XXII, da Constituição de 1988 que denominamos no Capítulo 5 como princípio do risco mínimo regressivo. 48

Como veremos, mais adiante, há uma campanha internacional liderada pela Organização Internacional do Trabalho, para determinar uma jornada de trabalho de 40 horas semanais, fundamentada na necessidade de preservar a saúde dos indivíduos em face das novas e complexas relações de trabalho.

Vários países já adotaram a jornada semanal de 40 horas, dentre eles: Áustria, Canadá, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, Itália, Japão, Luxemburgo, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Portugal e Suécia.

4.1 Dos Benefícios Diretos da Redução da Jornada de Trabalho

Os benefícios diretos da redução da jornada de trabalho são altamente relevantes aos trabalhadores e aos empregadores, visto que estão relacionados ao efetivo direito ao lazer e às melhores condições de saúde dos trabalhadores.

Os empregadores, por sua vez, vislumbrarão, na jornada de trabalho semanal reduzida, significativas vantagens; uma delas é contar com funcionários mais produtivos e menos suscetíveis a acidentes e às doenças profissionais.

(37)

ldélio Martins considera que as jornadas menores resultam em maior produção e melhor produtividade.49

Assim, não só o empregado seria beneficiado diretamente por uma eventual redução de jornada, mas também o empregador, que teria mais resultados positivos ao explorar sua atividade econômica.

Limitar a jornada de trabalho é uma importante ação que proporciona ao trabalhador a manutenção de sua saúde física e mental, já que ele terá mais tempo para se dedicar ao próprio bem-estar e de sua família.

Renato Saraiva destaca a relevância de uma jornada de trabalho limitada como uma forma significativa de garantir a saúde do trabalhador:

A fixação da jornada de trabalho revela-se de suma importância por vários aspectos.

Em primeiro lugar, por meio dela pode ser aferido o salário do obreiro, quando sua remuneração é fixada levando-se em conta o tempo trabalhado ou à disposição do empregador (CLT, art. 4º).

Em segundo lugar, a fixação da jornada é essencial para preservar a saúde do trabalhador, pois o labor excessivo é apontado pelas pesquisas como gerador de doenças profissionais e de acidentes de trabalho.

Logo, o controle da jornada diária e semanal do obreiro pela norma positivada constitui em eficaz medida para reduzir, consideravelmente, a ocorrência de doenças profissionais e/ou acidentes de trabalho, tendo a própria Carta Maior destacado como direito dos trabalhadores a redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança (art. 7°, XXII). 50

Carla Teresa Martins Romar destaca que o trabalho ilimitado pode gerar grandes prejuízos à saúde do trabalhador:

A obrigação do empregado de prestar serviços como decorrência do contrato de trabalho não pode ser indefinida no tempo, sob pena de serem causados prejuízos inegáveis tanto à saúde física como à saúde mental e, ainda, de ser exposto a um considerável risco à sua integridade física decorrente de acidentes do trabalho. Quanto mais cansado estiver o trabalhador em razão de longas horas de trabalho, mais suscetível a sofrer acidentes de trabalho estará, principalmente quando as atividades que desenvolve dependem de atenção, agilidade de movimentos e reflexos rápidos.51

49

MAGANO, Octavio Bueno. Primeiras lições de direito do trabalho. 3. ed. São Paulo: RT, 2003, p. 132. 50 SARAIVA, Renato. Direito do trabalho. 7. ed. São Paulo: Método, 2008, p. 200.

51

(38)

É de suma importância que a jornada de trabalho seja limitada a um patamar suportável para todos os tipos de atividades profissionais. Por outro lado, é de se destacar que algumas atividades profissionais necessitam de uma limitação diferenciada das demais; é o caso das denominadas “jornadas reduzidas”.

Uma prova de que a jornada reduzida é uma medida apropriada e eficaz para colaborar com a diminuição de doenças e de acidentes laborais é o dispositivo contido na Constituição (art. 7º, XIV) que, por uma questão de saúde pública, reduz para 6 horas o labor diário daqueles trabalhadores submetidos aos turnos ininterruptos de revezamento.

Posteriormente analisaremos as diversas leis brasileiras que adotaram uma jornada reduzida exatamente por imposição da Carta Magna, que não admite a existência de relações de trabalho que comprometam a saúde do trabalhador. Assim está disposto na Constituição (art. 7º, XXII): “redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança”.52

Sadi Dal Rosso também entende que as jornadas menores proporcionam benefícios à saúde dos trabalhadores:

A avaliação do sociólogo é compartilhada por integrantes da OIT. Para a instituição, jornadas de menor duração têm efeitos positivos do ponto de vista social, como a ampliação dos benefícios para a saúde e para a vida familiar dos trabalhadores, além da redução de acidentes no local de trabalho.53

Assim, concluímos que os benefícios aos trabalhadores serão muito significativos, pois determinarão a efetividade de direitos sociais previstos em nossa Constituição Federal e, ainda, de forma acessória, poderão gerar benefícios à economia.

52

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm. Acesso em: 15 out. 2012.

53

REVISTA ANAMATRA. 2º semestre2009. Disponível em:

(39)

Destacamos que um trabalhador saudável custa menos aos cofres públicos, o que evidencia uma inegável economia com o dispêndio de valores relacionados aos benefícios sociais e despesas oriundas de tratamentos médicos.

Em regra, o empregador que possui funcionários saudáveis e descansados tem mais sucesso em obter bom desempenho, tanto nos serviços que demandam força física, quanto naqueles denominados intelectuais.

Como benefícios diretos da redução da jornada de trabalho elencamos o direito à saúde e ao lazer, conforme abordaremos.

4.1.1 Saúde

Preservar a saúde do trabalhador é a ‘peça chave’ do sucesso do empregador e do empregado, que não é só um trabalhador, mas acima de tudo, um cidadão possuidor de direitos e deveres.

Em 1977, ao apresentar a obra de Sérgio Ferraz, Evaristo de Moraes Filho já alertava que o principal motivo para estabelecer limites às jornadas de trabalho era preservar a saúde dos trabalhadores: “Mais do que sociais e econômicos, foram

biológicos os fundamentos e as razões da limitação da jornada de trabalho e, mais

tarde, da instituição do repouso semanal e das férias”.54

Sabedoras da importância da preservação da saúde do empregado, muitas nações editaram diversas leis que tiveram por escopo zelar pela saúde do trabalhador, não necessariamente por apreço à classe operária mas, certamente, pelas inúmeras vantagens em ter alguém saudável laborando diariamente.

Sebastião Geraldo de Oliveira ressalta que em 1802 houve a primeira manifestação legal sobre o tema:

54

(40)

Já em 1802, o Parlamento britânico, sob a direção de Robert Peel,

conseguiu aprovar “a primeira lei de proteção aos trabalhadores: a Lei de

Saúde e Moral dos Aprendizes, que estabelecia o limite de 12 horas de trabalho por dia, proibia o trabalho noturno, obrigava os empregadores a lavar as paredes das fábricas duas vezes por ano, e tornava obrigatória a ventilação destas”.55

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde é o completo bem-estar físico, mental e social, e não somente a ausência de afecções ou enfermidades. Neste sentido, Sebastião Geraldo de Oliveira esclarece:

No dia 26 de junho de 1945, foi criada na cidade de São Francisco, nos Estados Unidos da América, a Organização Mundial da Saúde – OMS. Nos princípios básicos de sua constituição ficou assentado um novo conceito,

estabelecendo que a “saúde é o completo bem-estar físico, mental e social, e não somente a ausência de afecções ou enfermidades”, e que “o gozo do grau máximo de saúde que se pode alcançar é um dos direitos fundamentais de todo ser humano, sem distinção de raça, religião, ideologia

política ou condição econômica ou social”. 56

Assim dispõe a Constituição Federal, em seu capítulo II (Dos Direitos Sociais), art. 7º, XXII:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança;57

Na Carta Magna, sob o título “Da Saúde”, os artigos 196, 197 e 200, dispõem:

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado

Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei:

II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador;58

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OLIVEIRA, Sebastião Geraldo. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5. ed. São Paulo: LTR, 2010, p. 49.

56 Id. Ibid., p. 53. 57

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 10 set. 2012.

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Referências

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